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Edição n.º 1500
24/07 a 26/07/2018
 
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EFEMÉRIDES

Dia 24/07: 205.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1969, a Apollo 11 regressava à Terra em segurança. A cápsula com os astronautas cai no Oceano Pacífico. 

Observações: Ocultação de Europa, entre as 20:02 e as 22:29.
A Lua brilha esta noite perto de Saturno. Saturno, o planeta brilhante mais distante, está 3420 vezes mais distante e é 35 vezes mais largo em termos de diâmetro.
Eclipse de Europa, entre as 22:31 e as 00:58 (já de dia 25).
Trânsito de Io, entre as 23:38 e as 01:53 (já de dia 25).

Dia 25/07: 206.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1973 era lançada a sonda soviética Mars 5.
Em 1976, a sonda Viking 1 obtém a famosa foto da "Face de Marte". 

Em 1984 a cosmonauta russa Svetlana Savitskaya torna-se a primeira mulher a caminhar no espaço ao abandonar a estação Salyut 7.
Observações: Úrano na sua quadratura oeste, pelas 12:17.
Eclipse de Io, entre as 22:03 e as 00:20 (já de dia 26).
A Lua, quase Cheia, brilha entre Saturno, situado a mais ou menos um punho à distância do braço esticado para a sua direita após o anoitecer, e o brilhante planeta Marte a dois punhos para baixo e para a esquerda da Lua.

Dia 26/07: 207.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1958, lançamento do Explorer 4.
Em 1963, era lançado o Syncom 2, o primeiro satélite geosíncrono.

Em 1971 era lançada a Apollo 15, a quarta aterragem do Homem na Lua.
Em 2005, lançamento da missão STS-114 do vaivém espacial Discovery, o primeiro voo desde o desastre do Columbia em 2003.
Observações: Trânsito da sombra de Io, entre as 19:23 e as 21:34.
Marte está em oposição a partir desta noite (a hora exata é 06:00 de dia 27). Isto é, na direção oposta à do Sol a partir da perspetiva da Terra. Vai estar também na maior aproximação à Terra, para estas suas respetivas órbitas, no dia 30. Mas a diferença entre hoje e dia 30 é tão pequena que é praticamente indetetável. Disfrute!

 
CURIOSIDADES

A Agência Espacial do Reino Unido lançou uma competição para dar um nome a um rover que irá a Marte procurar sinais de vida. Com lançamento previsto para 2020, o rover, construído no Reino Unido, faz parte da missão ExoMars da ESA. Irá investigar como Marte evoluiu e se pode haver condições para albergar vida.
Termos e condições. Para submeter o nome, siga este link.
 
"CAÇADORES DE TEMPESTADES" EM MARTE À PROCURA DE SEGREDOS DA POEIRA
Animações que mostram como a poeira envolveu o Planeta Vermelho (a imagem da esquerda é de dia 28 de maio, a da direita de 1 de julho).
Crédito: NASA/JPL-Caltech
(clique na imagem para ver versão maior)
 

Perseguir tempestades requer sorte e paciência cá na Terra - e ainda mais em Marte.

Para os cientistas que observam o Planeta Vermelho com orbitadores da NASA, o mês passado tem sido um turbilhão. As tempestades "globais" de poeira, onde uma série descontrolada destes eventos climáticos cria uma nuvem tão grande que envolve o planeta, só aparecem a cada 6-8 anos (ou seja, 3-4 anos marcianos). Os cientistas ainda não entendem porquê ou exatamente como essas tempestades se formam e evoluem.

Em junho, um destes eventos de poeira engoliu rapidamente o planeta. Os cientistas observaram pela primeira vez uma tempestade de poeira mais pequena no dia 30 de maio. No dia 20 de junho, tinha-se tornado global.

Para o rover Opportunity, isso significou uma queda repentina na visibilidade - de um dia claro e de sol para um dia nublado. Dado que o Opportunity funciona a energia solar, os cientistas tiveram que suspender as atividades científicas a fim de preservar as baterias do rover. À data da escrita deste artigo, não havia ainda nenhuma resposta do rover.

Felizmente, toda esta poeira funciona como um isolante atmosférico, evitando com que as temperaturas noturnas caiam para menos do que o Opportunity consegue suportar. Mas o rover com quase 15 anos ainda não está fora de perigo: pode levar semanas, ou mesmo meses, para que a poeira comece a estabilizar-se. Com base na longevidade de uma tempestade global de areia de 2001, os cientistas da NASA estimam que só em setembro é que a neblina fica limpa o suficiente para o Opportunity sair do modo de hibernação e ligar para casa.

Quando os céus começarem a clarear, os painéis solares do Opportunity podem estar cobertos por uma fina camada de poeira. Isso poderá atrasar a recuperação do rover, pois recolhe energia para recarregar as suas baterias. Uma rajada de vento ajudaria, mas não é um requisito para uma recuperação completa.

Enquanto a equipa do Opportunity aguarda para ouvir o rover, os cientistas noutras missões marcianas tiveram uma hipótese rara de estudar este fenómeno.

A MRO (Mars Reconnaissance Orbiter), a Mars Odyssey e a MAVEN (Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN) estão a adaptar as suas observações do Planeta Vermelho para estudar esta tempestade global e para aprender mais sobre os padrões climáticos de Marte. Entretanto, o rover Curiosity está a estudar a tempestade de areia a partir de superfície.

Crédito: JoAnna Wendel, NASA
(clique na imagem para ver versão maior)
 

Mars Odyssey

Com o instrumento THEMIS (Thermal Emission Imaging System), os cientistas podem rastrear a temperatura à superfície de Marte, a temperatura atmosférica e a quantidade de poeira na atmosfera. Isto permite com que observem a tempestade de poeira a crescer, evoluir e a dissipar-se com o tempo.

"Este é um dos maiores eventos climáticos que já vimos em Marte," desde que as observações com missões espaciais começaram na década de 1960, comenta Michael Smith, cientista do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland, que trabalha no instrumento THEMIS. "Ter outro exemplo de uma tempestade de areia ajuda-nos realmente a entender o que está a acontecer."

Desde o início da tempestade, a equipa do THEMIS aumentou a frequência das observações atmosféricas globais, de 10 em 10 dias para duas vezes por semana, realça Smith. Um mistério que ainda estão a tentar resolver: como estas tempestades se tornam globais. "A cada ano marciano, durante a estação da poeira, existem muitas tempestades locais ou regionais que cobrem uma área do planeta," explica Smith. Mas os cientistas ainda não têm a certeza como essas tempestades mais pequenas crescem e às vezes acabam por cercar todo o planeta.

Mars Reconnaissance Orbiter (MRO)

A sonda MRO tem dois instrumentos a estudar a tempestade de areia. Todos os dias, o MARCI (Mars Color Imager) mapeia todo o planeta a meio da tarde a fim de acompanhar a evolução da tempestade. Entretanto, o instrumento MCS (Mars Climate Sounder) mede o modo como a temperatura da atmosfera muda com a altitude. Desde o final de maio, os instrumentos observaram o início e a rápida expansão da tempestade de poeira em Marte.

Com estes dados, os cientistas estudam como a tempestade altera as temperaturas atmosféricas do planeta. Tal como na atmosfera da Terra, a mudança de temperatura de Marte pode afetar os padrões de vento e até mesmo a circulação de toda a atmosfera. Isto fornece um feedback poderoso: o aquecimento solar da poeira lançada para a atmosfera muda a temperatura, o que altera os ventos, o que pode ampliar a tempestade levantando mais poeira da superfície.

Os cientistas querem saber os detalhes da tempestade - onde é que o ar sobe ou desce? Como é que as temperaturas atmosféricas atuais se comparam com um ano sem tempestades? E, tal como a Mars Odyssey, a equipa da MRO quer determinar como estas tempestades de areia se tornam globais.

"O simples facto de que podemos começar com algo que é uma tempestade local, não maior que um estado norte-americano, e depois desencadear algo que levanta mais poeira e produz uma névoa que cobre quase todo o planeta, é notável," comenta Rich Zurek, cientista do projeto MRO.

Os cientistas querem descobrir porque é que estas tempestades surgem a cada poucos anos, o que é difícil de fazer sem um registo longo de tais eventos. Seria como se alienígenas estivessem a observar a Terra e a ver os efeitos climáticos do El Niño durante muitos anos de observações - perguntar-se-iam porque é que algumas regiões ficam ainda mais chuvosas e algumas áreas mais secas seguindo um padrão aparentemente regular.

MAVEN

Desde que o orbitador MAVEN entrou em órbita de Marte, "uma das coisas pelas quais esperávamos era uma tempestade global de poeira," comenta Bruce Jakosky, investigador principal da sonda.

Mas a MAVEN não está a estudar a tempestade de poeira propriamente dita. Ao invés, a equipa da MAVEN quer estudar como a tempestade afeta a atmosfera superior de Marte, mais de 100 km acima da superfície - onde a poeira nem chega. A missão da MAVEN é descobrir o que aconteceu com a atmosfera inicial de Marte. Sabemos agora que em algum ponto da sua história, há milhares de milhões de anos, a água líquida ficou acumulada e corria pela superfície, o que significa que a sua atmosfera deve ter sido mais espessa e mais isolante, parecida à da Terra. Desde que a MAVEN chegou a Marte em 2014, as suas investigações descobriram que esta atmosfera pode ter sido removida por uma corrente de vento solar ao longo de várias centenas de milhões de anos, há 3,5-4 mil milhões de anos.

Mas ainda existem nuances a determinar, como por exemplo o modo como as tempestades de poeira, como a atual, afetam as moléculas atmosféricas que escapam para o espaço, afirma Jakosky. Por exemplo, a tempestade de poeira age como um isolante atmosférico, aprisionando o calor do Sol. Será que este aquecimento altera a forma como as moléculas escapam da atmosfera? É também provável que, à medida que a atmosfera aquece, mais vapor de água suba o suficiente para ser destruído pela luz solar, o vento solar varrendo os átomos de hidrogénio para o espaço.

A equipa não terá respostas durante algum tempo, mas cada uma das cinco órbitas diárias da MAVEN fornecem dados inestimáveis.

Curiosity

A maioria das naves da NASA estudam a tempestade de areia a partir de órbita. O rover Curiosity tem uma perspetiva única: a máquina científica movida a energia nuclear é amplamente imune aos céus escuros, permitindo com que recolha ciência dentro do véu bege que envolve o planeta.

"Estamos de momento a trabalhar o dobro," comenta Ashin Vasavada do JPL, cientista do projeto Curiosity. "A nossa broca recentemente recondicionada está a obter uma amostra de rocha fresca. Mas também estamos a usar os instrumentos para estudar como a tempestade de poeira evolui."

O Curiosity tem vários "olhos" que podem determinar a abundância e tamanho das partículas de poeira com base no modo como espalham e absorvem luz. Isto inclui a Mastcam, a ChemCam e um sensor ultravioleta na REMS, a sua "suite" de instrumentos meteorológicos. A "suite" REMS também pode ajudar a estudar as marés atmosféricas - mudanças na pressão que se deslocam como ondas em todo o ar rarefeito do planeta. Estas marés mudam drasticamente com base no local onde a poeira está globalmente, não apenas dentro da Cratera Gale.

A tempestade global também pode revelar segredos sobre os "diabos de poeira" e sobre os ventos de Marte. Os diabos de poeira podem ocorrer quando a superfície do planeta está mais quente do que o ar acima dela. O aquecimento gera turbilhões de ar, alguns dos quais levantam poeira e tornam-se diabos. Durante uma tempestade de areia, há menos luz solar direta e temperaturas diurnas mais baixas; isto pode significar menos diabos a rodopiar pela superfície.

Até mesmo novas perfurações podem avançar a ciência das tempestades: a observação de pequenas pilhas de material solto, formadas pela broca do Curiosity, é a melhor maneira de monitorizar os ventos.

Os cientistas pensam que a tempestade vai durar pelo menos um par de meses. De cada vez que avistar Marte no céu, nas próximas semanas, lembre-se dos dados que os cientistas estão a recolher para melhor compreender o misterioso clima do Planeta Vermelho.

Links:

Notícias relacionadas:
NASA (comunicado de imprensa)
Marte Antes e Depois da Tempestade de Poeira (NASA via YouTube)
Astronomy
EarthSky
SPACE.com
PHYSORG
Popular Mechanics

Marte:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

Mars Odyssey:
NASA
Wikipedia

MRO:
NASA 
JPL 
Wikipedia

MAVEN:
NASA
NASA - 2
Wikipedia

Rover Curiosity (MSL):
NASA
NASA - 2 
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Wikipedia

 
DE UM UNIVERSO QUASE PERFEITO AO MELHOR DOS DOIS MUNDOS
As anisotropias do fundo cósmico de micro-ondas, observadas pela missão Planck da ESA.
É um instantâneo da luz mais antiga do nosso cosmos, impresso no céu quando o Universo tinha apenas 380.000 anos. Mostra pequenas flutuações de temperatura que correspondem a regiões com densidades ligeiramente diferentes, representando as "sementes" de todas as estruturas futuras: as estrelas e galáxias de hoje.
Esta imagem é baseada em dados da divulgação de Legado do Planck, a divulgação final de dados da missão, publicada em julho de 2018.
Crédito: ESA/Colaboração Planck
(clique na imagem para ver versão maior)
 

Era 21 de março de 2013. A imprensa científica mundial reuniu-se na sede da ESA, em Paris, ou ligou-se online, juntamente com uma multidão de cientistas em todo o mundo, para testemunhar o momento em que a missão Planck da ESA revelou a sua "imagem" do cosmos. Esta imagem foi obtida não com luz visível, mas com micro-ondas.

Enquanto a luz que os nossos olhos podem ver é composta de pequenos comprimentos de onda - menos de um milésimo de milímetro de comprimento - a radiação que o Planck estava a detetar abrangeu comprimentos de onda mais longos, de alguns décimos de milímetro a alguns milímetros. Mais importante ainda, foi produzida no início do Universo.

Coletivamente, esta radiação é conhecida como fundo cósmico de micro-ondas, ou CMB (inglês para Cosmic Microwave Background). Medindo as suas pequenas diferenças no céu, a imagem do Planck tinha a capacidade de nos contar sobre a idade, a expansão, a história e o conteúdo do Universo. Não era nada menos que o projeto cósmico.

Os astrónomos sabiam o que esperavam ver. Duas missões da NASA, o COBE no início dos anos 90 e o WMAP na década seguinte, já tinham realizado um conjunto de pesquisas aéreas do céu análogas que resultaram em imagens semelhantes. Mas essas imagens não tinham a precisão e a nitidez do Planck.

A nova visão mostraria, pela primeira vez, a marca do Universo primitivo em detalhes meticulosos. Tudo dependia dele.

Se o nosso modelo do Universo estivesse correto, então o Planck confirmá-lo-ia com níveis de precisão sem precedentes. Se o nosso modelo estivesse errado, o Planck enviaria os cientistas de volta aos papéis.

Quando a imagem foi revelada, os dados confirmaram o modelo. O ajuste às nossas expectativas era bom demais para tirar qualquer outra conclusão: o Planck mostrava-nos um "universo quase perfeito". Porquê quase perfeito? Porque algumas anomalias permaneceram, e estas seriam o foco de pesquisas futuras.

Agora, cinco anos depois, o consórcio Planck fez a sua divulgação de dados final, conhecida como o lançamento do legado de dados. A mensagem continua a mesma e é ainda mais forte.

"Este é o legado mais importante do Planck", diz Jan Tauber, Cientista do Projeto Planck da ESA. "Até agora, o modelo-padrão da cosmologia sobreviveu a todos os testes e o Planck fez as medições que mostram isso."

As anisotropias do fundo cósmico de micro-ondas, observadas pela missão Planck da ESA.
É um instantâneo da luz mais antiga do nosso cosmos, impresso no céu quando o Universo tinha apenas 380.000 anos. Mostra pequenas flutuações de temperatura que correspondem a regiões com densidades ligeiramente diferentes, representando as "sementes" de todas as estruturas futuras: as estrelas e galáxias de hoje.
A imagem de topo mostra as anisotropias na temperatura da CMB à mais alta resolução obtida pelo Planck. A do meio, as anisotropias de temperatura foram filtradas para mostrar principalmente o sinal detetado em escalas que rondam os 5º no céu. A imagem de baixo mostra as anisotropias de temperatura filtradas com uma indicação da direção da fração polarizada da CMB.
Uma pequena fração da CMB é polarizada - vibra num direção preferida. Este é o resultado do último encontro desta luz com eletrões, antes de começar a sua viagem cósmica. Por esta razão, a polarização da CMB retém informação acerca da distribuição da matéria no Universo inicial, e o seu padrão no céu segue o padrão das pequenas flutuações observadas na temperatura da CMB.
Estas imagens são baseadas em dados da divulgação de Legado do Planck, a divulgação final de dados da missão, publicada em julho de 2018.
Crédito: ESA/Colaboração Planck (clique na imagem para ver versão maior)
 

Todos os modelos cosmológicos são baseados na Teoria Geral da Relatividade de Albert Einstein. Para reconciliar as equações relativísticas gerais com uma ampla gama de observações, incluindo o fundo cósmico de micro-ondas, o modelo-padrão de cosmologia inclui a ação de dois componentes desconhecidos.

Em primeiro lugar, um componente atrativo da matéria, conhecido como matéria escura e fria, que, ao contrário da matéria comum, não interage com a luz. Em segundo lugar, uma forma repulsiva de energia, conhecida como energia escura, que está a impulsionar a atual expansão acelerada do Universo. Descobriu-se que estes são componentes essenciais para explicar o nosso cosmos, além da matéria comum que conhecemos. Mas ainda não sabemos o que estes componentes exóticos realmente são.

O Planck foi lançado em 2009 e recolheu dados até 2013. O seu primeiro lançamento - que deu origem ao Universo quase perfeito - foi feito na primavera daquele ano. Baseou-se unicamente na temperatura da radiação cósmica de fundo de micro-ondas e utilizou apenas as duas primeiras pesquisas do céu da missão.

Os dados também forneceram mais evidências para uma fase muito inicial da expansão acelerada, chamada inflação, na primeira fração minúscula de um segundo da história do Universo, durante a qual as sementes de todas as estruturas cósmicas foram semeadas. Fornecendo uma medida quantitativa da distribuição relativa dessas flutuações primordiais, o Planck forneceu a melhor confirmação já obtida do cenário inflacionário.

Além de mapear a temperatura do fundo cósmico de micro-ondas através do céu com uma precisão sem precedentes, o Planck também mediu a sua polarização, a qual indica se a luz está a vibrar numa direção preferida. A polarização do fundo cósmico de micro-ondas contém uma impressão da última interação entre as partículas de radiação e matéria no Universo primordial e, como tal, contém informações adicionais importantes sobre a história do cosmos. Mas também pode conter informações sobre os primeiros instantes do nosso Universo e dar-nos pistas para entender o seu nascimento.

Em 2015, uma segunda divulgação de dados reuniu todos os dados recolhidos pela missão, que totalizaram oito pesquisas do firmamento. Deu a temperatura e a polarização, mas veio com um alerta.

"Sentimos que a qualidade de alguns dos dados de polarização não era boa o suficiente para ser usada para cosmologia," diz Jan. Acrescentando que - é claro - isso não os impediu de fazer cosmologia com eles, mas que algumas conclusões obtidas na altura necessitam confirmação adicional e, portanto, deverão ser tratados com cautela.

Sumário da história de quase 14 mil milhões de anos do Universo, mostrando em particular os eventos que contribuíram para a radiação cósmica de fundo em micro-ondas.
O cronograma da secção superior da ilustração mostra uma impressão de artista da evolução do cosmos em larga escala. Os processos variam entre a inflação, a breve era de expansão acelerada do Universo quando tinha apenas uma pequena fração de um segundo, a libertação da CMB, a forma mais antiga de luz do Universo, impressa no céu quando o cosmos tinha apenas 380.000 anos; e da "Idade das Trevas" até ao nascimento das primeiras estrelas e galáxias, que reionizaram o Universo quanto tinha apenas algumas centenas de milhões de anos, até ao presente.
Pequenas flutuações quânticas geradas durante o período inflacionário são as sementes das estruturas futuras: as estrelas e galáxias de hoje. Depois do fim da inflação, as partículas de matéria escura começaram a aglomerar-se em torno destas sementes cósmicas, construindo lentamente uma teia cósmica de estruturas. Mais tarde, depois da libertação da CMB, a matéria normal começou a cair na direção destas estruturas, eventualmente dando origem às estrelas e galáxias.
As imagens circulares na secção inferior mostram ampliações de alguns processos microscópicos que tiveram lugar durante a história cósmica: desde pequenas flutuações geradas durante a inflação, até à sopa densa de luz e partículas que preencheram o Universo jovem; passando pela última dispersão de luz pelos eletrões, que deram origem à CMB e à sua polarização, até à reionização do Universo, provocada pelas primeiras estrelas e galáxias, que induziram polarização adicional na CMB.
Crédito: ESA
(clique na imagem para ver versão maior)
 

E esta é a grande mudança para este lançamento de dados do Legacy 2018. O consórcio Planck concluiu um novo processamento dos dados. A maioria dos primeiros sinais que pediram cautela desapareceram. Os cientistas estão agora certos de que tanto a temperatura quanto a polarização estão determinadas com precisão.

"Agora estamos realmente confiantes de que podemos recuperar um modelo cosmológico baseado unicamente na temperatura, apenas na polarização e baseado na temperatura e na polarização. E todos combinam," diz Reno Mandolesi, investigador principal do instrumento LFI do Planck, da Universidade de Ferrara, Itália.

"Desde 2015, foram recolhidos mais dados astrofísicos através de outras experiências, e novas análises cosmológicas foram também realizadas, combinando observações do CMB, em pequenas escalas, com aquelas de galáxias, aglomerados de galáxias e supernovas que, na maioria das vezes, melhoraram a coerência com os dados de Planck e o modelo cosmológico apoiado pelo Planck," diz Jean-Loup Puget, investigador principal do instrumento de HFI do Planck, no Instituto de Astrofísica Espacial em Orsay, França.

Este é um feito impressionante e significa que os cosmólogos podem ter certeza de que a sua descrição do Universo como um lugar contendo matéria comum, matéria escura fria e energia escura, povoada por estruturas que haviam sido semeadas durante uma fase inicial de expansão inflacionária, está amplamente correta.

Mas há algumas peculiaridades que precisam ser explicadas - ou tensões, como lhes chamam os cosmólogos. Uma, em particular, está relacionada com a expansão do Universo. A taxa dessa expansão é dada pela chamada Constante de Hubble.

Para medir a constante de Hubble, tradicionalmente, os astrónomos confiam nas medições das distâncias através do cosmos. Só podem fazer isso para o Universo relativamente local, medindo o brilho aparente de certos tipos de estrelas variáveis próximas e estrelas em explosão, cujo brilho real pode ser estimado independentemente. É uma técnica bem desenvolvida que foi aperfeiçoada ao longo do século passado, iniciada por Henrietta Leavitt e, mais tarde, aplicada no final da década de 1920, por Edwin Hubble e colaboradores, que usaram estrelas variáveis em galáxias distantes e outras observações para revelar que o Universo se estava a expandir.

A cifra que os astrónomos derivam a partir da constante de Hubble, utilizando uma ampla variedade de observações de ponta, incluindo algumas do observatório homónimo do Hubble, o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, é de 73,5 km/s/Mpc, com uma incerteza de apenas dois por cento. As unidades, ligeiramente esotéricas, dão a velocidade da expansão em km/s para cada milhão de parsecs (Mpc) de separação no espaço, onde um parsec é equivalente a 3,26 anos-luz.

A evolução das medições da velocidade de expansão do Universo, dada pela denominada Constante de Hubble, ao longo das últimas duas décadas. As unidades, ligeiramente esotéricas, dão a velocidade da expansão em km/s para cada milhão de parsecs (Mpc) de separação no espaço, onde um parsec é equivalente a 3,26 anos-luz.
Nos anos mais recentes, o valor que os astrónomos derivam para a Constante de Hubble, usando uma variedade de observações topo-de-gama para medir distâncias pelo cosmos é de 73,5 km/s/Mpc, com uma incerteza de apenas 2%. Estas medições estão em azul.
Uma segunda maneira de estimar a constante de Hubble é através da utilização do modelo cosmológico que se encaixa na imagem de fundo cósmico de micro-ondas, que representa o Universo muito jovem, e calcular uma previsão para o que a constante de Hubble deveria ser hoje. As medições com base neste método, usando dados do satélite WMAP da NASA, podem ser vistos em verde, e aquelas obtidas usando dados da missão Planck da NASA podem ser vistas em vermelho.
Quando aplicado aos dados do Planck, este método fornece um valor mais baixo de 67,4 km/s/Mpc, com uma pequena incerteza de menos de um por cento.
Por um lado, é extraordinário que duas formas radicalmente diferentes de derivar a constante de Hubble - uma usando o Universo local maduro e outra baseada no distante Universo infantil - estejam tão próximas uma da outra. Por outro lado, em princípio, esses dois números devem concordar dentro das suas respetivas incertezas, provocando o que os cientistas apelidam de "tensão" - um puzzle que ainda precisa ser explicado.
O único ponto roxo é uma medição obtida através de ainda outro método, usando dados da primeira observação simultânea de luz e ondas gravitacionais emitida pela mesma fonte - um par de estrelas de neutrões em colisão.
Crédito: ESA/Colaboração Planck
(clique na imagem para ver versão maior)
 

Uma segunda maneira de estimar a constante de Hubble é através da utilização do modelo cosmológico que se encaixa na imagem de fundo cósmico de micro-ondas, que representa o Universo muito jovem, e calcular uma previsão para o que a constante de Hubble deveria ser hoje. Quando aplicado aos dados do Planck, este método fornece um valor mais baixo de 67,4 km/s/Mpc, com uma pequena incerteza de menos de um por cento.

Por um lado, é extraordinário que duas formas radicalmente diferentes de derivar a constante de Hubble - uma usando o Universo local maduro e outra baseada no distante Universo infantil - estejam tão próximas uma da outra. Por outro lado, em princípio, esses dois números devem concordar dentro das suas respetivas incertezas. Essa é a tensão, e a questão é como podem eles ser reconciliados?

Ambos os lados estão convencidos de que quaisquer erros remanescentes nas suas metodologias de medição são agora muito pequenos para causar a discrepância. Então, pode ser que exista algo ligeiramente peculiar no nosso ambiente cósmico local que torne a medida próxima um tanto anómala? Sabemos, por exemplo, que a nossa galáxia está numa região pouco densa do Universo, o que poderia afetar o valor local da constante de Hubble. Infelizmente, a maioria dos astrónomos acha que tais desvios não são grandes o suficiente para resolver esse problema.

"Não existe uma solução astrofísica única e satisfatória que possa explicar a discrepância. Assim, talvez exista alguma nova física a ser encontrada," diz Marco Bersanelli, vice-investigador principal do instrumento LFI da Universidade de Milão, na Itália.

'Nova física' significa que partículas ou forças exóticas poderiam estar a influenciar os resultados. No entanto, por mais emocionante que essa perspetiva pareça, os resultados do Planck colocam severas restrições a essa linha de pensamento, porque se ajustam tão bem à maioria das observações.

"É muito difícil adicionar novas físicas para aliviar a tensão e ainda manter a descrição precisa do modelo-padrão de tudo o que já se encaixa," diz François Bouchet, vice-investigador principal do instrumento de HFI do Planck, do Instituto de Astrofísica Espacial em Orsay, França.

Como resultado, ninguém foi capaz de chegar a uma explicação satisfatória para as diferenças entre as duas medições, e a questão permanece por resolver.

"De momento, não devemos ficar muito empolgados em encontrar uma nova física: pode ser que a discrepância relativamente pequena possa ser explicada por uma combinação de pequenos erros e efeitos locais. Mas precisamos continuar a melhorar as nossas medições e pensar em maneiras melhores de explicá-las," diz Jan.

Este é o legado do Planck: com o seu Universo quase perfeito, a missão deu aos investigadores a confirmação dos seus modelos, mas com alguns detalhes para resolver. Por outras palavras: o melhor dos dois mundos.

Links:

Notícias relacionadas:
ESA (comunicado de imprensa)
Artigos científicos da divulgação de 2018 do Planck
EurekAlert!
Astronomy Now
SPACE.com
PHYSORG
Space Daily
Science alert
Forbes

Observatório Planck:
ESA (ciência e tecnologia)
ESA (centro científico)
ESA (página de operações)
NASA
Arquivo do Legado Planck (ESA)
Wikipedia

Universo:
A expansão acelerada do Universo (Wikipedia)
Lei de Hubble (Wikipedia)
Universo (Wikipedia)
Idade do Universo (Wikipedia)
Estrutura a grande-escala do Universo (Wikipedia)
Big Bang (Wikipedia)
Cronologia do Big Bang (Wikipedia)

"Escada" cósmica de distâncias:
Wikipedia

Variáveis Cefeidas:
Wikipedia
SEDS

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

Ondas gravitacionais:
Wikipedia
Astronomia de ondas gravitacionais - Wikipedia
Ondas gravitacionais: como distorcem o espaço - Universe Today
Detetores: como funcionam - Universe Today
As fontes de ondas gravitacionais - Universe Today
O que é uma onda gravitacional (YouTube)

 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS - Anéis em Torno da Nebulosa do Anel
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: HubbleLBTTelescópio Subaru; Composição e direitos de autor: Robert Gendler
 
A conhecida Nebulosa do Anel (M57) é muito mais do que os nossos pequenos telescópios conseguem observar. O anel central, facilmente visível, mede cerca de um ano-luz em diâmetro, mas esta exposição incrivelmente profunda - um esforço colaborativo que combina dados de três grandes telescópios - explora os filamentos entrelaçados de gás brilhante que se estendem muito além da estrela central da nebulosa. Esta magnífica composição inclui dados de banda estreita do hidrogénio, luz visível e emissão infravermelha. Claro, neste exemplo bem estudado de uma nebulosa planetária, o material brilhante não vem dos planetas. Ao invés, o manto gasoso representa as camadas externas expelidas de uma estrela moribunda parecida com o Sol. A Nebulosa do Anel encontra-se a aproximadamente 2000 anos-luz de distância na direção da constelação de Lira.
 

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