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Edição n.º 1558
12/02 a 14/02/2019
 
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EFEMÉRIDES

Dia 12/02: 43.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1947, um meteoro cria uma cratera de impacto em Sikhote-Alin, na União Soviética.
Em 1961, era lançada a sonda soviética Venera 1, para Vénus.
Em 1974, a soviética Mars 5 entra em órbita de Marte. No entanto, falha poucos dias depois. 
Em 2001, a sonda NEAR Shoemaker tornava-se a primeira nave humana a pousar num asteróide, de nome 433 Eros.

Observações: Lua em Quarto Crescente, pelas 22:26. A Lua brilha para baixo de Aldebarã e das Plêiades. Marte está bem para baixo e um pouco para a sua direita.
Úrano está a um grau para a esquerda de Marte.

Dia 13/02: 44.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1633, Galileu Galilei chegava a Roma para ser julgado pela Inquisição.

Em 1852, nascia John Louis Emil Dreyer, astrónomo cuja principal contribuição foi o catálogo NGC em 1878. 
Em 2004, o Centro para Astrofísica Harvard-Smithsonian descobre o maior diamante conhecido do Universo, a anã branca BPM 37093. Os astrónomos dão-lhe o nome "Lucy" por causa da canção "Lucy in the Sky with Diamonds" dos Beatles.
Em 2012, a Agência Espacial Europeia (ESA) leva a cabo o primeiro lançamento do foguetão europeu Vega a partir de Kourou, na Guiana Francesa. 
Observações: A Lua, pouco maior que Quarto Crescente, brilha nas Híades esta noite, a poucos graus de Aldebarã.
Úrano está hoje a 1,1º para a esquerda e um pouco para baixo de Marte. Está posicionado a menos de metade da distância entre Marte e Omicron Piscium, de magnitude 4,2.

Dia 14/02: 45.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1898, nascia Fritz Zwick, o primeiro a identificar as supernovas como uma classe separada de objetos e a sugerir a possibilidade das estrelas de neutrões; Zwicky também catalogou galáxias em enxames e desenhou motores a jato.
Em 1989, o primeiro de 24 satélites GPS é colocado em órbita. 
Em 1990, as câmaras da Voyager 1 apontaram para o Sol e tiraram uma série de imagens da estrela e dos planetas, fazendo o primeiro "retrato" do nosso Sistema Solar visto de fora.

Em 2000, a sonda NEAR torna-se na primeira a orbitar um asteroide, 433 Eros.
Observações: Esta noite, a Lua brilha alto acima de Orionte, perto das estrelas dos chifres de Touro.
Úrano continua a descer para baixo de Marte, estando a 1,3º do Planeta Vermelho.

 
CURIOSIDADES

Para além do planeta, bem conhecido por todos, existe também uma Nebulosa de Saturno.
 
O EVOCATIVO OLHAR DE DESPEDIDA DA NEW HORIZONS A ULTIMA THULE

Uma nova e evocativa sequência de imagens obtida pela sonda New Horizons da NASA fornece uma visão do adeus ao KBO (Kuiper Belt object, em português "objeto da Cintura de Kuiper") apelidado Ultima Thule - o alvo da sua passagem de Ano Novo e o mundo mais distante já explorado.

Estas não são as últimas imagens de Ultima Thule que a New Horizons vai transmitir para a Terra - de facto, muitas mais estão por vir - mas são as fotos finais que a New Horizons capturou do KBO (com o nome oficial 2014 MU69) enquanto viajava a mais de 50.000 km/h no passado dia 1 de janeiro. As imagens foram tiradas quase 10 minutos depois da New Horizons ter alcançado a sua maior aproximação.

"Esta é realmente uma sequência incrível de imagens, obtida por uma nave que explora um pequeno mundo a 6,6 mil milhões de quilómetros da Terra," disse Alan Stern, investigador principal da missão no SwRI (Southwest Research Institute). "Nada como isto tinha já sido capturado em imagens."

Os cientistas da missão criaram este "filme de despedida" a partir de 14 diferentes imagens obtidas pelo instrumento LORRI (Long Range Reconnaissance Imager ) a bordo da New Horizons pouco depois da nave ter passado pelo objeto da Cintura de Kuiper chamado Ultima Thule (designação oficial 2014 MU69) no dia 1 de janeiro de 2019. A "frame" central desta sequência foi obtida às 05:42:2 UT de dia 1, quando a sonda estava a 8862 km para lá de Ultima Thule, a 6,6 mil milhões de quilómetros da Terra. O crescente iluminado do objeto está desfocado nas imagens individuais devido ao relativamente longo tempo de exposição usado durante esta varredura rápida a fim de aumentar o nível do sinal da câmara - mas a equipa científica combinou e processou as imagens para remover a desfocagem e melhorar o fino crescente. Este é o filme mais distante de qualquer objeto no nosso Sistema Solar já produzido por qualquer sonda espacial. As imagens revelam um perfil da porção "escondida" de Ultima Thule que não estava iluminada pelo Sol, quando a sonda por lá passou, mas pode ser delineada porque bloqueou as estrelas de fundo na imagem.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/NOAO
 

As fotos recém-lançadas também contêm informações científicas importantes sobre a forma de Ultima Thule, que se está a tornar numa das principais descobertas do "flyby".

As primeiras imagens de perto - com os seus dois segmentos distintos e aparentemente esféricos - levaram os observadores a apelidá-lo de "boneco de neve". No entanto, novas análises das imagens de aproximação e destas imagens de despedida mudaram essa visão, em parte revelando um perfil da porção do KBO que não estava iluminada pelo Sol, mas que podia ser "traçada" enquanto bloqueava as estrelas de fundo.

Juntando 14 destas imagens num novo e curto filme da partida, os cientistas da New Horizons confirmam que as duas secções (ou "lóbulos") de Ultima Thule não são esféricas. O maior lóbulo, de nome "Ultima", lembra mais uma panqueca gigante e o mais pequeno, chamado "Thule", tem a forma de uma noz deformada.

A New Horizons obteve esta imagem do objeto da Cintura de Kuiper 2014 MU69 (com a alcunha Ultima Thule) no dia 1 de janeiro de 2019, quando estava 8862 km para lá do astro. A imagem da esquerda é uma "média" de dez imagens obtidas pelo instrumento LORRI (Long Range Reconnaissance Imager); o crescente está desfocado nas imagens "raw" devido ao relativamente longo tempo de exposição usado durante esta varredura rápida a fim de aumentar o nível do sinal da câmara. Os cientistas da missão foram capazes de processar a imagem, removendo a desfocagem para produzir uma imagem mais nítida do fino crescente de Ultima Thule.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/NOAO
(clique na imagem para ver versão maior)
 

"Tínhamos uma ideia de Ultima Thule com base no número limitado de imagens enviadas no dias em torno da passagem, mas com mais dados mudámos significativamente de opinião," disse Stern. "Seria mais correto dizermos que Ultima Thule é mais achatado, como uma panqueca. Mas o mais importante, as novas imagens estão a criar quebra-cabeças científicos até sobre como pode um objeto deste tipo ter sido formado. Nunca vimos nada assim em órbita do Sol."

As imagens de despedida foram tiradas de um ângulo diferente das fotografias de aproximação e revelam informações complementares sobre a forma de Ultima Thule. A "frame" central da sequência foi captada às 05:42:42 UT de dia 1 de janeiro, quando a New Horizons estava 8862 km para lá de Ultima Thule, a 6,6 mil milhões de quilómetros da Terra. O crescente iluminado do objeto está desfocado nas imagens individuais devido ao relativamente longo tempo de exposição usado durante esta varredura rápida, a fim de aumentar o nível do sinal da câmara - mas a equipa científica combinou e processou as imagens para remover a desfocagem e melhorar a imagem do fino crescente.

A compreensão de Ultima Thule, pelos cientistas, mudou à medida que analisavam dados adicionais. A "visão antiga" nesta ilustração tem por base imagens obtidas um dia antes da maior aproximação a Ultima Thule de dia 1 de janeiro de 2019, sugerindo que ambos os lóbulos "Ultima" (a maior secção) e "Thule" (a mais pequena) eram esferas quase perfeitas que mal tocavam um no outro. Mas com mais dados disponíveis, incluindo várias imagens do crescente obtidas quase 10 minutos depois da maior aproximação, emergiu uma "nova visão" da forma do objeto. Ultima parece-se mais com uma "panqueca" e Thule com uma "noz deformada". A forma de baixo é atualmente o melhor modelo da equipa, mas ainda contém algumas incertezas dado que uma região inteira esteve essencialmente escondida, não iluminada pelo Sol, durante o "flyby" da New Horizons. As linhas azuis tracejadas indicam a incerteza nesse hemisfério, que mostra que Ultima Thule pode ser tão achatado, ou não tão achatado, quando o ilustrado.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI/NOAO
(clique na imagem para ver versão maior)
 

As imagens individuais também mostram muitas estrelas de fundo; ao observarem quais as estrelas que "piscavam" à medida que o objeto passava em frente, os cientistas delinearam a forma de ambos os lóbulos, que pôde ser comparado com um modelo desenvolvido a partir de imagens pré-"flyby" e observações telescópicas terrestres. "O modelo da forma que derivámos a partir de todos os dados existentes de Ultima Thule é notavelmente consistente com o que aprendemos com as novas imagens do crescente," acrescentou Simon Porter, coinvestigador da New Horizons do SwRI, que lidera o esforço de modelagem da forma do KBO.

"Embora a própria natureza de uma passagem rasante rápida limite, de várias maneiras, a determinação da forma real de Ultima Thule, os novos resultados mostram claramente que Ultima e Thule são muito mais achatados do que se pensava originalmente," salientou Hal Weaver, cientista do projeto New Horizons do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins. "Isto motivará, indubitavelmente, novas teorias da formação planetesimal no início do Sistema Solar."

As imagens nesta sequência estão disponíveis no website do instrumento LORRI da New Horizons. As imagens "raw" da câmara são colocadas online todas as sextas-feiras.

Links:

Cobertura da secção 2014 MU69 da missão New Horizons pelo Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
29/01/2019 - Melhor imagem, até agora, de Ultima Thule
18/01/2019 - Aproximação a Ultima Thule pela New Horizons
04/01/2019 - New Horizons explora Ultima Thule
25/12/2018 - O primeiro mistério de Ultima Thule
21/12/2018 - New Horizons na trajetória ideal em direção a Ultima Thule
31/08/2018 - Às portas de Ultima Thule: New Horizons faz primeira deteção do seu próximo alvo de "flyby"
16/03/2018 - New Horizons escolhe alcunha para alvo do "flyby"
13/02/2018 - New Horizons captura imagens recorde na Cintura de Kuiper
15/12/2017 - Será que o próximo alvo da New Horizons tem uma lua?
08/08/2017 - Próximo alvo da New Horizons acaba de ficar muito mais interessante
21/07/2017 - Equipa de New Horizons da NASA alcança ouro na Argentina
11/07/2017 - Novos mistérios em redor do próximo alvo da New Horizons
16/06/2017 - Equipa da New Horizons examina novos dados do próximo alvo da sonda
30/05/2017 - New Horizons com equipa global para raro olhar do seu próximo alvo
03/02/2017 - New Horizons refina trajetória para próximo "flyby"
01/09/2015 - Equipa da New Horizons escolhe potencial alvo da Cintura de Kuiper para "flyby"

Notícias relacionadas:
NASA (comunicado de imprensa)
JUHAPL (comunicado de imprensa)
Novos Dados, Nova Visão (NASA via YouTube)
SPACE.com
New Scientist
Space Daily
PHYSORG
Gizmodo
Observador
Visão

Ultima Thule (2014 MU69):
Wikipedia 
NASA

New Horizons:
Página oficial
Imagens "raw", pelo LORRI do encontro com Ultima Thule
NASA
Twitter
Wikipedia

 
GAIA DETERMINA NOVOS PARÂMETROS PARA COLISÃO ENTRE VIA LÁCTEA E ANDRÓMEDA
As trajetórias orbitais futuras de três galáxias espirais: a nossa Via Láctea (azul), Andrómeda, também conhecida como M31 (vermelho), e a Galáxia do Triângulo, também conhecida como M33 (verde).
O círculo indica a posição atual de cada galáxia, e as suas trajetórias futuras foram calculadas usando dados da segunda versão do catálogo Gaia da ESA. A imagem da Via Láctea é uma impressão de artista, enquanto as imagens de M31 e M33 têm por base dados do Gaia.
As setas ao longo dos percursos indicam a direção estimada para o movimento e posições das galáxias, 2,5 mil milhões de anos para o futuro, enquanto as cruzes assinalam a sua posição estimada daqui a mais ou menos 4,5 mil milhões de anos.
Daqui a aproximadamente 4,5 mil milhões de anos, a Via Láctea e Andrómeda vão fazer a sua primeira passagem rasante uma pela outra a uma distância de aproximadamente 400.000 anos-luz. As galáxias vão então continuar a mover-se cada vez mais perto uma da outra e eventualmente fundir-se para formar uma galáxia elíptica.
A escala linear de 1 milhão de anos-luz refere-se às trajetórias das galáxias; as imagens das galáxias não estão à escala.
Crédito: órbitas - E. Patel, G. Besla (Universidade do Arizona), R. van der Marel (STScI); imagens - ESA (Via Láctea); ESA/Gaia/DPAC (M31, M33)
(clique na imagem para ver versão maior)
 

O satélite Gaia da ESA olhou para lá da nossa Galáxia e explorou duas galáxias vizinhas para revelar movimentos estelares no seu interior e como um dia vão interagir e colidir com a Via Láctea - com resultados surpreendentes.

A nossa Via Láctea pertence a um grande aglomerado de galáxias a que damos o nome Grupo Local e, juntamente com a Galáxia de Andrómeda e com a Galáxia do Triângulo - também referidas como M31 e M33, respetivamente -, compõem a maioria da massa do grupo.

Os astrónomos há muito que suspeitam que Andrómeda irá um dia colidir com a Via Láctea, remodelando completamente a nossa vizinhança cósmica. No entanto, os movimentos tridimensionais das galáxias do Grupo Local permanecem um tanto ou quanto vagos, pintando um retrato incerto do futuro da Via Láctea.

"Nós precisávamos de explorar os movimentos das galáxias em 3D para desvendar como cresceram e evoluíram, e o que cria e influencia as suas características e comportamento," diz o autor principal Roeland van der Marel, do STScI (Space Telescope Science Institute), em Baltimore, EUA.

"Conseguimos fazer isto usando o segundo conjunto de dados de alta qualidade do Gaia."

A visão total do céu (Via Láctea e galáxias vizinhas) do Gaia, com base em medições de aproximadamente 1,7 mil milhões de estrelas. O mapa mostra a densidade das estelas observadas pelo Gaia em cada porção do céu, entre julho de 2014 e maio de 2016.
As regiões mais claras indicam concentrações mais densas de estrelas especialmente brilhantes, enquanto regiões mais escuras correspondem a zonas do céu onde são observadas menos estrelas. Em contraste com o mapa de brilho a cores, dominado pelas estrelas mais brilhantes e massivas, esta imagem mostra a distribuição de todas as estrelas, incluindo as estrelas ténues e distantes.
A característica alongada visível logo abaixo do Centro Galáctico e que aponta para baixo é a galáxia anã de Sagitário, uma pequena galáxia satélite da Via láctea que está a deixar uma corrente de estrelas para trás como efeito da atração gravitacional da nossa Galáxia. Esta característica ténue é apenas visível nesta imagem, e não no mapa total do céu com base na luminosidade das estrelas, que é dominado por fontes mais brilhantes.
As regiões mais escuras no plano Galáctico correspondem a nuvens de gás interestelar e poeira em primeiro plano, que absorvem a luz das estrelas mais distantes, atrás das nuvens. Muitas destas ocultam berçários estelares onde estão a nascer novas gerações de estrelas.
Espalhados pela imagem estão também muitos enxames globulares e abertos - agrupamentos de estrelas unidas pela sua gravidade mútua, bem como galáxias inteiras para lá da nossa.
Os dois objetos brilhantes perto do cano inferior direito da imagem são a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães, duas galáxias anãs que orbitam a Via Láctea. Também são visíveis outras galáxias vizinhas, nomeadamente a Galáxia de Andrómeda (M31), para baixo e para a esquerda na imagem, juntamente com a sua satélite, a Galáxia do Triângulo (M33).
Um número de artefactos podem ser vistos na imagem, sob a forma de características curvas e listras escuras, embora muito menos pronunciadas do que no primeiro mapa do céu pelo Gaia, que teve por base apenas 14 meses de dados do satélite. Estas características não têm origem astronómica, mas são na verdade um reflexo do método de varrimento do Gaia, que vai gradualmente desaparecer ao longo dos cinco anos de dados da missão.
A segunda versão do catálogo Gaia foi divulgado no dia 25 de abril de 2018 e inclui as posições e brilhos de quase 1,7 mil milhões de estrelas, e a paralaxe, movimento próprio e cor de mais de 1,3 mil milhões de estrelas. Também inclui a velocidade radial de mais de sete milhões de estrelas, a temperatura superficial de mais de 100 milhões e outros parâmetro astrofísicos de 70-80 milhões de estrelas. Também contém mais de 500.000 fontes variáveis e a posição de 14.099 objetos conhecidos do Sistema Solar - a maioria deles asteroides.
Crédito: ESA/Gaia/DPAC; reconhecimento: Consórcio de Processamento e Análise de Dados do Gaia (DPAC); A. Moitinho/A. F. Silva/M. Barros/C. Barata, Universidade de Lisboa, Portugal; H. Savietto, Fork Research, Portugal
(clique na imagem para ver versão maior)

 

O Gaia está atualmente a construir o mapa 3D mais preciso das estrelas no Universo próximo e está a lançar os seus dados em etapas. Nesta investigação foram utilizados os dados da segunda versão, divulgada em abril de 2018.

Estudos anteriores do Grupo Local combinaram observações de telescópios como o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA e o VLBA (Very Long Baseline Array) para descobrir como as órbitas de M31 e M33 mudaram ao longo do tempo. As duas galáxias espirais em forma de disco estão localizadas entre 2,5 e 3 milhões de anos-luz, e estão próximas o suficiente uma da outra para que possam estar a interagir.

Surgiram duas possibilidades: ou a Galáxia do Triângulo está numa órbita incrivelmente longa de seis mil milhões de anos em redor de Andrómeda, mas já caiu na sua direção no passado, ou está atualmente na sua primeira queda. Cada cenário reflete um percurso orbital diferente e, portanto, uma história de formação e futuro diferente para cada galáxia.

Embora o Hubble tenha obtido a visão mais nítida de sempre de M31 e de M33, o Gaia mede a posição individual e movimento de muitas das suas estrelas com uma precisão sem precedentes.

Esta imagem gigantesca da Galáxia do Triângulo - também conhecida como M33 - é uma composição de cerca de 54 exposições diferentes com a câmara ACS (Advaenced Camera for Surveys) do Hubble. Com uma incrível resolução de 34.372 por 19.345 pixéis, é a segunda maior imagem já divulgada pelo Hubble. Só é "derrotada" pela imagem da Galáxia de Andrómeda, lançada em 2015 (use a ferramenta de zoom).
O mosaico da Galáxia do Triângulo mostra a região central da galáxia e os seus braços espirais interiores. São visíveis milhões de estrelas, centenas de enxames e nebulosas brilhantes. Esta imagem é demasiado grande para ser vista facilmente à resolução original, sendo melhor apreciada usando a ferramenta de zoom.
Crédito: NASA, ESA e M. Durbin, J. Dalcanton e B. F. Williams (Universidade de Washington)
(clique na imagem para ver versão maior)
 

"Nós vasculhámos os dados do Gaia para identificar milhares de estrelas individuais em ambas as galáxias e estudámos como essas estrelas se moviam dentro dos seus lares galácticos," acrescentou o coautor Mark Fardal, também do STScI.

"Embora o Gaia tenha como objetivo principal estudar a Via Láctea, é poderoso o suficiente para detetar estrelas especialmente massivas e brilhantes nas regiões de formação estelar próximas - mesmo em galáxias para lá da nossa."

Os movimentos estelares medidos pelo Gaia não só revelam como cada uma das galáxias se movem pelo espaço, como também mede como giram sob o seu próprio eixo de rotação.

Há um século atrás, quando os astrónomos estavam a começar a compreender a natureza das galáxias, estas medições da rotação eram bastante desejadas, mas não puderam ser terminadas com sucesso recorrendo aos telescópios disponíveis à época.

"Foi preciso um observatório tão avançado quanto o Gaia para o conseguirmos finalmente fazer," diz Roeland.

Imagem da Galáxia de Andrómeda (M31), com medições dos movimentos das suas estrelas. Esta galáxia espiral é a galáxia espiral mais próxima da Via Láctea.
A imagem de fundo, obtida com o satélite Galex da NASA em comprimentos de onda no ultravioleta próximo, realça regiões no interior da galáxia onde está a ocorrer formação estelar.
Os símbolos azuis assinalam as posições de estrelas jovens e brilhantes, usadas para medir o movimento da galáxia, e as setas amarelas indicam os movimentos estelares médios em vários locais, com base em dados da segunda versão de dados da missão Gaia da ESA. A rotação do disco da galáxia espiral, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, é evidente.
A precisão destas medições vai melhorar com os futuros lançamentos de mais dados do satélite Gaia.
Crédito: ESA/Gaia (movimentos estelares); NASA/Galex (imagem de fundo); R. van der Marel, M. Fardal, J. Sahlmann (STScI)
(clique na imagem para ver versão maior)
 

"Pela primeira vez, medimos como M31 e M33 giram no céu. Os astrónomos costumavam ver as galáxias como mundos agrupados que não podiam ser 'ilhas' separadas, mas agora sabemos o contrário.

"Foram precisos 100 anos, mas o Gaia conseguiu finalmente medir a minúscula, mas verdadeira velocidade de rotação da nossa vizinha galáctica mais próxima, M31. Isto vai ajudar-nos a entender melhor a natureza das galáxias."

Ao combinar observações existentes com os novos dados do Gaia, os investigadores determinaram como a Galáxia de Andrómeda e a Galáxia do Triângulo se movem pelo céu e calcularam o percurso orbital de cada galáxia tanto para o passado como para o futuro, ao longo de milhares de milhões de anos.

"As velocidades que encontrámos mostram que M33 não pode estar numa órbita longa em torno de M31," diz a coautora Ekta Patel da Universidade do Arizona, EUA. "Os nossos modelos, por unanimidade, mostram que M33 deve estar na sua primeira 'queda' em direção a M31."

Enquanto a Via Láctea e Andrómeda ainda estão destinadas a colidir e a fundir-se, tanto o "timing" quanto o nível de destruição da interação também são provavelmente diferentes do esperado.

Esta imagem, obtida com o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, é a maior e mais detalhada já obtida da Galáxia de Andrómeda (M31).
É uma versão "cortada" da imagem original e tem 1,5 mil milhões de pixéis. Precisaria de mais de 600 televisões FHD para ver a imagem na sua resolução original.
É a maior imagem já obtida pelo Hubble e mostra mais de 100 milhões de estrelas e milhares de enxames embebidos numa secção do disco achatado da galáxia, cobrindo mais de 40.000 anos-luz.
Crédito: NASA, ESA, J. Calcanton, B. F. Williams, L.C. Johnson (Universidade de Washington), equipa PHAT e R. Gendler
(clique na imagem para ver versão maior; aqui para usar a ferramenta de zoom)
 

Dado que o movimento de Andrómeda difere um pouco das estimativas anteriores, a galáxia provavelmente vai, ao início, "raspar" a Via Láctea em vez de colidir frontalmente. Isto ocorrerá, não daqui a 3,9 mil milhões de anos, mas daqui a 4,5 mil milhões de anos - 600 milhões de anos mais tarde do que o previsto.

"Este achado é crucial para a nossa compreensão de como as galáxias evoluem e interagem," disse Timo Prusti, cientista do projeto Gaia da ESA.

"Nós vemos características invulgares em M31 e em M33, como correntes distorcidas e caudas de gás e estrelas. Se as galáxias ainda não passaram perto uma da outra, não podem ter sido criadas pelas forças que se sentiram durante a fusão. Talvez se tenham formado por meio de interações com outras galáxias, ou pela dinâmica do gás dentro das próprias galáxias.

"O Gaia foi construído principalmente para mapear as estrelas da Via Láctea - mas este novo estudo mostra que o satélite está a superar as expetativas e pode fornecer informações únicas sobre a estrutura e dinâmica das galáxias para lá da nossa. Quanto mais tempo o Gaia observar os minúsculos movimentos destas galáxias pelo céu, mais precisas serão as nossas medições."

Links:

Notícias relacionadas:
ESA (comunicado de imprensa)
Artigo científico (The Astrophysical Journal)
Artigo científico (arXiv.org)
SPACE.com
spaceref
EarthSky
PHYSORG
The New York Times

Via Láctea:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia
SEDS

Galáxia de Andrómeda (M31):
SEDS
Wikipedia

Galáxia do Triângulo (M33):
SEDS
Wikipedia

Gaia:
ESA
ESA - 2
Arquivo de dados do Gaia
Como usar os dados do Gaia
Recursos VR
SPACEFLIGHT101
Wikipedia

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

 
DISCO EM REDOR DE ESTRELA JOVEM ESTÁ "POLVILHADO COM SAL"

Uma equipa de astrónomos e químicos, com recurso ao ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), detetou as "impressões digitais" químicas de cloreto de sódio (NaCl) e outros elementos salgados semelhantes emanados do disco empoeirado que rodeia Orion Source I, uma jovem estrela massiva situada numa nuvem de poeira por trás da Nebulosa de Orionte.

"É incrível termos conseguido ver estas moléculas," comenta Adam Ginsburg, membro do NRAO (National Radio Astronomy Observatory) em Socorro, no estado norte-americano do Novo México, autor principal de um artigo aceite para publicação na revista The Astrophysical Journal. "Como só tínhamos visto estes elementos nas camadas externas de estrelas moribundas, não sabemos totalmente o que significa a nossa nova descoberta. A natureza da deteção, no entanto, mostra que o ambiente em torno desta estrela é muito invulgar."

Para detetar moléculas no espaço, os astrónomos usam radiotelescópios para procurar as suas assinaturas químicas - picos reveladores nos espectros de rádio e em comprimentos de onda milimétricos. Os átomos e as moléculas emitem estes sinais de várias manerias, dependendo da temperatura dos seus ambientes.

Impressão de artista de Orion Source I, uma jovem estrela massiva a cerca de 1500 anos-luz. Novas observações do ALMA detetaram um anel de sal - cloreto de sódio, o comum sal de mesa - em redor de estrela. Esta é a primeira deteção de sais de qualquer tipo associada a uma estrela jovem. A região azul (a cerca de 1/3 do percurso até ao exterior, partindo do centro do disco) representa a região onde o ALMA detetou o "brilho" no comprimento de onda milimétrico dos sais.
Crédito: NRAO/AUI/NSF; S. Dagnello
(clique na imagem para ver versão maior)
 

As novas observações do ALMA contêm uma série de assinaturas espectrais - ou transições, como os astrónomos chamam - das mesmas moléculas. Para criar "impressões digitais" tão fortes e variadas, as diferenças de temperatura onde as moléculas residem devem ser extremas, variando de mais ou menos -175º C para 3700º C. Um estudo aprofundado destes picos espectrais pode fornecer informações detalhadas sobre o modo como a estrela está a aquecer o disco, o que também seria uma medida útil da luminosidade da estrela.

"Quando olhamos para as informações fornecidas pelo ALMA, vemos cerca de 60 transições diferentes - ou impressões digitais únicas - de moléculas como o cloreto de sódio e cloreto de potássio vindas do disco. Isso é impressionante e empolgante," disse Brett McGuire, químico do NRAO em Charlottesville, Virginia, EUA, coautor do artigo.

Os cientistas especulam que estes sais vêm de grãos de poeira que colidiram e derramaram os seus conteúdos no disco circundante. As suas observações confirmam que as regiões salgadas traçam a localização do disco circunstelar.

"Normalmente, quando estudamos as protoestrelas desta maneira, os sinais do disco e o fluxo da estrela confundem-se, dificultando a distinção entre um e o outro," comentou Ginsburg. "Como agora podemos isolar apenas o disco, podemos aprender como se está a mover e quanta massa contém. Também nos pode dizer coisas novas sobre a estrela."

A deteção de sinais em torno de uma estrela jovem também é de interesse para os astrónomos e astroquímicos porque alguns dos átomos constituintes dos sais são metais - sódio e potássio. Isto sugere que podem existir outras moléculas contendo metais neste ambiente. Se assim for, pode ser possível usar observações semelhantes para medir a quantidade de metais em regiões de formação estelar. "Este tipo de estudo não está disponível para nós atualmente. Os elementos metálicos flutuantes são geralmente invisíveis para a radioastronomia," realçou McGuire.

Imagem ALMA do disco salgado em redor da jovem estrela massiva Orion Source I (anel azul). É visto em relação à Nuvem Molecular I de Orionte, uma região de nascimento estelar explosivo. A imagem de fundo, no infravermelho próximo, foi obtida com o Observatório Gemini.
Crédito: ALMA (NRAO/ESO/NAOJ); NRAO/AUI/NSF; Observatório Gemini/AURA
(clique na imagem para ver versão maior)
 

As assinaturas salgadas foram encontradas a 30-60 UA (UA significa Unidade Astronómica, a distância média entre a Terra e o Sol) das estrelas hospedeiras. Com base nas suas observações, os astrónomos inferem que podem haver até mil triliões (10^21) de quilogramas de sal nessa região, o equivalente à massa total dos oceanos da Terra.

"O nosso próximo passo nesta investigação é procurar sais e moléculas metálicas noutras regiões. Isto ajudar-nos-á a compreender se estas 'impressões digitais' químicas são uma ferramenta poderosa no estudo de uma ampla gama de discos protoplanetários, ou se esta deteção é exclusiva desta fonte," disse Ginsburg. "Olhando para o futuro, o ngVLA (Next Generation Very Large Array) terá a combinação certa de sensibilidade e cobertura de comprimento de onda para estudar estas moléculas e talvez usá-las como rastreadores para discos de formação planetária."

Orion Source I está a ser formada na Nuvem Molecular I de Orionte, uma região de nascimento estelar explosivo previamente observada com o ALMA. "Esta estrela foi expelida da sua nuvem natal a uma velocidade de mais ou menos 10 km/s há cerca de 550 anos," disse John Bally, astrónomo da Universidade do Colorado e coautor do artigo. "É possível que grãos sólidos de sal tenham sido vaporizados por ondas de choque à medida que a estrela e o seu disco foram abruptamente acelerados por um encontro próximo ou por uma colisão com outra estrela. Resta saber se o vapor de sal está presente em todos os discos que rodeiam as protoestrelas massivas, ou se esse vapor assinala eventos violentos como o que observámos com o ALMA."

Links:

Notícias relacionadas:
Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
NRAO (comunicado de imprensa)
Artigo científico (arXiv.org)
Protoestrela salgada (Observatório ALMA via vimeo)
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ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS - Cometa Iwamoto e a Galáxia do Sombrero
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Ian Griffin (Otago Museum)
 
O Cometa Iwamoto (C/2018 Y1) mostra uma cabeleira bonita e esverdeada no canto superior esquerdo deste campo telescópico. Obtida no dia 4 de fevereiro a partir do Observatório de Mount John, Universidade de Canterbury, esta exposição de 30 minutos mostra o cometa a percorrer rapidamente um fundo de estrelas e galáxias distantes na constelação de Virgem. A longa exposição e o rápido movimento de Iwamoto, em relação às estrelas e galáxias, resulta na faixa nublada que traça a cabeleira brilhante do cometa. De facto, a faixa da cabeleira dá ao cometa uma aparência notavelmente similar a Messier 104, no canto inferior direito, popularmente conhecida como a Galáxia do Sombrero. O cometa, um visitante do Sistema Solar interior, está a uns meros 4 minutos-luz de distância, enquanto a majestosa M104, uma galáxia espiral vista de lado, está a 30 milhões de anos-luz. O primeiro cometa binocular de 2019, Iwamoto vai passar o mais perto da Terra no dia 12 de fevereiro. A órbita altamente elíptica deste cometa em torno do Sol estende-se para lá da cintura de Kuiper, com um período orbital estimado de 1371 anos. Como tal, deverá voltar ao Sistema Solar interior no ano 3390.
 

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