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  Astroboletim #1688  
  12/05 a 14/05/2020  
     
 
Efemérides

Dia 12/05: 133.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1965, a sonda soviética Luna 5 colide com a Lua.

Observações: Vega já está visível a este-nordeste depois do anoitecer. Procure a sua ténue constelação de Lira, balançando-se por baixo de Vega com as suas duas estrelas inferiores deslocadas um pouco para a direita.
Tire proveito destas noites sem lua para observar telescopicamente algumas das galáxias do Enxame de Virgem.

Dia 13/05: 134.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1713, nascia Alexis Claude Clairaut, astrónomo, matemático e geofísico francês, conhecido pelo seu teorema de Clairaut e pela sua co-computação do regresso do Halley em 1759, entre outros.
Em 1733, num registo de um eclipse solar transmitido para a Sociedade Real, o astrónomo sueco Bigerus Vassenius torna-se na primeira pessoa a notar o brilho da Terra na Lua durante a totalidade.

Ele escreve que o seu telescópio, com um diâmetro focal de 6,4 metros, consegue observar algumas das principais características da Lua durante a obscuridade total.
Em 1861, o Grande Cometa de 1861 é descoberto por John Tebbutt em Windsor, Nova Gales do Sul, Austrália.
Observações: Olhe para sul-sudeste antes do amanhecer. Os pontos brilhantes para a direita da Lua são os planetas Saturno e Júpiter. Mais distante, mas para a esquerda do nosso satélite natural, encontra-se o planeta Marte.
Esta é a altura do ano em que Leão começa a descer para oeste, a caminho de desaparecer no pôr-do-Sol ao início do verão. Depois do cair da noite, aviste a sua estrela mais brilhante ainda razoavelmente alta a oeste-sudoeste. É Régulo, a sua pata da frente.

Dia 14/05: 135.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1674, nascia Peder Horrebow, astrónomo holandês que inventou um método de determinar a latitude de um local a partir das estrelas, agora conhecido como Método Horrebow-Talcott.
Em 1861, um meteorito condrito de 859 gramas atinge a Terra perto de Barcelona e é apelidado de meteorito Canellas.
Em 1973, lançamento da primeira estação espacial americana, a Skylab.

É a última descolagem do foguetão Saturno V.
Observações: Repita a observação da Lua de ontem e repare que se deslocou em relação às estrelas e aos planetas. Hoje está mais próxima de Marte do que de Saturno e Júpiter.
Lua em Quarto Minguante, pelas 15:03.

 
     
 
Curiosidades


A partir de baixa órbita terrestre (entre 250-560 km), várias construções feitas pelo Homem são visíveis: aeroportos, pontes, barragens e auto-estradas. A Grande Muralha da China, um dos feitos da Humanidade que ficou bastante famoso por se afirmar que era visível do espaço mesmo antes da era espacial, é na realidade muito ténue e apenas observável sob condições perfeitas (clique na imagem para discernir como se vê a Muralha do espaço).

 
 
   
Telescópios e sonda unem forças para investigar as profundezas da atmosfera de Júpiter
 
Estas imagens da Grande Mancha Vermelha de Júpiter foram feitas usando dados recolhidos pelo Telescópio Espacial Hubble e pelo Observatório Gemini no dia 1 de abril de 2018. Combinando observações capturadas quase ao mesmo tempo com dois observatórios diferentes, os astrónomos foram capazes de determinar que as características escuras da Grande Mancha Vermelha são buracos nas nuvens, em vez de massas de material escuro.
Canto superior esquerdo e canto inferior esquerdo (ampliação): Imagem pelo Hubble (visível) de luz solar refletida das nuvens na atmosfera de Júpiter mostram características escuras dentro da Grande Mancha Vermelha;
Canto superior direito: Imagem infravermelha da mesma área obtida pelo Gemini que mostra calor emitido como energia infravermelha. As nuvens frias aparecem como regiões escuras, mas "clareiras" nas nuvens permitem que a emissão infravermelha brilhante escape das camadas mais quentes por baixo;
Meio inferior: Imagem ultravioleta, pelo Hubble, que mostra luz solar dispersada pelas neblinas acima da Grande Mancha Vermelha. A Grande Mancha Vermelha aparece vermelha no visível porque estas neblinas absorvem comprimentos de onda azuis. Os dados do Hubble mostram que as neblinas continuam a absorver até comprimentos de onda ultravioletas mais curtos;
Canto inferior direito: composição em vários comprimentos de onda recorrendo a dados do Hubble e do Gemini que mostra luz visível a azul e radiação infravermelha a vermelho. As observações combinadas mostram que as áreas que são brilhantes no infravermelho são "clareiras" ou locais onde há menos cobertura de nuvens a bloquear o calor do interior.
As observações do Hubble e do Gemini foram feitas para fornecer um contexto mais amplo da 12.ª passagem da Juno (Perijove 12).
Crédito: NASA, ESA e M. H. Wong (UC Berkeley) e equipa
 

O Telescópio Espacial Hubble da NASA e o Observatório Gemini, no Hawaii, uniram esforços com a sonda Juno para examinar as tempestades mais poderosas do Sistema Solar, ocorrendo a mais de 800 milhões de quilómetros de distância no gigantesco planeta Júpiter.

Uma equipa de investigadores liderados por Michael Wong da Universidade da Califórnia, Berkeley, e incluindo Amy Simon do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland, e Imke de Pater também da UC em Berkeley, estão a combinar observações em vários comprimentos de onda do Hubble e do Gemini com ampliações adquiridas pela Juno em órbita do planeta gigante, obtendo novas ideias sobre o clima turbulento neste mundo distante.

"Queremos saber como a atmosfera de Júpiter funciona," disse Wong. É aqui que o trabalho da equipa da Juno, do Hubble e do Gemini entra em cena.

"Show de luzes" no rádio

As tempestades constantes de Júpiter são gigantescas em comparação com as da Terra, atingindo quase 65 km da sua base até ao topo - cinco vezes mais altas do que as tempestades típicas da Terra - e os poderosos relâmpagos são até três vezes mais energéticos do que os maiores "super-relâmpagos" da Terra.

Tal como os relâmpagos na Terra, os de Júpiter agem como transmissores de rádio, emitindo ondas de rádio bem como luz visível quando "piscam" pelo céu.

A cada 53 dias, a Juno passa perto dos sistemas de tempestades, detetando sinais de rádio conhecidos como "sferics" e "assobios", que podem ser usados para mapear relâmpagos até mesmo no lado diurno do planeta ou em nuvens profundas onde os flashes não são de outra maneira visíveis.

Coincidindo com cada passagem, o Hubble e Gemini observam de longe, capturando imagens globais de alta resolução, essenciais para a interpretação das observações íntimas da Juno. "O radiómetro de micro-ondas da Juno investiga profundamente a atmosfera do planeta, detetando ondas de rádio de alta frequência que podem penetrar através das espessas camadas de nuvens. Os dados do Hubble e do Gemini podem dizer-nos quão espessas são as nuvens e a profundidade a que estamos a observar as nuvens," explicou Simon.

Ao mapear os relâmpagos detetados pela Juno em imagens óticas do planeta capturadas pelo Hubble e imagens infravermelhas capturadas ao mesmo tempo pelo Gemini, a equipa de investigação conseguiu mostrar que os eventos de relâmpagos estão associados a uma combinação de estruturas de nuvens: nuvens profundas feitas de água, grandes torres convectivas provocadas pela ressurgência de ar húmido - essencialmente nuvens jovianas do tipo cúmulo-nimbo - e regiões limpas presumivelmente causadas pela inundação do ar mais seco fora das torres convectivas.

Os dados do Hubble mostram a altura das nuvens espessas nas torres convectivas, bem como a profundidade das nuvens em águas profundas. Os dados do Gemini revelam claramente as "clareiras" nas nuvens a altas altitudes, onde é possível vislumbrar as nuvens profundas de água.

Wong pensa que os relâmpagos são comuns num tipo de área turbulenta conhecida como regiões filamentosas dobradas, o que sugere que ocorre aí uma convecção húmida. "Estes vórtices ciclónicos podem ser chaminés internas de energia, ajudando a libertar energia interna por convecção," disse. "Não acontece em todos os lugares, mas algo nestes ciclones parece facilitar a convecção."

A capacidade de correlacionar relâmpagos com nuvens profundas de água também fornece aos investigadores outra ferramenta para estimar a quantidade de água na atmosfera de Júpiter, parâmetro importante para entender como Júpiter e os outros gigantes de gás e gelo se formaram e, portanto, como o Sistema Solar como um todo se formou.

Embora as missões espaciais anteriores tenham descoberto muito sobre Júpiter, grande parte dos detalhes - incluindo a quantidade de água na atmosfera profunda, exatamente como o calor flui do interior e o que provoca certas cores e padrões nas nuvens - permanecem um mistério. O resultado combinado fornece informações sobre a dinâmica e sobre a estrutura tridimensional da atmosfera.

 
Este gráfico mostra observações e interpretações de estruturas de nuvens e circulação atmosférica em Júpiter recolhidas pela sonda Juno, pelo Telescópio Espacial Hubble e pelo Observatório Gemini. Através da combinação de dados da Juno, do Hubble e do Gemini, os investigadores são capazes de ver que os relâmpagos estão agrupados em regiões turbulentas onde existem nuvens profundas de água e onde o ar húmido sobe para formar torres convectivas parecidas às nuvens do tipo cúmulo-nimbo cá na Terra. A parte de baixo da ilustração de relâmpagos, torres convectivas, nuvens profundas de água e "clareiras" na atmosfera de Júpiter têm por base dados da Juno, do Hubble e do Gemini, e correspondem às linhas brancas vistas nas imagens de cima. A combinação das observações pode ser usada para mapear as estruturas de nuvens a três dimensões e inferir detalhes da circulação atmosférica. Nuvens altas e espessas formam-se onde o ar húmido sobe (convecção ativa). As "clareiras" formam-se onde o ar mais seco se afunda. As nuvens aqui vistas são cinco vezes mais altas do que nuvens parecidas na atmosfera relativamente mais fina da Terra. A região ilustrada (que corresponde a uma pequena área das fotografias na parte superior) é, horizontalmente, cerca de 33% maior do que os Estados Unidos continentais.
Crédito: NASA, ESA, M. H. Wong (UC Berkeley), A. James e M. W. Carruthers (STScI) e S. Brown (JPL)
 

Vendo a Mancha Vermelha de modo semelhante a uma "abóbora iluminada"

Com o Hubble e o Gemini a observar Júpiter com mais frequência durante a missão da Juno, os cientistas também são capazes de estudar mudanças a curto prazo e características de curta duração, como as da Grande Mancha Vermelha.

As imagens da Juno, bem como de missões anteriores a Júpiter, revelaram características escuras dentro da Grande Mancha Vermelha que aparecem, desaparecem e mudam de forma com o tempo. Não ficou claro, a partir de imagens individuais, se estas características são provocadas por algum material misterioso de cor escura dentro da camada de nuvens altas ou se são ao invés buracos nas nuvens altas - janelas para uma camada mais profunda e escura.

Agora, com a capacidade de comparar imagens no visível obtidas pelo Hubble com imagens infravermelhas do Gemini, separadas por apenas horas umas das outras, é possível responder à pergunta. As regiões escuras no visível são muito brilhantes no infravermelho, indicando que são, de facto, buracos na camada de nuvens. Em regiões sem nuvens, o calor do interior de Júpiter, emitido sob a forma de luz infravermelha - de outro modo bloqueado por nuvens a alta altitude - é livre para escapar para o espaço e, portanto, aparece brilhante nas imagens do Gemini.

"É como uma espécie de 'abóbora iluminada'," disse Wong. "Vemos a luz infravermelha brilhante proveniente de áreas livres de nuvens, mas onde há nuvens, são bastante escuras no infravermelho."

Hubble e Gemini como rastreadores do clima joviano

A observação regular de Júpiter pelo Hubble e com o Gemini, em apoio à missão Juno, também se mostra valiosa em estudos de muitos outros fenómenos climáticos, incluindo mudanças nos padrões de vento, características das ondas atmosféricas e da circulação de vários gases na atmosfera.

O Hubble e o Gemini podem monitorizar o planeta como um todo, fornecendo mapas básicos em tempo real em vários comprimentos de onda para referência nas medições da Juno, da mesma maneira que os satélites meteorológicos de observação da Terra fornecem contexto para os caçadores de furacões da agência norte-americana NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration).

"Como agora temos rotineiramente estas visualizações de alta resolução de dois observatórios e em comprimentos de onda diferentes, estamos a aprender muito mais sobre o clima de Júpiter," explicou Simon. "Este é o nosso equivalente a um satélite meteorológico. Podemos finalmente começar a analisar os ciclos climáticos."

Dado que as observações do Hubble e do Gemini são tão importantes para a interpretação dos dados da Juno, Wong e os colegas Simon e de Pater estão a tornar todos os dados processados facilmente acessíveis a outros investigadores através do Arquivo MAST (Mikulski Archives for Space Telescopes) do STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore, Maryland.

"O importante é que conseguimos recolher este enorme conjunto de dados que suporta a missão Juno. Existem tantas aplicações do conjunto de dados que nem as podemos antecipar. De modo que permitimos que outros cientistas façam ciência sem aquela barreira de ter que descobrir por conta própria como processar os dados," disse Wong.

Os resultados foram publicados o mês passado na revista The Astrophysical Journal Supplement Series.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Hubblesite (comunicado de imprensa)
// Observatório Gemini (comunicado de imprensa)
// UC Berkeley (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Supplement Series)

 


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Notícias relacionadas:
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Júpiter:
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Grande Mancha Vermelha de Júpiter (Wikipedia)

Missão Juno:
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Telescópio Espacial Hubble:
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Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

Observatório Gemini:
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MeerKAT resolve mistério de "galáxias-X"
 
A galáxia PKS 2014-55, localizada a 800 milhões de anos-luz da Terra, está classificada como tendo "forma X" devido à sua aparência em imagens anteriores relativamente difusas. O detalhe fornecido nesta imagem rádio obtida pelo telescópio MeerKAT indica que a sua forma é melhor descrita como um "boomerang duplo". Dois poderosos jatos de ondas de rádio, indicados em azul, estendem-se cada um a 2,5 milhões de anos-luz para o espaço (comparável à distância entre a Via Láctea e a Galáxia de Andrómeda, a nossa grande vizinha galáctica mais próxima). Eventualmente, são "dobrados" pela pressão do ténue gás intergaláctico. À medida que fluem novamente para a galáxia central, são desviados pela pressão relativamente alta do gás em braços de boomerang mais curtos e horizontais. A imagem de fundo mostra luz visível de uma miríade de galáxias no Universo distante. Adaptado de W. Cotton et al., MNRAS (2020).
Crédito: NRAO/AUI/NSF; SARAO; DES
 

Muitas galáxias, bem mais ativas do que a Via Láctea, têm enormes jatos gémeos de ondas de rádio que se estendem até ao espaço intergaláctico. Normalmente, estes seguem direções opostas, provenientes de um buraco negro massivo no centro da galáxia. No entanto, alguns são mais complicados e parecem ter quatro jatos formando um "X" no céu.

Foram propostas várias explicações a fim de entender este fenómeno. Estas incluem mudanças na direção da rotação do buraco negro no centro da galáxia, e jatos associados, ao longo de milhões de anos; dois buracos negros, cada um associado a um par de jatos; e material que cai para a galáxia e que é desviado em direções diferentes, formando os dois outros braços do "X".

As novas e requintadas observações, pelo MeerKAT, de uma dessas galáxias, PKS 2014-55, favorecem fortemente a última explicação, pois mostram o material a "virar a esquina" à medida que flui de volta para a galáxia hospedeira; os resultados foram aceites para publicação na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Este trabalho foi realizado por uma equipa do SARAO (South African Radio Astronomy Observatory), do NRAO (National Radio Astronomy Observatory) dos EUA, da Universidade de Pretória e da Universidade de Rhodes.

 
Imagem legendada que mostra a galáxia rádio em forma de "X", PKS 2014-55, observada pelo telescópio MeerKAT do SARAO (South African Radio Astronomy Observatory), indicando a antiga forma de "X" dos jatos de rádio, os jatos mais jovens mais perto do buraco negro central, e a região de influência dominada pelas estrelas e pelo gás da galáxia central. As setas curvas denotam a direção do fluxo que forma os componentes horizontais do X.
Crédito: UP; NRAO/AUI/NSF; SARAO; DES
 

Estudos anteriores destas galáxias invulgares não tinham a alta qualidade fornecida pelo telescópio MeerKAT, recentemente concluído. Este conjunto de telescópios consiste de 64 antenas de rádio localizadas no semideserto de Karoo, na província do Cabo Setentrional, na África do Sul. Os computadores combinaram os dados dessas antenas num telescópio com 8 km de diâmetro e forneceram imagens rádio da galáxia PKS 2014-55 com qualidade sem precedentes, o que permitiu resolver o mistério da sua forma.

Bernie Fanaroff, ex-diretor do projeto SKA (Square Kilometre Array) na África do Sul que construiu o MeerKAT e coautor do estudo, observa que "o MeerKAT foi construído para ser o melhor do mundo dentro do seu género. É maravilhoso ver como as suas capacidades únicas estão a contribuir para resolver questões de longa data relacionadas com a evolução das galáxias."

O autor principal William Cotton do NRAO diz que o "MeerKAT pertence a uma nova geração de instrumentos cujo poder resolve quebra-cabeças antigos, ao mesmo tempo que encontra novos - esta galáxia mostra características nunca antes vistas com este detalhe e que não são totalmente compreendidas." Investigações sobre estas questões em aberto já estão em andamento.

// SARAO (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

Galáxias rádio em forma de "X":
Wikipedia

Buraco negro supermassivo:
Wikipedia

MeerKAT:
SARAO
Wikipedia

 
   
Quando os planetas bebés derretem
 
Max Collinet (esquerda) e o professor Tim Grove trabalham juntos para extrair uma amostra experimental de uma máquina única de fusão de rochas no MIT, que revela pistas sobre planetesimais e sobre a formação de planetas rochosos com a Terra e Marte.
Crédito: Stephanie Brown/MIT
 

Comecemos no início. Antes dos humanos, antes da Terra, antes até da existência de qualquer um dos planetas, havia planetas bebés - planetesimais. Coalescidos a partir de poeira expelida para fora pela nebulosa solar, estes corpos tinham apenas alguns quilómetros de diâmetro. Em pouco tempo agregaram-se devido à gravidade para formar os planetas rochosos na parte mais interior do Sistema Solar, deixando os primeiros detalhes sobre estes planetesimais à nossa imaginação.

A sua misteriosa identidade é complicada pelo facto de que Mercúrio, Vénus, a Terra e Marte são todos diferentes em termos de composição química. Como uma batedeira que mistura ingredientes de um bolo, a Terra passou por algum rearranjo, em grande parte devido ao vulcanismo e às placas tectónicas que deslocam elementos para dentro e para fora do interior, o que obscurece ainda mais quaisquer informações sobre os ingredientes originais e suas proporções.

Agora, um par de cientistas do Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT (Massachusetts Institute of Technology) revelou algumas informações importantes sobre esses planetesimais, recriando em laboratório os primeiros magmas que estes objetos podem ter produzido na infância do Sistema Solar. E ao que parece, existem evidências físicas destes magmas nos meteoritos, acrescentando validação às suas afirmações.

"Esta formação e diferenciação destes planetesimais é uma espécie de passo importante na forma como se produziram os planetas terrestres interiores, e estamos realmente a começar a desvendar essa história," diz o professor de Geologia Timothy Grove, autor principal do estudo, publicado numa trilogia de artigos científicos nas revistas Geochimica et Cosmochimica Acta e Meteoritics and Planetary Science.

"Teasers" de meteoritos

Até hoje, existem minúsculas evidências dos blocos de construção planetária do Sistema Solar em meteoritos, que se encaixam em duas categorias principais. Os condritos são feitos de material original e são do tipo mais comum. Os acondritos são oriundos de corpos parentes que sofreram algum tipo de modificação - e a compreensão destas modificações ajuda a explicar os processos que formam e "cultivam" planetas.

Os ureilitos, o segundo grupo mais abundante de acondritos, foram o tópico original desta investigação. Mas rapidamente os investigadores perceberam que os seus achados também podiam ser aplicados noutros sítios.

Graças a uma série de experiências desenhadas para corrigir erros em técnicas anteriores, Grove e o autor principal Max Collinet descobriram um novo ângulo. "O que nós ao início queríamos entender era mais sobre um pequeno grupo de meteoritos que é obscuro para muita gente," diz Collinet da sua investigação de doutoramento. "Mas quando fizemos estas experiências, percebemos que os derretimentos que produzimos têm muitas implicações para muitos outros elementos da formação planetária."

Isto inclui a origem do tipo mais abundante de meteorito acondrito, denominado eucrito, supostamente proveniente de Vesta, o segundo maior corpo da cintura de asteroides. Isto porque, em 1970, um investigador do MIT descobriu que Vesta era feito do mesmo tipo de rocha basáltica. "Tínhamos todas estas lavas basálticas da superfície de Vesta, e basicamente toda a gente assumiu que é o que acontece quando derretemos estes corpos," explica Grove. Porém, recentemente, outros estudos derrubaram esta hipótese, deixando a questão: quais foram os primeiros derretimentos formados nos planetesimais?

Fazendo pequenos planetas

"O que percebemos é que realmente não sabíamos qual era a composição daqueles primeiros magmas produzidos em qualquer planetesimal, muito menos naquele em que estávamos interessados - o corpo parente dos ureilitos," diz Collinet acerca dos resultados dos seus novos métodos experimentais.

Em estudos anteriores, usando um sistema experimental típico de "sistema aberto" que mantinha os baixos níveis de oxigénio esperados dentro de um planetesimal, muitos dos elementos alcalinos altamente reativos - sódio e potássio - podiam escapar.

Groove e Collinet tiveram que trabalhar juntos para realizar as experiências usando um instrumento único no MIT que mantinha o sistema "fechado" e retinha todos os alcalinos. Preencheram uma pequena cápsula de metal com alguns milímetros quadrados com os mesmos elementos químicos que podem ter estado presentes num planetesimal e submeteram-nos a condições de baixo oxigénio, temperaturas de fusão de rochas e pressões esperadas nos interiores de corpos relativamente pequenos. Assim que essas condições foram alcançadas, o magma da amostra foi congelado - conforme registado nos seus métodos - ao "bater" na máquina com uma chave inglesa para garantir que a sua cápsula se fragmentava, caindo rapidamente para a temperatura ambiente.

A análise do magma, arrefecido num vidro, foi complicada. Como estavam à procura do início da fusão, as regiões dentro das amostras eram bem pequenas. Foram necessários alguns ajustes nos seus procedimentos para combinar todas numa região maior. Assim que foram capazes de medir as amostras, o par ficou chocado com as implicações do que descobriram.

"Não fazíamos ideia de que iríamos produzir estas coisas. Foi completamente imprevisto," realça Grove. Este material era um granito rico em alcalinos - uma composição de cor clara e rica em sílica, como podemos ver num balcão de cozinha, no extremo oposto do espectro de rochas basálticas pobres em alcalinos e pobres em sílica de Vesta - como aqueles formados a partir de lava.

"Collinet e Grove mostram que ideias anteriores sobre as composições das primeiras fusões do nosso Sistema Solar, há cerca de 4,6 mil milhões de anos, podem estar incorretas porque o registo de processos iniciais foi obscurecido pela atividade geológica de tempos mais recentes," diz Cyrena Goodrich, cientista sénior do Instituto Lunar e Planetário da USRA (Universities Space Research Association), que não participou na investigação. "Estes resultados terão aplicações numa ampla gama de tópicos da geologia e das ciências planetárias e vão influenciar substancialmente trabalhos futuros."

Estes resultados surpreendentes quase que coincidem com fusões medidas em muitas amostras de meteoritos naturais. Além disso, os dois cientistas aprenderam algo sobre os misteriosos alcalinos que faltavam nos planetas rochosos e sobre as diferenças entre a Terra, Marte, Vénus e Mercúrio.

Reimaginando o início

Anteriormente, supunha-se que as diferenças entre os planetas terrestres tinham surgido durante a dispersão inicial de elementos na nebulosa solar e se relacionavam com a forma como esses elementos se condensaram de gases para sólidos.

"Agora temos outro caminho," diz Grove. Com os derretimentos que hospedam muitos alcalinos, seria necessário apenas algum método de remoção do derretimento para deixar estes planetesimais residuais esgotados de potássio e sódio.

O próximo passo será determinar como estas fusões podem ser extraídas do interior dos planetesimais, uma vez que os impulsionadores do movimento de magma na Terra provavelmente não seriam os mesmos nestes corpos planetários. De facto, a migração de elementos nos planetas primitivos, como a formação dos núcleos metálicos, é uma grande área desconhecida que o par de cientistas anseia continuar a explorar.

Devido à incapacidade de observar o que realmente aconteceu durante a formação do Sistema Solar, as surpresas expostas por este estudo são um passo significativo. "Trazemos novas pistas sobre como a nebulosa criou estes corpos," resume Collinet, que agora é pós-doutorado na Alemanha, trabalhando para entender as camadas por baixo da crosta exterior de Marte. A partir de uma cápsula minúscula num laboratório ou de uma amostra microscópica de um meteorito derretido, é possível revelar informações sobre o nascimento de um vasto planeta.

// MIT (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (Meteoritics & Planetary Science)
// Artigo científico #2 (Geochimica et Cosmochimica Acta)
// Artigo científico #3 (Geochimica et Cosmochimica Acta)

 


Saiba mais

Sistema Solar:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia

Formação e evolução do Sistema Solar:
Wikipedia
Planetesimal (Wikipedia)

Meteoritos:
Wikipedia
Classificação de meteoritos (Wikipedia)
Condritos (Wikipedia)
Acondritos (Wikipedia)
Ureilitos (Wikipedia)
Eucritos (Wikipedia)

 
   
Álbum de fotografias - Por Trás de Betelgeuse
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Adam BlockObservatório Steward, Universidade do Arizona
 
O que está por trás de Betelgeuse? Uma das estrelas mais brilhantes e invulgares do céu, a estrela supergigante vermelha Betelgeuse pode ser encontrada na direção da famosa constelação de Orionte. Betelgeuse, no entanto, está também em frente de muitas outras estrelas brilhantes da constelação, e também em frente do maior complexo da Nuvem Molecular de Orionte. Numericamente, a sua luz leva cerca de 700 anos para chegar até nós, mas aproximadamente 1300 anos para a luz da Nebulosa de Orionte e da poeira e gás em seu redor chegar até nós. Todos os telescópios, à exceção dos maiores, observam Betelgeuse como apenas um ponto de luz, mas um ponto tão brilhante que a desfocagem inerente criada pelo telescópio e pela atmosfera da Terra fazem com que pareça maior do que é. Nesta imagem com um longo tempo de exposição, milhares de estrelas da nossa Via Láctea podem ser vistas no plano de fundo por trás de Betelgeuse, bem como poeira escura da Nuvem Molecular de Orionte e algumas emissões vermelhas brilhantes de hidrogénio gasoso nos arredores do mais distante Anel Lambda Orionis. Betelgeuse recuperou de aparecer invulgarmente ténue ao longo dos últimos seis meses, mas ainda deverá explodir como uma espetacular supernova algures nos próximos 100.000 anos.
 
   
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