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  Astroboletim #1701  
  26/06 a 29/06/2020  
     
 
Efemérides

Dia 26/06: 178.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1730 nascia Charles Messier.

Conhecido caçador de cometas francês, que catalogou mais ou menos 100 nebulosas brilhantes e enxames estelares conhecidos hoje em dia pelos seus números M, porque confundia estes objetos estacionários com possíveis novos cometas, que era na realidade o que ele andava à procura.
Em 1824 nascia Lord Kelvin, físico irlandês bastante conhecido pelo desenvolvimento das bases do zero absoluto e da unidade de medição da temperatura que tem o seu nome.
Em 1973, morrem 9 pessoas no Cosmódromo de Plesetsk devido a uma explosão de um foguetão Cosmos 3-M.
Observações: Agora, a cada amanhecer, Vénus fica um pouco mais alto e fácil de avistar a este-nordeste.
Esta noite, a Lua, quase em Quarto Crescente, brilha perto dos pés traseiros de Leão, cerca de 9º para baixo de Denébola, a estrela da cauda de Leão, de segunda magnitude.
Denébola forma umtriângulo equilátero quase perfeito com a mais brilhante estrela Espiga, para a esquerda, e com Arcturo, ainda mais brilhante, para cima das duas. Todos os três lados do triângulo têm quase 35º (35,3º, 35,1º e 32,8º). Tem sido chamado o Triângulo de Primavera.

Dia 27/06: 179.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1949 foi descoberto o asteroide Ícaro, com um telescópio de 48 polegadas que entrou em funcionamento nove meses antes. Descobriu-se que o asteroide tem uma órbita acentuadamente excêntrica e uma distância perial de apenas 27 milhões e 358 mil quilómetros, mais próximo do Sol que Mercúrio (daí o seu nome). Estava apenas a 6 milhões e 500 mil quilómetros da Terra na altura da sua descoberta.
Em 1982 era lançada a missão STS-4 do vaivém Columbia.

Em 1995, lançamento da STS-71, do Atlantis, a primeira missão do vaivém espacial a atracar com a MIR.
Em 2013, a NASA lança o IRIS, uma sonda para observar o Sol.
Observações: Esta noite a Lua encontra-se entre Denébola (para a sua direita) e a mais brilhante Espiga (para a esquerda).

Dia 28/06: 180.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1911, rochas do meteorito Nakhla caem na Terra, perto de Alexandria, Egipto.

Descobriu-se mais tarde que estas 40 pedras vieram de Marte. A origem das rochas que caíram para a Terra pode ser determinada através da sua análise química. As rochas marcianas têm uma composição semelhante.
Em 2011, o Telescópio Espacial Hubble descobre outra lua em redor de Plutão, temporariamente denominada P4. A descoberta foi novamente verificada no dia 20 de julho do mesmo ano. O nome oficial da lua é agora Cérbero.
Observações: Lua em Quarto Crescente, pelas 09:16.

Dia 29/06: 181.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1818, nascia Angelo Secchi, astrónomo italiano. Foi Diretor do Observatório da Universidade Gregoriana Pontifical durante 28 anos. Foi um pioneiro na espectroscopia astronómica, um dos primeiros cientistas a afirmar autoritariamente que o Sol era uma estrela.
Em 1868, nascia George Hale, astrónomo solar americano.

Foi quem sugeriu a Einstein (após este lhe ter perguntado) que a sua teoria da curvatura da luz devido à gravidade só poderia ser testada durante um eclipse solar total do Sol. 
Em 1961 era lançado o primeiro satélite a energia nuclear, o satélite americano Transit 4A.
Em 1995, a missão STS-71 do vaivém Atlantis doca pela primeira vez com a estação espacial Mir.
Observações: Perto da meia-noite, já as constelações de Escorpião e Sagitário estão a sul-sudeste e a sul. Aproveite para observar telescopicamente os planetas Júpiter e Saturno, separados por menos de 6º no céu, para a esquerda de Sagitário.

 
     
 
Curiosidades


Neste mês de junho, a sonda SDO (Solar Dynamics Observatory) da NASA celebra 10 anos de observação contínua do Sol. A missão captou até ao momento 425 milhões de imagens de alta resolução do Sol, totalizando 20 milhões de gigabytes de dados ao longo de uma década. A agência espacial divulgou um vídeo em que compila uma foto por hora, condensando 10 anos do Sol em 61 minutos. No vídeo nota-se o aumento e a descida de atividade solar que ocorre durante o seu ciclo de 11 anos. E também outros eventos notáveis, como planetas em trânsito e proeminências (ver lista completa de eventos e cronologias na descrição do vídeo no YouTube).

 
 
   
TESS e Spitzer descobrem um mundo em órbita de jovem estrela única
 
Impressão de artista do planeta AU Mic b e da sua jovem estrela anã vermelha. O sistema fica a cerca de 32 anos-luz de distância na direção da constelação do hemisfério sul de Microscópio.
Crédito: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA/Chris Smith (USRA)
 

Há mais de uma década que os astrónomos procuram planetas em órbita de AU Microscopii, uma estrela próxima ainda rodeada por um disco de detritos deixado para trás durante a sua formação. Agora, os cientistas usaram dados do TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) e do aposentado Telescópio Espacial Spitzer para relatar a descoberta de um planeta tão grande quanto Neptuno que completa uma órbita em torno da jovem estrela em pouco mais de uma semana.

O sistema, conhecido pela abreviação AU Mic, fornece um laboratório único para estudar como os planetas e as suas atmosferas se formam, evoluem e interagem com as suas estrelas.

"AU Mic é uma jovem estrela anã M. Está cercada por um vasto disco de detritos no qual foram rastreados aglomerados de poeira em movimento e, agora, graças ao TESS e ao Spitzer, sabemos hospedar um planeta e temos uma medição direta do tamanho," disse Bryson Cale, estudante de doutoramento da Universidade George Mason em Fairfax, no estado norte-americano da Virgínia. "Não existe outro sistema conhecido que preencha todos estes importantes requisitos."

O novo planeta, Au Mic b, é descrito num novo artigo em que Cale é coautor e liderado pelo seu orientador Peter Plavchan, professor assistente de física e astronomia na mesma universidade. O seu trabalho foi publicado dia 24 de junho na revista Nature.

AU Mic é uma estrela anã vermelha e fria, com uma idade estimada entre 20 a 30 milhões de anos, o que torna numa "criança" estelar em comparação com o nosso Sol, que é pelo menos 150 vezes mais velho. A estrela é tão jovem que brilha principalmente do calor gerado quando a sua própria gravidade a puxou para dentro e comprimiu. Menos de 10% da energia da estrela vem da fusão do hidrogénio em hélio no seu núcleo, o processo que alimenta estrelas como o nosso Sol.

O sistema está localizado a 31,9 anos-luz de distância na direção da constelação do hemisfério sul de Microscópio. Faz parte de uma coleção próxima de estrelas chamada Grupo Móvel de Beta Pictoris, cujo nome refere-se a uma estrela maior e mais quente, do tipo-A, que abriga dois planetas e também é rodeada por um disco de detritos.

Embora os sistemas tenham a mesma idade, os seus planetas são marcadamente diferentes. O planeta AU Mic b quase que abraça a sua estrela, completando uma órbita a cada 8,5 dias. Tem menos de 58 vezes a massa da Terra, colocando-o na categoria de mundos semelhantes a Neptuno. Beta Pictoris b e c, no entanto, são pelo menos 50 vezes mais massivos do que Au Mic b e levam 21 e 3,3 anos, respetivamente, a orbitar a sua estrela.

"Nós pensamos que AU Mic b se formou longe da estrela e migrou para dentro até à sua órbita atual, algo que pode acontecer à medida que os planetas interagem gravitacionalmente com um disco de gás ou com outros planetas," disse o coautor Thomas Barclay, cientista associado da Universidade de Maryland em Baltimore County e cientista associado do projeto TESS no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, EUA. "Por outro lado, a órbita de Beta Pictoris b não parece ter migrado muito. As diferenças entre estes sistemas com idades semelhantes podem dizer-nos muito sobre a formação e migração dos planetas."

A deteção de planetas em torno de estrelas como AU Mic representa um desafio particular. Estas estrelas tempestuosas possuem fortes campos magnéticos e podem estar cobertas por manchas estelares - regiões mais frias, mais escuras e altamente magnetizadas parecidas com as manchas solares - que frequentemente despoletam fortes explosões estelares. Tanto as manchas como as suas proeminências contribuem para as mudanças de brilho da estrela.

Em julho e agosto de 2018, quando o TESS estava a observar AU Mic, a estrela produziu várias erupções, algumas das quais eram mais poderosas do que as mais fortes já registadas no Sol. A equipa realizou uma análise detalhada para remover estes efeitos dos dados do TESS.

Quando um planeta passa em frente da sua estrela, da perspetiva da Terra, um evento a que chamamos trânsito, a sua passagem provoca uma distinta queda de brilho estelar. O TESS monitoriza grandes áreas do céu, chamadas sectores, durante 27 dias de cada vez. Durante este longo olhar, as câmaras da missão capturam regularmente instantâneos que permitem com que os cientistas rastreiem alterações no brilho estelar.

Quedas regulares no brilho de uma estrela assinalam a possibilidade de um planeta em trânsito. Geralmente, são necessários pelo menos dois trânsitos observados para reconhecer a presença de um planeta.

"Por azar, o segundo dos três trânsitos observados com o TESS ocorreu quando a nave espacial estava no seu ponto mais próximo da Terra. Nestas alturas, o TESS não observa porque está ocupado a transmitir todos os dados armazenados," disse a coautora Diana Dragomir, professora assistente da Universidade do Novo México em Albuquerque. "Para preencher a lacuna, a nossa equipa recebeu tempo de observação com o Spitzer, que capturou dois trânsitos adicionais em 2019 e nos permitiu confirmar o período orbital de AU Mic b."

O Spitzer foi um observatório infravermelho polivalente que operou de 2003 até à sua desativação no dia 30 de janeiro de 2020. A missão mostrou-se especialmente hábil na deteção e estudo de exoplanetas em torno de estrelas frias. O Spitzer observou AU Mic durante o seu último ano de observações.

Como a quantidade de luz bloqueada por um trânsito depende do tamanho do planeta e da sua distância orbital, os trânsitos observados pelo TESS e pelo Spitzer forneceram uma medição direta do tamanho de AU Mic b. A análise destas medições mostra que o planeta é aproximadamente 8% maior do que Neptuno.

Observações com instrumentos acoplados a telescópios terrestres fornecem limites superiores para a massa do planeta. À medida que um planeta se desloca, a sua gravidade puxa a estrela hospedeira, que se move levemente em resposta. Os instrumentos sensíveis de telescópios grandes podem detetar a velocidade radial da estrela, o seu movimento para a frente e para trás ao longo da nossa linha de visão. Graças à combinação de observações com o Observatório W. M. Keck e com o IRTF (InfraRed Telescope Facility) da NASA no Hawaii, juntamente com o ESO no Chile, a equipa concluiu que AU Mic b tem uma massa equivalente a pouco menos que 58 Terras.

Esta descoberta mostra o poder do TESS em fornecer novas informações para estrelas bem estudadas como Au Mic, onde podem existir mais planetas à espera de serem encontrados.

"Há um candidato adicional a evento de trânsito visto nos dados do TESS, e esperamos que o TESS revisite AU Mic ainda este ano durante a sua missão estendida," disse Plavchan. "Continuamos a monitorizar a estrela com medições de velocidade radial, portanto fiquem atentos."

Durante décadas, AU Mic intrigou os astrónomos como um possível lar para planetas, graças à sua proximidade, juventude e brilhante disco de detritos. Agora que o TESS e o Spitzer encontraram lá um planeta, a história completa-se. AU Mic é um sistema importante, um laboratório próximo para entender a formação e a evolução de estrelas e de planetas que continuará a ser estudado nas próximas décadas.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Instituto de Astrofísica das Canárias (comunicado de imprensa)
// Universidade da Califórnia em Riverside (comunicado de imprensa)
// Universidade Estatal do Mississippi (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (Nature)
// Artigo científico #2 (arXiv.org)
// TESS e Spitzer descobrem um mundo em órbita de jovem estrela única (NASA Goddard via YouTube)

 


Saiba mais

Notícias relacionadas:
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PHYSORG
CNN

AU Mic:
Wikipedia
AU Mic b (Exoplanet.eu)

Beta Pictoris:
Solstation 
Wikipedia
Beta Pictoris b (Wikipedia)
Beta Pictoris c (Wikipedia)

Grupo Móvel de Beta Pictoris:
Wikipedia

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
Wikipedia

Telescópio Espacial Spitzer:
Página oficial 
NASA
Centro Espacial Spitzer 
Wikipedia

Observatório W. M. Keck:
Página principal
Wikipedia

NASA IRTF:
Página oficial
Wikipedia

 
   
LIGO-Virgo encontra objeto misterioso na "divisão de massa"
 
Em agosto de 2019 a rede de ondas gravitacionais LIGO-Virgo testemunhou a fusão entre um buraco negro com 23 vezes a massa do nosso Sol e um objeto misterioso com 2,6 vezes a massa do Sol. Os cientistas não sabem se o objeto misterioso era uma estrela de neutrões ou um buraco negro, mas de qualquer maneira foi quebrado o recorde de estrela de neutrões mais massiva conhecida ou de buraco negro mais leve conhecido.
Crédito: LIGO/Caltech/MIT/R. Hurt (IPAC)
 

Quando as estrelas mais massivas morrem, colapsam sob a sua própria gravidade e deixam para trás buracos negros; quando estrelas um pouco menos massivas morrem, explodem numa supernova e deixam para trás remanescentes densos e mortos de estrelas chamadas estrelas de neutrões. Há décadas que os astrónomos se interessam pela divisão que fica entre as estrelas de neutrões e os buracos negros: a estrela de neutrões mais pesada que se conhece não tem mais do que 2,5 vezes a massa do nosso Sol, ou 2,5 massas solares, e o buraco negro mais leve tem aproximadamente 5 massas solares. A questão que permanecia: existe alguma coisa neste intervalo de massas?

Agora, num novo estudo pelos detetores LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) da NSF (National Science Foundation) e Virgo (na Europa), os cientistas anunciaram a descoberta de um objeto com 2,6 massas solares, colocando-o firmemente na divisão de massa. O objeto foi encontrado no dia 14 de agosto de 2019, quando se fundiu com um buraco negro com 23 massas solares, criando ondas gravitacionais detetadas na Terra pelo LIGO e pelo Virgo. O artigo sobre a sua deteção foi aceite para publicação na revista The Astrophysical Journal Letters.

"Esperámos décadas para resolver este mistério," diz a coautora Vicky Kalogera, professora da Universidade Northwestern. "Não sabemos se este objeto é a estrela de neutrões mais pesada que se conhece ou o buraco negro mais leve que se conhece, mas de qualquer forma quebra um recorde."

"Isto vai mudar a maneira como os cientistas falam sobre estrelas de neutrões e buracos negros," diz o coautor Patrick Brady, professor da Universidade de Wisconsin, Milwaukee, EUA e porta-voz da Colaboração Científica do LIGO. "A divisão de massa pode, de facto, não existir, mas pode ter sido devida a limitações nas capacidades de observação. O tempo e mais observações o dirão."

A fusão cósmica descrita no estudo, um evento chamado GW190814, resultou num buraco negro final com aproximadamente 25 vezes a massa do Sol (alguma da massa fundida foi convertida num surto energético de ondas gravitacionais). O recém-formado buraco negro fica a cerca de 800 milhões de anos-luz da Terra.

Antes da fusão dos dois objetos, as suas massas diferiam por um fator de 9, tornando-se na relação de massa mais extrema já conhecida para um evento de ondas gravitacionais. Outro evento relatado recentemente pelo LIGO-Virgo, chamado GW190412, ocorreu entre dois buracos negros com uma relação de massa de aproximadamente 4:1.

 
Este gráfico mostra as massas dos buracos negros detetados através de observações eletromagnéticas (roxo), os buracos negros medidos por observações de ondas gravitacionais (azul), as estrelas de neutrões medidas por observações eletromagnéticas (amarelo) e as estrelas de neutrões detetadas através de ondas gravitacionais (laranja). GW190814 é realçado no meio do gráfico como a fusão de um buraco negro com um objeto misterioso de massa equivalente a 2,6 vezes a do Sol.
Crédito: LIGO-Virgo/Frank Elavsky e Aaron Geller (Universidade Northwestern)
 

"É um desafio para os modelos teóricos atuais formar pares, em fusão, de objetos compactos com um rácio de massa tão grande na qual o parceiro mais leve reside no hiato de massa entre buracos negros e estrelas de neutrões. Esta descoberta implica que estes eventos ocorrem com muito mais frequência do que o previsto, tornando-o num objeto de baixa massa realmente intrigante," explica Kalogera. "O objeto misterioso pode ser uma estrela de neutrões fundindo-se com um buraco negro, uma possibilidade excitante esperada teoricamente, mas ainda não confirmada observacionalmente. No entanto, com 2,6 vezes a massa do nosso Sol, excede as previsões modernas para a massa máxima das estrelas de neutrões, e pode ao invés ser o buraco negro mais leve já detetado".

Quando os cientistas do LIGO e do Virgo avistaram esta fusão, imediatamente enviaram um alerta à comunidade astronómica. Dúzias de telescópios terrestres e espaciais continuaram à procura, no espetro eletromagnético, de sinais do evento, sem resultados positivos. Até agora, essas contrapartes de luz nos sinais das ondas gravitacionais foram vistas apenas uma vez, num evento chamado GW170817. O evento, descoberto pela rede LIGO-Virgo em agosto de 2017, envolveu uma colisão escaldante de duas estrelas de neutrões que foi subsequentemente testemunhada por dúzias de telescópios na Terra e no espaço. As colisões de estrelas de neutrões são eventos caóticos que lançam matéria para o espaço em todas as direções e, portanto, espera-se que emitam luz. Inversamente, pensa-se que as fusões que envolvem buracos negros não produzem luz.

De acordo com os cientistas do LIGO e do Virgo, o evento de agosto de 2019 não foi visto pelos telescópios que observam no espetro eletromagnético por várias razões. Em primeiro lugar, este evento estava seis vezes mais distante do que o evento observado em 2017, dificultando a captação de qualquer sinal de luz. Em segundo lugar, se a colisão tivesse envolvido dois buracos negros, provavelmente não teria emitido luz. Em terceiro lugar, se o objeto mais pequeno tivesse sido de facto uma estrela de neutrões, o seu buraco negro parceiro, 9 vezes mais massivo, tê-la-ia engolido toda; uma estrela de neutrões consumida inteira por um buraco negro não emite luz.

"Faz-me lembrar Pac-Man comendo um pontinho," diz Kalogera. "Quando as massas são altamente assimétricas, a estrela de neutrões mais pequena pode ser 'comida' por inteiro."

Como é que os investigadores poderão saber se o objeto misterioso era uma estrela de neutrões ou um buraco negro? Observações futuras com o LIGO, Virgo e possivelmente outros telescópios podem capturar eventos semelhantes que ajudariam a revelar se objetos adicionais existem na divisão de massas.

"Este é o primeiro vislumbre do que poderá ser uma população totalmente nova de objetos binários compactos," diz Charlie Hoy, membro da Colaboração Científica LIGO e estudante da Universidade de Cardiff. "O que é realmente emocionante é que isto é apenas o começo. À medida que os detetores se tornam cada vez mais sensíveis, vamos observar ainda mais destes sinais e seremos capazes de identificar as populações de estrelas de neutrões e buracos negros no Universo."

"A divisão de massa tem permanecido um quebra-cabeças interessante durante décadas, e agora detetámos um objeto que encaixa bem nela," diz Pedro Marronetti, diretor do programa para física gravitacional da NSF. "Isto não pode ser explicado sem desafiar a nossa compreensão da matéria extremamente densa ou sem desafiar o que sabemos sobre a evolução das estrelas. Esta observação é mais outro exemplo do potencial transformador do campo da astronomia de ondas gravitacionais, que lança luz sobre novas ideias a cada deteção."

// LIGO (comunicado de imprensa)
// Virgo (comunicado de imprensa)
// Caltech (comunicado de imprensa)
// Universidade de Northwestern (comunicado de imprensa)
// Universidade Estatal da Pensilvânia (comunicado de imprensa)
// Universidade Estatal da Califórnia em Fullerton (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck para Física Gravitacional (comunicado de imprensa)
// Universidade de Birmingham (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)
// Artigo científico (LIGO DCC - PDF)

 


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GW190814:
LIGO
Dados científicos (GWOSC)
Wikipedia

Ondas gravitacionais:
GraceDB (Gravitational Wave Candidate Event Database)
Wikipedia
Astronomia de ondas gravitacionais - Wikipedia
Ondas gravitacionais: como distorcem o espaço - Universe Today
Detetores: como funcionam - Universe Today
As fontes de ondas gravitacionais - Universe Today
O que é uma onda gravitacional (YouTube)

Buracos negros:
Wikipedia

Estrelas de neutrões:
Wikipedia
Universidade de Maryland

LIGO:
Página oficial
Caltech
Advanced LIGO
Wikipedia

Virgo:
EGO
Wikipedia

 
   
Evidências suportam cenário de "começo a quente" e formação de oceano em Plutão
 
Falhas extensionais (setas) à superfície de Plutão indicam expansão da crosta gelada do planeta anão, atribuídas à congelação de um oceano subsuperficial.
Crédito: NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/SwRI/Alex Parker
 

A acreção de novo material durante a formação de Plutão pode ter gerado calor suficiente para criar um oceano líquido que persiste sob uma crosta gelada até aos dias de hoje, apesar da órbita do planeta anão, tão longe do Sol, situada nas frias regiões exteriores do Sistema Solar.

Este cenário de "começo a quente", apresentado num artigo publicado dia 22 de junho na revista Nature Geoscience, contrasta com a visão tradicional das origens de Plutão como uma bola de gelo e rocha, na qual a deterioração radioativa poderia eventualmente gerar calor suficiente para derreter o gelo se formar um oceano subterrâneo.

"Há muito tempo que as pessoas refletem sobre a evolução térmica de Plutão e a capacidade de um oceano sobreviver até aos dias atuais," disse o coautor Francis Nimmo, professor de ciências planetárias e da Terra na Universidade da Califórnia em Santa Cruz. "Agora que temos imagens da superfície de Plutão da missão New Horizons da NASA, podemos comparar o que vemos com as previsões de diferentes modelos de evolução térmica."

Dado que a água se expande quando congela e se contrai quando derrete, os cenários de começo a quente e começo a frio têm implicações diferentes para a tectónica e para as resultantes características à superfície de Plutão, explicou o autor principal Carver Bierson, estudante da mesma universidade.

"Se começou frio e o gelo derreteu internamente, Plutão teria contraído e deveríamos ver características de compressão na sua superfície, ao passo que se começou quente, teria expandido à medida que o oceano congelava e deveríamos ver características de extensão à superfície," disse Bierson. "Nós vemos muitas evidências de expansão, mas não vemos nenhuma evidência de compressão, de modo que as observações são mais consistentes com Plutão tendo começado com um oceano líquido."

A evolução térmica e tectónica de um Plutão com começo a frio é na realidade um pouco complicada, porque após um período inicial de derretimento gradual, o oceano à subsuperfície começaria a congelar novamente. Portanto, a compressão da superfície teria ocorrido cedo, seguida por uma extensão mais recente. Com um começo a quente, a extensão ocorreria ao longo da história de Plutão.

"As características mais antigas da superfície de Plutão são mais difíceis de descobrir, mas parece que houve uma extensão antiga e uma extensa moderna da superfície," disse Nimmo.

A questão seguinte foi ver se havia energia suficiente disponível para dar um começo quente a Plutão. As duas principais fontes de energia seriam o calor libertado pelo decaimento de elementos radioativos na rocha e a energia gravitacional libertada à medida que novos materiais bombardeavam a superfície do protoplaneta em crescimento.

Os cálculos de Bierson mostraram que, se toda a energia gravitacional ficasse retida como calor, inevitavelmente criaria um oceano líquido inicial. No entanto, na prática, grande parte dessa energia irradiaria para longe da superfície, especialmente se a acreção de novo material ocorresse lentamente.

"O modo como Plutão foi 'montado' em primeiro lugar é muito importante para a sua evolução térmica," disse Nimmo. "Se acumular material muito lentamente, o material quente à superfície irradia energia para o espaço, mas se acumular material rápido o suficiente, o calor fica preso no interior."

Os investigadores calcularam que se Plutão tiver sido formado durante um período inferior a 30.000 anos, teria começado quente. Se, ao invés, a acreção tiver ocorrido ao longo de alguns milhões de anos, um começo a quente só será possível se grandes impactos tiverem enterrado a sua energia a grandes profundidades.

As novas descobertas sugerem que outros grandes objetos da Cintura de Kuiper provavelmente também começaram quentes e podem ter tido oceanos iniciais. Estes oceanos podem persistir até aos dias de hoje nos objetos maiores, como os planetas anões Éris e Makemake.

"Mesmo neste ambiente frio e tão longe do Sol, todos estes mundos podem ter-se formado rapidamente e a quente, com oceanos líquidos," disse Bierson.

Além de Bierson e Nimmo, o artigo teve a coautoria de Alan Stern do SwRI (Southwest Research Institute), o investigador principal da missão New Horizons.

// UC Santa Cruz (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
27/09/2016 - "Coração" de Plutão lança luz sobre possível oceano subterrâneo
24/06/2016 - Investigação reforça caso para um oceano subsuperficial em Plutão

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Os cientistas descobriram evidências de que os planetas se formam num "piscar de olhos" cósmico. Novos resultados obtidos pelo ALMA e pelo VLA mostram que os discos muito jovens, com idades entre 0,1 e 0,5 milhões de anos, têm "peças" mais do que suficientes para "montar" sistemas planetários. Ler fonte
     
  Jovem planeta gigante fornece pistas para a formação de mundos exóticos (via NASA)
Um novo estudo relata a deteção do exoplaneta HIP 67522 b, que parece ser o Júpiter quente mais jovem já encontrado. Orbita uma estrela bem estudada com apenas 17 milhões de anos, o que significa que o Júpiter quente deve ser apenas uns milhões de anos mais jovem, ao passo que a maior parte dos Júpiteres quentes conhecidos têm mais de mil milhões de anos. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - O Céu em Raios-X pelo eROSITA
(clique na imagem para ver versão maior; aqui para ver versão legendada)
Crédito: J. Sanders, H. Brunner, A. Merloni e Equipa eSASS Team (MPE); E. Churazov, M. Gilfanov, R. Sunyaev (IKI)
 
E se pudesse ver em raios-X? O céu noturno pareceria um lugar estranho e desconhecido. Os raios-X são cerca de 1000 vezes mais energéticos do que os fotões da luz visível e são produzidos por explosões violentas e ambientes astronómicos de alta temperatura. Em vez das familiares estrelas estáveis, o céu pareceria estar cheio de estrelas exóticas, galáxias ativas e remanescentes quentes de supernova. A imagem de raios-X em destaque captura em detalhes sem precedentes todo o céu em raios-X, visto pelo telescópio eROSITA a bordo do satélite Spektr-RG, que orbita no ponto L2 do sistema Sol-Terra, lançado o ano passado. A imagem mostra o plano da nossa Galáxia, a Via Láctea, através do centro, um fundo difuso e penetrante de raios-X, a quente bolha interestelar conhecida como Espora Polar Norte, remanescentes escaldantes de supernova como Vela, o Loop de Cisne e Cas A, estrelas duplas energéticas incluindo Cyg X-1 e Cyg X-2, a galáxia Grande Nuvem de Magalhães e os enxames galácticos de Coma, Virgem e Fornalha. Esta primeira "varredura" do céu pelo eROSITA localizou mais de um milhão de fontes de raios-X, algumas das quais não são bem compreendidas e certamente serão tópicos para investigações futuras.
 
   
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