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  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1795  
  21/05 a 24/05/2021  
     
 
 

Dia de Portugal e... dos Eclipses

Temos à porta um eclipse solar, que é o pretexto para desvendarmos alguns dos mistérios e curiosidades destes alinhamentos espaciais!

Realizadas mensalmente, estas sessões tentam focar num tema de relevância à data da atividade, devido a algum acontecimento astronómico ou oportunidade de observação, ou alguma notícia recente de astronomia que motive a atividade. A observação noturna está obviamente sempre dependente do hemisfério celeste observável, bem como das condições meteorológicas ou ambientais disponíveis.

Lotação máxima de 5 pessoas
Preço: 4€ Adultos / 2€ Jovens / grátis membros do AstroClube

Data: 8 de junho de 2021
Hora: 21:00 horas

INSCRIÇÃO OBRIGATÓRIA - seguir este link
Telefone: 289 890 920
E-mail: info@ccvalg.pt

 
     
 
Efemérides

Dia 21/05: 141.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 2010, a JAXA lança a sonda IKAROS de velas solares a bordo de um foguetão H-IIA, juntamente com a sonda Akatsuki.

Esta última passaria por Vénus no final do ano.
Observações: Vega está agora razoavelmente alta a este-nordeste depois do anoitecer. Procure a sua ténue constelação de Lira para baixo e um pouco para a direita. As estrelas principais de Lira formam um triângulo equilátero (Vega é um canto) e um paralelograma ligado à estrela inferior do triângulo.

Dia 22/05: 142.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1783, nascia William Sturgeon, físico inglês e inventor que fez os primeiros imãs e inventou o primeiro motor elétrico inglês.
Em 1890, nascia Per Collinder, astrónomo sueco, conhecido pelo seu catálogo de enxames abertos, hoje em dia chamado Catálogo de Collinder.
Em 1969, o módulo lunar da Apollo 10 passava a 8,4 milhas náuticas (15,6 km) da superfície da Lua.

Em 1995, imagens captadas pelo Telescópio Espacial Hubble durante a travessia do plano dos anéis de Saturno levam à descoberta de uma nova lua. As travessias do plano dos anéis acontecem a cada 15 anos e historicamente têm dado aos astrónomos uma oportunidade para descobrir novos satélites que normalmente são ofuscados pelo brilho do sistema de anéis do planeta. 
Observações: Vega é a estrela mais brilhante a este-nordeste após o anoitecer. Cerca de 14º (punho e meio à distância do braço esticado) para cima e para a esquerda de Vega está Eltanin, o nariz da constelação de Dragão. Mais perto e para cima e para a esquerda de Eltanin está Lozenge, o asterismo composto por três estrelas que representa a cabeça do animal mítico. Dragão aponta sempre o seu nariz para Vega.
A estrela mais ténue da cabeça de Dragão, oposta a Eltanin, é Nu Draconis. É um binário bonito e de brilho igual, adequado para binóculos (separação de 61 segundos de arco, ambas com magnitude 4,9). O par fica a 99 anos-luz de distância. Ambas são quentes do tipo Am, um pouco maiores, mais massivas e mais quentes do que o Sol.

Dia 23/05: 143.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1958, o satélite Explorer 1 cessa transmissões.

Observações: Saturno estacionário, pelas 20:00.
O verão ainda está a algumas semanas de distância, mas o Triângulo de Verão já começa a aparecer a este, uma estrela de cada vez. A primeira a ficar visível é Vega. Já está baixa a nordeste ao cair da noite. Deneb fica para baixo e para a esquerda de Vega dois ou três punhos à distância de um braço esticado. Deneb surge pouco mais de uma hora depois de Vega, dependendo da sua latitude. Finalmente, Altair aparece para baixo e para a direita de Vega depois das 23 horas.

Dia 24/05: 144.º dia do calendário gregoriano.
História: Morre, em 1543, Nicolau Copérnico, famoso astrónomo, autor do livro "Das revoluções dos Mundos Celestes".

Adiou a publicação da sua teoria por uns 30 anos; a primeira obra completa foi imprimida poucas horas antes da sua morte. Foi colocada na sua cama, para que pudesse tê-la a seu lado. Mas nessa altura já a sua mente delirava e não pôde comentar o prefácio anónimo do livro, que dizia aos leitores que o conteúdo do livro podia não ser verdadeiro, ou até mesmo provável. Nunca se soube com certeza se autorizou aquele prefácio, ou se realmente acreditava no seu sistema.
Em 1686, nascia Daniel Gabriel Fahrenheit, físico e engenheiro alemão, famoso por inventar o termómetro de mercúrio e por desenvolver uma escala de temperatura, agora com o seu nome.
Em 1962, projeto Mercury: o astronauta americano Scott Carpenter orbita a Terra três vezes na cápsula espacial Aurora 7.
Observações: Arcturo é a estrela mais brilhantes muito alta a este. Espiga brilha mais para baixo e para a direita, a cerca de três punhos à distância do braço esticado. Procure, para a direita de Espiga, a metade dessa distância, a constelação de Corvo.

 
 
   
Vapores de metais pesados encontrados inesperadamente em cometas do nosso Sistema Solar — e para além dele

Um novo estudo levado a cabo por uma equipa belga com dados do VLT (Very Large Telescope) do ESO mostrou que existe ferro e níquel nas atmosferas de cometas do Sistema Solar, mesmo nos que se encontram muito afastados do Sol. Um estudo independente de uma equipa polaca, que também usou dados do ESO, anunciou que existe também vapor de níquel no cometa interestelar gelado 2I/Borisov. Esta é a primeira vez que metais pesados, geralmente associados com ambientes quentes, são descobertos nas atmosferas frias de cometas distantes.

"Foi bastante surpreendente detetar ferro e níquel na atmosfera de todos os cometas que observámos nas duas últimas décadas, cerca de 20 objetos, inclusivamente nos que se encontram no meio espacial frio mais afastado do Sol," disse Jean Manfroid da Universidade de Liège, na Bélgica, que liderou o novo estudo sobre cometas do Sistema Solar, publicado na revista Nature.

 
A deteção dos metais pesados ferro (Fe) e níquel (Ni) na atmosfera difusa de um cometa está ilustrada nesta imagem, que mostra o espectro de luz de C/2016 R2 (PANSTARRS) sobreposto no canto superior esquerdo de uma imagem real do cometa obtida com o telescópio SPECULOOS no Observatório do Paranal do ESO. Cada pico branco no espectro representa um elemento diferente, com os do ferro e do níquel marcados com traços azuis e laranjas, respetivamente. A obtenção de espectros como este é possível graças ao instrumento UVES montado no VLT do ESO, um espectrógrafo de alta resolução que "estica tanto" as riscas que conseguimos identificá-las individualmente. Adicionalmente, o UVES mantém-se sensível a comprimentos de onda que vão até 300 nanómetros. A maior parte das riscas de ferro e níquel aparecem por volta do comprimento de onda de 350 nm, o que significa que as capacidades do UVES foram essenciais para obter estes resultados.
Crédito: ESO/L. Calçada, SPECULOOS Team/E. Jehin, Manfroid et al.
 

Os astrónomos sabiam já da existência de metais pesados no interior rochoso e poeirento dos cometas. Mas, uma vez que os metais sólidos não sublimam a temperaturas baixas, ou seja, não se tornam gasosos, não se esperava encontrá-los nas atmosferas de cometas frios que viajam muito para além do Sol. Vapores de níquel e ferro foram agora detetados em cometas observados a mais de 480 milhões de quilómetros do Sol, o que corresponde a mais de três vezes a distância Terra-Sol.

A equipa belga descobriu ferro e níquel nas atmosferas dos cometas em quantidades aproximadamente iguais. O material do nosso Sistema Solar, por exemplo o encontrado no Sol e em meteoritos, contém normalmente cerca de dez vezes mais ferro do que níquel. Este novo resultado tem por isso implicações na nossa compreensão do Sistema Solar primordial, apesar da equipa ainda estar a estudar o que é que isto significará.

"Os cometas formaram-se há cerca de 4,6 mil milhões de anos num Sistema Solar muito jovem, não tendo sofrido alterações desde essa época. Nesse sentido, são como fósseis para os astrónomos," explica o coautor deste trabalho Emmanuel Jehin, também da Universidade de Liège.

Apesar de estudar estes "fósseis" do Sistema Solar com o VLT do ESO há quase 20 anos, a equipa belga não tinha ainda detetado a presença de níquel e ferro nas suas atmosferas. "Esta descoberta escapou-nos durante muitos anos," diz Jehin.

A equipa utilizou dados do instrumento UVES (Ultraviolet and Visual Echelle Spectrograph) montado no VLT, capturados com uma técnica chamada espectroscopia, para analisar as atmosferas de cometas a diferentes distâncias do Sol. Esta técnica permite revelar a composição química de objetos cósmicos: cada elemento químico apresenta uma assinatura única — um conjunto de riscas — no espectro de luz do objeto.

A equipa belga detetou riscas espectrais fracas não identificadas nos dados do UVES e após uma análise mais cuidada verificou que estas riscas assinalam a presença de átomos de ferro e níquel. A razão pela qual os elementos pesados foram difíceis de identificar deve-se à sua existência em quantidades muito pequenas: a equipa estima que, para cada 100 quilogramas de água, exista apenas 1 grama de ferro, e a mesma quantidade de níquel, nas atmosferas dos cometas.

"Geralmente temos 10 vezes mais ferro que níquel, mas nas atmosferas destes cometas descobrimos aproximadamente a mesma quantidade de ambos os elementos. Pensamos que estes elementos possam vir de um tipo especial de material existente na superfície do núcleo do cometa, que sublima a temperaturas bastante baixas e liberta ferro e níquel em proporções essencialmente iguais," explica Damien Hutsemékers, também membro da equipa belga da Universidade de Liège.

Apesar da equipa não ter ainda a certeza de que material se tratará, avanços na astronomia — tais como o instrumento METIS (Mid-infrared ELT Imager and Spectrograph) previsto para o futuro ELT (Extremely Large Telescope) — permitirão aos investigadores confirmar a fonte de átomos de ferro e níquel descobertos nas atmosferas destes cometas.

A equipa belga espera que este seu estudo possa abrir caminho para trabalho futuro. "Agora as pessoas procurarão estas riscas nos seus dados de arquivo de outros telescópios," diz Jehin. "Penso que isto dará também origem a novos trabalhos nesta área."

 
A deteção de níquel (Ni) na atmosfera difusa do cometa interestelar 2I/Borisov está ilustrada nesta imagem, que mostra o espectro de luz do cometa sobreposto no canto inferior direito de uma imagem real do cometa obtida com o VLT do ESO nos finais de 2019 no Observatório do Paranal do ESO. As riscas de níquel estão assinaladas por traços laranja. O espectro foi obtido com o instrumento X-shooter montado no Telescópio Principal 2 (UT2, Kueyen) do VLT, que separa os raios de luz recolhidos nos seus comprimentos de onda constituíntes (equivalentes a cores). Com a sua capacidade de adquirir dados simultaneamente desde o infravermelho próximo até ao ultravioleta, o X-shooter é um dos instrumentos óticos mais versáteis atualmente em uso.
Crédito: ESO/L. Calçada/O. Hainaut, P. Guzik and M. Drahus
 

Metais pesados interestelares

Outro estudo notável publicado na Nature mostra que elementos pesados também estão presentes na atmosfera do cometa interestelar 2I/Borisov. Com o auxílio do espectrógrafo X-shooter montado no VLT do ESO, uma equipa na Polónia observou este objeto, o primeiro cometa alienígena a visitar o nosso Sistema Solar, na altura em que este passou perto de nós, há cerca de ano e meio. A equipa descobriu que a atmosfera fria do 2I/Borisov contém níquel gasoso.

"Inicialmente, não queríamos acreditar na presença de níquel atómico no 2I/Borisov, tão longe do Sol! Tivemos que realizar testes numerosos e muitas verificações para finalmente nos convencermos de que assim era," disse Piotr Guzik da Universidade de Jagiellonian na Polónia, um dos autores deste estudo. Esta descoberta é surpreendente porque, antes dos dois trabalhos publicados, gases com átomos de elementos pesados apenas tinham sido observados em meios quentes, tais como nas atmosferas de exoplanetas ultra-quentes e em cometas em evaporação que passam muito perto do Sol. O 2I/Borisov foi observado quando estava a cerca de 300 milhões de km do Sol, ou seja, a cerca de duas vezes a distância Terra-Sol.

O estudo detalhado de corpos interestelares é fundamental porque nos fornece informações importantes sobre os sistemas planetários alienígenas que lhes deram origem. "De repente, compreendemos que existe níquel gasoso em atmosferas planetárias noutros cantos da Galáxia!" diz o coautor deste estudo Michał Drahus, também da Universidade de Jagiellonian.

Os estudos levados a cabo por estas duas equipas mostram que 2I/Borisov e os cometas do Sistema Solar têm ainda mais a ver uns com os outros do que o que pensávamos anteriormente. "Agora imaginem que os cometas do nosso Sistema Solar têm verdadeiros corpos análogos noutros sistemas planetários — não era tão fixe?" conclui Drahus.

// ESO (comunicado de imprensa)
// Artigo científico #1 (Nature)
// Artigo científico #2 (Nature)
// Animação artística da composição em metais pesados duma atmosfera cometária (ESO via YouTube)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
02/04/2021 - Primeiro cometa interestelar pode ser o mais puro alguma vez encontrado
24/04/2020 - ALMA revela composição invulgar do cometa interestelar 2I/Borisov
01/10/2019 - Astrónomos detetam moléculas de gás em 2I/Borisov
27/09/2019 - Novo visitante interestelar já tem nome: 2I/Borisov
17/09/2019 - Cometa recém-descoberto é provavelmente visitante interestelar

Cometas:
Wikipedia

2I/Borisov:
NASA/JPL
Wikipedia

VLT:
ESO
Wikipedia

ESO:
Página oficial
Wikipedia

ELT (Extremely Large Telescope):
ESO
ESO - 2
Wikipedia

 
   
Buracos negros supermassivos devoram gás como os seus irmãos mais pequenos

No dia 9 de setembro de 2018, os astrónomos avistaram um flash de uma galáxia a 860 milhões de anos-luz de distância. A fonte foi um buraco negro supermassivo com cerca de 50 milhões de vezes a massa do Sol. Normalmente quieto, o gigante gravitacional acordou de repente para devorar uma estrela que passava num caso raro conhecido como evento de perturbação de marés. À medida que os detritos estelares caíam em direção ao buraco negro, libertou uma enorme quantidade de energia na forma de luz.

Investigadores do MIT, do ESO e de outras organizações usaram vários telescópios para vigiar o evento, identificado como AT2018fyk. Para sua surpresa, observaram que, à medida que o buraco negro supermassivo consumia a estrela, este exibia propriedades semelhantes às de buracos negros muito mais pequenos, os de massa estelar.

Os resultados, publicados na revista The Astrophysical Journal, sugerem que a acreção, ou a forma como os buracos negros evoluem conforme consomem material, é independente do seu tamanho.

 
À medida que um buraco negro consumia uma estrela, os investigadores ficaram surpresos ao descobrir que exibia propriedades semelhantes à dos buracos negros de massa estelar, muito mais pequenos.
Crédito: Christine Daniloff, MIT
 

"Demonstrámos que, em certo sentido, quem vê um buraco negro, vê todos," diz o autor do estudo Dheeraj "DJ" Pasham, cientista do Instituto Kavli para Astrofísica e Investigação Espacial do MIT. "Quando se atira uma 'bola de gás', todos parecem fazer mais ou menos a mesma coisa. São o mesmo monstro em termos da sua acreção."

Um despertar estelar

Quando pequenos buracos negros de massa estelar, cerca de 10 vezes a massa do Sol, emitem um surto de luz, geralmente é em resposta a um influxo de material de uma estrela companheira. Esta explosão de radiação desencadeia uma evolução específica da região em torno do buraco negro. De quiescente, um buraco negro transita para uma fase "suave" dominada por um disco de acreção enquanto o material estelar é puxado para o buraco negro. À medida que a quantidade de material diminui, transita novamente para uma "dura" onde uma coroa incandescente assume o controlo. O buraco negro eventualmente assenta novamente numa quiescência constante, e todo o ciclo de acreção pode durar de algumas semanas a meses.

Os físicos observam este ciclo de acreção característico em vários buracos negros de massa estelar há já várias décadas. Mas para os buracos negros supermassivos, pensava-se que este processo demoraria demasiado tempo para ser totalmente capturado, já que estes monstros normalmente alimentam-se lentamente do gás nas regiões centrais de uma galáxia.

"Este processo normalmente ocorre em escalas de milhares de anos para os buracos negros supermassivos," diz Pasham. "Os humanos não podem esperar tanto tempo para capturar algo deste género."

Mas todo este processo acelera quando um buraco negro sofre um influxo repentino e enorme de material, como durante um evento de perturbação de marés, quando uma estrela se aproxima o suficiente para que um buraco negro a possa rasgar em pedaços.

"Num evento de perturbação de marés, tudo é abrupto," diz Pasham. "Temos um pedaço repentino de gás a ser atirado para o buraco negro e este como que acorda para dizer 'uau, tanta comida - vou comer, comer, comer até não haver mais'. De modo que passa por este evento num curto espaço de tempo. Isto permite-nos sondar todos estes diferentes estágios de acreção que se conhecem para os buracos negros de massa estelar."

Um ciclo supermassivo

Em setembro de 2018, o ASASSN (All-Sky Automated Survey for Supernovae) captou sinais de uma explosão repentina. Os cientistas determinaram posteriormente que a erupção foi o resultado de um evento de perturbação de marés envolvendo um buraco negro supermassivo, que rotularam de TDE ("Tidal Disruption Event") AT2018fyk. Pasham e colegas reagiram rapidamente ao alerta e foram capazes de dirigir vários telescópios, cada um treinado para mapear diferentes bandas do espectro ultravioleta e de raios-X, em direção ao sistema.

A equipa recolheu dados ao longo de dois anos, usando os telescópios espaciais de raios-X XMM-Newton e Chandra, bem como o NICER, o instrumento de monitoramento de raios-X a bordo da ISS, e o Observatório Swift, juntamente com radiotelescópios na Austrália.

"Apanhámos o buraco negro no estado suave com a formação de um disco de acreção, e a maior parte da emissão no ultravioleta, muito pouca em raios-X," diz Pasham. "Então, o disco colapsa, a coroa fica mais forte e agora é muito brilhante em raios-X. Eventualmente, já não resta muito gás para se alimentar, e a luminosidade geral cai e volta a níveis indetetáveis."

Os investigadores estimam que o buraco negro destruiu uma estrela do tamanho do nosso Sol. No processo, gerou um enorme disco de acreção, com cerca de 12 mil milhões de quilómetros de diâmetro, e emitiu gás com uma temperatura estimada em 40.000 K. À medida que o disco se tornava mais fraco e menos brilhante, uma coroa de raios-X altamente energéticos e compactos assumiu o domínio em torno do buraco negro antes de eventualmente desaparecer.

"As pessoas sabem que este ciclo ocorre em buracos negros de massa estelar, que têm apenas cerca de 10 massas solares. Agora estamos a ver isto em algo 5 milhões de vezes maior," diz Pasham.

"A perspetiva mais empolgante para o futuro é que estes eventos de perturbação de marés fornecem uma janela para a formação de estruturas complexas muito próximas do buraco negro supermassivo, como o disco de acreção e a coroa," diz o autor principal Thomas Wevers, membro do ESO. "Estudando como estas estruturas se formam e interagem no ambiente extremo após a destruição de uma estrela, podemos começar a entender melhor as leis físicas fundamentais que governam a sua existência."

Além de mostrar que os buracos negros têm acreção da mesma forma, independentemente do seu tamanho, os resultados representam apenas a segunda vez que os cientistas capturaram a formação de uma coroa do início ao fim.

"Uma coroa é uma entidade muito misteriosa e, no caso dos buracos negros supermassivos, as pessoas estudaram coroas estabelecidas, mas não sabem quando ou como se formaram," salienta Pasham. "Nós demonstrámos que podemos usar eventos de perturbação de marés para capturar a formação da coroa. Estou ansioso por usar estes eventos no futuro para descobrir o que exatamente é a coroa."

// MIT (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

Buracos negros:
Wikipedia
Buraco negro supermassivo (Wikipedia)
Buraco negro de massa estelar (Wikipedia)

Eventos de perturbação de marés:
Wikipedia

ASAS-SN:
Página oficial (Universidade Estatal do Ohio) 
Wikipedia

Observatório XMM-Newton:
ESA
Wikipedia

Observatório de raios-X Chandra:
NASA
Universidade de Harvard
Wikipedia

NICER:
NASA
Wikipedia

Telescópio Swift:
NASA
Wikipedia

 
   
Determinando idades estelares para uma perspetiva mais detalhada da "montagem" da Via Láctea

Os cientistas conseguiram datar com sucesso algumas das estrelas mais antigas da nossa Galáxia com uma precisão sem precedentes, combinando dados das oscilações das estrelas com informações sobre a sua composição química.

A equipa, liderada por investigadores da Universidade de Birmingham, estudou cerca de cem estrelas gigantes vermelhas e foi capaz de determinar que algumas delas faziam originalmente parte de uma galáxia satélite chamada Gaia-Encélado, que colidiu com a Via Láctea no início da sua história.

 
Imagem infravermelha obtida pelo Telescópio Espacial Spitzer da NASA que mostra centenas de milhares de estrelas que povoam o núcleo rodopiante da nossa Galáxia espiral, a Via Láctea. No visível, esta região não pode ser observada de todo devido à poeira situada entre a Terra e o Centro Galáctico, que bloqueia a nossa vista.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

Os resultados, publicados na revista Nature Astronomy, revelaram que o grupo de estrelas estudadas têm todas idades semelhantes, ou são ligeiramente mais jovens do que a maioria das estrelas conhecidas por terem iniciado as suas vidas dentro da Via Láctea. Isto corrobora as teorias existentes que sugerem que a Via Láctea já havia começado a formar uma fração significativa das suas estrelas quando ocorreu a fusão com Gaia-Encélado (também conhecida como Salsicha Gaia).

Na época da colisão, a Via Láctea já estava a formar estrelas com eficiência, muitas das quais agora residem no seu disco espesso, uma das duas estruturas em forma de disco que compõem a Galáxia.

Josefina Montalbán, da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Birmingham, autora principal do artigo científico, disse: "A composição química, a localização e o movimento das estrelas que podemos observar hoje na Via Láctea contêm informações preciosas sobre a sua origem. À medida que aumentamos o nosso conhecimento de como e quando estas estrelas foram formadas, podemos começar a melhor entender como a fusão de Gaia-Encélado com a Via Láctea afetou a evolução da nossa Galáxia."

Ao fazer os cálculos, a equipa usou dados de asterosismologia do satélite Kepler em combinação com dados dos instrumentos Gaia e APOGEE. Todos os três estão configurados para recolher dados e assim ajudar os cientistas a mapear e caracterizar estrelas na Via Láctea.

A asterosismologia é uma técnica relativamente nova, que mede as frequências e amplitudes relativas dos modos naturais de oscilação das estrelas. Isto permite que os cientistas reúnam informações sobre o tamanho e sobre a estrutura interna das estrelas, o que permite fazer estimativas precisas da sua idade.

Nesta investigação, a equipa usou informações sobre os modos de oscilação individuais de cada estrela, ao invés de propriedades médias das suas pulsações. Também foram capazes de usar a asterosismologia em combinação com a espectroscopia - que permite que a composição química das estrelas seja medida.

O professor Andrea Miglio, da Universidade de Bolonha e coautor do estudo, acrescentou: "Nós mostrámos o enorme potencial da asterosismologia em combinação com a espectroscopia para fornecer idades relativas precisas para estrelas individuais muito velhas. Juntas, estas medições contribuem para melhorar a nossa visão sobre os primeiros anos da nossa Galáxia e prometem um futuro brilhante para a arqueoastronomia Galáctica."

// Universidade de Birmingham (comunicado de imprensa)
// Universidade Estatal do Ohio (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
23/10/2020 - Evidência de colisão lateral com galáxia anã descoberta na Via Láctea
21/01/2020 - TESS determina idade de antiga colisão com a Via Láctea
26/07/2019 - Revelados os primeiros dias da Via Láctea
02/11/2018 - Astrónomos descobrem o gigante que moldou os primórdios da Via Láctea
10/07/2018 - A "salsicha Gaia": a grande colisão que mudou a Via Láctea

Notícias relacionadas:
science alert
COSMOS
ScienceDaily
PHYSORG
Forbes

Via Láctea:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia
SEDS

Gaia-Encélado:
Wikipedia
Simulação da Salsicha Gaia (Denis Erkal via YouTube)

Telescópio Espacial Kepler:
NASA (página oficial)
K2 (NASA)
Arquivo de dados do Kepler
Arquivo de dados da missão K2
Wikipedia

Gaia:
ESA
ESA - 2
Gaia/ESA
Programa Alertas de Ciência Fotométrica do Gaia
EDR3 do Gaia
SPACEFLIGHT101
Wikipedia

APOGEE:
SDSS

 
   
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(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Agência Espacial Chinesa
 
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