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  Astroboletim #1829  
  17/09 a 20/09/2021  
     
 
Efemérides

Dia 17/09: 260.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1789, William Herschel descobre a Lua de Saturno, Mimas.

Em 1976, era apresentado pela NASA o primeiro Space Shuttle (ou vaivém espacial), Enterprise.
Observações: A Lua está para baixo e para a direita de Júpiter. Com o passar da noite, o céu gira, a Lua fica diretamente por baixo do maior planeta do Sistema Solar. É assim que poderá encontrá-los depois da meia-noite.

Dia 18/09: 261.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1959, a Vanguard 3 é lançada para órbita terrestre.
Em 1977, a Voyager 1 tira a primeira fotografia da Terra e da Lua juntas. 
Em 1980, a Soyuz 38 transporta 2 cosmonautas (1 cubano) para a estação espacial Salyut 6.
Em 2013, lançamento da Cygnus Orb-D1.

Observações: Já consegue ver que a estação está a mudar: chegámos àquela altura do ano em que, logo após o cair da noite, a fria Cassiopeia já está um pouco mais alta a nordeste do que a quente Ursa Maior a noroeste. Cassiopeia ornamenta o céu a norte ao início da noite durante o outono e inverno. A Ursa Maior toma o seu lugar de destaque nas noites mais amenas de primavera e verão.
Quase a meio entre as duas constelações está a Estrela Polar.

Dia 19/09: 262.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1988, Israel lança o seu primeiro satélite, o Ofeq 1.

Observações: Volte a observar o trio de astros brilhantes a sudeste. Comece pela Lua brilhante. Perfaz esta noite uma linha mais ou menos reta com Júpiter para cima e para a sua direita, e depois com Saturno, também para a direita e um pouco para cima de Júpiter.

Dia 20/09: 263.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1999, o Telescópio Espacial de Raios-X Chandra, lançado a 23 de julho de 1999, revela características ainda não observadas nos remanescentes de três explosões de supernova.

Observações: Estes dias finais de verão encontram sempre o "Bule de Chá" de Sagitário a mover-se para oeste (de sul) durante a noite e a inclinar-se para a direita, como se a despejar o que resta do seu chá para esta estação.

 
 
   
ALMA revela ambientes [ricos em carbono e matéria orgânica] que dão origem a planetas

Uma colaboração internacional de cientistas, usando o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), concluiu o mais extenso mapeamento da composição química dos discos protoplanetários em torno de cinco estrelas jovens próximas a alta resolução, produzindo imagens que capturam a composição molecular associada a nascimentos planetários, e um roteiro para estudos futuros da composição das regiões de formação planetária e cometária. O novo estudo desvenda pistas sobre o papel das moléculas na formação do sistema planetário e se esses jovens sistemas de planetas em formação têm tudo o necessário para albergar vida. Os resultados do programa, apropriadamente chamado de MAPS (Molecules with ALMA at Planet-forming Scales), aparecerão numa edição especial de 20 artigos científicos da revista The Astrophysical Journal Supplement Series.

 
Nesta impressão de artista, os planetas formam-se a partir do gás e da poeira no disco protoplanetário em redor da estrela jovem. O gás é composto por muitas moléculas diferentes, incluindo cianeto de hidrogénio e nitrilos mais complexos - ligados ao desenvolvimento da vida na Terra - e outras substâncias orgânicas e inorgânicas. Dos simples compostos orgânicos aos mais complexos, a sopa de moléculas numa localização particular no disco molda o futuro da formação planetária aí, e determina se ou planeta pode suportar vida como a conhecemos ou não.
Crédito: M. Weiss/Centro para Astrofísica | Harvard & Smithsonian
 

Os planetas formam-se em discos de poeira e gás - também chamados discos protoplanetários - em torno de estrelas jovens. A composição química ou moléculas contidas nestes discos pode ter um impacto sobre os próprios planetas, incluindo como e onde ocorre a formação planetária, a composição química dos planetas e se esses planetas têm a composição orgânica necessária para suportar vida. O MAPS olhou especificamente para os discos protoplanetários em torno das estrelas jovens IM Lup, GM Aur, AS 209, HD 163296 e MWC 480, onde já tinham sido detetadas evidências de formação planetária em andamento. O projeto levou a várias descobertas empolgantes, incluindo uma ligação entre poeira e subestruturas químicas e a presença de grandes reservatórios de moléculas orgânicas nas regiões internas do disco.

"Com o ALMA, pudemos ver como as moléculas são distribuídas onde os exoplanetas estão atualmente a formar-se," disse Karin Öberg, astrónoma no Centro para Astrofísica | Harvard & Smithsonian (CfA) e investigadora principal do MAPS. "Uma das coisas realmente interessantes que vimos é que os discos de formação planetária em torno destas cinco estrelas jovens são fábricas de uma classe especial de moléculas orgânicas, os chamados nitrilos, que estão implicadas nas origens da vida aqui na Terra."

Foram observadas ao longo do projeto, e em detalhes sem precedentes, moléculas orgânicas simples como HCN, C2H e H2CO, graças à sensibilidade e poder de resolução dos recetores de Banda 3 e Banda 6 do ALMA. "Em particular, pudemos observar a quantidade de pequenas moléculas orgânicas nas regiões internas dos discos, onde provavelmente estão a ser formados planetas rochosos," disse Viviana V. Guzmán, astrónoma do Instituto de Astrofísica da Pontifícia Universidade Católica do Chile, autora principal do MAPS VI e coinvestigadora principal do MAPS. "Estamos a descobrir que o nosso próprio Sistema Solar não é particularmente único, e que outros sistemas planetários em redor de outras estrelas têm ingredientes básicos suficientes para formar os blocos de construção da vida."

 
Os dados ALMA da jovem estrela HD 163296 mostram a brilhante emissão do cianeto de hidrogénio a azul. O projeto MAPS focou-se no cianeto de hidrogénio e noutras substâncias orgânicas e inorgânicas em discos de formação planetária para obter mais informações sobre as composições dos jovens planetas e como as composições estão relacionadas com o local, no disco protoplanetário, onde os planetas se formam.
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/D. Berry (NRAO), K. Öberg et al (MAPS)
 

Os cientistas também observaram moléculas orgânicas mais complexas como HC3N, CH3CN e c-C3H2 - especialmente aquelas que contêm carbono e, portanto, têm maior probabilidade de atuar como matéria-prima de moléculas pré-bióticas maiores. Embora estas moléculas já tenham sido detetadas antes em discos protoplanetários, o MAPS é o primeiro estudo sistemático em vários discos e a alta resolução espacial e sensibilidade, e o primeiro estudo a encontrar as moléculas em escalas pequenas e quantidades tão significativas. "Encontrámos mais moléculas orgânicas grandes do que o esperado, por um fator de 10 ou 100 a mais, localizadas nos discos internos em escalas do Sistema Solar, e a sua química parece semelhante à dos cometas do Sistema Solar," disse John Ilee, astrónomo na Universidade de Leeds e autor principal do MAPS IX. "A presença destas grandes moléculas orgânicas é significativa porque são o ponto de partida entre moléculas simples baseadas em carbono, como o monóxido de carbono, que é encontrado em abundância no espaço, e as moléculas mais complexas necessárias para criar e suportar vida."

No entanto, as moléculas não estão distribuídas uniformemente pelos discos protoplanetários, como evidenciado no MAPS III e IV, que revelaram que, embora as composições gerais pareçam ser semelhantes à do Sistema Solar, a ampliação a alta resolução revela alguma diversidade na composição que poderia resultar em diferenças de planeta para planeta. "O gás molecular nos discos protoplanetários é muitas vezes encontrado em conjuntos de anéis e lacunas distintas," disse Charles Law, astrónomo do CfA e autor principal do MAPS III e IV. "Mas o mesmo disco, observado em diferentes linhas de emissão molecular, parece completamente diferente, com cada disco tendo múltiplas faces moleculares. Isto também significa que planetas em discos diferentes, ou no mesmo disco, mas em locais diferentes, podem formar-se em ambientes químicos radicalmente diferentes". Isto significa que alguns planetas se formam com as ferramentas necessárias para construir e suportar vida, enquanto outros planetas vizinhos não.

Um destes ambientes radicalmente diferentes ocorre no espaço em torno de planetas semelhantes a Júpiter, onde os cientistas descobriram que o gás é pobre em carbono, oxigénio e elementos mais pesados, embora seja rico em hidrocarbonetos, como o metano. "A química observada nos discos protoplanetários deve ser herdada pela formação planetária," disse Arthur Bosman, astrónomo na Universidade de Michigan e autor principal do MAPS VII. "As nossas descobertas sugerem que muitos gigantes gasosos podem formar-se com atmosferas extremamente pobres em oxigénio (ricas em carbono), desafiando as expetativas atuais das composições planetárias."

No geral, o MAPS está a fornecer exatamente isso: um mapa para os cientistas seguirem, ligando os pontos entre o gás e a poeira num disco protoplanetário e os planetas que eventualmente se formam a partir deles para criar um sistema planetário. "A composição de um planeta é um registo da localização no disco em que foi formado", disse Bosman. "Ligar a composição do planeta e a composição do disco permite-nos examinar a história de um planeta e ajuda-nos a entender as forças que o formaram."

Joe Pesce, astrónomo e oficial do programa ALMA da NSF (National Science Foundation), observa, "saber se a vida existe para lá da Terra é uma das questões fundamentais da humanidade. Agora sabemos que os planetas se encontram em todos os lugares, e o próximo passo é determinar se têm as condições necessárias para a vida como a conhecemos (e quão comum essa situação pode ser). O programa MAPS ajudar-nos-á a melhor responder a estas perguntas. A busca do ALMA por precursores da vida, longe da Terra, complementa os estudos realizados em laboratórios e em locais como fontes hidrotermais na Terra."

Öberg acrescentou: "O MAPS é o culminar de décadas de trabalho na química dos discos de formação planetária por cientistas usando o ALMA e seus precursores. Embora o MAPS tenha investigado apenas cinco discos até agora, não tínhamos ideia que quão quimicamente complexos e visualmente impressionantes estes discos realmente eram até agora. O MAPS respondeu pela primeira vez a questões que nem sequer podíamos imaginar perguntar há décadas atrás, e também nos deixou com muitas mais para responder."

// Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
// NRAO (comunicado de imprensa)
// NAOJ (comunicado de imprensa)
// Centro para Astrofísica | Harvard & Smithsonian (comunicado de imprensa)
// Instituto Max Planck para Astronomia (comunicado de imprensa)
// Universidade de Leeds (comunicado de imprensa)
// Universidade de Michigan (comunicado de imprensa)

Artigos científicos em destaque:
MAPS I (arXiv.org)
MAPS III (arXiv.org)
MAPS IV (arXiv.org)
MAPS VI (arXiv.org)
MAPS VII (arXiv.org)
MAPS IX (arXiv.org)

 


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Discos protoplanetários:
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Nitrilos:
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MAPS:
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ALMA:
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ALMA (NAOJ)
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ESO:
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Astrónomos resolvem mistério cósmico com 900 anos em torno da supernova chinesa de 1181

Segundo uma equipa internacional de astrónomos, um mistério cósmico com 900 anos, em torno das origens de uma famosa supernova avistada pela primeira vez na China no ano 1181, foi finalmente resolvido.

Uma nova investigação publicada dia 15 de setembro diz que uma nuvem (ou nebulosa) ténue e em rápida expansão, de nome Pa 30, em torno de uma das estrelas mais quentes da Via Láctea, conhecida como Estrela de Parker, encaixa no perfil, localização e idade da supernova histórica.

 
Imagens a cores falsas da Estrela de Parker e da nebulosa PA 30 em seu redor, que constituem o remanescente do evento SN 1181. As cores representam o infravermelho, ótico e ultravioleta. Os contornos na imagem do meio mostram emissão de raios-X. À distância de 7500 anos-luz, 45 segundos de arco no céu correspondem a 100.000 UA. Uma unidade astronómica é a distância média entre a Terra e o Sol, cerca de 150 milhões de quilómetros.
Crédito: Universidade de Hong Kong
 

No último milénio (começando no ano 1006), só houveram cinco supernovas brilhantes na Via Láctea. Destas, a supernova chinesa, também conhecida como "Estrela Convidada" de 1181, tem permanecido um mistério. Foi originalmente vista e documentada por astrónomos chineses e japoneses no século XII, que disseram que era tão brilhante quanto o planeta Saturno e permaneceu visível durante seis meses. Também registaram uma localização aproximada no céu, mas nenhum vestígio confirmado da explosão tinha sequer sido identificado pelos astrónomos modernos. As outras quatro supernovas são agora bem conhecidas da ciência moderna e incluem a famosa Nebulosa do Caranguejo.

A origem desta explosão do século XII permaneceu um mistério até à última descoberta feita por uma equipa de astrónomos internacionais de Hong Kong, do Reino Unido, Espanha, Hungria e França, incluindo o professor Albert Zijlstra da Universidade de Manchester. No novo artigo científico, os astrónomos descobriram que a nebulosa Pa 30 está a expandir-se a uma velocidade extrema de mais de 1100 km/s (a essa velocidade, viajar da Terra à Lua levaria apenas 5 minutos). Eles usaram esta velocidade para derivar uma idade que ronda os 1000 anos, que coincidiria com os eventos do ano 1181.

O professor Zijlstra explica: "Os relatos históricos colocam a Estrela Convidada entre duas constelações chinesas, Chuanshe e Huagai. A Estrela de Parker encaixa bem na posição. Isso significa que tanto a idade quanto a localização correspondem aos eventos de 1181."

 
A região de SN 1181 com os asterismos chineses indicados pelas linhas vermelhas. A posição de Pa 30 é assinalada com a cruz preta. A linha verde indica a constelação moderna de Cassiopeia. Está escrito que a supernova se situou no "alojamento lunar" chinês Kui (a região entre as duas linhas púrpuras tracejadas) entre Huagai e Chuanshe, perto de Wangliang. A melhor posição estimada de SN 1181 é dada pela cruz azul rodeada por um cículo azul de erro com um raio de 5 graus.
Crédito: Universidade de Hong Kong
 

Pa 30 e a Estrela de Parker foram propostos anteriormente como resultado da fusão de duas anãs brancas. Pensa-se que tais eventos levem a um tipo raro e relativamente ténue de supernova, chamada "supernova do Tipo Iax".

O professor Zijlstra acrescentou: "Apenas mais ou menos 10% das supernovas são deste tipo e não são bem compreendidas. O facto de SN1181 ter sido fraca, mas ter desvanecido muito lentamente, encaixa neste tipo. É o único evento onde podemos estudar a nebulosa remanescente e a estrela resultante da fusão, e também ter uma descrição da própria explosão."

A fusão de estrelas remanescentes, anãs brancas e estrelas de neutrões, dá origem a reações nucleares extremas e forma elementos pesados e altamente ricos em neutrões, com ouro e platina. O professor Zijlstra disse: "A combinação de todas estas informações como idade, localização, brilho do evento e duração historicamente registada de 185 dias, indica que a Estrela de Parker e Pa 30 são as contrapartes de SN1181. Esta é a única supernova do Tipo Iax onde estudos detalhados da estrela remanescente e da nebulosa são possíveis. É bom ser capaz de resolver um mistério histórico e astronómico."

// Universidade de Manchester (comunicado de imprensa)
// Universidade de Hong Kong (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal Letters)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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SN 1181:
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"Estrela Convidada":
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Supernovas do Tipo Iax:
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Explosão de supernova com "retransmissão" esperada para 2037

É um desafio fazer previsões, especialmente em astronomia. Existem, no entanto, algumas previsões das quais os astrónomos podem depender, como o momento dos próximos eclipses lunares e solares e o regresso de alguns cometas.

Agora, olhando bem além do Sistema Solar, os astrónomos adicionaram uma previsão sólida de um evento que ocorre nas profundezas do espaço intergaláctico: uma imagem de uma estrela a explodir, denominada supernova "Requiem", que aparecerá por volta do ano 2037. Embora esta retransmissão não seja visível a olho nu, alguns futuros telescópios devem ser capazes de a detetar.

 
Agora vemos, agora não. Três vistas da mesma supernova aparecem na imagem de 2016 à esquerda, obtida pelo Telescópio Espacial Hubble. Mas não na imagem de 2019. A supernova distante, chamada Requiem, está inserida no gigantesco enxame de galáxias MACS J0138. O enxame é tão massivo que a sua poderosa gravidade dobra e amplia a luz da supernova, localizada numa galáxia bem por trás. Chamado lente gravitacional, este fenómeno também divide a luz da supernova em várias imagens espelhadas, descadas pelos círculos brancos na imagem de 2016. A supernova com imagens múltiplas desaparece na imagem de 2019 do mesmo enxame, à direita. A foto, tirada em 2019, ajudou os astrónomos a confirmar a natureza do objeto. As supernovas explodem e desaparecem com o tempo. Os investigadores prevêem que uma repetição da mesma supernova faça uma aparição em 2037. A localização prevista dessa quarta imagem está destacada pelo círculo amarelo perto do canto superior esquerdo. A luz da supernova Requiem precisou de cerca de 10 mil milhões de anos para cá chegar, com base na distância da sua galáxia hospedeira. A luz que o Hubble capturou do enxame galáctico, MACS J0138.0-2155, levou cerca de 4 mil milhões de anos para chegar à Terra. As imagens foram obtidas no infravermelho próximo pela WFC3 (Wide Field Camera 3) do Hubble.
Crédito: processamento - Joseph DePasquale (STScI)
 

Acontece que esta futura aparência será a quarta observação conhecida da mesma supernova, ampliada, iluminada e dividida em imagens separadas por um enorme enxame de galáxias em primeiro plano agindo como lentes de zoom cósmico. Três imagens da supernova foram encontradas pela primeira vez em dados de arquivo obtidos em 2016 pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA.

As imagens múltiplas são produzidas pela poderosa gravidade do gigantesco enxame de galáxias, que distorce e amplia a luz da supernova bem por trás dele, um efeito chamado de lente gravitacional. Previsto pela primeira vez por Albert Einstein, este efeito é semelhante a uma lente de vidro que curva a luz para ampliar a imagem de um objeto distante.

As três imagens da supernova, vista como pontos pequenos capturados num único instantâneo do Hubble, representam a luz do rescaldo explosivo. Os pontos variam em brilho e cor, o que significa três fases diferentes do rescaldo da explosão à medida que arrefece com o tempo.

"Esta nova descoberta é o terceiro exemplo de uma supernova com múltiplas imagens para a qual podemos realmente medir o atraso nos tempos de chegada", disse o investigador Steve Rodney da Universidade da Carolina do Sul, em Columbia, EUA. "É a mais distante das três, e o atraso previsto é extraordinariamente longo. Poderemos observar novamente e ver a chegada final, que prevemos ser em 2037, mais ou menos um par de anos."

A luz que o Hubble capturou do enxame, MACS J0138.0-2155, levou cerca de 4 mil milhões de anos para chegar à Terra. A luz da supernova Requiem precisou de cerca de 10 mil milhões de anos para completar a sua viagem até nós, com base na distância da sua galáxia hospedeira.

A previsão, pela equipa, do novo aparecimento da supernova tem por base modelos de computador do enxame, que descrevem os vários percursos que a luz da supernova está a tomar através do labirinto de matéria escura no agrupamento galáctico. A matéria escura é um material invisível que compreende a maior parte da matéria do Universo e é a estrutura sobre a qual as galáxias e enxames de galáxias são construídos.

Cada imagem ampliada segue um caminho diferente através do enxame e chega à Terra em momentos diferentes, devido, em parte, às diferenças no comprimento desses caminhos que a luz da supernova seguiu.

"Sempre que alguma luz passa perto de um objeto muito massivo, como uma galáxia ou um enxame de galáxias, a deformação do espaço-tempo que a teoria da relatividade geral de Einstein nos diz estar presente para qualquer massa, atrasa a viagem da luz em torno dessa massa," explica Rodney.

Ele compara os vários percursos da luz da supernova a vários comboios que deixam uma estação ao mesmo tempo, todos viajando à mesma velocidade e indo para o mesmo destino. Cada comboio, no entanto, segue uma rota diferente, e o tamanho de cada percurso não é o mesmo. Dado que os comboios viajam por diferentes comprimentos da linha e por diferentes terrenos, não chegam ao destino ao mesmo tempo.

Além disso, a imagem da supernova sob efeito da lente gravitacional que aparecerá por volta de 2037 fica atrás das outras imagens da mesma supernova porque a sua luz viaja diretamente pelo meio do enxame, onde reside a quantidade mais densa de matéria escura. A imensa massa do enxame curva a luz, produzindo o atraso de tempo mais longo. "Esta é a última a chegar porque é como o comboio que tem que ir ao fundo de um vale e subir novamente. É o tipo mais lento de viagem para a luz," continuou Rodney.

As imagens da supernova sobre efeito de lente gravitacional foram descobertas em 2019 por Gabe Brammer, coautor do estudo no Cosmic Dawn Center da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca. Brammer avistou as imagens espelhadas da supernova enquanto analisava galáxias distantes ampliadas por enxames massivos de galáxias em primeiro plano como parte de um programa em andamento do Hubble chamado REQUIEM (REsolved QUIEscent Magnified Galaxies).

Ele estava a comparar novos dados do REQUIEM de 2019 com imagens de arquivo obtidas em 2016 por um outro programa científico do Hubble. Um minúsculo objeto vermelho nos dados de 2016 chamou a sua atenção, que ele inicialmente pensou ser uma galáxia longínqua. Mas este tinha desaparecido nas imagens de 2019.

"Mas então, após uma inspeção mais aprofundada dos dados de 2016, percebi que havia na verdade três objetos ampliados, dois vermelhos e um roxo," explicou. "Cada um dos três objetos foi emparelhado com uma imagem de lente de uma galáxia massiva distante. Imediatamente veio-me à ideia de que não era uma galáxia distante, mas na verdade uma fonte transitória neste sistema que havia desvanecido de vista nas imagens de 2019 como a luz de uma lâmpada que tinha sido desligada."

Brammer juntou-se a Rodney para realizar uma análise mais aprofundada do sistema. As imagens da supernova com lente estão organizadas num arco em torno do núcleo do enxame. Aparecem como pequenos pontos próximos das características difusas em tons alaranjados que se pensa serem os instantâneos ampliados da galáxia hospedeira da supernova.

Johan Richard, coautor do estudo e da Universidade de Lyon, na França, produziu um mapa da quantidade de matéria escura no enxame, inferida das lentes que produz. O mapa mostra as localizações previstas de objetos com lente. Prevê-se que esta supernova apareça novamente em 2042, mas que seja tão fraca que a equipa de investigação pensa que não ser visível.

Apanhar o regresso do evento explosivo vai ajudar os astrónomos a medir os atrasos de tempo entre as quatro imagens da supernova, o que fornecerá pistas para o tipo de "terreno" espacial deformado que a luz da estrela explodida teve que cobrir. Munidos destas medições, os investigadores podem ajustar os modelos que mapeiam a massa do enxame. O desenvolvimento de mapas precisos da matéria escura em enxames massivos de galáxias é outra maneira dos astrónomos medirem o ritmo de expansão do Universo e de investigarem a natureza da energia escura, uma forma misteriosa de energia que atua contra a gravidade e faz com que o cosmos se expanda a ritmo mais acelerado.

Este método de atraso de tempo é valioso porque é uma forma mais direta de medir o ritmo de expansão do Universo, explicou Rodney. "Estes longos atrasos no tempo são particularmente valiosos porque podemos obter uma boa e precisa medição desse atraso se formos pacientes e esperarmos anos, neste caso mais de uma década, para que a imagem final regresse," disse. "É um método completamente independente de calcular o ritmo de expansão do Universo. O valor real no futuro usará uma amostra maior para melhorar a previsão."

A deteção de imagens de supernova sob o efeito de lentes gravitacionais vai tornar-se cada vez mais comum ao longo dos próximos 20 anos com o lançamento do Telescópio Espacial Nancy Grace Roman da NASA e do início das operações no Observatório Vera C. Rubin. Ambos os telescópios vão observar grandes áreas do céu, o que lhes permitirá localizar dezenas de supernovas com imagens múltiplas.

Futuros telescópios, como o Telescópio Espacial James Webb da NASA, também podem detetar a luz da supernova Requiem noutras épocas da explosão. Os resultados da equipa foram publicados na edição de 13 de setembro da revista Nature Astronomy.

// NASA (comunicado de imprensa)
// ESA/Hubble (comunicado de imprensa)
// Hubblesite (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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Lentes gravitacionais:
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Supernovas:
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Telescópio Espacial Hubble:
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SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

REQUIEM:
Página oficial

 
   
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