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  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
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  Astroboletim #1864  
  18/01 a 20/01/2022  
     
 
Efemérides

Dia 18/01: 18.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1896, H. L. Smith apresenta a primeira máquina capaz de gerar raios-X.
Em 1916, um meteorito condrito com 611 gramas atinge uma casa perto de Baxter em Stone County, no estado norte-americano do Missouri.
Em 2000, o meteorito do Lago Tagish colide com a Terra.

No mesmo ano, a NASA termina as tentativas de comunicar com a Mars Polar Lander. Foi perdida no dia 3 de dezembro de 1999, durante a fase de aterragem da missão.
Observações: Depois do cair da noite, Sirius brilha por baixo de Orionte a sudeste. Um pouco antes das 21:30, dependendo da localização do observador, Sirius brilha precisamente para baixo da escaldante Betelgeuse, situada no ombro de Orionte. Quão precisamente consegue determinar a hora deste evento a partir do sítio onde se encontra, talvez avaliando contra a parede de um prédio? Das duas, Sirius é quem "lidera" ao início da noite; Betelgeuse "lidera" depois.

Dia 19/01: 19.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1747 nascia Johann Bode, autor da Lei de Titius-Bode, uma progressão quase geométrica das distâncias dos planetas a partir do Sol.

Também determinou a órbita de Úrano e sugeriu o nome do planeta. 
Em 1851 nascia Jacobus Kapteyn, que estudou a distribuição e o movimento de meio milhão de estrelas e criou o primeiro modelo moderno do tamanho e estrutura da Via Láctea.
Em 2006, era lançada a sonda New Horizons, a primeira missão a Plutão. A maior aproximação ocorreu no dia 14 de julho de 2015, a 12.472 km da superfície.
Observações: Depois do anoitecer, vire-se para este e olhe para cima. A brilhante estrela aí é Capella, da constelação de Cocheiro. Para a sua direita, a um par de dedos à distância do braço esticado, está um pequeno triângulo estreito de estrelas de terceira e quarta magnitudes conhecido como "as Crianças". Não são exatamente apelativas, mas formam um asterismo com Capella.

Dia 20/01: 20.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1573 nascia Simon Marius, astrónomo alemão que afirmou ter descoberto as luas de Júpiter dias antes de Galileu.

De facto, a sua primeira observação foi na mesma data que Galileu. Mesmo assim, os nomes dos satélites galileanos são os dados por Simon Marius.
Em 1775 nascia André-Marie Ampère, físico e matemático francês que é geralmente reconhecido como um dos principais fundadores da ciência do eletromagnetismo clássico, que ele referia como "eletrodinâmica". A unidade SI da medição da corrente elétrica, o ampere, tem o seu nome. 
Em 1930, nascia Buzz Aldrin, astronauta americano e a segunda pessoa a pisar a Lua
Em 1961, a agência soviética Tass anunciava que a cadela Strelka, que havia tripulado a Spacecraft II em agosto de 1960, tinha dado à luz 6 cachorros.
Em 2016, investigadores do Caltech encontram evidências de um nono planeta a mover-se no que chamam de "órbita altamente alongada e bizarra" no Sistema Solar exterior.
Observações: A constelação de Cisne, cujo topo é a estrela Deneb, situa-se quase na vertical acima do horizonte a noroeste depois do anoitecer. Com o passar da noite mergulha no horizonte, como uma espada a ser "enfiada" no chão.

 
 
   
Uma superlua para lá do nosso Sistema Solar

Os astrónomos relataram uma segunda lua gigante, em órbita de um exoplaneta do tamanho de Júpiter, para lá do nosso Sistema Solar. Se confirmado, este avistamento pode significar que as exoluas são tão comuns no Universo quanto os exoplanetas, e que as luas, grandes ou pequenas, são uma característica dos sistemas planetários.

Mas pode ser uma longa espera. O primeiro avistamento de uma exolua, há quatro anos, ainda está à espera de confirmação e a verificação desta nova candidata pode ser igualmente longa e controversa.

 
A descoberta de uma segunda candidata a exolua sugere a possibilidade das exoluas poderem ser tão comuns como os exoplanetas.
Crédito: Helena Valenzuela Widerström
 

A descoberta, publicada na revista Nature Astronomy, foi liderada por David Kipping e pelo seu "Cool Worlds Lab" na Universidade de Columbia, que relatou a primeira candidata a exolua em 2018.

"Os astrónomos encontraram até agora mais de 10.000 objetos candidatos a exoplaneta, mas as exoluas são muito mais desafiantes," disse Kipping, que passou a última década à caça de exoluas. "São terra incógnita."

A equipa avistou a candidata a exolua gigante em órbita do planeta Kepler-1708b, um mundo a 5500 anos-luz da Terra na direção das constelações de Cisne e de Lira. Esta nova candidata é cerca de um-terço mais pequena do que a lua do tamanho de Neptuno que Kipping e colegas tinham encontrado anteriormente em órbita de um planeta semelhante a Júpiter, Kepler-1625b.

Ambas as candidatas a superlua são provavelmente feitas de gás que se acumulou sob a atração gravitacional provocada pelo seu enorme tamanho, disse Kipping. Se a hipótese de um astrónomo estiver correta, as luas podem até ter começado a sua vida como planetas de pleno direito, apenas para serem puxadas para a órbita de um exoplaneta ainda maior como Kepler-1625b ou 1708b.

Ambas as luas estão localizadas longe da sua estrela hospedeira, onde há menos gravidade para puxar os planetas e para despojá-los das suas luas. De facto, os investigadores procuraram planetas gigantes gasosos e frios em órbitas largas na sua busca por exoluas precisamente porque os análogos no nosso próprio Sistema Solar, Júpiter e Saturno têm, entre eles, mais de cem luas.

A existirem outras exoluas por aí, provavelmente serão menos monstruosas, mas também mais difíceis de detetar, disse Kipping. "As primeiras deteções em qualquer levantamento serão geralmente as mais estranhas," disse. "As maiores são simplesmente as mais fáceis de detetar com a nossa sensibilidade limitada."

As exoluas fascinam os astrónomos pelas mesmas razões que os exoplanetas. Têm o potencial de revelar como e onde a vida pode ter surgido no Universo. São também curiosidades por direito próprio, e os astrónomos querem saber como estas exoluas se formam, se podem sustentar vida, e que papel, se algum, desempenham para tornar os seus planetas hospedeiros habitáveis.

No presente estudo, os investigadores analisaram a amostra de planetas gigantes gasosos e mais frios capturada pela missão Kepler da NASA. Depois de analisarem detalhadamente 70 planetas, encontraram apenas um candidato - Kepler-1708b - com um sinal semelhante ao de uma exolua. "É um sinal teimoso," disse Kipping. "Tentámos todos os métodos de refutação, mas simplesmente não desaparece."

Serão necessárias observações por outros telescópios espaciais, como o Hubble, para verificar a descoberta, um processo que poderá demorar anos. Quatro anos depois, a primeira descoberta exolunar de Kipping continua a ser intensamente debatida. Num artigo recente, ele e colegas mostraram como um grupo de céticos pode ter falhado a descobrir a lua de Kepler-1625b nos seus cálculos. Entretanto, Kipping e colegas continuam a investigar outras linhas de evidência.

Eric Agol, professor de astronomia na Universidade de Washington, disse ter dúvidas de que este último sinal se venha a revelar real. "Pode ser apenas uma flutuação nos dados, seja devido ao ruído estelar ou ao ruído instrumental," explicou.

Outros estão mais otimistas. "Isto é a ciência no seu melhor," disse Michael Hippke, astrónomo independente na Alemanha. "Encontramos um objeto intrigante, fazemos uma previsão e ou confirmamos a candidata a exolua ou descartamo-la com observações futuras."

"Estou muito entusiasmado por ver uma segunda candidata a exolua, embora seja lamentável que apenas tenham sido observados dois trânsitos," acrescentou. "Mais dados seriam muito bem-vindos."

Avistar uma lua ou até um planeta a centenas ou a milhares de anos-luz da Terra é tudo menos simples. As luas e os planetas só podem ser observados indiretamente à medida que passam em frente das suas estrelas hospedeiras, fazendo com que a luz estelar diminua intermitentemente. Captar um destes sinais fugazes de trânsito, com um telescópio, é complexo, assim como a interpretação dos dados da curva de luz. As luas são ainda mais difíceis de detetar porque são mais pequenas e bloqueiam menos luz.

Mas a busca vale a pena, disse Kipping, ao recordar como a existência dos exoplanetas foi saudada com o mesmo ceticismo que as exoluas são hoje. "Esses planetas são alienígenas em comparação com o nosso Sistema Solar," salientou. "Mas revolucionaram a nossa compreensão de como os sistemas planetários se formam."

// Universidade de Columbia (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)
// Artigo científico sobre falha a descobrir a exolua de Kepler-1625b (arXiv.org)
// Descobrimos uma nova candidata a exolua! (Cool Worlds via YouTube)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
15/06/2021 - Água líquida em exoluas de planetas "fugitivos"
20/09/2019 - Lenta aniquilação de exolua pode explicar mudanças no brilho da estrela de Tabby, a estrela mais misteriosa do Universo
03/09/2019 - Indícios de uma exolua vulcanicamente ativa
05/10/2018 - Astrónomos descobrem primeiras evidências de possível lua para lá do nosso Sistema Solar
01/06/2018 - Luas distantes podem abrigar vida
11/04/2014 - Lua distante ou estrela fraca? Encontrada possível exolua
20/12/2013 - Pode ter sido descoberta a primeira exolua

Notícias relacionadas:
Sky & Telescope
SPACE.com
New Scientist
SpaceRef
PHYSORG
science alert
Scientific American
CNN
Forbes
Observador

Kepler-1708b I:
Exoplanet.eu
Wikipedia

Kepler-1708b:
NASA
Exoplanet.eu
Wikipedia

Exoluas:
Wikipedia

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Telescópio Espacial Kepler:
NASA
Arquivo de dados do Kepler
Arquivo de dados da missão K2

 
   
Novas informações sobre as estações num exoplaneta

Imagine estar num lugar onde os ventos são tão fortes que se movem à velocidade do som. Este é apenas um aspeto da atmosfera de XO-3b, um de uma classe de exoplanetas (planetas para lá do nosso Sistema Solar) conhecidos como Júpiteres quentes. A órbita excêntrica do planeta também leva a variações sazonais centenas de vezes mais fortes do que as que temos cá na Terra.

 
XO-3b, um Júpiter quente numa órbita excêntrica.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (IPAC)
 

Num artigo publicado recentemente, uma equipa de investigação liderada pela Universidade McGill fornece uma nova visão sobre o aspeto das estações num planeta para lá do nosso Sistema Solar. Os investigadores também sugerem que a órbita oval, as temperaturas extremamente elevadas (2000º C, quente o suficiente para vaporizar rocha) e o "inchaço" de XO-3b revelam vestígios da história do planeta. Os achados vão potencialmente fazer avançar tanto a compreensão científica de como os exoplanetas se formam e evoluem como dar algum contexto aos planetas do nosso próprio Sistema Solar.

Os Júpiteres quentes são mundos gasosos e massivos como Júpiter, mas que orbitam mais perto das suas estrelas hospedeiras do que Mercúrio orbita o Sol. Embora não existam no nosso próprio Sistema Solar, parecem ser comuns por toda a Galáxia. Apesar de serem o tipo de exoplaneta mais estudado, ainda permanecem grandes questões sobre como se formam. Será que podem existir subclasses de Júpiteres quentes com diferentes histórias de formação? Por exemplo, será que estes planetas tomam forma longe das suas estrelas-mãe - a uma distância onde faz frio suficiente para que moléculas como a água se tornem sólidas - ou mais perto? O primeiro cenário encaixa melhor nas teorias sobre como os planetas do nosso próprio Sistema Solar nasceram, mas o que leva estes tipos de planetas a migrar para tão perto das suas estrelas-mãe continua a não ser claro.

Para testar essas ideias, os autores utilizaram dados do aposentado Telescópio Espacial Spitzer da NASA para analisar a atmosfera do exoplanetas XO-3b. Observaram estações excêntricas e mediram as velocidades do vento no planeta, obtendo uma curva de fase do planeta ao completar uma revolução completa em torno da sua estrela hospedeira.

Olhando para a dinâmica atmosférica e para a evolução interior

"Este planeta é um estudo de caso extremamente interessante para a dinâmica atmosférica e para a evolução interior, pois está situado num regime intermédio de massa planetária onde os processos normalmente negligenciados por Júpiteres quentes menos massivos podem entrar em jogo," diz Lisa Dang, autora principal de um artigo publicado recentemente na revista The Astronomical Journal, estudante de doutoramento no Departamento de Física da Universidade McGill. "XO-3b tem uma órbita oval em vez da órbita circular de quase todos os outros Júpiteres quentes conhecidos. Isto sugere que migrou recentemente em direção à sua estrela-mãe; se for esse o caso, acabará por instalar-se numa órbita mais circular."

A órbita excêntrica do planeta também leva a variações sazonais centenas de vezes mais fortes do que as que temos cá na Terra. Nicolas Cowan, professor na mesma instituição de ensino, explica: "O planeta inteiro recebe três vezes mais energia quando está mais perto da sua estrela - durante um breve verão, do que quando está mais longe da estrela."

Os investigadores também reavaliaram a massa e o raio do planeta e descobriram que o planeta é surpreendentemente mais "inchado" do que o esperado. Sugeriram que a possível fonte deste aquecimento pode ser devido a fusão nuclear remanescente.

Excesso de calor e inchaço devido ao aquecimento provocado por marés?

Observações do Gaia, uma missão da ESA, descobriram que o planeta está mais inchado do que o esperado, o que indica que o seu interior pode ser particularmente energético. As observações pelo Spitzer também sugerem que o planeta produz muito do seu próprio calor, uma vez que o excesso de emissão térmica de XO-3b não é sazonal - é observado ao longo de todo o ano de XO-3b. É possível que o calor em excesso venha do interior do planeta, através de um processo chamado aquecimento de maré. O "aperto" gravitacional da estrela no planeta oscila à medida que a órbita oblonga o leva para mais longe e depois para mais perto. As alterações resultantes na pressão interior produzem calor.

Para Dang, este Júpiter quente invulgar proporciona uma oportunidade para testar ideias sobre quais os processos de formação que podem produzir certas características nestes exoplanetas. Por exemplo, será que o aquecimento de maré noutros Júpiteres quentes também pode ser um sinal de migração recente? XO-3b, por si só, não vai desvendar o mistério, mas serve como um teste importante para ideias emergentes sobre estes gigantes escaldantes.

// Universidade McGill (comunicado de imprensa)
// NASA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

XO-3b:
Exoplanet.eu
Wikipedia

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Telescópio Espacial Spitzer:
Caltech
NASA
Centro Científico Spitzer 
Wikipedia

Gaia:
ESA
ESA - 2
Gaia/ESA
Programa Alertas de Ciência Fotométrica do Gaia
EDR3 do Gaia
SPACEFLIGHT101
Wikipedia

 
   
Intrusa estelar apanhada, em flagrante, num raro evento de passagem rasante

Cientistas usaram o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) e o VLA (Karl G. Jansky Very Large Array) para fazer uma rara deteção de um provável evento de "flyby" estelar no sistema Z Canis Majoris (Z CMa). Uma intrusa, não ligada ao sistema, passou muito perto e interagiu com o ambiente que rodeia a protoestrela binária, provocando a formação de correntes caóticas e esticadas de poeira e gás no disco em redor.

Embora tais eventos rasantes já tenham sido anteriormente testemunhados com alguma regularidade nas simulações computorizadas de formação estelar, poucas observações diretas e convincentes foram alguma vez feitas e, até agora, os eventos tinham permanecido em grande parte teóricos.

 
Os cientistas capturaram um objeto intruso que perturba o disco protoplanetário - o local de nascimento dos planetas - em Z Canis Majoris (Z CMa), uma estrela na direção da constelação de Cão Maior. Esta impressão de artista mostra a perturbadora a sair do sistema estelar, puxando um longa corrente de gás do disco protoplanetário juntamente com o mesmo. Dados observacionais do Telescópio Subaru, do VLA (Karl G. Jansky Very Large Array) e do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) sugerem que o objeto intruso foi responsável pela criação destes fluxos gasosos, e a sua "visita" pode ter outros impactos ainda desconhecidos no crescimento e desenvolvimento dos planetas no sistema estelar.
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), B. Saxton (NRAO/AUI/NSF)
 

"É difícil obter evidências observacionais de eventos rasantes, porque estes eventos ocorrem rapidamente e é difícil capturá-los em ação. O que fizemos com as nossas observações ALMA de Banda 6 e com o VLA é equivalente a capturar raios que atingem uma árvore," disse Ruobing Dong, investigador da Universidade de Vitória no Canadá e investigador principal do novo estudo. "Esta descoberta mostra que os encontros próximos entre jovens estrelas que abrigam discos de facto acontecem 'na vida real', e não são apenas situações teóricas vistas em simulações de computador. Estudos observacionais anteriores já tinham visto 'flybys' do género, mas não tinham sido capazes de recolher as evidências compreensivas que conseguimos obter do evento em Z CMa."

Perturbações, ou distúrbios, como os de Z CMa não são tipicamente provocados por intrusas, mas sim por estrelas-irmãs que crescem juntas no espaço. Hauyu Baobab Liu, astrónomo do Instituto de Astronomia e Astrofísica da Academia Sinica em Taiwan, coautor do artigo científico, disse: "Na maioria das vezes, as estrelas formam-se isoladamente. As gémeas, ou até trigémeas ou quadrigémeas, nascidas juntas podem ser atraídas gravitacionalmente e, como resultado, aproximarem-se umas das outras. Durante estes momentos, algum material nos discos protoplanetários das estrelas pode ser removido para formar extensas correntes de gás que fornecem pistas aos astrónomos sobre a história de encontros estelares passados."

Nicolás Cuello, astrofísico da Universidade Grenoble-Alpes na França e coautor do artigo, acrescentou que no caso de Z CMa, foi a morfologia, ou estrutura, destas correntes que ajudou os cientistas a identificar e a localizar a intrusa estelar. "Quando um encontro estelar ocorre, provoca alterações na morfologia do disco - espirais, deformações, sombras, etc. - que podem ser consideradas como impressões digitais de um 'flyby'. Neste caso, ao olhar com muito cuidado para o disco de Z CMa, revelámos a presença de várias impressões digitais de uma passagem rasante."

 
À medida que as estrelas crescem, elas interagem frequentemente com as suas estrelas-irmãs - estrelas que crescem perto delas no espaço - mas raramente têm sido observadas a interagir com objetos exteriores, ou intrusos. Os cientistas fizeram agora observações de um objeto intruso perturbando o disco protoplanetário em torno de Z Canis Majoris, uma estrela na direção da constelação de Cão Maior, o que poderia ter grandes implicações para o desenvolvimento de planetas bebés. Perturbações, incluindo longas correntes de gás, foram observadas em detalhe pelo Telescópio Subaru na banda H, pelo VLA (Karl G. Jansky Very Large Array) na banda Ka, e utilizando o receptor de Banda 6 do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array).
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), S. Dagnello (NRAO/AUI/NSF), NAOJ
 

Estas impressões digitais não só ajudaram os cientistas a identificar a intrusa, como também os levaram a considerar o que estas interações poderiam significar para o futuro de Z CMa e para os planetas bebés que estão a nascer no sistema, um processo que até agora tem permanecido um mistério para os cientistas. "O que sabemos agora com esta nova investigação é que os eventos de 'flyby' ocorrem na natureza e que têm grandes impactos nos discos circunstelares, que são os berços de nascimento dos planetas, em torno de estrelas bebé," disse Cuello. "Os eventos de passagem rasante podem perturbar dramaticamente os discos circunstelares em torno das estrelas intervenientes, como vimos com a produção de longas correntes em torno de Z CMa."

Liu acrescentou: "Estas perturbadoras não só dão azo a fluxos gasosos, como também podem ter impacto na história térmica das estrelas hospedeiras envolvidas, como Z CMa. Isto pode levar a eventos violentos como surtos de acreção, e também impactar o desenvolvimento do sistema estelar global de formas que ainda não observámos ou definimos."

Dong disse que o estudo da evolução e crescimento de jovens sistemas estelares por toda a Galáxia ajuda os cientistas a compreender melhor a origem do nosso próprio Sistema Solar. "O estudo deste tipo de eventos dá-nos uma janela para o passado, incluindo o que poderia ter acontecido no desenvolvimento inicial do nosso próprio Sistema Solar, cujas evidências críticas já desapareceram há muito. Observar estes eventos num sistema estelar recém-formado dá-nos a informação necessária para dizer, 'Ah ha! Isto é o que pode ter acontecido ao nosso próprio Sistema Solar há muito tempo atrás.' Neste momento, o VLA e o ALMA deram-nos as primeiras evidências para resolver este mistério, e as próximas gerações destas tecnologias vão abrir janelas para o Universo com as quais ainda só sonhámos."

// Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
// NRAO (comunicado de imprensa)
// Universidade de Vitória (comunicado de imprensa)
// Telescópio Subaru (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (PDF)
// Simulação de computador de um evento de "flyby" estelar (UVic Science via YouTube)

 


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Notícias relacionadas:
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Z Canis Majoris:
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ALMA:
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ESO:
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VLA:
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  Vapor de água detetado num "super-Neptuno" (via NASA/JPL)
Este planeta recentemente descoberto, um pouco maior que Neptuno e orbitando uma estrela anã vermelha a cerca de 150 anos-luz de distância, coloca-o num clube exclusivo: exoplanetas, ou planetas em torno de outras estrelas, conhecidos por terem vapor de água nas suas atmosferas. Muitas questões permanecem, tais como a quantidade de vapor de água que a sua atmosfera contém. Mas a atmosfera de TOI-674 b é muito mais fácil de observar do que a de muitos exoplanetas, tornando-o um alvo ideal para uma investigação mais profunda. Ler fonte
     
  Astrónomos encontram a "Vaca" mais luminosa em raios-X (via Caltech)
Foi descoberto outro membro da nova classe "Cow" ("Vaca") de explosões de supernovas - o mais brilhante visto em raios-X até à data. O novo evento, apelidado AT2020mrf, é apenas o quinto encontrado até agora pertencente à classe "Cow" de supernovas. O grupo tem o nome da primeira supernova encontrada nesta classe, AT2018cow, cujo nome gerado aleatoriamente acabou por soletrar a palavra "vaca". Ler fonte
     
  Origem dos materiais orgânicos de meteorito marciano não é biológica, formados por interações geoquímicas entre água e rocha (via Instituto Carnegie para Ciência)
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Álbum de fotografias - Nebulosa Escura em Camaleão
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Jarmo RuuthTelescope LiveObservatório Heaven's Mirror
 
Por vezes a poeira escura do espaço interestelar tem uma elegância angular. Tal é o caso da constelação de Camaleão, no extremo sul. Normalmente demasiado fraca para se ver, a poeira escura é mais conhecida por bloquear a luz visível das estrelas e galáxias por detrás. No entanto, nesta exposição de quatro horas, a poeira é vista principalmente à sua própria luz, com as suas fortes cores vermelhas e quase infravermelhas dando origem a uma tonalidade castanha. Contrastando o azul da brilhante estrela Beta Chamaeleontis, visível mesmo à direita do centro, com a poeira que a rodeia, podemos ver que preferencialmente reflete a luz azul da sua cor essencialmente azul-esbranquiçada. Todas as estrelas e toda a poeira estão na nossa própria Galáxia, a Via Láctea, mas com uma notável exceção: a mancha branca logo abaixo de Beta Chamaeleontis é a galáxia IC 3104 que fica muito longe. A poeira interestelar é criada principalmente nas atmosferas frias de estrelas gigantes e dispersa para o espaço pela luz estelar, ventos estelares e explosões estelares como supernovas.
 
   
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