NOTÍCIAS ASTRONÓMICAS - N.º 32
11 de Junho de 2004
O TRÂNSITO DE VÉNUS NO ALGARVE

 


Imagem tirada alguns segundos após o 3º Contacto
Crédito da Foto: Nelson Viegas
(Clique na imagem para ver maior)

Como era esperado, no dia 8 de Junho de 2004 ocorreu o Trânsito de Vénus que era o evento astronómico mais esperado do ano. Com um início fraco, a sessão acabou com um afluxo nas últimas duas horas de mais de duzentas pessoas por hora.

Resolvidos a não perder nada que fosse possível visualizar, os elementos do Núcleo de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve instalaram os seus telescópios cerca das 06h00 junto à Muralha da Cidade Velha no Parque de São Francisco. A equipa presente no local, que se foi revezando, foi composta por Alexandre Costa, Miguel Montes, Pedro Nolasco, Bárbara Moiteiro, Nelson Viegas, Eva Santos e João Águas.

Nas primeiras quatro horas, houve poucas pessoas a querer observar o trânsito, estimando-se na casa das poucas dezenas de pessoas por hora o número de transeuntes que o observou.


A observação às primeiras horas no Largo de São Francisco mostrava pouca adesão da população
Crédito da Foto: Sandra Brás

No entanto a partir das 10h30, com o aparecimento de escolas no local e de grupos de meia dúzia de pessoas que vinham chegando em ritmo crescente, o fluxo de "observadores" terá subido para mais de 200 pessoas por hora.


Crianças de infantário observam o Trânsito usando óculos apropriados. 

Os elementos do Centro Ciência Viva do Algarve foram fornecendo aos transeuntes óculos apropriados para a observação do Sol. As pessoas presentes no local podiam observar a travessia de Vénus sobre o disco solar de três formas: ou observando a projecção sobre um painel branco efectuada com um telescópio newtoniano de 114 mm de abertura, ou observando através de um telescópio catadrióptico Schmidt-Cassegrain LX50 de 25 cm de abertura equipado com um filtro solar apropriado ou utilizando simplesmente os óculos fornecidos, nos quais se via Vénus como um ponto negro de dimensões ligeiramente acima do limiar da visão.

Para além dos aspectos relacionados com a divulgação científica pretendia-se também, enquanto membros da network  do VT2004 (organizado centralmente pelo Observatório Europeu do Sul -ESO), medir os instantes dos quatro "contactos" de Vénus com a superfície do Sol.


Esquema dos "contactos" de Vénus com a superfície do Sol
Crédito: ESO

Quando o Sol atingiu o campo visual observável com os telescópios já se havia dado o primeiro contacto, pelo que as medições ficaram limitadas aos restantes instantes. Como o importante para a estatística global a nível mundial era obter pelo menos um contacto, os elementos do Núcleo de Astronomia do CCVA  tentaram obter os restantes instantes.

O segundo contacto deu-se às 06h39min59s (em Tempo Universal (UT) tem-se uma hora a menos ou seja 05h39min59s).

País :   Portugal
Local  :   Faro
Longitude :   7.9352777 ° W
Latitude :   37.0116666 ° N
  Instantes (UTC) UA (km) Π ('') Δ(UA) (km) Δ(Π) ('') Error
1 Instante não medido
2 5 h 39 m 59.00 s 149457538 8.8024 140332 0.0083 0.094 %
3 11 h 5 m 59.00 s 149661984 8.7904 64114 0.0038 0.043 %
4 11 h 25 m 18.00 s 149623174 8.7927 25304 0.0015 0.017 %
Média AU = 149580899 km
Média Π = 8.7951 ''
Erro Médio = 0.011 %

O Centro de Coordenação das medições do VT2004 é o Institut de Méchanique Céleste et Calcul de Éphémerides (IMCCE), um instituto criado em 1785, tendo como membros científicos originais Lagrange, Laplace, Méchain, Lalande, Cassini, Delambre, Borda, Bougainville, Buache e Caroche.

Os resultados necessários para a determinação da Unidade Astronómica que foram enviados por todos os participantes  nas medições encontram-se dispostos graficamente no histograma abaixo.

Clique sobre o gráfico para obter uma versão ampliada do histograma.


Histograma das medições enviadas por equipas de todo o mundo para o IMCCE.
O resultado directo que seria obtido usando as medições do CCVA está assinalado
a verde e o valor exacto, obtido por satélite, está assinalado a vermelho.
Crédito: IMCCE

O resultado da medição da Unidade Astronómica obtido utilizando os dados do CCVA foi um sucesso, dado que dista do valor oficial de 16 971km o que corresponde a um erro de 0,011% (recorde-se que a Unidade Astronómica é a distância média da Terra ao Sol e que o valor real da distância da Terra ao Sol oscila menos de 2% acima e abaixo dos cerca de 150 milhões de quilómetros que correspondem a esta unidade).

No Algarve houve ainda outros pontos de observação do trânsito de Vénus, nomeadamente na Universidade do Algarve e na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro.

O empreendimento turístico Vilalara, em Armação de Pêra, convidou os astrónomos franceses Lauren Courier e Fréderic Dejeanti para guiarem os seus clientes e convidados à descoberta do trânsito de Vénus.

Links:

ESO:
http://www.eso.org

Coordenção do Trânsito de Vénus:
http://www.vt-2004.org/

IMMCE:
http://www.imcce.fr/

Notícias das Observações efectuadas no Algarve:
Agência Lusa
:
http://www.lusa.pt/print.asp?id=SIR-6092808
Jornal "Público":
http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1195988&idCanal=13
http://jornal.publico.pt/2004/06/09/Ciencias/H05.htm

 
CIRCUITOS INTEGRADOS BACTERIANOS

Como um canário numa mina os micróbios podem muitas vezes pressentir perigos ou alterações nas condições ambientais muito antes dos seres humanos. Ver a reacção do canário é simples, mas como poderemos usar microorganismos para pressentir variações ambientais? Como podemos saber o que sente um micróbio? Como podemos fazer um micróbio comunicar?

Uma forma é ligá-lo a um chip de silício.

Na Universidade do Tennessee o microbiólogo Gary Saylor e os seus colegas desenvolveram um dispositivo que utiliza chips para recolher os sinais de bactérias especialmente modificadas. Os cientistas já utilizaram estes dispositivos chamados BBIC (Bioluminiscent Bioreporter Integrated Circuits) para detectar poluição na Terra. Agora com o apoio da NASA estão a desenhar uma série de novas aplicações para transportar nas naves espaciais.


Bactérias Bioluminiscentes Modificadas
Crédito: NASA

O grupo de Saylor que inclui os investigadores do Tennessee Steve Ripp, Syed Islam e Ben Bialock bem como colaboradores no JPL e no Centro Espacial Kennedy fizeram bioengenharia para produzir bactérias que brilham num tom azul esverdeado na presença de contaminantes do meio onde se encontram e introduziram-nas em microlumiómetros (chips que medem a intensidade luminosa).


Esquema  do microluminómetro vendo-se a sua dimensão comparada com a de uma moeda.
O tamanho do microluminómetro é de 2mm por 2mm.
Crédito: NASA

Assim, cada vez que o nível de contaminantes ultrapassa um valor crítico, as bactérias começam a emitir mais radiação azul esverdeada, o que é imediatamente detectado pelo microluminómetro, podendo ser accionados alarmes se for caso disso.

Para além das evidentes aplicações no combate à poluição prevêem-se nos anos mais próximos desenvolvimentos que permitam que aplicações deste género possam ser aplicadas a outras áreas relevantes como por exemplo a medicina.

Links:

NASA:
http://www.nasa.gov

 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
     
 
O Trânsito de Vénus e a Cromosfera solar - Crédito: Stefan Seip
Esta espectacular imagem tirada usando um filtro H-alfa mostra o trânsito de Vénus sobre uma imagem de extremo detalhe da cromosfera solar, revelando uma imensa rede células com filamentos negros e um limbo pejado de  espículas e proeminências.
Ver imagem em alta-resolução
     
 
  EFEMÉRIDES:  
 

Dia 12/06: 164º dia do  calendário gregoriano. 
Em 1967 era lançada a sonda Venera 4 que viria a tornar-se a primeira sonda a enviar dados com sucesso do interior da atmosfera de outro planeta.
Tente fazer fotografias do cometa NEAT na constelação da Ursa Maior (clique aqui para ver onde).

Dia 13/06: 165º dia do calendário gregoriano.
Em 1983 a sonda Pioneer tornava-se o primeiro objecto feito pelo Homem a abandonar o sistema  solar.
Começa a ser boa altura para fazer fotos de M57 (nebulosa Anular de Lira).

Dia 14/06: 166º dia do  calendário gregoriano.
Aproveite para ver Júpiter na constelação de Leão.

Dia 15/06: 167º dia do  calendário gregoriano.
Em 763 a.C. os assírios assinalam um eclipse solar.
Às 22h28min48s observe um flare de irídio na direcção ENE (azimute 67º) a uma altura de 45º acima do nível do horizonte. O flare do satélite Iridium 63 atingirá a magnitude aparente de -8.

 
 
  CURIOSIDADES:  
 
A Grande Muralha da China é a única construção humana que é individualmente visível do Espaço.
 
 
 

Livro à venda no Centro Ciência Viva do Algarve por 13 €.
 
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Compilado por: Miguel Montes e Alexandre Costa
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