NOTÍCIAS ASTRONÓMICAS - N.º 4
12 de Março de 2004
GUERRA DAS GALÁXIAS (HST vs. VLT)- O HUBBLE CONTRA-ATACA
 

Dias depois do VLT (Very Large Telescope) ter feito a imagem da galáxia mais antiga jamais observada que teria um redshift z ~ 10, eis que o telescópio espacial Hubble surge agora com as imagens mais longínquas de céu profundo jamais alcançadas pela espécie humana.

Chamada Hubble Ultra Deep Field (HUDF), a imagem foi obtida a partir de uma exposição de um milhão de segundos (mais de 11 dias e meio) e revela as primeiras galáxias que emergem da chamada Idade Escura, o período após o Big Bang em que finalmente se começam a formar as primeiras estrelas e galáxias. A imagem oferecerá na sua análise dados sem precedentes que permitirão conhecer melhor que tipos de objectos foram os primeiros a ser reaquecidos nesse universo longínquo.


Hubble Ultra Deep Field (HUDF)
Crédito: NASA/ESA Hubble Space Telescope
(carregue na imagem para ver uma versão maior)

Esta imagem histórica é na verdade um compósito de duas imagens separadas tiradas com a Hubble's Advanced Camera for Surveys (ACS) e a Near Infrared Camera and Multi-object Spectrometer (NICMOS). Ambas as imagens revelam algumas galáxias que são demasiado fracas para serem vistas com qualquer telescópio construído no solo terrestre ou mesmo pelos anteriores olhares em profundidade do Telescópio Espacial Hubble. Estes olhares em profundidade chamados Hubble Deep Fields (HDF) tirados em 1995 e 1998 eram imagens contendo galáxias até redshifts de cerca de z=6.4 e foram os olhares mais profundos sobre o universo realizados até muito recentemente. No entanto nos últimos dois meses a distância da galáxia mais longínqua tem vindo a ser pulverizada semana após semana numa competição que envolve as equipas de observação do VLT e do HST.

De facto, na nossa newsletter de 19 de Fevereiro (edição antiga) noticiávamos que o HST simultaneamente com os telescópios do KECK, no Hawaii,  havia fotografado uma galáxia a redshift z=6.5 usando como lente gravitacional o enxame de galáxias Abell 2218, e na edição de dia 5 de Março noticiávamos que o VLT tinha pulverizado essa marca com uma imagem que contém galáxias com um redshift de z=10.

A imagem agora obtida (HUDF) contém cerca de 10 000 galáxias numa pequena região do céu de cerca de um décimo do diâmetro da Lua. Para além da excelente amostra de galáxias espirais e elípticas, existe  uma verdadeira panóplia de galáxias estranhas que preenchem o campo visual. Algumas parecem palitos, outras como elementos de uma pulseira; algumas parecem estar a interagir. No entanto, as suas formas estranhas são um esboço das majestosas espirais e elípticas que "actualmente" existem. Estas estranhas bolas em ignição constituem a história de um período em que o Universo era mais caótico. Começava agora a surgir alguma ordem e estrutura.


Pormenor da região inferior direita do Hubble Ultra Deep Field (HUDF)
Crédito: NASA/ESA Hubble Space Telescope
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A combinação das imagens da ACS e da NICMOS será agora usada para procurar galáxias que existiram entre 400 e 800 milhões de anos depois do Big Bang, o que em termos cosmológicos corresponde a um redshift entre z=7 e z=12. Astrónomos de todo o mundo poderão agora inferir se o Universo era ou não semelhante àquele que se observa quando teria entre mil milhões e dois mil milhões de anos.

A imagem do ACS permite aos astrónomos observar galáxias com um quarto do brilho das mais ténues que o HST já havia permitido observar, podendo observar-se galáxias com um redshift de z=7 (cerca de 800 milhões de anos depois do Big Bang). A câmara NICMOS, dado ser uma câmara de infravermelho, deverá ter ido ainda mais profundo com galáxias de redshift z =12.

A equipa do HST está agora segura que esta será a imagem mais profunda até ao lançamento do JWST, pois o VLT mesmo trabalhando como interferómetro com a máxima abertura e usando todos os espelhos, não poderá ir tão profundo pois os tempos de integração necessários são demasiado longos.

Recorde-se que o HST esteve 11 dias e meio ininterruptamente a obter fotões desta região do espaço para construir esta imagem. Para os telescópios no solo à excepção dos localizados na Antártida é impossível fotografar 24 horas seguidas, pois algumas horas após o por-do-sol, este volta a nascer, o que obriga a terminar a imagem. No entanto, embora o VLT esteja fisicamente impossibilitado de observar galáxias tão longínquas directamente, veremos o que conseguirá fazer usando lentes gravitacionais.

Links:

ESA:
http://www.esa.int/

NASA:
http://www.nasa.gov

Press Releases:
http://www.esa.int/esaCP/SEM30W2PGQD_Expanding_0.html
http://www.nasa.gov/vision/universe/starsgalaxies/hubble_UDF.html

HST:
http://www.seds.org/hst/hst.html
http://hubblesite.org/

Redshift:
http://www.astro.ucla.edu/~wright/doppler.htm
http://www.astro.virginia.edu/~jh8h/glossary/redshift.htm
http://www.space.com/scienceastronomy/redshift.html

Aplicações Cosmológicas do Redshift:
http://panisse.lbl.gov/
http://www.2dfquasar.org/
http://www-astro.physics.ox.ac.uk/~wjs/pscz.html
http://www.astro.psu.edu/users/dps/surveys.html

 
 
ESCOLHIDOS OS DOIS ASTERÓIDES PARA APROXIMAÇÃO DE ROSETTA
 

Na sua aproximação ao Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, a sonda Rosetta vai fazer passagens próximas a dois asteróides que foram agora anunciados pela Agência Espacial Europeia (ESA).


Rosetta encontra-se com asteróide (impressão de artista)
Crédito: ESA/AOES Medialab
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Os dois asteróides são da cintura de asteróides que vagueia entre Marte e Júpiter e chamam-se Steins e Lutécia. A selecção destes alvos foi possível devido à enorme precisão com que o foguetão Ariane 5 colocou a sonda na sua trajectória, pelo que parte do combustível da sonda pode agora ser usado para os acertos que serão necessários devido à interacção gravitacional com os asteróides, restando ainda combustível para o objectivo central do trabalho da sonda, que será orbitar o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko quando chegar junto deste cerca de 2014.

Os asteróides são blocos primitivos do sistema solar, que permanecem inalterados desde a sua formação cerca de 4600 milhões anos atrás. Apenas alguns foram observados com alguma proximidade e revelam ser bastante diversificados, não apenas no tamanho e forma, que pode ir desde alguns km até mais de 100 km, como também na sua composição.

Os dois alvos seleccionados para a sonda Rosetta têm características bastante diferentes. Stein é relativamente pequeno com um diâmetro de alguns quilómetros, enquanto que Lutécia tem mais de 100 quilómetros de diâmetro.

O encontro da sonda com o asteróide Stein ocorrerá no dia 5 de Setembro de 2008 a uma distância de 1700 km com uma velocidade relativa de 9 km/s.

O encontro com o astróide Lutécia ocorrerá a 10 de Julho de 2010 a uma distância de 3000 km e com uma velocidade relativa de 15 km/s.

Espera-se que a sonda Rosetta obtenha imagens espectaculares durante estes contactos e que os instrumentos a bordo permitam obter mais dados sobre a composição, massa, densidade e temperatura superficial dos mesmos. Espera-se ainda que seja obtida informação sobre o gás e poeiras que os rodeiam.

Links:

ESA:
http://www.esa.int/

Press Release
http://www.esa.int/export/SPECIALS/Rosetta/SEM3LY2PGQD_0.html

 
 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
       
 

O halo do Olho de Gato (Cat's Eye Nebula): R. Corradi ( Isaac Newton Group ), D. Goncalves ( Inst. Astrofisica de Canarias )
A nebulosa do Olho de Gato (Cat's Eye Nebula - NGC 6543) é uma das nebulosas planetárias mais conhecidas do céu nocturno. Esta imagem feita com o Telescópio Óptico Nórdico nas Canárias revela em tons de verde e azul a emissão do oxigénio e em tons de vermelho a emissão dos átomos de azoto. As nebulosas planetárias são os restos da última fase da vida estelar de estrelas semelhantes ao Sol. Recentemente tem sido verificado que as nebulosas planetárias têm uma coroa rugosa por forma da região mais bem definida do halo associado à emissão terminal de matéria. Estas saias rugosas seriam o resultado das pulsações preliminares durante a fase de gigante vermelha. No caso da Nebulosa do Olho de Gato a zona do halo terá cerca de 10.000 anos enquanto as regiões das sais rugosas terão de 50 000 a 90 000 anos.
Ver imagem em alta-resolução

 
       
 
 
EFEMÉRIDES:
 

Dia 12/03: 71º dia do calendário gregoriano.  Se tiver um telescópio de mais de 20 cm de abertura aproveite  a noite  de hoje para observar a galáxia M81, num local escuro.

Dia 13/03: 72º dia do calendário gregoriano. Em 1855, Percival Lowell, um abastado Bostoniano, estabeleceu o seu  observatório nos arredores de Flagstaff.

Dia 14/03: 73º dia do calendário gregoriano. Em 1879, nasceu Albert Einstein, criador de uma teoria da gravidade em termos da curvatura do espaço, dependendo da densidade da energia. Einstein recebeu o Prémio Nobel da Física em 1921 pelo trabalho realizado 15 anos antes sobre efeito fotoeléctrico, a base dos detectores de luz modernos.

 
 
CURIOSIDADES:
 
A Lua tem sempre a mesma face virada para a Terra, o que faz com que muitas pessoas digam que a Lua não roda. O que de facto acontece é que o período de rotação da Lua é síncrono com o de translação, o que faz com que o observador da Terra veja sempre a mesma face da Lua; Se estivéssemos no exterior da órbita da Lua vê-la-íamos rodar dando exactamente uma volta em torno do seu eixo no mesmo tempo que dá uma volta em redor da Terra.
 
 
VIAGEM AO ASTRO-CIBERESPAÇO:

 
O Windows To The Universe é um website dedicado aos mais jovens com muita informação acerca dos planetas, dos mitos, da História, da vida, geologia, Física, etc.. Além de imagens, contém muitos jogos e ferramentas que podem utilizar para saber mais qualquer coisa sobre esta grande ciência. Carregue aqui.
 
 
PERGUNTE AO ASTRÓNOMO!
 
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Publicado por: Miguel Montes e Alexandre Costa
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