NOTÍCIAS ASTRONÓMICAS - N.º 47
3 de Agosto de 2004
MESSENGER COM DESTINO A MERCÚRIO

Depois de uma tentativa de lançamento anulada ontem devido às condições atmosféricas, espera-se que a sonda Mercury MESSENGER siga caminho hoje. A missão é importante, já que Mercúrio é o planeta rochoso menos explorado (a última sonda que lá passou foi há 30 anos!).

Os cientistas esperam que devolva as melhores imagens do pequeno planeta e que também responda a muitas perguntas acerca dos processos fundamentais por trás da formação planetária do nosso Sistema Solar.


Interpretação de artista da sonda MESSENGER à chegada a Mercúrio.
Crédito: NASA/JHUAPL/CIW
(clique na imagem para ver versão maior)

MESSENGER, diminutivo para MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry, and Ranging mission, está construída para orbitar Mercúrio pelo menos durante um ano, obtendo imagens de toda a superfície e estudando as suas profundezas a partir de sete instrumentos com o objectivo de determinar a composição química e física do planeta. A missão é um esforço colaborativo entre a NASA, JHUAPL e o Insituto Carnegie em Washington.

O planeta mais próximo do Sol, Mercúrio tem dado muitas dores de cabeça aos cientistas planetários ao tentar perceber porque é que tem uma densidade tão parecida à da Terra mas um tamanho tão grande como a Lua. A sonda Mariner 10 da NASA passou pelo planeta três vezes entre 1974 e 1975, tirando fotografias de menos de metade da totalidade do planeta. Mas essa missão descobriu o campo magnético de Mercúrio, e os cientistas sabem agora que o planeta tem até uma finíssima atmosfera.

A MESSENGER deverá levar mais de 6 anos e meio a fazer a complicada viagem até Mercúrio, requerendo apenas um voo rasante pela Terra, dois por Vénus e três pelo próprio Mercúrio antes de entrar em órbita em 2011. À chegada, a sonda irá orbitar a 300 km da superfície de Mercúrio.

Muitas das questões mais importantes que tormentam os cientistas situam-se por baixo da crusta do pequeno planeta. Apesar do seu tamanho, a densidade de Mercúrio e o seu campo magnético são comparavéis com os da Terra. O planeta pensa-se que seja composto na sua maioria por metal, mas não se tem a certeza do tamanho do seu núcleo e se um núcleo externo líquido é o motor por trás do seu campo magnético robusto.

Em resumo, Mercúrio é mais misterioso que os seus primos, Vénus, Terra e Marte.


O planeta Mercúrio.
Crédito: NASA

Mercúrio pode ter-se formado numa região perto do Sol que era simplesmente mais rica em metais, o que pode indicar algumas pistas acerca da sua composição e distribuição dos materiais no começo do Sistema Solar.

Um dos maiores mistérios a que se espera que a MESSENGER responda é acerca da composição dos depósitos de materiais nos pólos de Mercúrio. Dados de observações de radar a partir da Terra sugerem que o material tem as características de água gelada e que se situe em crateras polares que nunca vêm a luz solar devido à «falta» de inclinação no eixo de Mercúrio. Uma alternativa à água gelada é o elemento enxofre. Na realidade, não sabemos o que lá se encontra.

Uma das razões porque demorou 30 anos a enviar outra missão a Mercúrio - e ainda por cima, um orbiter - é devido ao ambiente hóstil que a nave terá que suportar durante o seu estudo do planeta. Terá que aguentar temperaturas de mais de 426 graus Celsius, embora uma protecção de cerâmica seja a parte da sonda que terá que receber a maioria do calor. Debaixo da sua sombra, a MESSENGER terá que fazer o trabalho duro a uma temperatura confortável.

A sonda foi construída a partir de uma estrutura de fibra de carbono de modo a manter a sua integridade, e a levar o máximo de tecnologia miniaturizada possível, um elemento crítico para uma nave cuja viagem exige que metade da sua massa de voo seja ocupada por combustível (600 kg). A MESSENGER pesa um total de 1,100 quilogramas.

Felizmente, a tecnologia moderna permite a existência desta missão. Espera-se que daqui saia um inteiramente novo capítulo de conhecimento, não apenas para Mercúrio, mas para todo o Sistema Solar. Agora só resta à sonda ter bom tempo em Cabo Canaveral para começar a sua viagem.

Links:

Mercury MESSENGER:
http://www.nasa.gov/mission_pages/messenger/main/index.html
http://messenger.jhuapl.edu/

NASA:
http://www.nasa.gov

JHUAPL:
http://www.jhuapl.edu/

Notícias relacionadas:
http://www.cnn.com/2004/TECH/space/08/02/space.mercury.reut/index.html
http://news.bbc.co.uk/go/click/rss/1.0/-/1/hi/sci/tech/3526964.stm
http://dn.sapo.pt/noticia/noticia.asp?CodNoticia=164889&codEdicao=1186&CodAreaNoticia=2

 
ODISSEIA DE UMA ROCHA LUNAR

Um achado no deserto de Omã permitiu aos cientistas a reconstrução mais detalhada de sempre da história de um meteorito lunar. Os resultados revelam que a rocha teve uma vida violenta e que suportou pelo menos quatro colisões mesmo antes de ter saído da Lua.

O meteorito, chamado Sayh al Uhaymir 169, foi descoberto por Edwin Gnos e seus colegas da Universidade de Berna, Suiça, durante uma expedição a Omã em 2002. É um dos 30 meteoritos que foram encontrados na Terra desde 1979.

A equipa chegou à conclusão que a rocha veio da cratera de impacto Lalande na Lua, uma área com apenas alguns quilómetros de diâmetro. É a primeira vez que os cientistas foram capazes de localizar o local de nascimento de um meteorito lunar com tamanha precisão.


Sayh al Uhaymir 169 no deserto.
Crédito: Beda Hofmann

A melhor pista veio dos invulgares altos níveis do elemento radioactivo tório. "A química desta rocha é bastante extraordinária. Não existe outra como esta, seja como meteorito ou como uma das recolhidas pelas missões Apollo,", disse Gnos.

A equipa usou um mapa detalhado do tório lunar criado pela sonda da NASA Lunar Prospector em 1998-99 para descobrir que a rocha teria que ter vindo de algures dentro de Mare Imbrium, que forma o olho direito do 'homem na Lua'. Outros dados minerais indicavam esse local como Lalande.

Gnos e a sua equipa determinaram a história de Sayh al Uhaymir 169 comparando a razão dos elementos radioactivos presentes na rocha. À medida que os elementos radioactivos decaiem, estes transformam-se noutros. Nas rochas sólidas, estes produtos do decaimento são capturados e não conseguem escapar, por isso a relação entre o urânio e o chumbo ajuda a revelar há quanto tempo é que a rocha solidificou.


Face serrada de Sayh al Uhaymir 169.
Crédito: Beda Hoffman
(clique na imagem para ver uma versão maior)

Quaisquer grandes impactos derretem partes da rocha, repondo o relógio radioactivo nessas áreas. Por isso, comparando as idades dos cristais em diferentes partes da rocha mostra quando e como foi severamente "mal-tratada". Durante o tempo que o meteorito passou no espaço foi também bombardeado com raios cósmicos, o que alterou a sua composição química, deixando uma assinatura distinta da sua viagem até à Terra.

As análises da equipa sugerem que a rocha foi apanhada no enorme impacto que criou Mare Imbrium, que Gnos estima ter acontecido há cerca de 3.9 mil milhões de anos atrás. A rocha foi posteriormente ressaltada pela crusta da Lua por mais dois impactos, há 2.8 mil milhões e 200 milhões de anos atrás, o que pode ter acontecido devido à colisão com asteróides.

Um impacto final há pouco mais de 340,000 anos atirou a rocha para longe da Lua, flutuando no espaço antes de aterrar na Terra há 10,000 anos atrás. Provavelmente permaneceu no deserto de Omã sem perturbação desde aí.

Gnos calcula para a cratera Imbrium uma idade um pouco maior que as amostras lunares recolhidas pelas missões Apollo sugerem. Elas indicam que o impacto foi há 3.85 mil milhões de anos atrás. A nova data é importante para os cientistas planetários que usam as crateras da Lua como um calendário pictórico que mostra quantos meteoritos havia no nosso Sistema Solar a diferentes alturas dos últimos 4 mil milhões de anos.

A equipa de Gnos irá tentar regressar a Omã em busca de mais meteoritos lá para o fim deste ano.

Links:

Notícias relacionadas:
http://msnbc.msn.com/id/5551432/
http://www.astronomy.com/default.aspx?c=a&id=2341
http://www.space.com/scienceastronomy/moon_rock_040729.html
http://www.usatoday.com/tech/news/2004-07-29-moon-rock-on-earth_x.htm
http://www.cnn.com/2004/TECH/space/07/30/meteorite.moonII/

Lista de meteoritos lunares:
http://epsc.wustl.edu/admin/resources/meteorites/moon_meteorites_list.html
http://epsc.wustl.edu/admin/resources/meteorites/sau169.html

Mapa interactivo da Lua:
http://www.penpal.ru/astro/map.shtml

Missões Apollo da NASA:
http://nssdc.gsfc.nasa.gov/planetary/lunar/apollo.html

Missão Lunar Prospector da NASA:
http://lunar.arc.nasa.gov/

 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
     
 
Espículas: Jactos no Sol - Crédito: SST, Royal Swedish Academy of Sciences, LMSAL
Imagine um tubo tão largo como Portugal e tão longo como metade da Terra. Agora imagine que este tubo está cheio de gás quente que se move a uma velocidade de 50,000 quilómetros por hora. Imagine ainda que não é feito de metal mas de um campo magnético transparente. Está a visionar apenas uma das milhares de jovens espículas no Sol. Ao lado está talvez a imagem de maior resolução destes fluxos solares enigmáticos. As espículas da região activa 10380 que atravessou o Sol em Junho são particularmente evidentes como uma carpete de tubos negros. Sequências de imagens mostraram recentemente que as espículas duram aproximadamente cinco minutos, começando como altos tubos de gás quente e ascendente que eventualmente se dissipam à medida que o gás cai de novo para o Sol. Estas imagens também indicam, pela primeira vez, que a causa principal da aparição destas características solares são ondas que circulam na superfície do Sol e que se espalham para a sua atmosfera.
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De 1 de Julho a 15 de Setembro, todas as noites excepto às Segundas, entre as 21:00 e as 23:00, na açoteia do Centro Ciência Viva do Algarve.
 

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  EFEMÉRIDES:  
 

Dia 03/08: 216º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1999, o asteróide 1566 Icarus passava à distância mínima da Terra de 0.651 UA.
Observações: Libração máxima da Lua de 8.3º.
Vénus encontra-se na sua latitude helicêntrica máxima de -3.4º.

Dia 04/08: 217º dia do calendário gregoriano.
Observações: Marte (longitude 154.6º) e Urano (longitude 334.6º) encontram-se em oposição heliocêntrica.

Dia 05/08: 218º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1930 nascia Neil Armstrong, o primeiro humano na Lua.
Em 1864 Giovanni Donati faz as primeiras observações espectroscópicas de um cometa (Tempel, 1864 II) e vê o que é agora conhecido como as bandas Swan (3 delas), devido ao carbono molecular (C2).
Em 1969 a sonda americana Mariner 7 passa por Marte a 3518 km, enviando de volta 125 imagens.
Em 1973 é lançada a sonda soviética Mars 6. A 12 de Março de 1974, a Mars 6 aterra suavemente em Marte a 24ºS, 25ºO. Enviou dados atmosféricos durante a descida.
Em 2000, a quebra do cometa Linear 1999/S4 é capturada pelo Telescópio Espacial Hubble. Esta imagem dá aos astrónomos uma excelente visão do que podem ser os mais pequenos blocos de núcleo cometário.
Observações: Aproveite a noite para observar com binóculos os objectos do catálogo de Messier na direcção do centro da Via Láctea (nas constelações de Escorpião e Sagitário).

 
 
  CURIOSIDADES:  
 
Há quem considere Tycho Brahe o maior astrónomo de todos os tempos. Ele acreditava firmemente que observações precisas eram a chave para o avanço no estudo das estrelas, e com a ajuda do rei da Dinamarca, estabeleceu o observatório, Uraniburg, na ilha de Hven, que era considerado o melhor observatório da Europa. Brahe estudou a supernova de 1572, o cometa de 1577 e os movimentos dos planetas. Baseando o seu pensamento nas teorias tradicionais de Ptolomeu, Brahe desenvolveu um sistema em que os planetas giravam em torno do Sol, que por sua vez girava à volta duma Terra estacionária. Tycho Brahe foi também o mentor de Johannes Kepler, que mais tarde foi contra as teorias de Brahe e desenvolveu três leis do movimento dos planetas.
 
 
 
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