NOTÍCIAS ASTRONÓMICAS - N.º 54
25 de Agosto de 2004
EQUIPA LIDERADA POR PORTUGUÊS DESCOBRE SUPER-TERRA

Astrónomos europeus descobriram um dos mais pequenos planetas fora do nosso sistema solar, um mundo cerca de 14 vezes maior que o nosso à volta de uma estrela semelhante ao Sol.

Pode ser um planeta rochoso com uma fina atmosfera, uma espécie de "super Terra," dizem os cientistas.

Mas este não é um planeta tipo-Terra típico. Completa a sua pequena órbita em menos de 10 dias, comparada com os 365 necessários para o nosso ano. O seu lado diurno ficaria completamente queimado.


Impressão de artista da "super-Terra" orbitando uma estrela tipo-Sol.
Crédito: Elizabeth Lagana
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As condições da superfície do planeta não são conhecidas, disse o cientista português Nuno Santos, que dirigiu a descoberta. "No entanto, podemos esperar que seja muito quente, dada a proximidade da estrela. Na ordem dos 630º C."

No entanto, esta descoberta é um avanço importante da tecnologia: nenhum planeta tão pequeno tinha sido detectado à volta de uma estrela «normal». E o achado revela um sistema solar mais parecido com o nosso do que qualquer outro encontrado até agora.

A estrela é como o nosso Sol e encontra-se a apenas 50 anos-luz. Um ano-luz é a distância que a luz viaja num ano, mais ou menos 10 biliões de quilómetros. A maioria dos planetas extrasolares já descobertos estão a centenas ou milhares de anos-luz de distância.

A estrela, mu Arae, é visível com um céu escuro no Hemisfério Sul. Alberga ainda outros dois planetas: um tem o tamanho de Júpiter e demora 650 dias a completar a sua viagem anual à volta da estrela. O outro, cuja existência foi confirmada com a ajuda de novas observações, está mais distante.

O conjunto de três planetas, um sendo rochoso, é único.

"Está muito mais perto do nosso sistema solar do que alguma coisa já observada," disse Alan Boss, um teórico na formação planetária no Instituto Carnegie em Washington.

"Esta é realmente uma descoberta excitante," disse Boss, que não estava envolvido no trabalho. "Ainda estou um bocado surpreendido com o facto de terem tão bons dados."

A descoberta foi feita com o telescópio do Observatório Europeu do Sul em La Silla, Chile, operando no limite do que é possível detectar. A maioria dos mais de 120 planetas encontrados para lá do nosso sistema solar são mundos gasosos até maiores que Júpiter, maioritariamente em pequenas órbitas que não permitem a sobrevivência de um planeta rochoso.


A descoberta foi feita através do telescópio de 3.6 metros com o Espectógrafo HARPS.
Crédito: ESO
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Um punhado de planetas mais pequenos que Saturno foram já descobertos, nenhum nem perto do tamanho do anunciado hoje. E um trio de planetas com um tamanho aproximado ao da Terra foram encontrados em 2002, em órbita a um corpo estelar denso conhecido como estrela de neutrões (pulsar). São bolas esquisitas, rapidamente circulando uma estrela negra que não suportaria vida. Alguns caçadores de planetas não consideram estes três tão importantes como os planetas à volta de estrelas normais.

Com uma massa 14 vezes a da Terra, o recém-descoberto planeta -- circulando uma estrela semelhante ao Sol em tamanho e brilho -- é tão pesado como Urano, um mundo de gás e gelo, e o planeta gigante mais pequeno do nosso sistema solar. Os teóricos, no entanto, dizem que 14 vezes a massa da Terra é aproximadamente o limite que um planeta pode alcançar para permanecer rochoso. E dado que este planeta está tão perto da sua estrela, provavelmente teve uma formação muito diferente da de Urano.

No nosso sistema solar, os quatro planetas mais interiores são todos rochosos.

A teoria mais dominante de formação planetária diz que os gigantes gasosos formam um núcleo rochoso, um processo no qual o núcleo se desenvolve ao longo do tempo, que depois alcança um ponto fulcral em que a gravidade pode rapidamente recolher uma grande quantidade de gás. Esta teoria sugere que o novo planeta nunca chegou a esta massa crítica, segundo Nuno Santos, do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, Portugal. "Senão o planeta teria-se tornado muito mais massivo," disse. "Este objecto parece por isso ser um planeta com um núcleo rochoso rodeado por uma pequena camada gasosa, o que o qualifica como uma super-Terra," disse a equipa Europeia.

Boss de Carnegie diz que as análises dos dados representam um "argumento válido". Disse que o planeta teve que se formar dentro da órbita do maior planeta do sistema, que orbita a estrela duas vezes mais longe que a Terra está do Sol. Boss também indica que a Terra é cerca de 10 vezes mais massiva que Mercúrio, por isso até no nosso sistema solar existe um ramo de possibilidades para os planetas rochosos.

Finalmente, Boss conclui que a estrela mu Arae tem um conteúdo metálico maior que o nosso Sol, e a teoria diz que um planeta formando-se perto de tal estrela provavelmente receberá mais massa. Está tudo na quantidade disponível de material.

Não existem imagens convencionais do objecto, dado que foi detectado pela oscilação gravitacional da estrela. O projecto de pesquisa que levou a esta descoberta é liderado por Michel Mayor do Observatório de Genebra, Suiça.

Embora os cientistas não conheçam a totalidade das condições sobre as quais a vida pode sobreviver, o recém-descoberto mundo, com a sua quente superfície, não é o local típico onde os biólogos esperam encontrar vida tal como a conhecemos.

Nuno disse que vida neste grande mundo não é provável. Mas, acrescentou, "nunca se sabe."

Links:

Notícias relacionadas:
http://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1202068
http://tsf.sapo.pt/online/ciencia/interior.asp?id_artigo=TSF153553
http://www.universetoday.com/am/publish/smallest_extrasolar_planet_found.html?2582004
http://www.iol.co.za/index.php?set_id=1&click_id=31&art_id=qw109344978644S122
http://www.theregister.co.uk/2004/08/25/planet_found/
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2004/pr-22-04.html

Nuno Santos:
http://astro.oal.ul.pt/~nuno/

Informação mais detalhada:
http://www.oal.ul.pt/~nuno/hd160691_letter.pdf

Planetas extra-solares:
http://www.ga-esec-pinheiro-rosa.rcts.pt/extra_solares/planetas_extra_solares.htm

Mu Arae:
http://www.solstation.com/stars2/mu-arae.htm

Observatório Astronómico de Lisboa:
http://www.oal.ul.pt/

ESO:
http://www.eso.org

 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
     
 
Luz zodiacal e nascer-do-Sol falso - Crédito: Stefan Seip
Um invulgar triângulo de luz irá estar particularmente brilhante perto do horizonte a Este antes do nascer-do-Sol durante os próximos dois meses para os observadores do Hemisfério Norte da Terra. Anteriormente considerado como um nascer-do-Sol falso, este triângulo de luz é na realidade a Luz Zodiacal, reflectida de partículas de pó interplanetárias. O triângulo é claramente visível na imagem à esquerda, tirada na Namíbia no passado mês de Maio. A brilhante luz zodiacal pode ser vista praticamente todas as manhãs que não tenham a presença da Lua durante os próximos meses em imagens tiradas pelas câmaras olho-de-peixe colocadas no observatório de Mauna Kea, Hawaii. O pó zodiacal orbita o Sol predominantemente no mesmo plano que os planetas: a eclíptica. A Luz Zodiacal é tão brilhante por esta altura devido à banda de pó estar orientada quase na vertical ao nascer-do-Sol, para que o espesso ar perto do horizonte não bloqueie o brilho relativamente brilhante do pó. A Luz Zodiacal é também brilhante para as pessoas que vivem no Hemisfério Norte entre Março e Abril mesmo depois do pôr-do-Sol.
Ver imagem em alta-resolução
     
 

De 1 de Julho a 15 de Setembro, todas as noites excepto às Segundas, entre as 21:00 e as 23:00, na açoteia do Centro Ciência Viva do Algarve.
 
  EFEMÉRIDES:  
 

Dia 25/08: 238º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1981, voo rasante de Saturno pela sonda Voyager 2.
Em 1989, voo rasante de Neptuno pela sonda Voyager 2.
Em 2000, a revista Science publica descobertas do magnetómetro da sonda Galileu que indicam as provas mais fortes de um oceano líquido de água salgada por baixo da superfície gelada de Europa, uma das luas de Júpiter.
Também em 2000, o Hubble investiga as anãs castanhas galácticas. Usando a câmara NICMOS, o Hubble revela a baixa energia das anãs castanhas, estrelas que não têm massa suficiente para começar a fusão nuclear.
Observações: Aproveite a noite para observar os planetas Vénus e Saturno bem perto um do outro (na constelação de Gémeos), algum tempo antes do nascer-do-Sol.

Dia 26/08: 239º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1999 são registadas as primeiras imagens de calibração do telescópio de raios-X mais poderoso do mundo, o Observatório Chandra da NASA. Estas incluem os espectaculares restos de uma supernova, Cassiopeia A, que explodiu há 300 anos atrás, uma concha de gás quente com 10 anos-luz de diâmetro e temperaturas de 50 milhões de graus, com um ponto de luz que pode ser uma estrela de neutrões ou um buraco negro no centro de uma explosão estelar. Outra imagem que fascinou os observadores foi o grande jacto energético do quasar PKS 0637-752 a 6 mil milhões de anos-luz. O Chandra continuou com as suas calibrações nas semanas seguintes.

 
 
  CURIOSIDADES:  
 
Até agora foram descobertos 124 planetas extra-solares em 108 sistemas planetários, 13 destes com sistemas múltiplos.
 
 
 
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