NOTÍCIAS ASTRONÓMICAS - N.º 75
16 de Novembro de 2004
EUROPA ALCANÇA A LUA

Foi uma longa viagem, mas a primeira missão lunar da Europa está finalmente a aproximar-se do seu objectivo. A sonda SMART-1, lançada pela Agência Espacial Europeia (ESA) a 27 de Setembro de 2003, entrou ontem em órbita da Lua.


Impressão de artista da sonda SMART-1.
Crédito: ESA
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Em Janeiro, a sonda irá começar o seu primeiro estudo detalhado em raios-X da superfície da Lua, dando aos cientistas pistas sobre a sua composição e idade. Este mapa geológico irá ajudar a estabelecer exactamente como é que a Lua se formou.

Com o tamanho de uma máquina de lavar louça doméstica, a SMART-1 usa um inovador sistema de propulsão. Transporta painéis solares que convertem a luz do Sol em electricidade, que é usada para separar os electrões dos átomos de xénon. Isto gera iões carregados que são acelerados por um campo magnético e ejectados da parte traseira da sonda, produzindo um leve impulso equivalente ao peso de duas moedas de 5 cêntimos na palma da mão.

"Esta é primeira vez que uma sonda usa a populsão a iões para escapar da Terra," diz Bernard Foing, o líder da equipa da SMART-1 do departamento de Ciência Espacial da ESA em Noordwijk, Holanda.


Impressão de artista do motor de iões da SMART-1.
Crédito: ESA
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Os motores convencionais baseiam-se em reacções químicas que geram gás que empurra a sonda para a frente à medida que este é espelido pelo motor, da mesma maneira que um balão irá voar pela sala de um aniversário. Mas no espaço, massa significa dinheiro. Onde os motores químicos devem carregar duas substâncias combustíveis para reagirem juntas (regularmente hidrogénio e oxigénio), o motor de iões da SMART-1 apenas leva xénon, tornando-se mais leve e mais barata.

O sucesso da SMART-1 (que significa "Small Missions for Advanced Research in Technology") em chegar à Lua provou que as futuras naves espaciais poderão usar os mesmos motores para chegar a Mercúrio e Marte, diz Foing.

A SMART-1 ainda tem muito que fazer durante os dois anos que irá passar a orbitar a Lua. O seu "Demonstration Compact Imaging X-ray Spectrometer" (D-CIXS) irá fazer um mapa químico da superfície lunar, que deverá revelar se a Lua foi ou não parte da Terra.

"Ainda não sabemos se a Terra e a Lua vieram do mesmo lugar," diz Manuel Grande, cientista espacial do Laboratório Rutherford Appleton perto de Oxford, Grã-Bretanha, responsável pelo D-CIXS. Muitos cientistas acreditam que a Lua foi formada depois de uma gigantesca colisão entre um objecto com o tamanho de Marte e a Terra há cerca de 4.6 mil milhões de anos atrás. A comparação da relação entre os diferentes elementos químicos na Lua e na Terra deverá confirmar esta teoria, diz Grande.


Instrumentos extremamente sensíveis a bordo da SMART-1 irão estudar a superfície da Lua.
Crédito: ESA
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A SMART-1 também transporta uma câmara de alta-resolução que irá fotografar potenciais locais de aterragem para futuros exploradores robóticos ou até humanos. E também irá procurar gelo nas crateras do pólo Sul da Lua, usando um espectómetro de infravermelho. "Estas crateras já não vêm o Sol há milhares de milhões de anos," diz Grande, que acrescenta que este gelo será um recurso vital para uma futura base lunar.

A sonda, que custou 110 milhões de Euros, pesa 370 kg, e demorou muitas órbitas espirais à volta da Terra até ganhar velocidade suficiente para alcançar a Lua. A sua viagem épica de 80 milhões de quilómetros durou 13 meses, comparada com os quatro dias que a tripulação da Apollo 11 levou para completar a viagem de 400,000 quilómetros até aterrar em segurança pela primeira vez em solo lunar.

Links:

Notícias relacionadas:
http://www.space.com/missionlaunches/smart1_lunarorbit_041112.html
http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=10000102&sid=a95fx6Wa4new&refer=uk
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/articles/A49906-2004Nov14.html
http://www.technewsworld.com/story/news/38094.html
http://www.timesonline.co.uk/article/0,,3-1354660,00.html
http://www.theaustralian.news.com.au/common/story_page/0,5744,11384688%255E29098,00.html
http://www.esa.int/export/esaCP/SEMWQZVJD1E_index_0.html
http://newsfromrussia.com/science/2004/11/12/57100.html
http://www.physorg.com/news1873.html
http://www.theregister.co.uk/2004/11/11/esa_lunar/

SMART-1:
http://www.sci.esa.int/science-e/www/area/index.cfm?fareaid=10
http://www.ssc.se/ssd/smart1.html
http://www.esa.int/SPECIALS/SMART-1/

D-CIXS:
http://www.sstd.rl.ac.uk/SMART-1/

ESA:
http://www.esa.int

Lua:
http://www.ccvalg.pt/astronomia/astronline/lua.htm

 
MARTE, METANO E CIENTISTAS

A partir dos últimos dados, os cientistas concluíram que existe metano em Marte. E um grupo teoriza que poderá haver muito mais metano a ser produzido do que anteriormente se pensava.

O metano é de grande interesse porque na Terra, quase todo vem dos seres vivos - quer seja o apodrecimento de plantas ou da flatulência bovina. Mas existem outras possíveis fontes de metano em Marte e nem um cientista do encontro em Louisville, Kentucky, da divisão da Sociedade Astronómica Americana para as Ciências Planetárias, fez deste caso um que envolve a presença de vida.

Mesmo assim, os seus estudos dissiparam o cepticismo inicial encontrado no ano passado pelos primeiros trabalhos sobre esta matéria.

O metano não dura muito na atmosfera do Planeta Vermelho, por isso a fonte deverá ser recente. Uma ideia é que Marte foi atingido há muito pouco tempo por um cometa que continha metano gelado.


A sonda da ESA Mars Express foi uma das fontes da descoberta de metano em Marte.
Crédito: ESA
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Embora estes impactos sejam relativamente raros, Sushil Atreya da Universidade de Michigan, EUA, calculou que o gás de um cometa com apenas 2% de metano poderá persistir em Marte até um máximo de 2000 anos. Isto poderia produzir níveis atmosféricos de metano comparáveis às 60 partes por milhar de milhão detectadas pelo astrobiolólogo Michael Mumma no Centro Espacial Goddard da NASA, e seus colegas.

Alternativamente, o gás poderá estar enterrado em misturas geladas de metano (em inglês chamadas «clathrates»), talvez estando a ser libertado por água geotermicamente derretida que borbulha até à superfície através de poros e fendas naturais na crosta de Marte. Embora não seja nenhum sinal de vida, isto poderá indicar um local onde a vida poderia sobreviver.

A existência de metano foi maioritariamente detectada por um conjunto de detalhadas observações espectrais de alta-resolução feitas pelo telescópio de 8 metros Gemini, registadas pela equipa de Mumma. Estas claramente identificam duas linhas separadas de metano, tornando este caso muito mais firme que as anteriores detecções de uma única linha, e achados similares de outros dois grupos.

"Existe," diz Stephen Squyres, líder da equipa científica dos dois rovers da NASA. O mais importante agora, é descobrir de onde vem e para onde está a ir.

A juntar à intriga estão novos cálculos que mostram que as tempestades de areia em Marte - que se sabe serem frequentes e intensas - deverão estar a produzir vastas quantidades de peróxido de hidrogénio. Este oxidante altamente reactivo foi teorizado em Marte depois das experiências das sondas Viking em 1976, sendo definitivamente detectado em 2003.


Impressão de artista de uma tempestade de areia em Marte.
Crédito: Frank Hettick
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Todo este oxidante deverá estar a destruír o metano a uma grande velocidade, diz Atreya. Isto poderá explicar a assimétrica distribuição do metano em Marte - observada pela equipa de Mumma e outros - dado que as tempestades são locais e temporárias.

Mas isto também implica que o metano está a ser produzido a um ritmo muito mais acelerado que a sua concentração actual sugere. Assim, as fontes cometárias ou vulcânicas tornam-se ainda mais improváveis, e a ideia de uma fonte orgânica torna-se ligeiramente mais plausível.

Links:

Notícias relacionadas:
http://nwanews.com/story.php?paper=nwat&section=Living&storyid=21800
http://www.kansascity.com/mld/kansascity/news/nation/10157965.htm?1c
http://www.news-leader.com/today/1112-MethaneonM-224665.html
http://www.sciencedaily.com/releases/2004/11/041110000324.htm
http://www.physorg.com/news1879.html
http://www.space.com/businesstechnology/technology/moon_mining_041110.html
http://www.heraldsun.news.com.au/common/story_page/0,5478,11365191%255E663,00.html
http://seattletimes.nwsource.com/html/nationworld/2002088906_mars12.html
http://www.esa.int/export/SPECIALS/Mars_Express/SEMZ0B57ESD_0.html

NASA:
http://www.nasa.gov

Marte:
http://www.ccvalg.pt/astronomia/astronline/marte.htm

 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
     
 
Burns Cliffs em Marte - Crédito: Mars Exploration Rover Mission, JPL, NASA
As majestosas paredes da cratera Endurance contêm camadas de pistas acerca do passado de Marte. De facto, quanto mais profunda a camada, mais antiga a pista. Este muro em particular da cratera na imagem do lado tem o nome de Burns Cliff e estava em frente do rover robótico Opportunity a semana passada. Um estudo detalhado das diferentes camadas revelou composições ligeiramente diferentes, bem como tendências interessantes em composições relativas. Por exemplo, camadas mais profundas contêm quantidades mais pequenas de magnésio e enxofre, indicando uma razão comum para o seu declínio -- possivelmente a dissolução em água. Hoje, praticamente, Burns Cliff bloqueia uma direcção de saída para a Opportunity deixar a cratera Endurance. Quando combinada com a areia escorregadiça no chão da cratera, os cientistas decidiram programar a Opportunity para saír da cratera pelo mesmo sítio de onde entrou - depois de mais uns dias de exploração.
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  ESPAÇO ABERTO  
 

Observação astronómica, dia 20 de Novembro, na açoteia do CCVAlg, às 21:30. Observação dependente das condições atmosféricas.

 
 
  EFEMÉRIDES:  
 

Dia 16/11: 321º dia do  calendário gregoriano.
História: 
Em 1965, lançamento da sonda soviética Venera 3, cujo objectivo era estudar a atmosfera de Vénus. As comunicações falharam mesmo antes da entrada na atmosfera. Colidiu com Vénus.
Em 1974, a nova superfície do rádio-telescópio gigante de 1000 pés em Arecibo, Porto Rico, dedica-se ao envio de uma breve mensagem na direcção do enxame globular M13.

Dia 17/11: 322º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1970, a Luna 17 torna-se no primeiro veículo com rodas a aterrar na Lua.
Observações: Pico da chuva de meteoros Leónidas (09:00). O radiante desta por vezes espectacular chuva estará bem alto no céu a Este na altura do pico. Ainda dia em Portugal na altura do pico, não haverá Lua para interferir, embora não seja nada como as dos anos passados. Poderá esperar entre 12 e 15 meteoros por hora no pico. A não ser que tenha insómnias, poderá evitar esta chuva.

Dia 18/11: 323º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1989 a NASA lança o COBE (Cosmic Background Explorer). Os instrumentos a bordo estudaram toda a esfera celeste a cada seis meses. As operações terminaram a 23 de Dezembro de 1993. A partir de Janeiro de 1994, foi transferido para o Wallops e serviu como satélite de teste.
Em 1999, usando câmaras de vídeo, David Palmer, Brian Cudnick e Pedro Sada registam um impacto de uma Leónida na Lua. O evento torna-se no primeiro impacto cósmico lunar confirmado. O outro único impacto cósmico observado da Terra foi a colisão dos restos do Cometa Shoemaker-Levy 9 com Júpiter em 1994.
Observações: Aproveite a noite para observar com binóculos o enxame do Presépio (M44) em Caranguejo.

 
 
  CURIOSIDADES:  
 
Três dos maiores asteróides são: 1 Ceres (com um diâmetro de cerca de 1,003 km), e 2 Pallas e 4 Vesta (diâmetros de cerca de 550 km). Apenas Vesta pode ver visto a olho nu.
 
 
 
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