NOTÍCIAS ASTRONÓMICAS - N.º 84

17 de Dezembro de 2004

UMA BRISA DAS ESTRELAS

No início de cada mês de Dezembro ocorre um fenómeno que deixa os horóscopos completamente desorganizados. O Sol entra na pouco conhecida 13.ª casa do zodíaco.

Toda a gente conhece Capricórnio, Aquário, Peixes, Carneiro, Touro, Gémeos, Caranguejo, Leão, Virgem, Balança, Escorpião e Sagitário. O Sol faz um movimento aparente através destas constelações que recebem o nome de constelações zodiacais e que numa fase pré-científica inspiraram a origem dos signos do zodíaco.

Ofiúco, o Serpentário
Visão clássica da constelação de Ofiúco
Crédito: Uranometria

E Ofiúco ?

De acordo com os modernos mapas estelares o Sol atravessa uma 13.ª constelação, chamada Ofiúco o Serpentário, entre 30 de Novembro e 17 de Dezembro. Em termos astrológicos, uma pessoa nascida entre essas datas, em vez de ser um Sagitário, devia ser um Ofiúco. Mas isso é outra história...

Esta notícia é sobre o que realmente acontece quando o nosso Sol no seu movimento aparente se encontra na direcção de Ofiúco. Nessa altura, um vento interestelar atinge o nosso planeta.

Trata-se de uma brisa rica em hélio que flui para o sistema solar a partir da direcção de Ofiúco. Ao passar pelo Sol esta brisa é afunilada num cone pela gravidade do Sol. Nesta altura do ano a Terra passa precisamente pelo cone e é onde nos encontramos agora.

"Não existe qualquer perigo para a Terra", diz o astrofísico George Gloeckler da Universidade de Maryland. "A Brisa de Hélio é um mil triliões de vezes menos densa que a atmosfera da Terra (10-21 atm) e não consegue penetrá-la até à superfície do nosso planeta."

Apesar disso os astrónomos estão muito interessados em estudá-la.

Esta brisa é um indicador daquilo que está para além do nosso sistema solar. O espaço interestelar, a via entre as estrelas, não se encontra vazio. Está preenchido com gigantescas nuvens de gás e poeiras. Estas nuvens são o local de nascimento de estrelas e planetas. São também restos de estrelas que já morreram. O Sol encontra-se neste momento em viagem à volta da Via Láctea em direcção a um local que é chamado de Nuvem Interestelar Local.O campo magnético do Sol detém muito do choque com a nuvem mas algum do gás da nuvem penetra no sistema solar, daí a origem da brisa.

Brisa de Hélio
O cone da brisa de hélio
Crédito: NASA

O satélite ACE (Advanced Composition Explorer) da NASA, localizado no primeiro ponto de Lagrange entre a Terra e o Sol está situado de forma perfeita para estudar esta brisa. "Quando a Terra se move através do cone também o ACE acompanha esse movimento" explica Gloeckler, que é um dos co-investigadores responsáveis pelo ACE. "Já atravessámos o cone sete vezes desde que o satélite foi lançado em 1997."

A missão do ACE é estudar o vento solar que emana da nossa própria estrela, por isso está bem equipado com detectores apropriados para estudar também a brisa interestelar. Um instrumento a bordo do ACE chamado SWICS detecta iões hélio na brisa, medindo a densidade, temperatura e direcção do fluxo. Usando estes dados em conjugação com os das missões SOHO e Ulisses, Gloeker e os seus colegas calcularam algumas das propriedades da Nuvem Interestelar Local.

Nuvem Interestelar Local
Nuvem Interestelar Local
Crédito: Linda Huff
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É uma nuvem quente com gás a 6000º C, aproximadamente a mesma temperatura que o Sol à superfície. É também bastante ténue com apenas 0.264 átomos por centímetro cúbico (já foram detectadas nuvens interestelares com 1000 partículas por centímetro cúbico). O campo magnético do Sol tem pouco trabalho para deflectir este material antes que atravesse a órbita de Plutão. Apenas uma fracção mínima de partículas (0,015 átomos por centímetro cúbico atinge as regiões mais interiores do sistema solar).


Medidas do ACE/SWICS da brisa de hélio
Crédito: NASA
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O ACE já detectou variações da intensidade da brisa de hélio. No entanto, Gloekler admite ser mais provável tratarem-se de variações devidas ao próprio vento solar que sendo muito mais intenso pode provocar alterações de direcção e intesidade na brisa de hélio. Também as tempestades solares poderão provocar alterações pois a radiação ultravioleta emitida pode ionizar o hélio alterando a sua forma de detecção o que impedirá instrumentos como o SWICS de a "ver". A influência do vento solar na brisa de hélio é precisamente aquilo que neste momento se pretende saber, para poder usar estes dados em ordem a ter uma perfeita noção da estrutura do meio interestelar.

O que estará lá? A resposta reside na brisa vinda da 13ª casa do zodíaco.

Links:

Meio Interestelar:
http://astro.if.ufrgs.br/ism/ism.htm
http://greenfield.fortunecity.com/hawks/235/ciencias/astronomia/moleculas/moleculas.htm
http://www.observatoriovirtual.pro.br/aga215/cap14.pdf

http://nautilus.fis.uc.pt/astro/mirror/np/np-p/medium.html

Movimento do Sol:
http://astro.if.ufrgs.br/vialac/node3.htm
http://www.observatorio.ufmg.br/pas33.htm

 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
     

 

Os braços da NGC 7424 - Crédito: VIMOS/VLT/ESO
Os enormes braços espirais são quase perfeitamente isolados na galáxia NGC 7424 que tem uma barra central e que se nos apresenta de topo. A cerca de 40 milhões de anos-luz de distância na constelação do Grou, esta galáxia tem cerca de 100 anos-luz de diâmetro, o que a torna em termos de dimensões semelhante à VIa Láctea. Pelos braços encontramos muitos enxames azulados, o que revela tratar-se de enxames jovens. A zona central mais amarelada revela tratar-se de uma região mais antiga onde as estrelas azuis já morreram.
Ver imagem em alta-resolução

     
 
  ESPAÇO ABERTO  
 

Observação astronómica, dia 15 de Janeiro, na açoteia do CCVAlg, às 21:30. Observação dependente das condições atmosféricas.

 
 
  EFEMÉRIDES:  
 

Dia 17/12: 352º dia do  calendário gregoriano.
Observações: Máxima libração lunar de 8,7º.

Dia 18/12: 353º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1966, foi descoberta por Richard L. Walker, a lua de Saturno Epimeteus que depois foi "perdida" durante 12 anos.
Observações: Às 12h00 (hora local) o Sol entra na constelação de Sagitário à longitude galáctica de 266,4º.
Às 16h40 (hora local) a luna atinge o quarto crescente.

Dia 19/12: 354º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 1972, a Apollo 17, a última missão lunar tripulada regressava à Terra.
Observações: Tente fotografar M44 (o Presépio).

Dia 20/12: 355º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1996, morria Carl Sagan, considerado por muitos o maior divulgador da história de astronomia.
Observações: Mercúrio atinge a sua maior latitude heliocêntrica norte.

 
 
  CURIOSIDADES:  
 
A órbita de Mercúrio tem uma inclinação de 7º relativamnte ao plano da eclíptica.
 
 
 
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