NOTÍCIAS ASTRONÓMICAS - N.º 91
11 de Janeiro de 2005
QUEBRA-COMETAS É LANÇADO AMANHÃ

Qual é a melhor maneira de ver o interior de um cometa? Quebrá-lo com um pedaço de metal pode ser uma hipótese, através de uma missão que a NASA irá lançar amanhã.

A sonda "Deep Impact" está prevista levantar voo de Cabo Canaveral às 18:48 (hora de Lisboa) de Quarta-feira. Irá encontrar-se com o cometa Tempel 1 mais ou menos a 134 milhões de quilómetros da Terra, um pouco para lá da órbita de Marte. Irá depois libertar uma sonda de cobre com 372 kg no caminho do cometa.

No dia 4 de Julho a sonda e o cometa irão colidir a cerca de 37,000 quilómetros por hora, fazendo um buraco profundo no núcleo do cometa que deverá revelar o que há por baixo da sua superfície gelada. A superfície porosa do cometa deverá despedaçar-se no impacto, afastando os detritos e deixando uma cratera com uma profundidade de 10 andares.


A sonda Deep Impact poderá criar um buraco com o tamanho de um campo de futebol no Cometa Tempel 1.
Crédito: Pat Rawlings/NASA

A sonda transporta uma câmara que enviará imagens do seu mergulho final até à nave-mãe, que ficará a uma distância segura de pelo menos 500 quilómetros a filmar a colisão, ao mesmo tempo que usa os seus instrumentos para analisar os detritos. "Iremos estar a capturar todo o espectáculo na mais poderosa câmara a voar no espaço profundo," diz o astrónomo Michael A'Hearn, investigador principal do projecto, da Universidade de Maryland em College Park.

Os telescópios espaciais da NASA Chandra, Hubble e Spitzer irão também observar o evento, e a explosão gerada pela missão de 267 milhões de dólares será até visível nos telescópios terrestres.

Os cometas são feitos de material que restou da formação do Sistema Solar, e os astrónomos dizem que estudar o interior do Tempel 1 irá permitir retroceder 4 mil milhões de anos no passado, proporcionando pistas acerca dos químicos que formaram a Terra e seus planetas vizinhos.

A sonda, aproximadamente com o tamanho de uma máquina de lavar, é feita de cobre para evitar a contaminação do material ejectado causado pelo impacto. "O cobre é um elemento que ninguém se preocupa ao analizar a origem do Sistema Solar," diz o membro da equipa científica Jay Melosh da Universidade do Arizona em Tucson. "Não é característico de nenhum processo em particular."


Impressão de artista da libertação da sonda de impacto a partir da "Deep Impact", 24 horas antes da colisão.
Crédito: NASA/JPL

(clique na imagem para ver versão maior)

Os astrónomos sabem muito pouco acerca da estrutura interna dos cometas, por isso o acampanhar do impacto deverá revelar muito acerca da sua robustez. Também estão inseguros acerca do porquê os cometas eventualmente perderem as suas caudas características, que normalmente são geradas pelos químicos voláteis que aquecem na superfície do cometa à medida que se aproxima do Sol. Colidindo com o Tempel 1 poderá revelar se estes compostos podem ficar presos devido a mudanças no núcleo de um cometa.

Dado estarem rodeados por grandes nuvens de gás, os relativamente pequenos núcleos dos cometas são melhor vistos de perto. Três anteriores missões espaciais investigaram as superfícies dos cometas Halley, Borrelly e Wild 2. A Agência Espacial Europeia lançou a sua missão cometária a 2 de Março de 2004, e espera que a sonda Rosetta alcançe o cometa Churyumov-Gerasimenko em Maio de 2014, quando libertará um "lander" para estudar a superfície com mais detalhes.

O cometa Tempel 1 é um alvo mais conveniente numa missão mais rápida porque passa pelo Sistema Solar interior a cada cinco anos e meio. Descoberto pelo astrónomo francês Ernst Tempel em 1867, tem apenas 6 quilómetros de comprimento.

O lançamento da "Deep Impact" foi já atrasado devido a problemas com o software da sonda e a uma falha no foguetão Boeing Delta II que o irá propulsionar para o espaço. Os cientistas da missão esperam que seja lançado amanhã, mas tem até 28 de Janeiro para saír da Terra se se quer alcançar o Tempel 1 a tempo de criar os maiores fogos-de-artifício jamais vistos do 4 de Julho.


A sonda irá levar apenas 6 meses a viajar uma distância total de 431 milhões de quilómetros até alcançar o cometa.
Crédito: Nature

Links:

Notícias relacionadas:
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/articles/A61560-2005Jan9.html
http://www.chron.com/cs/CDA/ssistory.mpl/front/2985062
http://www.floridatoday.com/!NEWSROOM/spacestoryN1215DEEPIMPACT.htm
http://www.physorg.com/news2595.html
http://www.spaceref.com/news/viewpr.html?pid=15831
http://biz.yahoo.com/prnews/050105/dcw073_1.html

Sonda Deep Impact:
http://www.nasa.gov/mission_pages/deepimpact/main/index.html

Cometa Tempel 1:
http://cometography.com/pcomets/009p.html

 
LUA DE SATURNO JAPETO TEM UMA "CINTURA"

Imagens enviadas pela sonda Cassini durante o voo rasante da passagem de ano pela lua de Satuno Japeto mostram espectaculares características da superfície que estão a despertar aquecidas discussões científicas acerca da sua origem.

Uma destas características é uma "crista" longa e estreita que se situa quase no equador de Japeto, atravessa o todo do seu negro hemisfério e alcança os 20 quilómetros de altura. Extende-se por mais de 1300 quilómetros de lado a lado. Nenhuma outra lua do Sistema Solar tem uma característica geológica tão admirável. Em lugares, este espinhaço é compreendido de montanhas. Em altura, rivaliza com o Monte Olimpo (Marte), com aproximadamente três vezes a altura do Monte Evereste, surpreendente para um corpo tão pequeno como Japeto. Marte tem quase cinco vezes o tamanho do satélite.


Nenhum outro corpo do Sistema Solar tem um equador assim.
Crédito: NASA/JPL
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Japeto é uma lua bi-tonal. O hemisfério principal é tão escuro como uma rua acabada de alcatroar, e o outro é tão branco que se assemelha a uma paisagem recém-coberta por neve.

As imagens do voo rasante, que revelaram uma região nunca antes vista de Japeto, mostram faixas escuras parecidas com penas no limite entre os hemisférios claro e escuro que indicam que o material negro "caíu" sobre Japeto. As opiniões diferem acerca da origem deste material, se veio de dentro ou de fora de Japeto. As imagens também mostram crateras perto desta fronteira, brilhantes muros na direcção do pólo e paredes escuras na direcção do equador.


Imagem em quase cores verdadeiras que revela a colorida e intrigante superfície de Japeto.
Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute
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O próximo encontro da Cassini com Japeto será em Setembro de 2007. A resolução das imagens desse voo será 100 vezes melhor que as que estão actualmente sendo analizadas. Espera-se que o aumento de detalhe revele mais sobre as extraordinárias características de Japeto e responda à questão dum possível passado vulcânico.

Com um diâmetro de cerca de 1400 quilómetros, Japeto é a terceira maior lua de Saturno. Foi descoberta por Jean-Dominique Cassini em 1672. Foi Cassini, o astrónomo que dá o nome à sonda presentemente em órbita de Saturno, que correctamente deduziu que um lado de Japeto é negro, e o outro é branco.

Links:

Notícias relacionadas:
http://www.newscientist.com/article.ns?id=dn6860

Sonda Cassini:
http://saturn.jpl.nasa.gov/home/index.cfm

Saturno:
http://www.nineplanets.org/saturn.html

Japeto:
http://www.nineplanets.org/iapetus.html

 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS
     
 
Cratera de impacto Manicouagan - Crédito: STS-9 Crew, NASA
A Cratera Manicouagan, no norte do Canadá, é uma das mais antigas crateras de impacto conhecidas. Formada há cerca de 200 milhões de anos, o terreno hoje sustenta o reservatório de uma barragem hidroelétrica com 70 quilómetros de diâmetro na reveladora forma de um lago anular. A cratera foi desgastada pela passagem de glaciares e outros processos de erosão. Não obstante, uma rocha dura no local do impacto tem preservado muito da complexa estrutura de impacto, o que permite aos cientistas ter um forte líder para ajudar a entender as características de grandes impactos na Terra e noutros corpos do Sistema Solar. Também visível acima está o estabilizador vertical do Vaivém Espacial Columbia a partir do qual a foto foi tirada em 1983.
Ver imagem em alta-resolução
     
 
  ESPAÇO ABERTO  
 

Observação astronómica, dia 15 de Janeiro, na açoteia do CCVAlg, às 21:30. Observação dependente das condições atmosféricas.

 
 
  EFEMÉRIDES:  
 

Dia 11/01: 11º dia do  calendário gregoriano.
História: 
Em 1787, William Herschel descobre Oberon e Titânia, os maiores satélites de Urano.

Dia 12/01: 12º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1820 é fundada a "British Royal Astronomical Society".

Dia 13/01: 13º dia do  calendário gregoriano.
História: Em 2000 são descobertos buracos negros solitários à deriva na Galáxia.
Observações: Aproveite esta noite para observar Saturno, dado que estará em oposição. Isto significa que nasce perto do pôr-do-Sol e põe-se perto do nascer-do-Sol, tal como uma Lua Cheia. É também o ponto mais próximo da Terra na sua órbita, sendo por isso um pouco mais brilhante (-0.4). No entanto, Saturno está tão distante que o brilho nunca varia muito.

 
 
  CURIOSIDADES:  
 
O Hubble completa uma órbita em torno da Terra a cada 95 minutos. Sendo assim, já percorreu uma distância de mais de 4.8 mil milhões de quilómetros, mais do que o suficiente para chegar a Neptuno.
 
 
 
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