DESPERTAR DO PHILAE DESENCADEIA INTENSO ESFORÇO DE PLANEAMENTO
19 de junho de 2015
Imagem do cometa 67P/C-G obtida às 19:38 GMT de dia 13 de junho, pouco antes do despertar do Philae. A imagem foi capturada a uma distância de 201 km do centro do núcleo.
Crédito: ESA/Rosetta/NAVCAM
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A receção de sinais do módulo de aterragem Philae, a 13 de junho, ao fim de 211 dias de hibernação marcou o início de uma intensa atividade. Em coordenação com os seus parceiros de missão, as equipas da ESA estão a trabalhar para rearranjar os planos de voo da Rosetta com novas investigações científicas que envolvam o "lander".
O Philae despertou depois de sete meses em hibernação no Cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko. Escondido por sombras, o Philae desligou-se a 15 de novembro de 2014 às 00:36 GMT, depois de ter completado as suas principais operações científicas no cometa, quando as baterias primárias chegaram ao fim, tal como previsto, ao fim de 60 horas.
Desde março de 2015, quando as condições ambientais do Philae começaram a melhorar com o aumento da temperatura à superfície e melhor iluminação, o recetor do orbitador começou a ser ligado periodicamente, à procura de sinais vindos do 'lander', quando se pensou que a geometria orbital tinha atingido o ponto ótimo.
Na noite de 13 de junho foi estabelecida finalmente uma fraca mas sólida ligação entre a Rosetta e o "lander", durante 85 segundos. Foram recebidos mais de 300 'pacotes' – 663 kbits – de telemetria do módulo de aterragem. Esta informação tinha sido guardada a bordo, numa altura que ainda está por determinar, e que pode ir de alguns dias a algumas semanas e portanto, não reflete necessariamente o estado atual do Philae.
A Rosetta então reenviou a informação para o Centro de Operações da ESA, ESOC, em Darmstadt, Alemanha, às 20:28 GMT.
Todos os sistemas operacionais
"Ainda estamos a examinar a informação no Centro de Controlo do Lander, no Centro Aeroespacial Alemão, DLR, em Colónia, mas já podemos dizer que todos os sub-sistemas do 'lander' estão a funcionar, sem qualquer degradação aparente depois de mais de meio ano escondido na superfície gelada do cometa, " diz o gestor de projeto da DLR, Stephan Ulamec.
No domingo, 14 de junho, foi recebido mais um pequeno lote de dados, às 21:26 GMT, com duração de alguns segundos. Estes dados foram confirmados, permitindo chegar ao atual estado, mostrando que a temperatura interna já subiu para -5ºC.
Na memória do Philae estão armazenados mais de 8000 pacotes adicionais de dados de estado, mas ainda não é claro quando é que foram gravados.
Aqui vem o Sol
Os engenheiros no Centro de Controlo do Lander determinaram que o Philae já está a ser exposto a suficiente luz do Sol para o aquecer até uma temperatura operacional e para gerar eletricidade.
Os dados de telemetria recolhidos cobriram o estado do "lander" durante um ciclo completo de dia-noite do cometa, o que ajuda as equipas em terra a compreender como é que o Sol está a brilhar no "lander". Parece que os painéis solares recebem energia durante mais de 135 minutos em cada período de iluminação.
"Apesar de termos apenas informação preliminar, parece que o "lander" está tão bem quanto poderíamos esperar," diz Stephen Ulamec.
A próxima tarefa
A principal tarefa agora, para todos os parceiros da missão – a ESA para as operações da Rosetta e a DLR e a agência espacial francesa, CNES, para as operações do "lander" e ciência, respetivamente – é determinar de que forma otimizar a órbita da Rosetta para facilitar o contacto e permitir novas investigações científicas.
Acredita-se que há energia suficiente a ser gerada para permitir algumas medições científicas durante o tempo em que o Philae está iluminado, com as atividades iniciais focadas em medições de baixa exigência energética. Esta primeira fase também há de incluir medições que não puderam gerar ciência em novembro.
No entanto, as equipas de missão têm primeiro que estabelecer uma ligação mais robusta entre a Rosetta e o Philae antes de fazerem o upload do primeiro lote de comandos de operações científicas.
É possível que a qualidade da ligação esteja relacionada com a trajetória de voo da Rosetta e a orientação que adota.
Otimizar uma órbita a 305 milhões de km de distância
Neste momento, a Rosetta tem dois "slots" de comunicação disponíveis por cada 24 horas – um a cada 12 horas de rotação do cometa.
"O trabalho da equipa de dinâmica de voo e operações do ESOC aliado a um intenso planeamento conduzido pelos parceiros de missão, permitirá desenhar uma nova órbita de forma a que esta venha a garantir a otimização das comunicações com o lander," diz Paolo Ferri, Chefe de Operações da Missão da ESA.
Esta nova órbita inclui uma já planeada redução da distância relativamente ao núcleo, dos 200 km para os 180 km, e que os dois estão apontados em 'nadir' – com a unidade de comunicação da Rosetta a apontar continuamente para o cometa. Nos próximos dias, o orbitador também poderá ser deslocado para mais perto do cometa, sem comprometer a segurança da nave, para ajudar nas comunicações.
A Rosetta começou a voar na nova órbita 23:25 GMT do dia 16 de junho, mantendo-se até 19 de junho, permitindo manter mais contactos com o Philae, especialmente em direção ao final deste período.
Prontos para reagir
"Se conseguirmos manter um padrão de contacto", continua Paolo Ferri, "as equipas do 'lander' podem montar uma estratégia para uma nova sequência de operações científicas."
"Independentemente disso, iremos manter-nos flexíveis e prontos a reagir rapidamente. É claro que esta incrível missão continua a estimular-nos e a desafiar-nos, desenrolando-se de uma forma que seríamos incapazes de prever."
Como bónus, qualquer operação dos instrumentos do Philae até ao periélio, ou durante o mesmo, a 13 de agosto – o ponto de aproximação máxima do cometa ao Sol durante a sua órbita – irá permitir o estudo "in situ" de um cometa durante o seu pico de atividade.
Se o Philae tivesse pousado no local planeado, em Agilkia em novembro de 2014, a sua missão teria provavelmente acabado em março por causa das temperaturas mais altas naquele local, à medida que aumentava a iluminação.
O Philae é da responsabilidade de um consórcio liderado pela DLR, o Max Planck Institute for Solar System Research (MPS), o CNES e a Agência Espacial Italiana, ASI. Fez a primeira aterragem de sempre num cometa a 12 de novembro de 2014.
O módulo Philae em segurança à superfície do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, como estas duas primeiras imagens do instrumento CIVA confirmam. Pode ser visto um dos três pés do "lander". Mosaico obtido no passado mês de novembro.
Crédito: ESA/Rosetta/Philae/CIVA
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