CASSINI DESCOBRE OCEANO GLOBAL EM ENCÉLADO
18 de setembro de 2015
Ilustração do interior de Encélado, que mostra um oceano global de água líquida entre o seu núcleo rochoso e a crosta gelada. A espessura das camadas não está à escala.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
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Uma nova pesquisa, usando dados da missão Cassini da NASA, confirma a existência de um oceano global por baixo da crosta gelada da lua geologicamente ativa de Saturno, Encélado.
Os investigadores descobriram que a oscilação muito ligeira da lua, à medida que orbita Saturno, só pode ser explicada se a sua concha exterior não estiver congelada ao interior, o que significa que um oceano global deve estar presente.
A descoberta implica que a pulverização fina de vapor de água, partículas de gelo e moléculas orgânicas simples que a Cassini observou, proveniente de fraturas perto do polo sul, está sendo alimentada por este vasto reservatório de água líquida. A pesquisa foi apresentada esta semana num artigo online da revista Icarus.
A análise anterior dos dados da Cassini já tinham sugerido a presença de um corpo de água, ou mar, por baixo da região polar sul da lua. No entanto, os dados de gravidade recolhidos durante os vários "flybys" da sonda sobre a região polar sul dão suporte à possibilidade deste mar ser global. Os novos resultados - derivados usando uma linha independente de evidências com base nas imagens da Cassini - confirmam que este é o caso.
"Este é um problema complexo que exigiu anos de observações e cálculos que envolvem um conjunto diversificado de disciplinas, mas estamos confiantes que finalmente acertámos," afirma Peter Thomas, membro da equipa de imagem da Cassini e da Universidade de Cornell, em Ithaca, Nova Iorque, autor principal do artigo.
Os cientistas da Cassini analisaram mais de sete anos de imagens de Encélado recolhidas pela Cassini, que orbita Saturno desde meados de 2004. Mapearam cuidadosamente as posições de características em Encélado - principalmente crateras - em centenas de imagens, a fim de medir alterações na rotação da lua com extrema precisão.
Como resultado, descobriram que Encélado tem uma pequena, mas mensurável, oscilação à medida que orbita Saturno. Tendo em conta que a lua gelada não é perfeitamente esférica - e que se desloca mais rapidamente e mais lentamente em diferentes porções da sua órbita em redor de Saturno - o planeta gigante oscila lentamente Encélado para trás e para a frente enquanto gira.
A equipa juntou as suas medições da oscilação, também chamada libração, a modelos diferentes do interior de Encélado, incluindo aqueles em que a lua está congelada desde a superfície até ao núcleo.
"Se a superfície e o núcleo estivessem ligados de forma rígida, o núcleo daria tanto peso morto que a oscilação seria muito mais pequena do que a observada," explica Matthew Tiscareno, cientista da Cassini e do Instituto SETI em Mountain View, no estado americano da Califórnia, coautor do artigo. "Isto prova que deve haver uma camada global líquida que separa a superfície do núcleo," comenta.
Os mecanismos que impedem o oceano de Encélado de congelar permanecem um mistério. Thomas e colegas sugerem algumas ideias para estudos futuros que podem ajudar a resolver a questão, incluindo a possibilidade que forças de maré surpreendentes, devido à gravidade de Saturno, podem estar a gerar muito mais calor do que se pensava dentro de Encélado.
"Este é um grande passo em frente no que respeita à nossa compreensão desta lua e demonstra o tipo de descobertas que podemos fazer com missões orbitais e de longa duração a outros planetas," observa Carolyn Porco, líder da equipa de imagem da Cassini, do SSI (Space Science Institute) em Boulder, Colorado e professora visitante da Universidade da Califórnia em Berkeley. "A Cassini tem sido exemplar a este respeito."
O desvendar da história de Encélado é um dos grandes triunfos da longa missão da Cassini em Saturno. Os cientistas detetaram pela primeira vez sinais da pluma gelada da lua no início de 2005 e seguiram-se, então, uma série de descobertas sobre o material expelido das fraturas quentes perto do polo sul. Anunciaram fortes evidências de um mar regional em 2014 e, mais recentemente, em 2015, divulgaram resultados que sugerem a existência de atividade hidrotermal no fundo do oceano.
A Cassini está programada para fazer uma passagem rasante por Encélado no dia 28 de outubro, no mergulho mais profundo de sempre através da pluma ativa de material gelado. A sonda vai passar a apenas 49 km da superfície da lua.