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XMM-NEWTON MAPEIA OS ARREDORES DE UM BURACO NEGRO
24 de janeiro de 2020

 


Esta animação mostra os arredores de um buraco negro que se alimenta de gás circundante. À medida que este material cai para o buraco negro, espirala para formar um disco achatado aquecido. No próprio centro do disco, perto do buraco negro, uma região de eletrões muito quentes - com temperaturas na ordem dos mil milhões de graus - conhecida como coroa produziu raios-X altamente energéticos que são expelidos para o espaço.
Crédito: ESA

 

O material que cai num buraco negro lança raios-X para o espaço - e agora, pela primeira vez, o observatório de raios-X XMM-Newton da ESA usou os ecos reverberantes desta radiação para mapear o comportamento dinâmico e os arredores do próprio buraco negro.

A maior parte dos buracos negros são demasiado pequenos, no céu, para resolvermos o seu ambiente imediato, mas ainda assim podemos explorar estes objetos misteriosos observando como a matéria se comporta quando se aproxima e cai neles.

À medida que o material espirala em direção a um buraco negro, é aquecido e emite raios-X que, por sua vez, ecoam e reverberam à medida que interagem com o gás próximo. Estas regiões do espaço são altamente distorcidas devido à natureza extrema e à gravidade esmagadoramente forte do buraco negro.

Pela primeira vez, investigadores usaram o XMM-Newton para rastrear estes ecos de luz e mapear os arredores do buraco negro no núcleo de uma galáxia ativa. Com o nome IRAS 13224–3809, a galáxia hospedeira do buraco negro é uma das fontes de raios-X mais variáveis do céu, passando por flutuações muito grandes e rápidas de brilho, na ordem de 50 em poucas horas.

"Todos nós estamos habituados à forma como o eco das nossas vozes soa diferente quando falamos numa sala de aula, em comparação com uma catedral - isto deve-se simplesmente à geometria e aos materiais dos locais, que fazem com que o som se comporte e se mova de maneira diferente," explica William Alston da Universidade de Cambridge, autor principal do novo estudo.

"De maneira semelhante, podemos observar como os ecos da radiação de raios-X se propagam nas proximidades de um buraco negro, a fim de mapear a geometria de uma região e o estado de um aglomerado de matéria antes de desaparecer na singularidade. É um pouco como ecolocalização cósmica."

Como a dinâmica do gás em queda está fortemente ligada com as propriedades do buraco negro, William e colegas foram também capazes de determinar a massa e a rotação do buraco negro central da galáxia, observando as propriedades da matéria enquanto espiralava para dentro.

O material em espiral forma um disco enquanto cai para o buraco negro. Acima deste disco encontra-se uma região de eletrões muito quentes - com temperaturas na ordem dos mil milhões de graus - chamada coroa. Embora os cientistas esperassem ver os ecos de reverberação que usaram para mapear a geometria da região, também avistaram algo inesperado: a própria coroa mudou de tamanho incrivelmente depressa, em questão de dias.

"À medida que o tamanho da coroa muda, o mesmo ocorre com o eco de luz - um pouco como se o teto da catedral estivesse a subir e a descer, mudando o eco das nossas vozes," acrescenta William.

"Ao rastrear os ecos de luz, fomos capazes de rastrear esta coroa em mudança e - ainda mais excitante - obter valores muito melhores para a massa e para a rotação do buraco negro do que poderíamos determinar se a coroa não estivesse a mudar de tamanho. Sabemos que a massa do buraco negro não pode estar a flutuar; portanto, qualquer alteração no eco deve ser devida ao ambiente gasoso."

O estudo usou a observação mais longa de um buraco negro em acreção já obtida com o XMM-Newton, recolhida ao longo de 16 órbitas em 2011 e 2016 e totalizando 2 milhões de segundos - pouco mais de 23 dias. Isto, combinado com a variabilidade forte e de curto prazo do próprio buraco negro, permitiu a William e colaboradores modelarem os ecos de maneira abrangente ao longo de escalas de tempo de um dia.

A região explorada neste estudo não é acessível a observatórios como o EHT (Event Horizon Telescope), que conseguiu obter a primeira imagem do gás na vizinhança imediata de um buraco negro - aquele localizado no centro da massiva galáxia vizinha M87. O resultado, com base em observações realizadas com radiotelescópios em todo o mundo em 2017 e publicado o ano passado, tornou-se imediatamente uma sensação global.

"A imagem do EHT foi obtida usando um método conhecido como interferometria - uma técnica maravilhosa que só pode funcionar nos pouquíssimos buracos negros supermassivos mais próximos da Terra, como o de M87 e o da nossa Galáxia, a Via Láctea, porque o seu tamanho aparente no céu é grande o suficiente para este método funcionar," diz o coautor Michael Parker, cientista da ESA no Centro Europeu de Astronomia perto de Madrid, Espanha.

"Em contraste, a nossa abordagem é capaz de investigar as centenas de buracos negros supermassivos mais próximos que consomem ativamente matéria - e este número aumentará significativamente com o lançamento do satélite Athena da ESA.

A caracterização dos ambientes próximos dos buracos negros é um objetivo científico essencial da missão Athena da ESA, com lançamento previsto para o início da década de 2030 e que revelará os segredos do Universo quente e energético.

A medição da massa, rotação e ritmos de acreção de uma grande amostra de buracos negros é fundamental para entender a gravidade em todo o cosmos. Além disso, dado que os buracos negros supermassivos estão fortemente ligados às propriedades das suas galáxias hospedeiras, estes estudos também são fundamentais para aprofundar o nosso conhecimento de como as galáxias se formam e evoluem ao longo do tempo.

"O grande conjunto de dados fornecidos pelo XMM-Newton foi essencial para este resultado," disse Norbert Schartel, cientista do projeto XMM-Newton da ESA.

"O mapeamento da reverberação é uma técnica excitante que promete revelar muito sobre os buracos negros e sobre o Universo em geral nos próximos anos. Espero que o XMM-Newton realize campanhas de observação semelhantes para mais algumas galáxias ativas nos próximos anos, para que o método esteja totalmente estabelecido quando a missão Athena for lançada."

 


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Estas imagens mostram os arredores de um buraco negro que se alimenta de gás circundante.
À medida que este material cai para o buraco negro, espirala para formar um disco achatado aquecido. No próprio centro do disco, perto do buraco negro, uma região de eletrões muito quentes - com temperaturas na ordem dos mil milhões de graus - conhecida como coroa produziu raios-X altamente energéticos que são expelidos para o espaço.
Crédito: ESA


// ESA (comunicado de imprensa)
// Universidade de Cambridge (comunicado de imprensa)
// Universidade de Bristol (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)
// Artigo científico (arXiv.org)

Saiba mais

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Observatório XMM-Newton:
ESA
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EHT (Event Horizon Telescope):
Página oficial
Wikipedia

ATHENA:
ESA
Universidade de Cantabria 
Wikipedia

 
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