ROVER PERSEVERANCE FAZ DESCOBERTAS SURPREENDENTES 21 de dezembro de 2021
Este gráfico ilustra a entrada do Perseverance em "Séítah", tanto do ponto de vista orbital como subsuperficial. A imagem de baixo é um "radargrama" subsuperficial do instrumento RIMFAX do rover; as linhas vermelhas indicam a ligação das características subsuperficiais aos afloramentos rochosos resistentes à erosão visíveis acima da superfície. Crédito: NASA/JPL-Caltech/Universidade do Arizona/USGS/FFI
Os cientistas da missão do rover Perseverance da NASA descobriram que a superfície rochosa que o veículo de seis rodas tem vindo a estudar desde que pousou em fevereiro provavelmente formou-se a partir de magma escaldante. A descoberta tem implicações para a compreensão e para a datação precisa de eventos críticos na história da Cratera Jezero - bem como para o resto do planeta.
A equipa concluiu também que as rochas na cratera interagiram com a água várias vezes ao longo dos éones e que algumas contêm moléculas orgânicas.
Estas e outras descobertas foram apresentadas num "briefing" noticioso da reunião de outono da União Geofísica Americana em Nova Orleães.
Mesmo antes do Perseverance aterrar em Marte, a equipa científica da missão já se tinha interrogado sobre a origem das rochas na região. Será que eram sedimentares - a acumulação comprimida de partículas minerais, possivelmente transportadas para o local por um antigo sistema fluvial? Ou será que eram ígneas, possivelmente formadas em fluxos de lava que subiram para a superfície a partir de um vulcão marciano agora extinto?
"Estava a começar a desesperar que nunca iríamos encontrar a resposta," disse Ken Farley, cientista do projeto Perseverance do Caltech em Pasadena. "Mas então o nosso instrumento PIXL conseguiu ver bem o local "raspado" numa rocha da área apelidada "South Séitah" e tudo se tornou claro: os cristais no seu interior forneceram a 'arma fumegante'".
A broca na extremidade do braço robótico do Perseverance pode raspar ou triturar superfícies rochosas para permitir que outros instrumentos, como o PIXL, as estudem. O PIXL (Planetary Instrument for X-ray Lithochemistry) usa fluorescência de raios-X para mapear a composição elementar das rochas. No dia 12 de novembro, o PIXL analisou uma rocha em South Séitah que a equipa científica tinha escolhido para recolher uma amostra com a broca do rover. Os dados do PIXL mostraram que a rocha, apelidada de "Brac", era composta por uma abundância invulgar de grandes cristais de olivina rodeados por cristais de piroxena.
"Um bom estudante de geologia dir-lhe-á que tal textura indica que a rocha se formou quando os cristais cresceram e se estabeleceram num magma de arrefecimento lento - por exemplo, num fluxo de lava espessa, lago de lava, ou câmara magmática," disse Farley. "A rocha foi então alterada pela água várias vezes, tornando-a num tesouro que permitirá aos cientistas futuros datar acontecimentos em Jezero, compreender melhor o período em que a água era mais comum à sua superfície e revelar a história inicial do planeta. A MSL (Mars Sample Return) vai ter grandes coisas para escolher!"
A campanha multimissão MSR começou com o Perseverance, que está a recolher amostras de rochas marcianas em busca de vida microscópica antiga. Dos 43 tubos de amostragem do Perseverance, seis já foram selados até ao momento - quatro com núcleos rochosos, um com atmosfera marciana e um que contém material "testemunhal" para observar qualquer contaminação que o rover pudesse ter trazido da Terra. A MSL vai tentar trazer tubos selecionados de volta à Terra, onde gerações de cientistas serão capazes de os estudar com poderosos equipamentos laboratoriais demasiado grandes para enviar para Marte.
Ainda está por determinar se a rocha rica em olivina se formou num lago de lava espessa que arrefeceu à superfície ou se numa câmara subterrânea que mais tarde foi exposta pela erosão.
Moléculas orgânicas
Também boa notícia para a MSL é a descoberta de substâncias orgânicas pelo instrumento SHERLOC (Scanning Habitable Environments with Raman & Luminescence for Organics & Chemicals). As moléculas contendo carbono não estão apenas no interior de rochas perfuradas ou raspadas que o SHERLOC analisou, mas também no pó de rochas não alteradas pelo rover.
A confirmação de material orgânico não é uma confirmação de que a vida já existiu na Cratera Jezero e que deixou sinais indicadores (bioassinaturas). Existem tanto mecanismos biológicos como não biológicos que criam substâncias orgânicas.
"O Curiosity também descobriu compostos orgânicos no seu local de aterragem dentro da Cratera Gale," disse Luther Beegle, investigador principal do SHERLOC no JPL da NASA no sul da Califórnia. "O que o SHERLOC acrescenta à história é a sua capacidade de mapear a distribuição espacial do material orgânico dentro das rochas e de relacionar esse material com os minerais aí encontrados. Isto ajuda-nos a compreender o ambiente em que as substâncias orgânicas se formaram. É necessário fazer mais análises para determinar o método de produção das substâncias orgânicas identificadas."
A preservação de material orgânico no interior de rochas antigas - independentemente da sua origem -, tanto na Cratera Gale como na Cratera Jezero, significa que as potenciais bioassinaturas (sinais de vida, passada ou presente) também poderiam estar preservadas. "Esta é uma questão que provavelmente só será resolvida quando as amostras estiverem no planeta Terra, mas a preservação de material orgânico é muito excitante. Quando estas amostras forem enviadas para a Terra, serão uma fonte de investigação e descoberta científica durante muitos anos," disse Beegle.
"Radargrama"
Juntamente com as suas capacidades de amostragem rochosa, o Perseverance trouxe o primeiro radar de penetração no solo para a superfície de Marte. O RIMFAX (Radar Imager for Mars' Subsurface Experiment) cria um "radargrama" de características subsuperficiais até cerca de 10 metros de profundidade. Os dados deste primeiro radargrama foram recolhidos enquanto o veículo atravessava uma linha de cumeada desde a unidade geológica chamada "Crater Floor Fractured Rough" até à unidade geológica Séitah.
Esta linha de cumeada tem múltiplas formações rochosas com uma visível inclinação para baixo. Com os dados do RIMFAX, os cientistas sabem agora que estas camadas rochosas angulares continuam no mesmo ângulo bem abaixo da superfície. O radargrama também mostra que as camadas de rocha de Séitah projetam-se abaixo das da unidade geológica "Crater Floor Fractured Rough". Os resultados confirmam ainda a previsão da equipa científica de que a criação de Séitah precedeu a da outra unidade geológica. A capacidade de observar características geológicas mesmo abaixo da superfície acrescenta uma nova dimensão às capacidades cartográficas geológicas, em Marte, da equipa.
Mais sobre a missão Perseverance
Um objetivo principal da missão do Perseverance em Marte é a investigação astrobiológica, incluindo a busca por sinais de vida microbiana antiga. O rover vai caracterizar a geologia do planeta e o clima passado e será a primeira missão a recolher e a armazenar rochas e rególito marciano, abrindo caminho para a exploração humana do Planeta Vermelho.
As missões subsequentes da NASA, em cooperação com a ESA, vão enviar naves a Marte para recolher estas amostras armazenadas à superfície e trazê-las para a Terra para uma análise mais profunda.
A missão Mars 2020 do rover Perseverance faz parte da abordagem da exploração da Lua e de Marte da NASA, que inclui as missões Artemis à Lua que vão ajudar a preparar a exploração humana do Planeta Vermelho.
Nesta imagem tirada nos escritórios da missão Perseverance da NASA estão seis tubos fac-símile de amostragem pendurados numa placa, representativos das amostras já recolhidas em Marte.
Crédito: NASA/JPL-Caltech