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Dados da Magellan revelam atividade vulcânica em Vénus
17 de março de 2023
 

Este modelo 3D gerado por computador da superfície de Vénus mostra o cume de Maat Mons, o vulcão que está a exibir sinais de atividade. Um novo estudo revelou que uma das fissuras de Maat Mons foi ampliada e mudou de forma ao longo de um período de oito meses em 1991, indicando a ocorrência de um evento eruptivo.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 
     
 
 
 

Foram observadas, pela primeira vez na superfície de Vénus, evidências geológicas diretas de atividade vulcânica recente. Os cientistas fizeram a descoberta depois de analisarem imagens de radar tiradas há mais de 30 anos, na década de 1990, pela missão Magellan da NASA. As imagens revelaram uma fissura vulcânica que mudou de forma e aumentou significativamente de tamanho em menos de um ano.

Os cientistas estudam vulcões ativos para compreender como o interior de um planeta pode moldar a sua crosta, impulsionar a sua evolução e afetar a sua habitabilidade. Uma das novas missões da NASA a Vénus irá fazer exatamente isso. Liderada pelo JPL da NASA no sul do estado norte-americano da Califórnia, a VERITAS (Venus Emissivity, Radio science, InSAR, Topography, And Spectroscopy) será lançada dentro de uma década. O orbitador estudará Vénus da superfície ao núcleo para compreender como um planeta rochoso do mesmo tamanho da Terra tomou um caminho muito diferente, evoluindo para um mundo coberto por planícies vulcânicas e terreno deformado escondido sob uma atmosfera espessa, quente e tóxica.

"A seleção da missão VERITAS pela NASA inspirou-me a procurar por atividade vulcânica recente nos dados da Magellan", disse Robert Herrick, professor na Universidade do Alaska, em Fairbanks, membro da equipa científica da VERITAS, que liderou a pesquisa dos dados de arquivo. "Não esperava realmente ter sucesso, mas após cerca de 200 horas de comparação manual das imagens de diferentes órbitas da Magellan, vi duas imagens da mesma região, tiradas com oito meses de intervalo, exibindo alterações geológicas provocadas por uma erupção".

A pesquisa e as suas conclusões estão descritas num novo estudo publicado na revista Science. Herrick também apresentou os achados no passado dia 15 de março durante a 54.ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária, realizada no estado norte-americano do Texas.

 
Os dados de altitude para as regiões Maat Mons e Ozza Mons, na superfície de Vénus, podem ser vistos à esquerda, com a área de estudo indicada pela caixa preta. À direita estão as observações da Magellan antes (A) e depois (B) da ampliação da fissura de Maat Mons, com possíveis novos fluxos de lava após um evento eruptivo.
Crédito: Robert Herrick/UAF
 

Modelando um vulcão

As mudanças geológicas que Herrick encontrou ocorreram em Atla Regio, uma vasta região montanhosa perto do equador de Vénus que acolhe dois dos maiores vulcões do planeta, Ozza Mons e Maat Mons. Há muito que se pensa que a região é vulcanicamente ativa, mas não havia evidências diretas de atividade recente. Ao examinar as imagens de radar da Magellan, Herrick identificou uma fissura vulcânica associada a Maat Mons que mudou significativamente entre fevereiro e outubro de 1991.

Na imagem de fevereiro, a fissura aparecia quase circular, cobrindo uma área com menos de 2,2 quilómetros quadrados. Tinha lados interiores íngremes e mostrava sinais de lava nas suas encostas exteriores, factores que sugeriam atividade. Nas imagens de radar captadas oito meses mais tarde, a mesma abertura tinha duplicado de tamanho e ficado deformada. Parecia também estar cheia até acima com um lago de lava.

Mas como as duas observações eram de ângulos de visão opostos, tinham perspetivas diferentes, o que as tornava difíceis de comparar. A baixa resolução dos dados com três décadas só tornou o trabalho mais complicado.

Herrick juntou-se a Scott Hensley do JPL, cientista do projeto VERITAS e especialista na análise de dados de radar como os da Magellan. Os dois investigadores criaram modelos informáticos da fissura em várias configurações para testar diferentes cenários de eventos geológicos, tais como deslizamentos de terras. A partir desses modelos, concluíram que só uma erupção poderia ter provocado a mudança.

"Apenas algumas das simulações coincidiram com as imagens e o cenário mais provável é que a atividade vulcânica ocorreu à superfície de Vénus durante a missão da Magellan", disse Hensley. "Embora este seja apenas um ponto de dados para um planeta inteiro, confirma a existência de atividade geológica moderna".

Os cientistas compararam o tamanho do fluxo de lava gerado pela atividade de Maat Mons com a erupção do Kilauea em 2018, na Ilha Grande do Hawaii.

 
Este mapa global e simulado por computador da superfície de Vénus foi construído a partir de dados das missões Magellan e Pioneer Orbiter da NASA. Maat Mons, o vulcão que exibiu sinais de uma erupção recente, está dentro do quadrado perto do equador do planeta.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
 

O legado da Magellan

Herrick, Hensley e o resto da equipa da VERITAS estão ansiosos por ver como o conjunto de instrumentos científicos avançados e os dados de alta resolução da missão irão complementar a notável coleção de imagens de radar da Magellan, que transformou o conhecimento da humanidade sobre Vénus.

"Vénus é um mundo enigmático e a Magellan sugeriu tantas possibilidades", disse Jennifer Whitten, investigadora adjunta principal da VERITAS na Universidade de Tulane, em Nova Orleães. "Agora que estamos muito certos de que o planeta sofreu uma erupção vulcânica há apenas 30 anos, esta é uma antevisão das incríveis descobertas que a VERITAS irá fazer".

A VERITAS vai utilizar um radar de abertura sintética topo-de-gama para criar mapas globais em 3D e um espectrómetro no infravermelho próximo para descobrir de que é feita a superfície. A sonda também irá medir o campo gravitacional do planeta para determinar a estrutura do interior de Vénus. Juntos, os instrumentos vão fornecer pistas sobre os processos geológicos passados e presentes do planeta.

E enquanto os dados da Magellan eram originalmente complexos de estudar - Herrick disse que na década de 1990 basearam-se em caixas de CDs de dados de Vénus que foram compilados pela NASA e entregues por correio -, os dados da VERITAS estarão disponíveis online para a comunidade científica. Isso permitirá aos investigadores aplicar técnicas de ponta, como a aprendizagem de máquina, para analisar o planeta e ajudar a revelar os seus segredos mais íntimos.

Esses estudos serão complementados pela EnVision, uma missão europeia a Vénus com lançamento previsto para o início da década de 2030. A sonda transportará o seu próprio radar de abertura sintética (de nome VenSAR), que está a ser desenvolvido no JPL, bem como um espectrómetro semelhante ao que a VERITAS levará. Tanto Hensley como Herrick são membros chave da equipa científica do VenSAR.

// NASA (comunicado de imprensa)
// Universidade do Alaska, Fairbanks (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science)

 


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Science
Nature
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New Scientist
PHYSORG
ScienceNews
EarthSky
National Geographic
UPI
Forbes

Vénus:
NASA
CCVAlg - Astronomia 
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Vulcanismo em Vénus (Wikipedia)
Maat Mons (Wikipedia)

Sonda Magellan:
NASA
Wikipedia

VERITAS (Venus Emissivity, Radio science, InSAR, Topography, And Spectroscopy):
JPL/NASA
Wikipedia

EnVision:
ESA
Wikipedia

 
   
 
 
 
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