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DEBATE AQUECE EM TORNO DA 1.ª FOTO DE UM PLANETA EXTRASOLAR
3 de Maio de 2005
 

Numa volta inesperada de eventos cósmicos, um grupo de astrónomos está a tentar reclamar o "prémio" de ter sido o primeiro a fotografar um planeta extrasolar em torno de uma outra estrela.

Podem ainda ter muito que esperar até que a História lhes faça juz, dado que a pesquisa por objectos tipo-planetas está a tornar-se mais fácil do que o desenvolvimento de um sistema de classificação para os tipos variáveis de objectos encontrados.

A saga remonta até Setembro passado, quando foi anunciado que uma equipa do ESO (Observatório Europeu do Sul) tinha aparentemente registado a primeira imagem de um planeta extrasolar. Esse objecto, 2M1207b, parecia orbitar uma jovem mas falhada estrela conhecida como anã castanha a cerca de 200 anos-luz da Terra.

Mas também era possível quer 2M1207b fosse apenas um distante objecto no fundo. Eram necessárias mais observações para ter a certeza que o objecto estivesse de facto a orbitar a anã castanha.

Entretanto, no princípio do mês passado, Ralph Neuhaeuser do Observatório no Instituto Astrofísico e Universitário (AIU), disse que ele e sua equipa tinham de facto adquirido a primeira imagem confirmada de um planeta em torno de uma estrela chamada GQ Lupi, a uns 400 anos-luz de distância. Neste caso, o objecto encontra-se claramente a orbitar a estrela.

Mais importante, GQ Lupi é semelhante ao nosso Sol, em vez de ser uma ténue anã castanha que virtualmente não emite luz no vísivel.

Mas, outra vez, havia um empecilho: enquanto as observações sugeriam que o planeta em órbita de GQ Lupi teria o dobro da massa de Júpiter, havia uma ligeira hipótese de ser 42 vezes mais massivo - tão pesado que seria considerado uma anã castanha. Mas de acordo com alguns astrónomos, os modelos utilizados, no entanto, não parecem aplicar-se ao sistema.

"Com base no que sabemos, é uma imagem de um objecto muito parecido com Júpiter numa idade extremamente jovem," disse Ben Oppenheimer do Museu Americano de História Natural, que não esteve envolvido em nenhum dos estudos.

Ambas as reivindicações são apropriadamente modestas, no sentido que os cientistas admitiram que são necessárias mais observações para confirmar as suas aparentes descobertas.

No passado fim-de-semana, a equipa do ESO anunciou as suas novas observações de 2M1207b que mostram convincentemente, dizem, que o seu alvo é de facto um planeta. Se assim for, será lembrada como a primeira imagem de um exoplaneta, dado que a equipa já tinha anunciado a imagem no Outono passado.

"As nossas novas imagens mostram que é de facto um planeta, a primeira foto de um planeta fora do nosso Sistema Solar," disse o líder da equipa Gael Chauvin, um astrónomo do ESO.

"Os dois objectos -- um planeta gigante e uma jovem anã castanha -- estão a mover-se em conjunto; observámo-las durante um ano, e as novas imagens essencialmente confirmam a nossa descoberta de 2004," diz Benjamin Zuckerman, outro membro da equipa do ESO da UCLA. "Temos mais de 99% de certeza."

A massa do objecto tem base em ambas as observações e suposições acerca da idade do sistema, que se situa entre os 5 milhões de anos (o nosso Sistema Solar, em comparação, tem 4.5 mil milhões de anos). As teorias mais aceitas sugerem que 2M1207b tenha entre três e sete vezes a massa de Júpiter -- bem dentro dos limites aceites para um planeta.

Todo este assunto é ainda mais ensombrado pelo facto de 2M1207b orbitar uma anã castanha em vez de uma estrela normal. As estrelas anãs castanhas não têm massa suficiente para despoletar a fusão termonuclear que alimenta uma estrela comum. Por isso um objecto com uma massa planetária em torno existe num sistema anormal que não tem nenhuma hipótese de suster vida como a conhecemos. Pode também ter tido uma diferente história de formação.

"Dadas as propriedades bastante incomuns do sistema 2M1207, o planeta gigante provavelmente não se formou como os planetas do Sistema Solar," disse Chauvin. "Em vez disso, deve ter sido formado da mesma maneira que o Sol, por um colapso gravitacional de uma nuvem de gás e poeira."

Alan Boss, um teórico de formação planetária no Instituto Carnegie em Washington, disse que ambas as descobertas são importantes mas que não está preparado para tirar firmes conclusões acerca de quem ganha esta disputa.

"Este objecto [2M1207b] devia ser nomeado sub-anã-castanha, em ordem a transmitir esta suspeita acerca do seu mecanismo de formação," disse Boss. "Um número de sub-anãs-castanhas já foram observadas como objectos únicos em regiões de formação estelar recente, mas 2M1207b seria a primeira descoberta a orbitar uma anã castanha. É no entanto uma excelente descoberta de uma nova classe de objecto, mas é ainda incerto se este objecto deve ou não ser classificado como 'planeta'."

Boss, no entanto, tem cuidado ao dar a sua opinião. Não existe ainda nenhum acordo entre os astrónomos acerca da definição concreta do termo "planeta". Já há cinco anos que decorre um aceso debate acerca das tentativas de definir concretamente a palavra.

"Eu considero-o como um planeta, independentemente de se ter formado de uma maneira diferente de Júpiter - e independentemente de orbitar uma estrela falhada em vez de uma estrela tipo-Sol," diz Christophe Dumas, um colega de Chauvin. "Na realidade, esta descoberta é até mais interessante devido ao facto que a anã castanha e o planeta gigante não terem formado um sistema 'tradicional', tendo o nosso Sistema Solar como base. Não esperávamos descobrir um planeta gigante em órbita de uma anã castanha, e no entanto este existe."

Por agora, a União Astronómica Internacional lista 2M1207b como uma "possível companheira com massa-planetária de uma anã castanha". Cataloga a descoberta de GQ Lupi como uma "possível companheira com massa-planetária de uma jovam estrela."

Algum dia a História dirá quem é o vencedor. Entretanto, existem mais desafios para os caçadores de planetas ultrapassarem.

Mais de 140 planetas foram já descobertos em torno de outras estrelas. A maioria são muito massivos e foram detectados pela oscilação gravitacional que induzem nas suas estrelas. Fotografar exoplanetas é uma tarefa complicada devido à avassaladora luz estelar que afecta fortemente qualquer luz que venha de um planeta.

Os truques usados para observar estes dois candidatos actuais surpreenderam toda a comunidade astronómica.

Os cientistas esperam eventualmente fotografar planetas óbvios em torno de estrelas normais, e até mesmo planetas do tamanho da Terra quando a tecnologia o permitir. Estas imagens virão provavelmente de observatórios espaciais que agora estão em fases de preparação.

"Estamos a recolher a primeira peça do puzzle que irá levar - dentro da próxima década - à definição de um plano geral para os sistemas planetários," disse Dumas. "Alguns irão ser como o nosso, mas a maioria provavelmente não será. Alguns planetas irão orbitar tão perto as suas estrelas gigantes que não estarão em posição para permitir o desenvolvimento de vida. Outros tão longe das suas estrelas muito menos massivas como o sistema 2M1207. Outros como a Terra e que orbitam à distância ideal para reproduzir as condições adequadas para a vida poder emergir."

O artigo descrevendo as observações de 2M1207 foi aceite para publicação na revista Astronomy and Astrophysics.

Para o registo, fica aqui a presença de um terceiro candidato. O Telescópio Espacial Hubble fotografou em Maio de 2004 um possível candidato a planeta. Este objecto, uma detecção muito mais experimental que os dois casos mais recentes, veio a descobrir-se mais tarde que era um objecto de fundo, o que só mostra quão difícil esta procura tem sido.

Links:

Press releases:
http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2005/pr-09-05.html (GQ Lupi)
http://www.hq.eso.org/outreach/press-rel/pr-2005/pr-12-05-p2.html (2M1207b)

Notícias relacionadas:
http://www.ccvalg.pt/astronomia/astronline/astro_news/planeta_extrasolar_050405.htm
http://www.universetoday.com/am/publish/first_photo_exoplanet.html?842005
http://www.physorg.com/news3644.html
http://www.space.com/scienceastronomy/planet_photo_040910.html
http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/4501323.stm
http://www.scienceagogo.com/news/20050401235802data_trunc_sys.shtml
http://www.astrobio.net/news/modules.php?...1542&mode=thread&order=0&thold=0

2M1207b:
http://home.xtra.co.nz/hosts/Wingmakers/2M1207b.html


Imagem do sistema GQ Lupi.
Crédito: ESO/VLT
(clique na imagem para ver versão maior)


Imagem do sistema exoplanetário 2M1207.
Crédito: ESO
(clique na imagem para ver versão maior)


Impressão de artista do sistema 2M1207.
Crédito: ESO
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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