Já passaram dois meses desde que a sonda "impactor"
da Deep Impact colidiu com o cometa Tempel 1, e os
astrónomos continuam a aprender sobre a Física do evento, a
natureza dos detritos, e como os resultados da experiência
estão a alterar o que sabem sobre cometas e sobre as
condições do jovem Sistema Solar, aquando da formação destas
velhas relíquias.
Num dia preenchido por apresentações na
reunião da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade
Astronómica Americana que teve lugar na passada semana em
Cambridge, Inglaterra, cientistas de todo o mundo discutiram
os seus achados mais recentes. Aqui ficam os pontos mais
importantes:
- Nas semanas antes do impacto, o Cometa
Tempel 1 sofreu uma série de seis erupções; duas delas
ocorreram uma semana antes do impacto. A maioria destas
erupções parece ter vindo da mesma área da superfície do
cometa quando se encontrava perto do nascer-do-Sol local. O
cometa retém muito pouco calor, por isso a equipa especula
que estas erupções possam ser devidas a compostos voláteis
perto da superfície.
- A sonda "impactor" foi perturbada
por quatro grãos de pó nos últimos 21 segundos antes do impacto.
Os primeiros três tinham massas de menos de 10 miligramas. Mas o
último choque, ocorreu três segundos antes do impacto, e foi
feito por uma partícula de poeira com 0.9 gramas. As colisões
não alteraram o percurso da "impactor", mas provocaram as
imagens tremidas vistas no filme de aproximação.
- As imagens do cometa ajudaram os membros
da equipa a obter um modelo da forma do seu núcleo. O novo
comprimento medido do Tempel 1 é 7.6 por 4.8 quilómetros.
Isto é bem mais pequeno e redondo que o valor de 14 km
assumido pela equipa antes do encontro.
- Nos últimos anos, as sondas visitaram
três cometas da família de Júpiter: Borrelly, Wild 2 e
Tempel 1. Os seus núcleos parecem ser bem diferentes quando
vistos de perto. Por exemplo, o Tempel 1 e o Wild 2 contêm
características redondas nas suas superfícies. Mas as
regiões redondas do Wild 2 são atribuídas a zonas ou manchas
onde os gelos se evaporaram. Em contraste, a equipa da Deep
Impact diz que observou as primeiras crateras de impacto
vistas num cometa. As características redondas do Tempel 1
têm limites e paredes altas (ao contrário do Wild 2). "Os
geólogos estão convencidos que não existe nada [no Tempel 1]
que sugira que estas não sejam crateras," diz o líder da
equipa científica da Deep Impact, Michael A'Hearn
(Universidade de Maryland).
- A "impactor" colidiu obliquamente,
o que ajudou a maximizar a quantidade de poeira escavada. No
total, a colisão ejectou cerca de 11,000 toneladas de
material da superfície. A física do impacto revelou que o
cometa encontra-se agregado apenas pela sua própria
gravidade, em vez de por ligações estruturais entre as
partículas cometárias.
- A massa do núcleo do Tempel 1 ronda os 72
biliões de quilogramas. A densidade é cerca de 0.6 gramas
por centímetro cúbico. Esta densidade, em conjunto com a
natureza gravítica do núcleo, levou os membros da equipa a
concluir que o Tempel 1 é um amontoado poroso de entulho
rochoso. Este corpo bastante solto deve encontrar-se
agregado pela gravidade de uma maneira bastante fraca.
- A vasta quantidade de poeira ejectada
dificultou a tarefa de observar a cratera de impacto através
das câmaras da nave-mãe. Alguns membros da equipa pensam que
podem ter adquirido uma imagem da cratera, mas é necessário
mais análises antes de ser definitivamente identificada.
Modelos baseados no volume medido de poeira escavada, na
porosidade e na gravidade do cometa, indicam que a cratera
deverá ter 100 metros de comprimento e 30 de profundidade.
- A camada exterior do cometa é constituída
por fina poeira. Não foram observados blocos ou pedregulhos
na ejecção de material do impacto; apenas detritos
semelhantes a pó-de-talco.
- O espectrómetro observou a pluma de
material a expandir-se para fora. As observações revelaram
um cometa com camadas bem distintas. Depois da primeira
ejecção de gás quente e plasma ter passado pelo
espectrómetro da sonda-mãe, o instrumento registou um grande
pico devido a água gelada. "É a primeira coisa que vemos
depois do quente vapor passar. Deve estar bem perto da
superfície," diz o membro da equipa, Jessica M. Sunshine (SAIC).
A água foi posteriormente seguida por um forte sinal de
materiais orgânicos.
- Muitos compostos foram observados no
espectro, incluindo água, dióxido de carbono, cianido de
hidrogénio, cianido de metilo, e outras moléculas orgânicas.
De longe, o Telescópio Espacial Spitzer observou minerais,
tal como a olivina, calcite, sulfito de ferro e óxido de
alumínio. Além disso, o Spitzer observou moléculas nunca
antes observadas em cometas, tal como hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos. "Foi um fantástico e rico
espectro," disse o membro da equipa, Carey M. Lisse
(Universidade de Maryland).
- Os membros da equipa concluem que foi
libertada demasiada poeira para ter sido aquecido por mais
que uns graus. Isto sugere que o material escavado pelo
impacto é primordial - representando os materiais originais,
presentes quando o cometa se formou no começo do Sistema
Solar. "Os Cometas são os fósseis da formação planetária,"
disse Lisse.
- No entanto, as moléculas observadas estão
a dar aos especialistas algum tempo de reflexão. O espectro
também mostra indícios do Tempel 1 conter compostos
inesperados, tal como carbonatos e argilas. Segundo o
pensamento convencional, estes materiais apenas se formam
por processamento químico na presença de água líquida. Por
isso, é possível que o material ejectado pelo cometa não
seja assim tão "primordial". Pode ter sido processado ao
longo dos milhares de milhões de anos. Poderão os carbonatos
se formar dentro de um cometa ao longo de extremamente
longos períodos de tempo sem água líquida? Será que o cometa
derreteu o suficiente para a formação de água? Estudos
futuros poderão dar-nos respostas.
- Finalmente, a NASA ainda não concedeu
fundos para a seguinte missão proposta para a ainda
funcional sonda-mãe da Deep Impact, um encontro com o Cometa
85P/Boethin em 2008. Mas A'Hearn espera saber lá para o fim
do ano mais sobre o estado deste encontro proposto. Depois
disto, o destino da missão permanece incerto. Infelizmente,
diz A'Hearn, "Não temos combustível suficiente para
regressar a Tempel 1."
Links:
Notícias relacionadas:
M&C Science & Nature
Science News
Sci-Tech Today
Black Anthem
Slashdot
PhysicsWeb
New Scientist
PHYSORG.com
Deep Impact:
NASA
JPL
Wikipedia