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GRANDES LAGOS EM TITÃ
31 de Julho de 2006
 

A sonda da NASA, Cassini, descobriu as praias mais frias do Sistema Solar: dúzias de lagos perto do Pólo Norte de Titã, a maior lua de Saturno. Em combinação com alguns estudos recentes, as observações pintam um quadro de uma região de lagos frios que se parecem com uma primitiva Terra: praias, dunas e areais, e até uma previsão nublada de nevoeiro com hipóteses de aguaceiros.

Os lagos, que foram observados pelo radar da Cassini durante o voo rasante do passado dia 22 de Julho, são provavelmente de metano líquido e etano. Ao contrário do possível lago de 234 por 73 km que a Cassini observou perto do Pólo Sul no Verão passado, os lagos a Norte em Titã são mais pequenos, variando entre 1 e 100 km de comprimento. E ao contrário dos lagos no extremo Sul, os lagos a Norte são alimentados pelo que parecem ser rios com afluentes.

"Esta é a maior área de lagos que já identificámos," diz Steve Wall, do JPL, membro da equipa de radar. "Nós vimos algo que se assemelha a lagos a latitudes Sul, mas têm um estilo diferente, parecem mais rios largos."

Os lagos foram identificados usando o radar da Cassini, que mapeia as irregularidades da superfície. Uma superfície rochosa aparece brilhante, uma lisa aparece escura, e uma superfície sem características (um possível líquido parado) aparece negro.

"Estes lagos são do mais escuro que vimos em Titã," diz o membro da equipa da Cassini, Larry Soderblom (USGS - United States Geological Survey). "Vimos muitas características escuras em Titã, mas nunca foram negras o suficiente para serem lagos. Temos 90% de certeza de serem realmente líquidos."

Os membros da equipa da Cassini especulam que os lagos possam ser a fonte do "smog" de metano que engolfa a grande lua. "O metano pode evaporar dos lagos," diz Wall. "Tem que haver alguma fonte para o metano. A atmosfera está sobrecarregada dele. Os lagos são possíveis candidatos."

"Há muito que procuramos lagos em Titã," acrescenta.

Os cientistas não têm ainda a certeza de como os lagos se poderão ter formado. Encontram-se todos acima do círculo árctico de Titã - por volta dos 75º de latitude Norte. O grande lago descoberto no Hemisfério Sul está abaixo dos 75º Sul. "Isto faz-nos pensar que existe uma dependência na latitude e que os lagos só se formam perto dos pólos," diz Wall. "É consistente com a ideia de que os pólos têm um clima mais molhado."

Os lagos polares também poderão encaixar bem com estudos do clima de Titã. Na edição de 27 de Julho da revista Science, duas equipas de cientistas esboçam uma previsão meteorológica para a frígida lua que pode explicar o como e o onde os lagos são formados: chuviscos perpétuos de metano, com episódios dispersos de chuvas torrenciais.

Usando dados da sonda europeia Huygens, que aterrou em Titã no dia 14 de Janeiro de 2005, uma equipa liderada por Tetsuya Tokano (Instituto de Geofísica e Meteorologia, Alemanha) determinou que aguaceiros sem fim caem por toda a superfície de Titã, acumulando até cerca de 5 cm por ano - mais ou menos o que o Vale da Morte nos EUA recebe.

"A chuva em Titã é apenas um ligeiro aguaceiro," diz Christopher McKay (Centro de Pesquisa NASA/Ames), co-autor do estudo. "Mas chove sempre, dia e noite. Torna o chão molhado e lamacento com metano líquido."

Tal neblina de metano não pode edificar canais rodopiantes de rios que a missão Cassini-Huygens observou - mas outro tipo de tempestade pode. Ricardo Hueso e Agustín Sánchez-Lavega (ambos da Universidade do País Basco em Bilbau, Espanha), modelaram o comportamento a larga-escala da atmosfera de Titã e descobriram o equivalente a monções de Verão, até com rápidas inundações, ventos até 72 km/h, e gotas de chuva do tamanho de passas.

As monções em Titã são parecidas às da Terra. Durante o longo Verão Sul, o Sol aquece o Hemisfério Sul de Titã, forçando o ar a subir. Quando o ar quente atinge o fresco ar polar, forma nuvens do tipo "Cumulonimbus" e provoca tempestades severas - directamente sobre as regiões dos lagos.

"No Sul, quando é Verão, vemos nuvens convectivas subindo do Pólo Sul e transportando metano para o pólo onde é Inverno," diz Jonathan Lunine (Universidade do Arizona). "Estes lagos provavelmente vão e vêm com as estações: podem crescer em tamanho no Inverno e secar no Verão."

Durante os últimos voos rasantes, o instrumento de radar da Cassini observou muitas características que se assemelham a leitos de rios secos, especialmente ao longo do equador, onde vastos campos de dunas agora cobrem muita da superfície. Ou os lagos se formaram em diferentes sítios no passado - ou os lagos de Titã estão a secar.

"O metano é libertado do interior de Titã apenas ocasionalmente," diz Lunine. "É destruído na atmosfera e não pode ser formado novamente. Por isso pergunto-me: será que estamos a ver o esgotamento do metano em Titã?"

Links:

Notícias relacionadas:
NASA
Comunicado de imprensa (NASA)
Universe Today
SPACE.com
National Geographic
Astrobiology Magazine
BBC News
New Scientist
Planetary Society
Spaceflight Now
Nature

Titã:
Vista da Huygens a 14 de Janeiro de 2005 (formato Quicktime)
Descida com sinos e assobios (formato Quicktime)
Solarviews
Wikipedia

Saturno:
Wikipedia
Solarviews

Sonda Huygens:
ESA
NASA
Wikipedia

 

Duas imagens de radar da Cassini que mostram fortes evidências de lagos de hidrocarbonetos em Titã. Manchas negras, que se assemelham a lagos terrestres, parecem polvilhar as altas latitudes do pólo Norte da lua.
Crédito: NASA/JPL
(clique na imagem para ver versão maior)
 
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