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O QUE GANHÁMOS COM O PROGRAMA APOLLO?
24 de Outubro de 2007
 

O regresso da espécie humana à Lua por volta de 2020 está agora dentro dos planos da NASA. O que pensamos receber com tal programa? Seria então importante olhar para o primeiro programa lunar, Apollo, e compreender o que ganhámos com ele, além dos 385 kg de rochas e solo lunar - fascinante para os geólogos, mas talvez não para todos. De seguida passamos a enumerar algumas das mais importantes recompensas oriundas do programa Apollo.

O que foi o "Programa Apollo"? Houve muito mais que "um pequeno passo" para Neil Armstrong, e até mais que as seguintes cinco aterragens lunares - em que qualquer uma poderia ter sido um feito gigantesco. Primeiro, o programa Apollo começou com o Programa Gemini, que foi somente um aquecimento tecnológico para a Apollo. A Gemini foi na verdade a primeira nave americana: com propulsão, radar, computadores de bordo e capacidade para actividades extraveiculares ("passeios espaciais"). Foram lançadas para o espaço dez missões tripuladas, desenvolvendo as capacidades tecnológicas e operacionais necessárias para o seguinte programa lunar. No entanto, os astronautas do programa Gemini levaram a cabo muitas experiências científicas, além de praticar várias técnicas de voo espacial, como por exemplo os encontros orbitais.

As missões lunares do programa Apollo pertencem agora aos livros de História. No entanto, existiram duas missões orbitais em torno da Terra, a Apollo 7 e 9, que foram utilizadas para fazer mais experiências, entre elas fotografia terrestre multriespectral. Isto usa combinações de diferentes tipos de luz, como o infravermelho e o ultravioleta, que revelam coisas não possíveis de observar no visível, tal como árvores e campos de cereais com doenças. Esta técnica fotográfica foi um teste para o Landsat (lançado em 1972). Mas houve muito mais em torno do Programa Apollo. Primeiro, o hardware da Apollo foi usado para a primeira estação espacial americana, Skylab, em 1972 e 1973. Os astronautas do Skylab levaram a cabo dúzias de experiências científicas, como o radar orbital mar-superfície, e a operação de um observatório solar com resultados extremamente valiosos.

Em 1975, a nave Apollo voou pela última vez, no qual ocorreu um encontro e acoplagem com uma nave soviética Soyuz. Este esforço cooperativo foi pelo menos uma ponte por cima da grande barreira política da Guerra Fria. Em suma, o Programa Apollo, correctamente definido, foi muito mais abrangente do que as pessoas pensam. Mais, não foi enormemente caro relativamente ao orçamento federal americano da altura. Os vários sub-programas mencionados acima custaram um total de cerca de 30 mil milhões de dólares no fim do Ano Fiscal de 1975. Em termos comparativos: o orçamento anual da NASA em 1975 foi de 3,3 mil milhões de dólares e o orçamento anual do programa de Ajuda Alimentar dos EUA durante o mesmo ano foi de 5,5 mil milhões de dólares.

O que foi ganho com estes 30 mil milhões de dólares? O termo "spin-off" é aqui muitas vezes usado, mas isso tende a banalizar os resultados da Apollo. No entanto, aqui estão alguns dos eventuais resultados do programa Apollo.

Primeiro, e talvez o mais importante: acreditou-se, na altura da proposta do presidente Keneddy em 1961, que a motivação principal para enviar um homem à Lua era política, não científica. A União Soviética na altura era considerada a líder no voo espacial, e era uma potência beligerante e expansiva na Guerra Fria. Será que a Apollo terminou a Guerra Fria? Claro que não. Mas isso não impediu o laureado com o prémio Nobel, Andrei Sakharov, e outros dois colegas, de emitir uma carta aberta ao governo Soviético em 1970, pedindo a democratização da União Soviética, especificamente citando a aterragem na Lua como prova da superioridade da democracia. A União Soviética também tinha um programa lunar com o objectivo de levar o Homem à Lua, mas como todo o mundo viu, os EUA ganharam essa corrida.

Mesmo se as missões Apollo nunca tivessem aterrado na Lua, o programa como um todo estimulou os projectos que trouxeram enormes quantidades de informação sobre o nosso próprio planeta, a Terra. O mais antigo e agora um dos mais produtivos destes projectos foi o Landsat, aceite até pelos mais severos críticos da NASA como sendo um programa com enorme valor. Mas como pode o Landsat ser considerado um resultado da Apollo?

A resposta leva-nos até ao Programa Gemini, no qual os astronautas tiraram centenas de fotografias a cor e a alta-resolução, da Terra, com as suas câmaras de 70mm, como parte das experiências fotográficas de terreno e meteorologia. Mesmo em 1965, as imagens de satélites eram já familiares, mas as fotos das Gemini eram colossalmente melhores. Publicadas mundialmente em revistas como a National Geographic (a circulação em 1966 rondava os 6 milhões), despoletaram o interesse na fotografia espacial da superfície da Terra, distinguível da sua atmosfera.

Para resumir uma história longa e complexa: como dito pelo director do USGS (U.S. Geological Survey) da altura, Bill Pecora, o valor das fotos das Gemini e Mercury estimularam o Departamento do Interior dos EUA a propôr um programa de desenvolvimento de satélites de observação dos recursos terrestres, EROS, em 1966. Depois de várias negociações entre agências, este satélite proposto tornou-se no ERTS (Earth Resources Technology Satellite), sobre a gerência do Centro Aeroespacial Goddard, pouco tempo depois renomeado Landsat. Por isso, o Landsat foi na realidade um resultado normal do Programa Apollo.

O Centro de Naves Tripuladas, agora o Centro Espacial Johnson, foi construído para o Programa Apollo. Chegou-se à conclusão que teriam de ser feitos muitos reconhecimentos orbitais da Lua para as aterragens Apollo. De acordo, o CEJ começou um largo programa de estudos remotos, usando câmaras e outros instrumentos aéreos, em preparação para a Lua. Este programa levou ao enorme progresso do estudo remoto em geral, e em combinação com as fotografias das Gemini, levou ao Landsat e posteriormente a satélites homólogos como o francês SPOT (Systeme pour l’Observation de la Terre). Estes progressos tecnológicos foram depois aplicados com sucesso à Lua, mas também estimularam as técnicas de estudo orbital da Terra, técnicas que há muito que expandiram os programas espaciais, e também os programas internacionais. Esta revolução nos estudos remotos deve muito ao programa Apollo.

Como mencionado acima, o Skylab fez parte do Programa Apollo, e levou a cabo muitas observações remotas análogas àquelas do Landsat. No entanto, uma não análoga era o altímetro radar de mar-superfície. O Skylab tinha um radar apontado à Terra, incluindo aos oceanos. As microondas não penetram nos condutores eléctricos, tais como o metal ou água, e o radar enviado de volta a partir dos oceanos vinha da fundo rochoso do mar. Descobriu-se que, estando o radar por cima de depressões do chão do oceano, como por exemplo na fossa de Porto Rico, na realidade mostrava uma réplica atenuada de tais depressões por baixo do chão do oceano. Em montes oceânicos - como por exemplo vulcões subaquáticos - o chão forma pequenas elevações. "Pequenas" é um termo relativo - as depressões da superfície subaquática perto da fossa de Porto Rico, têm mais de 20 metros de profundidade.

A explicação para esta descoberta surpreendente é que a matéria em excesso de, por exemplo, um monte subaquático, puxa o chão em volta na horizontal para si, e por isso produzindo um ligeiro bojo na superfície subaquática. O efeito oposto ocorre numa fossa, que é uma deficiência de massa. Os resultados de radar do Skylab despoletaram estudos a longo-termo da geomorfologia oceânica, que levou aos detalhados mapas globais do chão oceânico, impossíveis de alcançar por qualquer outro método. Por isso, o Programa Apollo também ajudou a explorar parte do nosso planeta, escondido de nós pelos oceanos.

Links:

Programa Apollo:
NASA
Wikipedia

Programa Gemini:
NASA
Wikipedia

Skylab:
NASA
Wikipedia

Programa Landsat:
NASA
Wikipedia

 


Insígnia do programa Apollo.
Crédito: NASA
(clique na imagem para ver versão maior)


Imagem do Skylab, tirada pela missão Skylab 4.
Crédito: NASA
(clique na imagem para ver versão maior)


Lua e nuvens sobre o Pacífico Oeste, visto pela nave Gemini 7.
Crédito: NASA
(clique na imagem para ver versão maior)


Impressão de artista do satélite Landsat 1.
Crédito: NASA


Mapa de grandes características subaquáticas.
Crédito: NOAA
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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