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ÁGUA LÍQUIDA PODERÁ TER SIDO AVISTADA EM MARTE
20 de Fevereiro de 2009

 

De acordo com alguns membros da sua equipa científica, a sonda Phoenix da NASA poderá ter capturado as primeiras imagens de água líquida em Marte - pequenas gotículas que aparentemente salpicaram a perna da sonda durante a aterragem.

A observação controversa pode ser explicada pela descoberta prévia da missão, sais de perclorato no solo, pois os sais podem manter a água no seu estado líquido em temperaturas negativas. Os investigadores dizem que este efeito anticongelante torna possível a existência de água líquida mesmo por baixo da superfície de Marte, mas salientam que mesmo que aí se encontre, poderá ser demasiado salgada para suportar vida tal como a conhecemos.

Poucos dias depois da aterragem da Phoenix a 25 de Maio de 2008, enviou de volta uma imagem que mostrava misteriosas manchas de material sujo, presas a uma das suas pernas. Misteriosamente, estas manchas cresceram em tamanho ao longo das semanas seguintes, e os cientistas da Phoenix têm debatido desde aí a origem deste material.

Uma possibilidade intrigante é que seriam pequenas gotas de água salgada que cresceram ao absorver vapor de água da atmosfera. Os argumentos para esta ideia estão explicados num estudo do membro da equipa da Phoenix, Nilton Renno da Universidade de Michigan em Ann Arbor, e co-escrito por outros 21 investigadores, incluindo o cientista principal da missão, Peter Smith da Universidade do Arizona em Tucson. O estudo será apresentado em Março na Conferência de Ciência Lunar e Planetária em Houston, Texas, EUA.

Os grandes desfiladeiros e canais tipo-rio atestam o facto de que grandes quantidades de água líquida já se encontraram à superfície de Marte, algures no seu passado. A superfície parece agora seca, embora a aparente mudança em "gullies", presentes em algumas crateras, ao longo de um período de vários anos, aponte a existência de aquíferos subsuperficiais que ocasionalmente libertam água.

Certamente, o local de aterragem da Phoenix, no ártico marciano, é demasiado frio para a água existir na sua forma líquida - a temperatura nunca subiu acima dos -20º C durante os cinco meses da missão.

Mas a água salgada pode permanecer líquida a temperaturas muito mais baixas. E os sais de perclorato, que foram detectados pela primeira vez em Marte graças à Phoenix, teriam um efeito 'anticongelante' especialmente dramático. Uma mistura extremamente salgada de água e percloratos poderia permanecer líquida até aos -70º C.

Se os percloratos estão espalhados por Marte em grandes concentrações, então poços de água líquida poderão também estar espalhados por baixo da superfície do planeta. "De acordo com os meus cálculos, podemos ter soluções líquidas salinas mesmo por baixo da superfície em quase a totalidade de Marte," afirma Renno.

E a Phoenix pode até já ter capturado imagens de água líquida, graças aos sais de perclorato.

Os aglomerados poderão ter vindo de gelo derretido pelos motores da sonda. Os motores da Phoenix desbravaram o topo do solo no local de aterragem, expondo uma camada de gelo por baixo.

As experiências de laboratório que a equipa levou a cabo na Terra sugerem que os motores poderão ter derretido aproximadamente o primeiro milímetro da camada gelada, que então poderá ter sido salpicada até à perna da Phoenix. Se suficientes percloratos foram misturados com as gotas, poderiam ter ficado líquidas durante o dia, embora tenham sido congeladas cada noite.

Alternativamente, Renno diz que estas gostas poderão ter vindo de uma fina camada de água rica em perclorato, já líquida.

Porque é que a equipa pensa que estas manchas de sujidade possam ser água líquida? O argumento situa-se no facto do que o sal é higroscópico, ou seja, atrai água. Por isso, gotas de fluídos salgados em Marte tendem a absorver vapor de água da atmosfera, explicando porque é que cresceram com o passar do tempo. De facto, às temperaturas e humidades observadas no local da Phoenix, o crescimento esperado das gotículas salgadas coincide com as observações, salienta a equipa.

Ainda mais controversas e provocantes, uma série de imagens parecem mostrar uma gotícula candidata, crescendo após ter absorvido líquido da sua vizinha - um comportamento que a equipa atribui à água líquida.

Mark Bullock do Instituto de Pesquisa do Sudoeste em Boulder, Colorado, que já fez experiências com água salgada sobre condições marcianas, mas que não esteve envolvido no estudo de Renno, está impressionado com os resultados. "Penso que é uma história muito convincente para a existência de salmoura exótica na perna da Phoenix," afirma.

Mas o membro da equipa da Phoenix, Michael Hecht, do JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, discorda. Ele diz que os aglomerados eram provavelmente bocados de gelo que se formaram e cresceram a partir do vapor de água que congelava na perna.

Renno contrapõe, dizendo que o gelo mais provavelmente sublimaria do que cresceria na perna, que teria sido aquecido pelo calor emanado pelo corpo da sonda. De facto, observou-se que a camada de gelo, exposta por baixo da Phoenix, evaporava com o passar do tempo.

Mas Hecht argumenta que a perna poderia estar mais fria do que outras partes da Phoenix. Embora não existissem sensores de temperatura na perna, ele diz que a superfície da camada de gelo foi aquecida directamente pela luz solar, e que a perna da sonda estava à sombra. O vapor de água que sublimou a partir do gelo por baixo da Phoenix poderia ter-se recondensado como gelo na sua perna, argumenta.

Não se espera que a Phoenix, que ficou sem energia solar cinco meses após a aterragem, acorde novamente, por isso não há maneira de investigar este material na sua perna. Mas Renno espera estudar este caso de gotas salgadas com experiências futuras em água rica em perclorato sobre condições tipo-Marte. Ele diz que esses testes deverão estar acabados daqui a alguns meses.

Independentemente do seu resultado, a descoberta de percloratos no solo marciano sugere que poços de água líquida possam sarapintar a subsuperfície do Planeta Vermelho. Poderá existir vida nestas regiões? "É possível, diz Renno, salientando que existem micro-organismos na Terra que podem sobreviver em condições extremas," incluindo em água bastante salgada.

Mas pode ser difícil. Uma maneira de descrever estas concentrações de sal é com um valor denominado actividade da água, que é de 1 para a água pura, e mais pequeno para soluções salinas. O organismo conhecido na Terra, mais tolerante ao sal, é um fungo que pode sobreviver numa actividade da água de 0,61.

No entanto, para baixar o ponto de solidificação da água até -70º C com os percloratos, a concentração necessária de sais de perclorato daria à actividade da água um valor de apenas 0,5. "Se tentássemos pôr qualquer forma de vida que pudéssemos imaginar aqui da Terra, numa solução de salmoura desse género, a água seria literalmente arrancada das suas células," disse Peter Smith, líder científico da missão.

Links:

Notícias relacionadas:
Artigo científico (em formato PDF)
Universe Today
New Scientist
National Geographic

Perclorato:
Wikipedia

Phoenix:
Página oficial
Wikipedia

Marte:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

 
Um dos aglomerados na perna da Phoenix (caixa branca) parece crescer aparentemente após ter absorvido o líquido da sua vizinha. As imagens foram obtidas no 8.º, 31.º e 44.º dias marcianos (ou sols) da missão da Phoenix.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Universidade do Arizona/Instituto Max Planck
(clique na imagem para ver versão maior)
 
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