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JÚPITER E NEPTUNO APROXIMAM-SE
27 de Maio de 2009

 

Desde a demoção de Plutão em 2006 para o estatuto de "planeta anão," o mais distante dos oito planetas clássicos é Neptuno, localizado a uma distância média de 4.498.252.900 km do Sol.

Mas já alguma vez observou Neptuno?

Infelizmente, principalmente devido à sua grande distância, é demasiado ténue para ser observado à vista desarmada. Actualmente com magnitude 7,9, é quase quatro vezes mais ténue que a estrela mais ténue visível a olho nu. Nesta escala, os números maiores representam objectos mais ténues, e as coisas mais ténues visíveis a olho nu têm magnitude de aproximadamente 6,5 sobre céus rurais muito escuros.

Normalmente, para encontrar Npetuno precisaríamos de ter acesso a um céu limpo, muito escuro, e examiná-lo então muito cuidadosamente com um mapa celeste ou atlas do céu; uma tentativa de o avistar pode depois ser feita utilizando um telescópio pequeno ou uns bons binóculos.

Nesta vista Sudeste do céu de madrugada, Júpiter é impossível de não ver, e pode ajudar a descobrir Neptuno. o mapa é para as 4 da manhã em latitudes médias Norte.
Crédito: Miguel Montes, Starry Night
 

Mas esta semana, usando bons binóculos ou um pequeno telescópio, terá uma grande oportunidade para localizar Neptuno facilmente usando outro planeta: o brilhante Júpiter, que com ele fará parte de três conjunções, uma "conjunção tripla" invulgar entre estes dois gigantes gasosos.

Normalmente, Júpiter e Neptuno formam um par a cada 12 ou 13 anos, mas as conjunções triplas são menos frequentes.

Para isso acontecer, ambos os planetas têm que alcançar a sua oposição - o ponto no céu directamente oposto ao Sol - virtualmente ao mesmo tempo. Este ano, Júpiter alcançará a sua oposição a 14 de Agosto; Neptuno a 17 de Agosto. Alguns meses antes e depois destas datas, os dois planetas vão parecer andar temporariamente para trás contra o fundo estelar (o denominado "movimento retrógrado") e no processo passarão um pelo outro não uma, mas três vezes. A última conjunção tripla de Júpiter/Neptuno foi em 1971, e a próxima será em 2047-2048.

O primeiro dos três ajuntamentos do ano terá lugar já esta noite, dia 27, e prolongando-se uns dias depois; e é o mais próximo dos que ocorrem em 2009, com Júpiter passando a menos de 0,24º Sul de Neptuno.

Esta distância angular é mais ou menos equivalente a metade do diâmetro aparente da Lua. Por isso, se nunca viu o planeta mais afastado do Sol, terá uma excelente oportunidade durante estas madrugadas, usando Júpiter como guia. Com binóculos ou um telescópio, aponte primeiro para Júpiter e depois procure para cima em busca de uma pequena "estrela" azulada; esta será Neptuno. Tenha em mente que Neptuno terá cerca de 1/13.000 do brilho de Júpiter.

As próximas duas conjunções entre estes planetas serão a 9 de Julho e a 21 de Dezembro.

Júpiter pode ser visto baixo no horizonte a Este-Sudeste por volta das 3 da manhã, a "estrela" mais brilhante do céu a essa hora; um objecto nocturno que certamente atrai atenções mesmo a partir de cidades iluminadas e convida à inspecção logo a partir do momento que se monta um telescópio. Mas é melhor esperar pelo menos um par de horas até que ganhe alguma altura por cima do horizonte.

Ampliação da posição de Júpiter e de Neptuno, a menos de meio grau um do outro.
Crédito: Miguel Montes, Starry Night
 

Júpiter tem o maior disco aparente de qualquer objecto brilhante do céu, além da Lua e do Sol. As suas cinturas escuras e zonas brilhantes, com as suas marcas subtis, têm uma série de tons avermelhados, amarelados e acastanhados quando observado por telescópios, e claro, as suas quatro maiores e mais brilhantes luas podem ser seguidas durante horas, até facilmente com binóculos. Por um telescópio conseguirá observar os seus movimentos em torno de Júpiter, provocando sombras no planeta, desaparecerem por trás do disco ou subitamente ficarem eclipsadas pela sua sombra.

Em contraste com Júpiter, tentar resolver Neptuno num disco será muito mais difícil. Precisará de pelo menos um telescópio com 4 polegadas e com uma ampliação de não menos que 200x, só para tornar Neptuno num pequeno ponto de luz azul.

A Voyager passou por Neptuno em 1989 e mostrou que possui uma atmosfera azul profunda, com nuvens brancas de alta velocidade. Também evidente era uma Gande Mancha Escura, parecida à famosa Grande Mancha Vermelha de Júpiter.

Observações recentes de Neptuno com o Hubble sugerem que a Grande Mancha Escura, observada pela Voyager 2, se dissipou; só que foi substituída por outra. A atmosfera de Neptuno é aparentemente composta na maioria por hidrocarbonetos. Com base na velocidade de rotação do seu campo magnético, associou-se a Neptuno uma rotação a cada 16,1 horas. A Voyager 2 também revelou a existência de pelo menos três anéis em torno de Neptuno, compostos por partículas muito finas. Neptuno tem oito luas, uma das quais, Tritão, tem uma ténue atmosfera de nitrogénio e quase 2700 km em diâmetro, maior que Plutão. Dado que Neptuno se move numa órbita retrógrada (ao contrário), tem-se sugerido que Neptuno foi na realidade capturado no passado distante. Aqueles que têm acesso a um telescópio de 12 polegadas ou mais, serão capazes de avistar Tritão, muito perto do próprio planeta.

A descoberta de Neptuno derivou de observações a longo-prazo de Urano. Parecia para os astrónomos que um corpo desconhecido estava de qualquer maneira a perturbar a órbita de Urano. Em 1846, dois astrónomos, Urbain J. J. Leverrier (1811-1877) da França e John Couch Adams (1819-1892) da Inglaterra, trabalhavam independentemente neste problema.

Nenhum dos dois sabia o que o outro estava a fazer, mas por fim, ambos os astrónomos descobriram o percurso provável do suposto objecto que perturbava a órbita de Urano. Ambos acreditavam que o corpo invisível se encontrava na constelação de Aquário. Adams era estudante na Universidade de Cambridge, Inglaterra, e enviou os seus resultados para Sir George Airy (1801-1892), o Astrónomo Real, com instruções específicas acerca de para onde olhar.

Por alguma razão desconhecida Airy atrasou a sua pesquisa um ano. Entretanto, Leverrier escreveu ao Observatório de Berlim requerendo que investigassem a zona do céu que tinha indicado. Johann Galle e Heinrich d'Arrest, em Berlim, fizeram como pedido e descobriram o novo planeta em menos de uma hora.

Curiosamente, no próximo ano Neptuno totalizará uma volta completa em torno do Sol desde a sua descoberta.

Um facto estranho acerca de Neptuno é que quase foi descoberto, nem mais nem menos, do que pelo próprio Galileu, com o seu rude telescópio mais de dois séculos e meio antes.

Isto passou-se enquanto observava Júpiter e o seu sistema de quatro luas na noite de 28 de Dezembro de 1612. No mesmo campo de visão, Galileu registou Neptuno sem saber, mas como uma estrela de oitava magnitude. Apenas um mês depois, a 27 de Janeiro de 1613, Galileu registou duas estrelas no seu campo de visão, uma das quais era Neptuno. Na noite seguinte, quando observou novamente, notou que as duas estrelas pareciam mais distantes uma da outra. Se apenas tivesse continuado a observá-las nas noites seguintes, quase de certeza se teria apercebido que uma das "estrelas" se estava na realidade a mover.

Mas Galileu não deve ser culpado por não reconhecer Neptuno, pois observadores posteriores também "tropeçaram" em Neptuno sem se darem conta do que era. Entre eles encontra-se o habilidoso astrónomo francês, Lalande (1795); o astrónomo inglês, John Herschel (1830); e o astrónomo escocês, Von Lamont, dias antes de Neptuno ser realmente descoberto em 1846.

Todos pensaram que não era mais do que uma estrela comum. E mesmo assim, se Galileu apenas a tivesse seguido nas suas observações, o oitavo planeta teria sido descoberto antes do sétimo!

Links:

Júpiter:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

Neptuno:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

 
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