BEAGLE-2 ENCONTRADO EM MARTE
20 de Janeiro de 2015
O módulo britânico de aterragem, Beagle-2, que "apanhou boleia" da missão Mars Express da ESA e que tem estado perdido em Marte desde 2003, foi encontrado em fotos obtidas por uma sonda marciana da NASA.
O Beagle-2 foi lançado pela sua nave-mãe no dia 19 de dezembro de 2003 e tinha aterragem prevista para seis dias depois. Mas o "lander" não se fez ouvir após a aterragem planeada e as buscas da Mars Express e da Mars Odyssey (NASA) revelaram-se infrutíferas.
Agora, mais de uma década depois, o módulo de aterragem foi identificado em imagens de alta-resolução obtidas pela MRO (Mars Reconnaissance Orbiter) da NASA. Consegue-se discernir que o Beagle-2 está parcialmente implementado à superfície, o que significa que a sequência de entrada, descida e aterragem funcionou e que de fato aterrou com sucesso em Marte no dia de Natal de 2003.
"Estamos muito felizes por saber que o Beagle-2 pousou em Marte. A dedicação das várias equipas no estudo das imagens de alta-resolução a fim de encontrar o 'lander' é inspiradora," afirma Alvaro Giménez, diretor de Ciência e Exploração Robótica da ESA.
"Não saber o que tinha acontecido ao Beagle-2 permanecia uma preocupação irritante. Sabemos, agora, que o Beagle-2 desceu e pousou à superfície e isso é uma excelente notícia," comenta Rudolf Schmidt, na altura gestor do projeto Mars Express da ESA.
As imagens de alta-resolução foram inicialmente estudadas por Michael Croon, que já pertenceu à equipa de operações da Mars Express no Centro de Operações Espaciais da ESA, ESOC, em Darmstadt, na Alemanha, trabalhando em paralelo com membros das equipas industriais e científicas do Beagle-2.
O pequeno tamanho do Beagle-2 - menos de 2 metros quando totalmente implantado - significou um esforço meticuloso, bem no limite da resolução das câmaras em órbita de Marte.
Após a identificação de possíveis candidatos no local previsto da aterragem em Isidis Planitia, uma grande bacia de impacto perto do equador marciano, obtiveram-se mais imagens que foram analisadas pela equipa da câmara, pela equipa do Beagle-2 e pelo JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA.
As imagens mostram o "lander" no que parece ser uma configuração parcialmente implementada, com apenas um, dois ou no máximo três dos quatro painéis solares abertos, mostram o para-quedas principal e o que se pensa ser a cobertura traseira.
O tamanho, forma, cor e separação das características são consistentes com o Beagle-2 e com os seus componentes de aterragem e estão situados dentro da área de pouso esperada a uma distância de aproximadamente 5 km do seu centro.
Também foram especulativamente identificadas outras possíveis características, como os airbags, que amorteceram o pouso e, possivelmente, o escudo de calor dianteiro. São necessárias mais imagens para confirmar estes últimos alvos.
A implementação parcial explica o porquê de nunca se ter recebido sinais do Beagle-2: a fim de expor a antena de rádio para transmitir dados e receber comandos da Terra, era necessária a abertura total dos painéis solares.
Infelizmente, dada a abertura parcial e cobertura da antena, não há possibilidade de reavivar o Beagle-2 e recuperar dados.
No entanto, ficamos a saber que o Beagle-2 aterrou com sucesso em Marte e isso dá novo alento à próxima fase de exploração europeia do Planeta Vermelho, com os lançamentos da sonda ExoMars (nomeadamente, a ExoMars Trace Gas Orbiter and Entry, Descent and Landing Demonstrator) em 2016 e do rover ExoMars em 2018.
Imagem a cores do Beagle-2 em Marte.
Crédito: HiRISE/NASA/Leicester
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Ampliação do Beagle-2 em Marte.
Crédito: HiRISE/NASA/JPL/Parker/Leicester
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Animação que mostra três imagens do local de aterragem do Beagle-2. As imagens mostram diferenças devido à mudança do ângulo do Sol e à hora que as imagens foram obtidas.
Crédito: HiRISE/NASA/Leicester
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