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CASSINI APANHA TITÃ AO VENTO SOLAR
3 de fevereiro de 2015

 

Investigadores que estudavam dados da missão Cassini da NASA observaram que a maior lua de Saturno, Titã, comporta-se muito como Vénus, Marte ou um cometa quando exposta ao poder bruto do vento solar. As observações sugerem que corpos desmagnetizados como Titã interagem com o vento solar basicamente na mesma forma, independentemente da sua natureza ou distância do Sol.

Titã é grande o suficiente e podia ser considerado um planeta caso orbitasse o Sol por si só. Uma passagem rasante pela lua gigante em Dezembro de 2013 simulou este cenário, a partir do ponto de vista da Cassini. O encontro foi único no âmbito da missão, já que foi a única vez que a nave espacial observou Titã num estado pristino, fora da região de espaço dominado pelo campo magnético de Saturno, a magnetosfera.

"Nós observámos que Titã interage com o vento solar em muitos aspetos como Marte, se o movêssemos para a distância de Saturno," afirma Cesar Bertucci do Instituto de Astronomia e Física Espacial em Buenos Aires, que liderou a investigação com colegas da missão Cassini. "Nós pensávamos que Titã, neste estado, pareceria diferente. Certamente ficámos surpreendidos," comenta.

O vento solar é um "vendaval" veloz de partículas carregadas que correm continuamente na direção oposta à do Sol, rodeando os planetas como ilhas num rio. O estudo dos efeitos do vento solar sobre os planetas ajuda os cientistas a compreender como a atividade do Sol afeta as suas atmosferas. Estes efeitos podem incluir a modificação da composição química de uma atmosfera, bem como a sua perda gradual para o espaço.

Titã passa cerca de 95% do tempo dentro da magnetosfera de Saturno. Mas durante uma passagem rasante da Cassini no dia 1 de Dezembro de 2013, a lua gigante encontrava-se no lado virado para o Sol (de Saturno) quando uma poderosa explosão de atividade solar atingiu o planeta. O forte aumento no vento solar comprimiu tanto a face da magnetosfera do "Senhor dos Anéis", virada para o Sol, que a orla da bolha exterior foi empurrada para dentro da órbita de Titã. Isto deixou a lua exposta, sem proteção, ao fluxo furioso de partículas solares energéticas.

Ao longo da última década da missão, a Cassini tem usado o seu magnetómetro (um instrumento semelhante a uma bússola extremamente sensível) para observar Titã, mas sempre dentro da magnetosfera de Saturno. A sonda não foi capaz de detetar um campo magnético em Titã. No seu estado normal, Titã está camuflado pelo campo magnético de Saturno.

Desta vez, a influência de Saturno não estava presente, permitindo com que o magnetómetro da Cassini observasse Titã enquanto interagia diretamente com o vento solar. Esta circunstância especial permitiu com que Bertucci e colegas estudassem a onda de choque que se formou em redor de Titã, quando o vento solar chocou com força total na atmosfera da lua.

Na Terra, o poderoso campo magnético age como um escudo contra o vento solar, ajudando a proteger a nossa atmosfera. No caso de Vénus, de Marte e dos cometas - nenhum dos quais é protegido por um campo magnético global - o vento solar rodeia os objetos, interagindo diretamente com as suas atmosferas (no caso dos cometas, com a sua cabeleira ou coma). A Cassini viu o mesmo em Titã.

Os cientistas pensavam que teriam de tratar a resposta de Titã em relação ao vento solar com uma abordagem única porque a composição química da espessa atmosfera da lua é altamente complexa. Mas as observações de Titã pela Cassini sugerem uma solução mais elegante. "Isto poderá significar que podemos usar as mesmas ferramentas para estudar como mundos muito diferentes, em partes diferentes do Sistema Solar, interagem com o vento do Sol," afirma Bertucci.

Bertucci referiu que a lista de corpos similarmente desmagnetizados pode incluir o planeta anão Plutão, que será visitado este ano e pela primeira vez pela sonda New Horizons da NASA.

"Depois de quase uma década em órbita, a missão Cassini revelou mais uma vez que o sistema de Saturno está cheio de surpresas," comenta Michele Dougherty, investigadora principal do magnetómetro da Cassini no Imperial College em Londres. "Após mais de uma centena de voos rasantes, finalmente encontrámos Titã ao vento solar, o que nos permitirá entender melhor como estas luas mantêm ou perdem as suas atmosferas."

A nova pesquisa foi publicada a semana passada na revista Geophysical Research Letters.

Links:

Notícias relacionadas:
NASA/JPL (comunicado de imprensa)

Artigo científico (arXiv.org)

Geophysical Research Letters
AstronomyNow
National Geographic

Vento solar:
NASA
SWPC/NOAA
Wikipedia

Titã:
Solarviews
Wikipedia

Sonda Cassini:
Página oficial (NASA)
Wikipedia

Saturno:
Solarviews
Wikipedia


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Este diagrama ilustra as condições observadas pela sonda Cassini da NASA durante uma passagem rasante em Dezembro de 2013, quando a magnetosfera de Saturno foi altamente comprimida, expondo Titã à força bruta do vento solar.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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