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EXOPLANETA ROCHOSO DESCOBERTO NA NOSSA VIZINHANÇA
13 de novembro de 2015

 


Impressão de artista de GJ 1132b, um exoplaneta rochoso muito parecido com a Terra no que toca ao tamanho e massa, que orbita uma anã vermelha.
Crédito: Dana Berry
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Cientistas descobriram um novo exoplaneta que, na linguagem da saga "Guerra das Estrelas", seria o oposto do frio planeta Hoth e ainda mais inóspito que os desertos de Tatooine. Mas, em vez de residir numa galáxia muito, muito distante, este novo mundo fica, galacticamente falando, praticamente aqui ao lado.

O novo planeta, chamado GJ 1132b, é do tamanho da Terra e rochoso, orbita uma pequena estrela localizada a uns meros 39 anos-luz da Terra, tornando-o no mais próximo exoplaneta do tamanho da Terra já descoberto. Os astrofísicos publicaram estes resultados na edição de ontem da revista Nature.

Com base nas suas medições, os cientistas determinaram que o planeta é um forno com 260 graus Celsius e provavelmente tem bloqueio de marés - mantém sempre a mesma face virada para a estrela - o que significa que é permanentemente dia num lado e permanentemente noite no outro, tal como a Lua em relação à Terra.

Devido às suas altas temperaturas, GJ 1132b provavelmente não consegue reter água líquida à superfície, tornando-o inabitável para a vida como a conhecemos. No entanto, os cientistas dizem que é frio o suficiente para albergar uma atmosfera substancial.

O planeta também está suficientemente perto da Terra para que os cientistas possam, em breve, saber mais sobre as suas características, como por exemplo a composição da sua atmosfera e o padrão dos seus ventos - até mesmo a cor do pôr-do-Sol.

"Se nós descobrirmos que este planeta quente conseguiu agarrar a sua atmosfera durante os milhares de milhões de anos da sua existência, isso será um bom augúrio para o objetivo a longo prazo de estudar planetas mais frios que possam ter vida," afirma Zachory Berta-Thompson, pós-doutorado do Instituto Kavli do MIT (Massachusetts Institute of Technology) para Astrofísica e Pesquisa Espacial. "Finalmente temos um alvo para apontar os nossos telescópios e examinar mais profundamente o funcionamento de um exoplaneta rochoso."

Berta-Thompson e colegas descobriram o planeta usando o Observatório MEarth-Sul, uma rede de oito telescópios robóticos com 40 cm de abertura da Universidade de Harvard localizados nas montanhas do Chile. A rede estuda pequenas estrelas vizinhas, chamadas anãs M, que estão espalhadas por todo o céu noturno. Os cientistas determinaram que estes tipos de estrelas são frequentemente orbitadas por planetas, mas ainda não tinham encontrado exoplanetas do tamanho da Terra perto o suficiente para os estudar em profundidade.

Desde o início de 2014, a rede telescópica tem vindo a recolher dados quase todas as noites, obtendo medições da luz das estrelas a cada 25 minutos em busca de diminuições reveladoras no brilho que possam indicar a passagem de um planeta em frente de uma estrela.

No dia 10 de maio, um telescópio captou um leve mergulho em GJ 1132, uma estrela localizada a 12 parsecs, ou 39 anos-luz, da Terra.

"A nossa Galáxia mede cerca de 100.000 anos-luz," explica Berta-Thompson. "Portanto, é uma estrela definitivamente na nossa vizinhança solar."

O telescópio robótico começou imediatamente a observar GJ 1132 em intervalos muito mais rápidos de 45 segundos para confirmar a medição - uma quebra muito ligeira de aproximadamente 0,3% no brilho da estrela. Os investigadores mais tarde apontaram outros telescópios no Chile para a estrela e descobriram que, de facto, o brilho de GJ 1132 diminuía cerca de 0,3% a cada 1,6 dias - um sinal de que um planeta passava regularmente em frente da estrela.

"Nós não sabíamos o período do planeta a partir de um único evento, mas quando juntámos muitos, o sinal saltou à vista," comenta Berta-Thompson.

Com base na quantidade de luz estelar que o planeta bloqueia, e no raio da estrela, os cientistas calcularam que o planeta GJ 1132b tem cerca de 1,2 vezes o tamanho da Terra. A partir da medição da oscilação da sua estrela-mãe, estimam que a massa do planeta ronde as 1,6 massas terrestres. Dada a sua dimensão e massa, puderam determinar a sua densidade - e pensam ser rochoso, como a Terra. No entanto, é no tamanho e na composição que as parecenças com o nosso planeta terminam.

Ao calcularem o tamanho e a proximidade à estrela, o grupo determinou uma estimativa da temperatura média do planeta: uns tórridos 227º C.

"A temperatura do planeta é tão quente quanto um forno," observa Berta-Thompson. "É demasiado quente para ser habitável - não pode existir água líquida à superfície. Mas também é bastante mais frio que outros planetas rochosos que conhecemos."

Isso é bom em termos de estudo científico: a maioria dos exoplanetas rochosos descobertos até agora são essencialmente bolas de fogo com temperaturas superficiais na ordem dos milhares de graus - demasiado quentes para segurar qualquer tipo de atmosfera.

"Este planeta é frio o suficiente para que possa reter uma atmosfera," comenta Berta-Thompson. "Por isso pensamos que, no seu estado atual, este planeta ainda tem uma atmosfera substancial."

Berta-Thompson espera que os astrónomos usem o JWST (James Webb Space Telescope), o muito maior sucessor do Telescópio Espacial Hubble, com lançamento previsto para 2018, para identificar a cor e a composição química da atmosfera do planeta, bem como o padrão dos seus ventos.

"Nós pensamos que é a primeira oportunidade que temos para apontar os nossos telescópios a um exoplaneta rochoso e ver esse tipo de detalhe, para sermos capazes de medir a cor do pôr-do-Sol, ou a velocidade dos seus ventos, e realmente aprender como é que os planetas rochosos são lá fora no Universo," comenta Berta-Thompson. "São observações interessantes a fazer."

O TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA vai estudar todo o céu em busca de exoplanetas próximos e poderá encontrar muitos mais que sirvam de bons alvos para o JWST.

"Dos milhares de milhões de sistemas estelares na Via Láctea, cerca de 500 estão mais próximos que GJ 1132," realça Berta-Thompson. "O TESS vai encontrar planetas em redor de algumas dessas estrelas e esses planetas serão comparações valiosas para compreender GJ 1132b e os planetas rochosos em geral."

Jonathan Fortney, professor de astronomia e física na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, EUA, diz que o novo planeta é bem mais frio que outros planetas rochosos próximos descobertos até agora. Isto significa que GJ 1132b provavelmente tem uma atmosfera substancial.

"O que é, para mim, tremendamente emocionante, é que este planeta pode ser um 'primo' de Vénus e da Terra," comenta Fortney, que não esteve envolvido na investigação. "Penso que a atmosfera deste planeta, quando formos capazes de determinar a sua composição, será um ponto interessante de dados para a compreensão da diversidade de composição atmosférica de planetas do tamanho da Terra. No nosso Sistema Solar, só temos dois pontos de dados: a Terra e Vénus. Antes de percebermos a habitabilidade, precisamos de compreender a gama de atmosferas que a Natureza consegue produzir, e porquê."

 


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A rede de telescópios MEarth-Sul, localizado em Cerro Tololo no Chile.
Crédito: Jonathan Irwin
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Links:

Notícias relacionadas:
MIT (comunicado de imprensa)
Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica (comunicado de imprensa)
Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (comunicado de imprensa)
Artigo científico
Descoberta de GJ 1132b (NPG Press via YouTube)
Novo exoplaneta descoberto (MIT via YouTube)
Nature
Astronomy
SPACE.com
New Scientist
Popular Mechanics
Discovery News
PHYSORG
Popular Science
BBC News
TIME
Wired
The Verge
SIC Notícias
tvi24
Público
Jornal de Notícias
SOL
Observador
AstroPT

GJ 1132b:
Exoplanet.eu
Wikipedia

Planetas extrasolares:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Projeto MEarth:
Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica
Wikipedia

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
ESA
Wikipedia

TESS:
NASA/Goddard
Wikipedia

 
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