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AINDA DESCONTENTE ACERCA DE PLUTÃO? E QUE TAL 110 PLANETAS NO SISTEMA SOLAR?
24 de fevereiro de 2017

 


Ilustração dos tamanhos relativos, albedos e cores dos maiores objetos transneptunianos.
Crédito: Wikipedia
(clique na imagem para ver versão maior)

 

Em 2006, durante a sua 26.ª Assembleia Geral, a UAI (União Astronómica Internacional) adotou uma definição formal do termo "planeta". Isto foi feito na esperança de dissipar a ambiguidade sobre quais os corpos que deveriam ser designados "planetas", uma questão que atormentava os astrónomos desde que descobriram objetos para lá da órbita de Neptuno comparáveis, em tamanho, com Plutão.

Escusado será dizer que a definição que adotaram resultou num certo grau de controvérsia pela comunidade astronómica e pelo público em geral. Por esta razão, uma equipa de cientistas planetários - que inclui o famoso "defensor de Plutão" Alan Stern - reuniu-se para propor um novo significado para o termo "planeta". Com base na sua definição geofísica, o termo aplicar-se-ia a mais de 100 corpos no Sistema Solar, incluindo a própria Lua.

A definição atual da UAI (conhecida como Resolução 5A) esclarece que um planeta é definido com base nos seguintes critérios:

1 - Um "planeta" é um corpo celeste que (a) orbita o Sol, (b) possui massa suficiente para que a sua própria gravidade supere as forças de corpo rígido, de modo que assume uma forma de equilíbrio hidrostático (quase redondo), e (c) que tenha "limpo" a sua vizinhança orbital.

2 - Um "planeta anão" é um corpo celeste que (a) orbita o Sol, (b) possui massa suficiente para que a sua própria gravidade supere as forças de corpo rígido, de modo que assume uma forma de equilíbrio hidrostático (quase redondo), (c) que não tenha "limpo" a sua vizinhança orbital, e (d) não é um satélite.

3 - Todos os outros objetos, exceto os satélites, em órbita do Sol, serão referidos coletivamente como "Corpos Pequenos do Sistema Solar".

Por causa destes critérios, Plutão deixou de ser considerado planeta e foi classificado como "planeta anão", plutoide, plutino, Objeto Transneptuniano ou Objeto da Cintura de Kuiper. Além disso, corpos como Ceres, e objetos transneptunianos recém-descobertos como Éris, Haume, Makemake e similares, também foram designados "planetas anões". Naturalmente, esta definição não foi bem aceite por alguns, entre eles determinados geólogos planetários.

Liderada por Kirby Runyon - estudante de doutoramento do Departamento de Ciências Terrestres e Planetárias da Universidade Johns Hopkins - esta equipa inclui cientistas do SwRI (Southwest Research Institute, Instituto de Pesquisa do Sudoeste) em Boulder, Colorado, EUA; do NOAO (National Optical Astronomy Observatory) em Tucson, Arizona, EUA; do Observatório Lowell em Flagstaff, Arizona, EUA; e do Departamento de Física e Astronomia da Universidade George Mason.

O seu estudo - intitulado "A Geophysical Planet Definition", foi recentemente disponibilizado e aborda o que a equipa vê como a necessidade de uma nova definição que leve em conta as propriedades geofísicas de um planeta. Por outras palavras, acreditam que um planeta assim deve ser designado com base nas suas propriedades intrínsecas, em vez das suas propriedades orbitais ou extrínsecas.

A partir deste conjunto mais básico de parâmetros, Runyon e colegas sugeriram a seguinte definição:

"Um planeta é um corpo de massa subestelar que nunca sofreu fusão nuclear e que cuja gravidade é suficiente para assumir uma forma esferoidal adequadamente descrita por uma elipsoide triaxial, independentemente dos seus parâmetros orbitais."

Esta definição é uma tentativa de estabelecer algo que é útil para todos os envolvidos no estudo da ciência planetária, que sempre incluiu geólogos. Runyon afirma: "a definição da UAI é útil para os astrónomos planetários preocupados com as propriedades orbitais dos corpos do Sistema Solar, e pode capturar a essência do que um 'planeta' é para eles. A definição não é útil para os geólogos planetários. Eu estudo paisagens e como as paisagens evoluem. Também me aborreceu que a UAI decidisse sozinha algo que os geólogos também usam.

"Graças ao modo como o nosso cérebro evoluiu, nós fazemos sentido do Universo através da classificação das coisas. A Natureza existe num continuum, não em caixas discretas. No entanto nós, como seres humanos, precisamos de classificar coisas a fim de trazer ordem ao caos. Ter uma definição da palavra planeta, que expressa o que pensamos que um planeta deve ser, é concordante com o desejo de trazer ordem ao caos e de compreender o Universo."

A nova definição também tenta abordar muitos dos aspetos mais "pegajosos" da definição adotada pela UAI. Por exemplo, aborda a questão de orbitar ou não o Sol - o que se aplica àqueles encontrados em torno de outras estrelas (os exoplanetas). Além disso, de acordo com esta nova definição, os planetas "fugitivos" ou "flutuantes", que foram expulsos dos seus sistemas estelares, não são, tecnicamente, planetas.

E, em seguida, há a questão problemática da "limpeza da vizinhança." Como tem sido enfatizado por muitos que rejeitam a definição da UAI, planetas como a Terra não satisfazem a qualificação, uma vez que pequenos novos corpos estão a ser constantemente injetados em órbitas que atravessam o planeta - os NEOs (Near-Earth Objects). Além disso, esta definição proposta procura resolver o que é indiscutivelmente um dos aspetos mais lamentáveis da resolução de 2006 da UAI.

"A maior motivação, para mim, é: de cada vez que falo sobre isto ao público em geral, as pessoas comentam logo que 'Plutão já não é um planeta'," comenta Runyon. "O interesse das pessoas num corpo parece ligado com a presença ou ausência do rótulo 'planeta'. Eu quero deixar bem claro na mente do público, o que realmente é um planeta. A definição da UAI não se ajusta à minha intuição e acho que também não se ajusta à intuição das outras pessoas."

O estudo foi preparado para a 49.ª Conferência de Ciência Planetária e Lunar. Esta conferência anual - que terá lugar entre os dias 20 e 24 de março em Houston, no estado norte-americano do Texas - envolverá especialistas de todos os cantos do mundo que se reúnem para partilhar os mais recentes achados da ciência planetária. Aqui, Ruynon e colegas esperam apresentá-lo como parte do Evento de Educação e Envolvimento Público.

"Escolhemos publicá-lo nesta secção da conferência dedicada à educação," salienta. "Especificamente, quero influenciar os professores sobre a definição que podem ensinar aos alunos. Esta não é a primeira vez que alguém propõe uma definição que não a proposta pela UAI. Mas poucos falam sobre educação. Falam entre os pares e faz-se pouco progresso. Quero divulgar o estudo numa secção que alcance os professores."

Naturalmente, há aqueles que podem levantar dúvidas sobre como esta definição poderia levar a demasiados planetas. Se a propriedade intrínseca do equilíbrio hidrostático é o único qualificador real, então corpos grandes como Ganimedes, Europa e a Lua também seriam considerados planetas. Dado que esta definição resultaria num Sistema Solar com 110 "planetas", temos que nos perguntar se talvez seja demasiado inclusivo. No entanto, Runyon não está preocupado com estes números.

"Cinquenta estados são muitos para memorizar, 88 constelações são muitas para memorizar," comenta. "Quantas estrelas existem no céu? Porque é que precisamos de ter um número memorável? Como é que isso lida com a definição? Se percebermos que a tabela periódica está organizada com base no número de protões, não precisamos de memorizar todos os elementos atómicos. Não há lógica na definição da UAI quando argumentam que existem demasiados planetas no Sistema Solar."

Desde a sua publicação que perguntaram muitas vezes a Runyon se pretende apresentar esta proposta à UAI para sanção oficial. Ao que Runyon simplesmente respondeu:

"Não. Porque partimos do princípio que a UAI é que detém o poder para dizer qual é a definição. Nós, no campo da ciência planetária, não precisamos da definição da UAI. A definição de palavras baseia-se, em parte, na forma como são utilizadas. Se a definição geofísica é a definição que as pessoas usam e que os professores ensinam, então esta tornar-se-á, de facto, a definição, apesar dos votos da UAI em Praga."

Independentemente da opinião das pessoas sobre a definição de planeta pela UAI (ou a proposta por Runyon e colegas), é claro que o debate está longe do fim. Antes de 2006, não havia definição exata do termo planeta; e "a toda a hora" são descobertos novos corpos astronómicos que desafiam as nossas noções do que constitui um planeta. No final, é o processo de descoberta que conduz os esquemas de classificação, não o contrário.

 


 

Adenda do Núcleo de Astronomia do CCVAlg:

Independentemente da opinião de Runyon e de quem rejeita a atual definição do termo "planeta" pela UAI, quer parecer, ao Núcleo de Astronomia do CCVAlg, que existe uma certa má interpretação no que concerne ao significado de "limpar a vizinhança orbital". Facto que é compreensível, visto que não está, de todo, explicado na resolução da UAI de 2006.

A "limpeza orbital" diz respeito, especificamente, ao domínio gravitacional da sua região e a objetos de tamanho similar (ou maior), não a "todos" os objetos dessa vizinhança:

  • não há nenhum outro objeto do tamanho da Terra, na vizinhança orbital da Terra;
  • não há nenhum objeto do tamanho de Saturno, na vizinhança orbital de Saturno;
  • etc.

Aplicando o mesmo critério, Plutão tem vizinhos orbitais de tamanho idêntico - objetos da Cintura de Kuiper como Éris - e não tem domínio gravitacional da sua região, pois a órbita de Plutão é afetada pela gravidade de Neptuno. Assim sendo, falha a classificação de planeta e, por essas razões, foi despromovido para "planeta anão".

O Núcleo de Astronomia do CCVAlg concorda que a definição seja revista, mas para melhor explicar o significado desta "limpeza orbital da vizinhança" e para adicionar os termos "exoplaneta" e "planetas flutuantes ou fugitivos". Quem sabe, também usando o argumento da ausência de fusão nuclear da definição de Runyon e colegas.

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Plutão preenche quase o campo de visão do instrumento LORRI a bordo da sonda New Horizons, numa imagem capturada dia 13 de julho de 2015, quando a sonda estava a 768.000 km da superfície.
Crédito: NASA/APL/SwRI
(clique na imagem para ver versão maior)


Esta imagem do planeta anão Ceres foi capturada pela sonda Dawn da NASA no dia 19 de fevereiro de 2015 a uma distância de 46.000 quilómetros. Segundo a definição proposta por Runyon, corpos como Ceres e até a Lua seriam considerados "planetas".
Crédito: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA
(clique na imagem para ver versão maior)


Links:

Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
26/08/2011 - Cinco anos depois, despromoção de Plutão é ainda controversa
14/06/2008 - Plutão é agora um "plutóide"
15/09/2006 - 2003 UB313 passa a chamar-se Éris
29/08/2006 - Nova definição de planeta sob fogo cerrado
25/08/2006 - Plutão deixa de ser planeta principal
22/08/2006 - Plutão ainda pode deixar de ser planeta
18/08/2006 - Os nove planetas irão tornar-se doze com a nova definição
15/08/2006 - Destino de Plutão como planeta com resolução para breve
27/09/2005 - Termo "planeta" poderá em breve ter adjectivos
05/08/2005 - Debate acerca do termo "planeta" aquece
30/07/2005 - Descoberto um objecto maior que Plutão, já apelidado de 10.º planeta
10/02/2005 - UB313 maior que Plutão

Notícias relacionadas:
Uma definição geofísica de "planeta" (PDF)
Universe Today
SPACE.com
PHYSORG

Definição de planeta:
Wikipedia
Definição de planeta pela UAI (Wikipedia)
"Limpando a vizinhança" (Wikipedia)

União Astronómica Internacional:
Página oficial
Centro de Planetas Menores

Plutão:
Wikipedia
Nine Planets
NASA

Planetas flutuantes:
Wikipedia

 
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