DESCOBERTO NOVO OBJETO EXTREMAMENTE DISTANTE NA PROCURA DO PLANETA NOVE 5 de outubro de 2018
As órbitas do novo planeta anão extremamente distante, 2015 TG387, e dos seus homólogos da Cintura de Kuiper Interior, 2012 VP113 e Sedna, comparadas com o resto do Sistema Solar. 2015 TG387 recebeu a alcunha de "The Goblin" pelos descobridores, já que a sua designação temporária contém TG e o objeto foi visto pela primeira vez perto do Halloween. 2015 TG387 tem um semieixo maior superior ao de 2012 VP113 ou Sedna, o que significa que viaja para muito mais longe do Sol no seu ponto orbital mais distante, cerca de 2300 UA.
Crédito: ilustração por Roberto Molar Candanosa e Scott Sheppard, cortesia do Instituto Carnegie para Ciência
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Scott Shepard de Carnegie e colegas Chad Trujillo (Universidade do Norte do Arizona) e David Tholen (Universidade do Hawaii) estão uma vez mais a redefinir a orla do nosso Sistema Solar. Descobriram um novo objeto extremamente distante, bem para lá de Plutão, com uma órbita que suporta a presença de uma super-Terra ou Planeta X ainda mais distante.
O objeto recém-descoberto, denominado 2015 TG387, foi anunciado na passada terça-feira pelo Centro de Planetas Menores da União Astronómica Internacional. O artigo com os detalhes da descoberta foi submetido à revista The Astronomical Journal.
2015 TG387 foi descoberto a cerca de 80 UA (1 UA é ou unidade astronómica é a distância média Terra-Sol, cerca de 150 milhões de quilómetros). Para contexto, Plutão encontra-se de momento a mais ou menos 34 UA, de modo que 2015 TG287 está duas vezes e meia mais longe do Sol do que Plutão está agora.
O novo objeto está numa órbita muito alongada e nunca se aproxima mais do Sol, no ponto a que chamamos periélio, do que aproximadamente 65 UA. Só 2012 VP113 e Sedna, a 80 e 76 UA, respetivamente, têm periélios mais distantes do que 2015 TG387. Embora 2015 TG387 tenha o terceiro periélio mais distante conhecido, o seu semieixo maior é maior do que o de 2012 VP113 e Sedna, o que significa que viaja para muito mais longe do Sol do que esses dois astros. No seu ponto orbital mais distante (afélio), alcança as 2300 UA. 2015 TG387 é um dos poucos objetos conhecidos que nunca chega perto o suficiente dos planetas gigantes, como Neptuno e Júpiter, para ter interações gravitacionais significativas com eles.
"Estes denominados objetos da Cintura de Oort Interior, como 2015 TG387, 2012 VP113 e Sedna, estão isolados da maioria da massa conhecida do Sistema Solar, o que os torna imensamente interessantes," explicou Sheppard. "Podem ser usados como sondas para entender o que está a acontecer no limite do nosso Sistema Solar."
O objeto com a distância periélica mais distante, 2012 VP113, foi também descoberto por Sheppard e Trujillo, que anunciaram o achado em 2014. A descoberta de 2012 VP113 levou Sheppard e Trujillo a notar semelhanças nas órbitas de vários objetos extremamente distantes do Sistema Solar e propuseram a presença de um planeta desconhecido com várias vezes o tamanho da Terra - por vezes chamado Planeta X ou Planeta Nove - em órbita do Sol bem para lá de Plutão, a centenas de UA.
"Nós pensamos que podem existir milhares de corpos pequenos como 2015 TG387 nos limites do Sistema Solar, mas a sua distância torna-os muito difíceis de encontrar," afirma Tholen. "Atualmente, só detetamos 2015 TG387 quando está perto da sua maior aproximação ao Sol. Para cerca de 99% da sua órbita de 40.000 anos, é demasiado ténue para ser observado."
O objeto foi descoberto como parte da busca contínua da equipa por planetas anões desconhecidos e pelo Planeta Nove. É o maior e o mais profundo levantamento já realizado para objetos distantes do Sistema Solar.
"Estes objetos distantes são como migalhas de pão, levando-nos ao Planeta X. Quantos mais encontrarmos, melhor podemos entender o Sistema Solar exterior e o possível planeta que pensamos estar a moldar as suas órbitas - uma descoberta que redefiniria o nosso conhecimento sobre a evolução do Sistema Solar," comenta Sheppard.
Foram necessários alguns anos de observações para que a equipa obtivesse uma órbita para 2015 TG387, dado que se move tão lentamente e tem um período orbital tão longo. Observaram 2015 TG387 pela primeira vez em outubro de 2015 com o telescópio japonês Subaru de 8 metros, localizado no topo do Mauna Kea, Hawaii. Foram obtidas observações de acompanhamento com o telescópio Magalhães no Observatório Las Campanas de Carnegie, no Chile, e com o Telescópio do Discovery Channel no estado norte-americano do Arizona em 2015, 2016, 2017 e 2018 para determinar a órbita de 2015 TG387.
2015 TG387 está provavelmente na gama mais pequena da categoria de planeta anão, dado que o seu diâmetro não excede os 300 quilómetros. A posição de 2015 TG387 no céu, onde atinge o periélio, é parecida com a de 2012 VP113, Sedna e da maioria dos outros objetos trans-neptunianos conhecidos e extremamente distantes, sugerindo que algo os está a empurrar para tipos semelhantes de órbitas.
Trujillo e Nathan Kaib, da Universidade de Oklahoma, correram simulações de computador sobre como diferentes órbitas hipotéticas do Planeta Nove afetariam a órbita de 2015 TG387. As simulações incluíram uma super-Terra a várias centenas de UA numa órbita alongada como proposto por Konstantin Batygin do Caltech e Michael Brown em 2016. A maioria das simulações mostrou que não só a órbita de 2015 TG387 era estável para a idade do Sistema Solar, como na verdade era "pastoreada" pela gravidade do Planeta X, que mantém o mais pequeno 2015 TG387 longe do enorme planeta. Este pastoreio gravitacional pode explicar por que os objetos mais distantes do nosso Sistema Solar têm órbitas parecidas. Estas órbitas impedem com que se aproximem demasiado do planeta proposto, o que é semelhante a como Plutão nunca chega muito perto de Neptuno, apesar das suas órbitas se cruzarem.
"O que torna este resultado realmente interessante é que o Planeta X parece afetar 2015 TG387 da mesma forma que todos os outros objetos extremamente distantes do Sistema Solar. Estas simulações não provam a existência de outro planeta massivo no nosso Sistema Solar, mas são mais uma evidência de que algo grande pode andar por lá," conclui Trujillo.
Comparação de 2015 TG387 a 65 UA com os planetas conhecidos do Sistema Solar. Saturno pode ser visto a 10 UA e a Terra está, claro a 1 UA, como a medição definida pela distância entre o Sol e o nosso planeta.
Crédito: Roberto Molar Candanosa e Scott Sheppard, cortesia do Instituto Carnegie para Ciência
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Imagens da descoberta de 2015 TG387, captadas pelo telescópio Subaru de 8 metros em Mauna Kea, Hawaii, no dia 13 de outubro de 2015 (topo). As imagens foram obtidas com 3 horas de diferença. 2015 TG387 pode ser visto a mover-se entre imagens perto do centro, enquanto as mais distantes estrelas e galáxias de fundo permanecem estacionárias.
Crédito: Scott Sheppard
Impressão de artista de um distante Planeta X, que pode estar a moldar as órbitas de objetos mais pequenos do Sistema Solar extremamente distantes como 2015 TG387, descoberto por uma equipa de astrónomos.
Crédito: Roberto Molar Candanosa e Scott Sheppard, cortesia do Instituto Carnegie para Ciência
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