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ESTUDO REVELA DETALHES DO "ASTEROIDE DA BOLA DE GOLFE"
14 de fevereiro de 2020

 


Duas imagens do asteroide Pallas, que os investigadores determinaram ser o objeto mais craterado na cintura de asteroides.
Crédito: Marsset, et al.

 

Os asteroides têm inúmeras formas e tamanhos, e agora astrónomos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) observaram um asteroide com tantas crateras que o apelidaram de "asteroide da bola de golfe".

O asteroide é chamado Pallas, em homenagem à deusa grega da sabedoria, e foi originalmente descoberto em 1802. Pallas é o terceiro maior objeto na cintura de asteroides e tem cerca de um-sétimo do tamanho da Lua. Durante séculos, os astrónomos notaram que o asteroide orbita ao longo de um percurso significativamente inclinado em comparação com a maioria dos objetos na cintura de asteroides, embora o motivo da sua inclinação permaneça um mistério.

Num artigo publicado na revista Nature Astronomy, investigadores revelam pela primeira vez imagens detalhadas de Pallas, incluindo da sua superfície altamente craterada.

Os cientistas suspeitam que a superfície craterada de Pallas é resultado da órbita inclinada do asteroide: enquanto a maioria dos objetos na cintura de asteroides viaja mais ou menos ao longo do mesmo percurso em torno do Sol, tal como carros numa pista de corrida, a órbita inclinada de Pallas é tal que o asteroide precisa de abrir caminho através da cintura de asteroides num ângulo. Quaisquer colisões que Pallas sofra ao longo deste percurso seriam cerca de quatro vezes mais prejudiciais do que colisões entre dois asteroides na mesma órbita.

"A órbita de Pallas implica impactos a uma velocidade muito alta," diz Michaël Marsset, autor principal do artigo e pós-doc no Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT. "A partir destas imagens, podemos dizer agora que Pallas é o objeto mais craterado que conhecemos na cintura de asteroides. É como descobrir um novo mundo."

Os coautores de Marsset incluem colaboradores de 21 instituições de pesquisa em todo o mundo.

"Uma história violenta"

A equipa, liderada pelo investigador principal Pierre Vernazza do Laboratório de Astrofísica de Marselha, na França, obteve imagens de Pallas usando o instrumento SPHERE no VLT (Very Large Telescope) do ESO, um conjunto de quatro telescópios, cada um com um espelho de 8 metros, situados nas montanhas do Chile. Em 2017, e novamente em 2019, Marsset e colegas reservaram um dos quatro telescópios vários dias de cada vez para ver se podiam capturar imagens de Pallas no ponto orbital mais próximo da Terra.

A equipa obteve 11 séries de imagens ao longo de duas campanhas de observação, capturando Pallas a partir de diferentes ângulos enquanto girava. Depois de compilarem as imagens, os investigadores criaram uma reconstrução 3D da forma do asteroide, juntamente com um mapa de crateras dos seus polos, juntamente com partes da sua região equatorial.

Ao todo, identificaram 36 crateras maiores do que 30 km em diâmetro - cerca de um-quinto do diâmetro da cratera Chicxulub da Terra, cujo impacto original provavelmente matou os dinossauros há 65 milhões de anos. As crateras de Pallas parecem cobrir pelo menos 10% da superfície do asteroide, o que é "sugestivo de uma violenta história colisional," como afirmam os cientistas no seu artigo científico.

Para ver quão violenta a história provavelmente foi, a equipa executou uma série de simulações de Pallas e das suas interações com a restante cintura de asteroides ao longo dos últimos 4 mil milhões de anos - quase a idade do Sistema Solar. Fizeram o mesmo para Ceres e Vesta, tendo em consideração o tamanho, massa e propriedades orbitais de cada asteroide, bem como as distribuições de velocidade e tamanho de objetos dentro da cintura de asteroides. Registaram cada vez que uma colisão simulada produzia uma cratera, em Pallas, Ceres ou Vesta, com pelo menos 40 km de largura (o tamanho da maioria das crateras que observaram em Pallas).

Descobriram que uma cratera com 40 quilómetros em Pallas podia ser criada a partir de uma colisão com um objeto muito mais pequeno em comparação com uma cratera do mesmo tamanho em Ceres ou Vesta. Dado que os asteroides pequenos são muito mais numerosos, na cintura de asteroides, do que os maiores, isso implica que Pallas tem uma maior probabilidade de sofrer impactos de alta velocidade do que os outros dois asteroides.

"Pallas teve duas a três vezes mais colisões do que Ceres ou Vesta, e a sua órbita inclinada é uma explicação direta para a superfície muito estranha que não vemos nos outros dois asteroides," acrescentou Marsset.

Uma família fragmentada

Os investigadores fizeram duas descobertas adicionais graças às suas imagens: uma mancha curiosamente brilhante no hemisfério sul do asteroide e uma bacia de impacto extremamente grande ao longo do equador do asteroide.

Para esta última descoberta, a equipa procurou explicações para o que pode ter provocado um impacto tão grande, estimado em cerca de 400 km de diâmetro.

Simularam vários impactos ao longo do equador e também rastrearam os fragmentos que provavelmente foram lançados para o espaço, a partir da superfície de Pallas, como resultado de cada impacto.

A partir das suas simulações, a equipa conclui que a grande bacia de impacto foi provavelmente o resultado de uma colisão há cerca de 1,7 mil milhões de anos, por um objeto com 20 a 40 km, que posteriormente ejetou pedaços do asteroide para o espaço, num padrão que efetivamente combina com uma família de fragmentos que se sabe seguirem Pallas.

"Esta característica no equador pode muito bem estar relacionada com a atual família de fragmentos de Pallas," diz o coautor Miroslav Brož, do Instituto Astronómico da Universidade Charles em Praga.

Quanto à mancha brilhante descoberta no hemisfério sul de Pallas, os investigadores ainda não sabem o que poderá ser. A sua teoria principal é que a região pode ser um depósito muito grande de sal. A partir da sua reconstrução tridimensional do asteroide, os investigadores estimaram o volume de Pallas e, em combinação com a sua massa conhecida, calculam que a sua densidade é diferente da de Ceres ou Vesta e que provavelmente se formou originalmente a partir de uma mistura de água gelada e silicatos. Com o tempo, à medida que o gelo no interior do asteroide derretia, provavelmente hidratou os silicatos, formando depósitos de sal que podem ter ficado expostos após um impacto.

Uma evidência que suporta esta hipótese pode vir de mais perto da Terra. Durante cada mês de dezembro, os observadores podem ver uma exibição deslumbrante conhecida como Gemínidas - uma chuva de meteoros que são fragmentos do asteroide Phaethon, ele próprio considerado um fragmento de Pallas que escapou e eventualmente chegou à órbita da Terra. Os astrónomos há muito tempo que observam uma variedade de conteúdo de sódio nos meteoros das Gemínidas, que Marsset e colegas agora pensam que podem ter tido origem nos depósitos de sal de Pallas.

"Já foram propostas missões a Pallas com satélites muito pequenos e baratos," realça Marsset. "Não sei se podem vir a acontecer, mas poderiam dizer-nos mais sobre a superfície de Pallas e sobre a origem da mancha brilhante."

 


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// MIT News (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)

Saiba mais

Notícias relacionadas:
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Universe Today
PHYSORG
ZAP.aeiou

Pallas:
Wikipedia

Ceres:
Wikipedia

Vesta:
Wikipedia

VLT:
Página oficial
Wikipedia

ESO:
Página oficial
Wikipedia

 
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