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VÉNUS PODIA SER HABITÁVEL HOJE, SE NÃO FOSSE JÚPITER
2 de outubro de 2020

 


Imagem mais recente de Júpiter pelo Hubble, obtida no dia de 25 de agosto de 2020, quando o planeta estava a 653 milhões de quilómetros da Terra.
Crédito: NASA, ESA, A. Simon (Centro de Voo Espacial Goddard), M. H. Wong (Universidade da Califórnia em Berkeley) e equipa OPAL

 

De acordo com uma nova investigação da Universidade da Califórnia em Riverside, Vénus poderia não ser uma paisagem infernal sufocante e sem água hoje, caso Júpiter não tivesse alterado a sua órbita em torno do Sol.

Júpiter tem uma massa duas vezes e meia a de todos os outros planetas do nosso Sistema Solar - combinados. Por ser comparativamente gigantesco, tem a capacidade de perturbar as órbitas dos outros planetas.

No início da formação de Júpiter como planeta, moveu-se para mais perto e depois para longe do Sol, devido às interações com o disco a partir do qual os planetas se formam, bem como os outros planetas gigantes. Este movimento, por sua vez, afetou Vénus.

As observações de outros sistemas planetários mostraram que as migrações de planetas gigantes semelhantes, logo após a formação, podem ser uma ocorrência relativamente comum. Estes são alguns dos achados de um novo estudo publicado na revista The Planetary Science Journal.

Os cientistas consideram os planetas sem água líquida incapazes de hospedar vida como a conhecemos. Embora Vénus possa ter perdido um pouco de água no início por outras razões, e pode ter continuado a perder de qualquer maneira, o astrobiólogo Stephen Kane, da Universidade da Califórnia em Riverside, disse que o movimento de Júpiter provavelmente colocou Vénus numa jornada em direção ao seu estado atual e inóspito.

"Uma das coisas mais interessantes sobre o planeta Vénus de hoje é que a sua órbita é quase perfeitamente circular," disse Kane, que liderou o estudo. "Com este projeto, eu queria explorar se a órbita sempre foi circular e, em caso negativo, quais seriam as implicações?"

Para responder a estas perguntas, Kane criou um modelo que simulou o Sistema Solar, calculando a localização de todos os planetas a qualquer momento e como eles se atraem em diferentes direções.

Os cientistas medem o quão não circular a órbita de um planeta está entre 0, que é completamente circular, e 1, que não é de todo circular. O número entre 0 e 1 é chamado de excentricidade da órbita. Uma órbita com uma excentricidade de 1 nem completaria sequer uma órbita em torno de uma estrela; seria simplesmente lançado para o espaço, disse Kane.

Atualmente, a órbita de Vénus tem uma excentricidade de 0,006, a mais circular de qualquer planeta no nosso Sistema Solar. No entanto, o modelo de Kane mostra que quando Júpiter estava provavelmente mais perto do Sol, há cerca de mil milhões de anos, Vénus tinha provavelmente uma excentricidade de 0,3, e há uma probabilidade muito maior que fosse à altura habitável.

"À medida que Júpiter migrava, Vénus passaria por mudanças dramáticas no clima, aquecendo e depois arrefecendo, perdendo cada vez mais da sua água para a atmosfera," disse Kane.

Recentemente, os cientistas geraram muito entusiasmo ao descobrir um gás nas nuvens acima de vénus, gás este que pode indicar a presença de vida. O gás, fosfina, é tipicamente produzido por micróbios, e Kane diz que é possível que o gás represente "a última espécie sobrevivente num planeta que passou por uma mudança dramática no seu ambiente."

Para que fosse esse o caso, no entanto, Kane, realça que os micróbios teriam que sustentar a sua presença nas nuvens de ácido sulfúrico acima de Vénus durante aproximadamente mil milhões de anos desde que Vénus teve água líquida na superfície - um cenário difícil de imaginar, embora não impossível.

"Provavelmente, existem muitos outros processos que poderiam produzir o gás e que ainda não foram explorados," disse Kane.

Em última análise, Kane diz que é importante entender o que aconteceu com Vénus, um planeta que já foi habitável e que agora tem temperaturas superiores a 400º C.

"Eu concentro-me nas diferenças entre Vénus e a Terra, e no que se passou com Vénus, para que possamos ter uma visão sobre como a Terra é habitável, e o que podemos fazer para tomar conta deste planeta da melhor maneira que conseguirmos," concluiu Kane.

 


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Animação que mostra as excentricidades das órbitas dos planetas interiores, e ilustra quão circular é a órbita de Vénus.
Crédito: ChongChong He


// UC Riverside (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Planetary Science Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

Saiba mais

Formação e evolução do Sistema Solar:
Wikipedia

Vénus:
CCVAlg - Astronomia 
Wikipedia

Júpiter:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia

 
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