ESTUDO MOSTRA A DIFICULDADE EM ENCONTRAR EVIDÊNCIAS DE VIDA EM MARTE 10 de novembro de 2020
O rover Perseverance da NASA, visto aqui nesta impressão de artista, vai aterrar da Cratera Jezero de Marte em fevereiro de 2021 e começar a recolher amostras de solo pouco depois. Os cientistas estão agora preocupados que os fluidos ácidos, que já existiram em Marte, podem ter destruído evidências de vida contida em argilas.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
Daqui a pouco mais de uma década, amostras de solo marciano escavado por um rover serão enviadas para a Terra.
Enquanto os cientistas estão ansiosos por estudar os solos do Planeta Vermelho em busca de sinais de vida, os investigadores devem refletir sobre um novo desafio considerável: os fluídos ácidos - que antes corriam à superfície marciana - podem ter destruído evidências biológicas escondidas nas argilas ricas em ferro de Marte, de acordo com investigadores de Cornell e do Centro de Astrobiologia de Espanha.
Os cientistas realizaram simulações envolvendo argilas e aminoácidos para tirar conclusões sobre a provável degradação do material biológico em Marte. O seu artigo foi publicado no passado dia 15 de setembro na revista Nature Scientific Reports.
Alberto G. Fairén, cientista visitante do Departamento de Astronomia da Faculdade de Artes e Ciências, é um autor correspondente.
O rover Perseverance da NASA, lançado a 30 de julho, vai pousar na Cratera Jezero de Marte no próximo mês de fevereiro; o rover Rosalind Franklin da ESA será lançado no final de 2022. A missão Perseverance irá recolher amostras de solo marciano e enviá-las para a Terra até à década de 2030. O rover Rosalind Franklin vai perfurar a superfície de Marte, recolher amostras de solo e analisá-las "in situ".
Na busca por vida em Marte, os solos da superfície argilosa do Planeta Vermelho são um alvo preferido para recolha, uma vez que a argila protege o material orgânico molecular no seu interior. No entanto, a presença anterior de ácido à superfície pode ter comprometido a capacidade da argila em proteger as evidências de vida passada.
"Sabemos que os fluidos ácidos correram à superfície de Marte no passado, alterando as argilas e a sua capacidade de proteger material orgânico," disse Fairén.
Ele disse que a estrutura interna da argila é organizada em camadas, onde as evidências de vida biológica - como lípidos, ácidos nucleicos, péptidos e outros biopolímeros - podem ficar presas e bem preservadas.
No laboratório, os investigadores simularam as condições da superfície marciana com o objetivo de preservar um aminoácido chamado glicina na argila, que havia sido previamente exposto a fluidos ácidos. "Usámos a glicina porque pode degradar-se rapidamente sob as condições ambientais do planeta," disse. "É um perfeito informante para nos dizer o que estava a acontecer nas nossas experiências."
Após uma longa exposição a radiação ultravioleta semelhante à de Marte, as experiências mostraram fotodegradação das moléculas de glicina embutidas na argila. A exposição a fluidos ácidos apaga o espaço entre as camadas, tornando-a numa sílica semelhante a gel.
"Quando as argilas são expostas a fluidos ácidos, as camadas colapsam e a matéria orgânica não pode ser preservada. São destruídas," disse Fairén. "Os nossos resultados neste artigo explicam porque investigar compostos orgânicos em Marte é tão difícil."
A autora principal do artigo é Carolina Gil-Lozano do Centro de Astrobiologia de Madrid e da Universidade de Vigo, Espanha.
O rover Rosalind Franklin da ESA, com lançamento previsto para o final de 2022. A sonda ExoMars TGO (Trace Gas Orbiter), em Marte desde outubro de 2016, vai agir como relé de comunicações para a missão. Crédito: ESA/ATG medialab