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O "MAU TEMPO" ESPACIAL PODE IMPOSSIBILITAR VIDA EM PROXIMA CENTAURI B
11 de dezembro de 2020

 


Cinco das 36 antenas do ASKAP com uma vista da Via Láctea. O Cruzeiro do Sul e as estrelas guia são visíveis logo acima da antena central da imagem.
Crédito: CSIRO/Alex Cherney

 

Se olhar para o céu do hemisfério sul poderá ver as estrelas "guia" que apontam para a constelação do Cruzeiro do Sul. Uma destas guias é Alpha Centauri, que é na verdade um par de estrelas parecidas com o Sol que estão demasiado próximas uma da outra para serem distinguíveis à vista desarmada.

O sistema Alpha Centauri também tem um terceiro membro estelar: Proxima Centauri, que orbita as duas estrelas centrais num percurso muito largo. Esta é a vizinha mais próxima do Sol, a uma distância de apenas 4,2 anos-luz.

É possível que um dos planetas de Proxima Centauri seja adequado para a vida. No entanto, recentemente foi detetada em Proxima Centauri a assinatura de um clima espacial violento, o que implica que um planeta em órbita pode ser atingido por perigosas partículas e campos magnéticos.

A nossa vizinha não é como o Sol

O nosso Sol é uma estrela anã amarela relativamente vulgar, hospedando o único planeta com vida conhecido no Universo: a nossa Terra.

Proxima Centauri é muito diferente. É uma estrela anã vermelha, com um apenas 15% do diâmetro do Sol, e uma temperatura à superfície de 3000 K, muito mais fria do que os 6000 K do Sol.

Dado que Proxima Centauri é relativamente fria, a sua zona habitável - onde a temperatura é ideal para a existência de água líquida à superfície de um planeta rochoso - corresponde a cerca de 1/20 da distância Terra-Sol. Existe um grande interesse em planetas na zona habitável de uma estrela porque a água líquida é necessária para a vida como a conhecemos.

Sabemos que Proxima Centauri tem pelo menos dois planetas: Proxima Centauri b, uma "super-Terra" rochosa localizada no meio da zona habitável, e Proxima Centauri c, um "sub-Neptuno" localizado mais longe.

Durante anos, os astrónomos suspeitaram que planetas como Proxima Centauri b pudessem ser um lugar perigoso para a vida porque estão demasiado perto das suas estrelas hospedeiras. Muitas anãs vermelhas produzem erupções frequentes e poderosas - surtos intensos de radiação que viajam para o espaço. Caso planetas como Proxima Centauri b não tenham características protetoras, como uma densa atmosfera ou um forte campo magnético, são expostos a níveis perigosos de radiação.

Mas como é o clima em torno destas estrelas?

O "clima espacial" das anãs vermelhas é outro fator importante para determinar o quão hospitaleiras são para a vida. Embora as proeminências envolvam intensas explosões de luz, os eventos do clima espacial significam que o campo magnético e as partículas carregadas da estrela podem interagir diretamente com os planetas.

Os eventos mais energéticos do clima espacial são conhecidos como ejeções de massa coronal (ou EMCs). Estas erupções massivas escapam da atmosfera de uma estrela e viajam pelo espaço a milhões de quilómetros por hora.

Se as condições do clima espacial forem suficientemente extremas, a atmosfera planetária pode ser destruída e o seu campo magnético empurrado para trás, deixando a superfície exposta a uma mortal radiação estelar.

Desde a década de 1970 que são detetadas EMCs em torno do Sol, mas a deteção de eventos do clima espacial em torno de estrelas distantes é muito mais difícil.

Para atualizações sobre o clima, sintonize o rádio

As EMCs do Sol produzem surtos característicos de ruído no rádio, como rajadas do "tipo II" e "tipo IV". Ao detetarmos assinaturas semelhantes noutras estrelas, podemos identificar indiretamente EMCs estelares.

No início de 2019, uma equipa da Universidade de Sydney apontou os seus telescópios a Proxima Centauri durante 11 noites. Usaram o novo radiotelescópio ASKAP (Australian Square Kilometre Array Pathfinder) da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), bem como o Telescópio Zadko, o Telescópio ANU de 2,3 metros e o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA.

O seu objetivo era detetar a assinatura de uma EMC.

Na noite de 2 de maio de 2019, observaram uma grande proeminência ótica com uma produção total de energia estimada em 16 quadriliões de joules. No Sol, erupções assim tão grandes ocorrem apenas uma vez a cada 10 ou 20 anos. Mas em Proxima Centauri, ocorrem a cada poucas semanas.

Usando o ASKAP, os cientistas observaram uma sequência espetacular de intensos surtos de rádio.

Com os detalhes surpreendentes revelados com o ASKAP, puderam ver que haviam detetado até agora o melhor exemplo de uma explosão parecida à do tipo solar IV, noutra estrela.

Esta rajada de ondas rádio indica que o clima espacial em torno de Proxima Centauri é bastante violento.

"Uma só andorinha não faz o verão"

Em 1859, os astrónomos britânicos Richard Carrington e Richard Hodgson fizeram as primeiras observações de uma proeminência solar, que foi seguida por uma enorme tempestade espacial chamada "Evento Carrington". Sabemos agora que a tempestade foi provocada por uma grande ejeção de massa coronal que atingiu a Terra.

Carrington notou a coincidência entre estes eventos extraordinários, mas foi cauteloso ao fazer qualquer ligação entre eles, famosamente afirmando que "uma só andorinha não faz o verão". Os investigadores encontram-se agora numa situação idêntica à de Carrington.

Observaram uma assinatura de um surto de rádio que implica uma EMC de Proxima Centauri. Mas para confirmar a relação destes surtos estelares de rádio com as EMCs, precisam de obter informações noutros comprimentos de onda. Assim que o puderem fazer, saberemos exatamente quão perigoso é viver ao lado de uma estrela como Proxima Centauri.

 


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Uma sequência de poderosas ejeções de massa coronal do Sol, observadas pela SOHO (Solar and Heliospheric Observatory) da ESA/NASA. O Sol está localizado por trás do círculo central.
Crédito: ESA/NASA/SOHO


Dados óticos e no rádio obtidos na noite de 2 de maio de 2019. O painel do topo mostra o "espectro dinâmico" do ASKAP, que mostra como a intensidade varia com a frequência de rádio e com o tempo. O painel de baixo mostra dados de telescópios óticos, revelando uma poderosa explosão de radiação. Quando combinados, a ocorrência de poderosos surtos rádio associados a atividades de proeminências torna-se clara.
Crédito: Andrew Zic/Universidade de Sydney/CSIRO


// Universidade de Sydney (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)
// Artigo científico (arXiv.org)

Saiba mais

Notícias relacionadas:
astrobiology web
science alert
PHYSORG
ScienceDaily
Gizmodo

Alpha Centauri:
Wikipedia

Proxima Centauri:
Wikipedia

Clima espacial:
Wikipedia

Ejeção de massa coronal (EMC):
Wikipedia

Proxima b:
Exoplanet.eu
Wikipedia

Proxima c:
Exoplanet.eu

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

ASKAP:
ATNF
CSIRO
Wikipedia

Telescópio Zadko:
Universidade da Austrália Ocidental
Wikipedia

Telescópio ANU de 2,3 metros:
Universidade Nacional Australiana
Wikipedia

TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite):
NASA
NASA/Goddard
Programa de Investigadores do TESS (HEASARC da NASA)
MAST (Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais)
Exoplanetas descobertos pelo TESS (NASA Exoplanet Archive)
Wikipedia

 
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