CONFIRMADA A ÓRBITA DO OBJETO MAIS DISTANTE JÁ OBSERVADO NO NOSSO SISTEMA SOLAR 12 de fevereiro de 2021
Distâncias do Sistema Solar à escala, mostrando o recém-descoberto planetoide, que tem a alcunha "Farfarout", em comparação com outros objetos conhecidos do Sistema Solar, incluindo o anterior detentor do recorde, 2018 VG18 (Farout), também descoberto pela mesma equipa.
Crédito: Roberto Molar Candanosa, Scott S. Sheppard (Instituição Carnegie para Ciência) e Brooks Bays (Universidade do Hawaii)
Uma equipa de astrónomos, incluindo o professor associado Chad Trujillo do Departamento de Astronomia e Ciência Planetária da Universidade do Norte do Arizona, confirmou um planetoide que está quase quatro vezes mais distante do Sol do que Plutão, tornando-o o objeto mais distante já observado no nosso Sistema Solar. O planetoide, apelidado "Farfarout," foi detetado pela primeira vez em 2018, e a sua equipa já recolheu observações suficientes para definir a sua órbita. O Centro de Planetas Menores já lhe deu a designação oficial de 2018 AG37.
A alcunha Farfarout distinguia-o do detentor do recorde anterior "Farout", descoberto pela mesma equipa de astrónomos em 2018. Além de Trujillo, a equipa inclui Scott S. Sheppard da Instituição Carnegie para Ciência e David Tholen do Instituto para Astronomia da Universidade do Hawaii, que está a realizar um levantamento para mapear o Sistema Solar exterior para lá de Plutão.
Farfarout receberá um nome oficial (como Sedna e outros objetos semelhantes) depois da sua órbita ser melhor determinada ao longo dos próximos anos. Foi descoberto com o telescópio Subaru de 8 metros localizado no topo do Maunakea, no Hawaii, e recuperado usando os telescópios Gemini Norte e Magellan nos últimos anos para determinar a sua órbita com base no seu lento movimento pelo céu.
A distância média de Farfarout ao Sol é de 132 unidades astronómicas (UA para abreviar; uma UA é a distância Terra-Sol, 150 milhões de quilómetros). Para comparação, Plutão fica a 39 UA do Sol. O objeto recém-descoberto tem uma órbita alongada que o leva a 175 UA no afélio (ponto orbital mais distante do Sol), e para dentro da órbita de Neptuno, a cerca de 27 UA, quando está no periélio (ponto orbital mais próximo do Sol).
A jornada de Farfarout em torno do Sol leva cerca de mil anos, cruzando a órbita do planeta gigante Neptuno. Isto significa que Farfarout provavelmente sofreu fortes interações gravitacionais com Neptuno ao longo da idade do Sistema Solar, e é a razão pela qual tem uma órbita tão grande e alongada.
"Uma única órbita de Farfarout em torno do Sol leva um milénio," disse Tholen. "Por causa desta longa órbita, move-se muito lentamente pelo céu, exigindo vários anos de observações para determinar com precisão a sua trajetória."
Farfarout é muito ténue, e com base no seu brilho e distância do Sol, a equipa estima que tenha aproximadamente 400 km em diâmetro, colocando-o na extremidade inferior da classificação de planeta anão, assumindo que é um objeto rico em gelo.
"A descoberta de Farfarout mostra a nossa crescente capacidade de mapear o Sistema Solar exterior e de observar cada vez mais longe em direção à fronteira do nosso Sistema Solar," disse Sheppard. "Somente com os avanços nos últimos anos de grandes câmaras digitais em telescópios muito grandes foi possível descobrir com eficácia objetos muitos distantes como Farfarout. Embora alguns destes objetos distantes sejam bastante grandes, sendo planetas anões em tamanho, são muito ténues por causa das suas distâncias extremas ao Sol. Farfarout é apenas a ponta do iceberg dos objetos do Sistema Solar muito distante."
Dado que Neptuno interage fortemente com Farfarout, a órbita e o movimento de Farfarout não podem ser usados para determinar a existência de outro planeta massivo no Sistema Solar muito distante, uma vez que estas interações dominam a dinâmica orbital de Farfarout. Apenas aqueles objetos cujas órbitas ficam no Sistema Solar muito distante, bem para lá da influência de Neptuno, podem ser usados para sondar por sinais de um planeta massivo desconhecido. Estes incluem Sedna e 2012 VP113 que, embora estejam atualmente mais perto do Sol do que Farfarout (à volta de 80 UA), nunca se aproximam de Neptuno e, portanto, seriam fortemente influenciados ao invés pelo possível Planeta X.
"A dinâmica orbital de Farfarout pode ajudar-nos a entender como Neptuno se formou e evoluiu, já que Farfarout foi provavelmente lançado para o Sistema Solar exterior por ter passado demasiado perto de Neptuno no passado distante," disse Trujillo. "Farfarout provavelmente vai interagir fortemente com Neptuno de novo, uma vez que as suas órbitas continuam a intersectar-se."
Animação que alterna entre duas imagens de Farfarout, que realçam o seu movimento. Foram obtidas pelo Telescópio Subaru nas noites de 15 e 16 de janeiro de 2018.
Crédito: Scott S. Sheppard/Instituição Carnegie para Ciência