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  Astroboletim #1687  
  08/05 a 11/05/2020  
     
 
Efemérides

Dia 08/05: 129.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1962, era lançado o primeiro foguetão Atlas Centauro.

Observações: A Lua nasce a este-sudeste pelas 22 horas. Assim que estiver razoavelmente alta, olhe para a sua direita ou para baixo e para a direita de Antares, de pálido tom alaranjado. Em torno desta estrela e para cima e para a sua direita, estão as estrelas mais esbranquiçadas da parte superior de Escorpião.

Dia 09/05: 130.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1971, lançamento da Mariner 8.

Tinha como objetivo entrar em órbita de Marte e enviar imagens e dados, mas o veículo de lançamento falhou e nem conseguiu alcançar órbita terrestre.
Observações: O verão ainda está a seis semanas de distância, mas o Triângulo de Verão já começa a aparecer a este, uma estrela após outra. A primeira a subir acima do horizonte é Vega. Já é visível baixa a nordeste ao anoitecer. Depois segue-se Deneb, para baixo e para a esquerda de Vega, a dois ou três punhos à distância do braço esticado. Deneb aparece cerca de uma hora depois de Vega, dependendo da latitude do observador. A terceira é Altair, que se torna visível bem para baixo e para a direita por volta da meia-noite.

Dia 10/05: 131.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 28 AC, era observada uma mancha solar por astrónomos da Dinastia Han, durante o reinado do Imperador Cheng de Han, uma das mais antigas observações de manchas solares na China.
Em 1900 nascia Cecilia Helena Payne-Gaposchkin

Descobriu a composição química das estrelas e que o hidrogénio e hélio são os seus elementos mais abundantes e, por isso, também do Universo. Em 1976 recebeu o prestigiado Prémio Henry Norris Russell da Sociedade Astronómica Americana.
Em 1930, nascia George E. Smith, físico americano, coinventor da CCD
Em 1946, primeiro lançamento bem sucedido de um foguetão V-2 nos EUA. 
Em 1971 era lançada a Kosmos 419 (USSR). Não conseguiu sair da órbita da Terra.
Observações: Durante estas noites de primavera, a longa mas ténue serpente marinha, Hidra, desliza pelo céu a sul. Encontre a sua cabeça, um asterismo bem fraco com aproximadamente o tamanho do polegar à distância do braço esticado, para sudoeste (está para baixo e para a direita de Régulo, a cerca de dois punhos à distância do braço esticado. Também, uma linha de Castor, passando por Pollux, aponta para lá a cerca de 2,5 punhos à distância do braço esticado). Para baixo e para a esquerda está o coração de Hidra, a alaranjada Alphard. A cauda de Hidra estica-se até Balança a sudeste. O padrão atual de Hidra, desde a cabeça até à ponta da cauda, mede 95º.

Dia 11/05: 132.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1918 nascia Richard Feynman que, em conjunto com Julian Schwinger e Sin-Itiro Tomonaga, ganhou o prémio Nobel da Física pelo seu trabalho sobre electrodinâmica quântica. Também trabalhou na investigação do desastre do vaivém Challenger.
Em 1916 morria Karl Schwarzschild.

Usando a teoria da gravitação de Einstein, que descreve a forma como o espaço-tempo é curvado pela matéria, explica que quando uma estrela se contrai, existe um ponto em que a sua gravidade é tão forte que nem a luz pode escapar, o agora famoso buraco negro. Este ponto é conhecido como o raio de Schwarzchild e é igual à massa do objecto multiplicada pelo dobro da constante da gravidade e dividida pela velocidade da luz ao quadrado.
Observações: Antes do amanhecer, vire-se para sul-sudeste e observe a Lua. Encontra-se por entre as estrelas de Sagitário. Para a sua direita está a constelação de Escorpião. Para a esquerda da Lua temos os planetas Júpiter e Saturno que, daqui a algum tempo, vão começar a "dar o seu espetáculo" durante as noites de verão. Seguindo a linha formado pelo nosso satélite natural e pelos dois planetas, chega mais ou menos a Marte, que está muito baixo no céu a este-sudeste, entre as constelações de Capricórnio e Aquário.

 
     
 
Curiosidades


O administrador da NASA, Jim Bridenstine, confirmou recentemente que existem planos para, juntamente com a SpaceX de Elon Musk, a criação de um filme a bordo da Estação Espacial Internacional protagonizado pelo famoso ator Tom Cruise. Ainda sem estúdios envolvidos e janela de estreia, esta será, em princípio, a primeira longa-metragem de ficção a ser filmada no espaço. O ator Tom Cruise já tem alguma experiência neste tipo de ambiente, pois já filmou anteriormente cenas de ação em microgravidade, mas a bordo de um avião que replica o efeito de gravidade zero.

 
 
   
Instrumento do ESO descobre o buraco negro mais próximo da Terra
 
Esta imagem artística mostra as órbitas dos objetos no sistema estelar triplo HR 6819. Este sistema é composto por um binário interior com uma estrela (órbita a azul) e um buraco negro recentemente descoberto (órbita a vermelho), assim como por um terceiro objeto, outra estrela, numa órbita mais alargada (também a azul).
A equipa pensava originalmente que existiam apenas duas estrelas neste sistema. No entanto, quando analisaram as observações, os cientistas ficaram espantados ao revelar um terceiro objeto anteriormente desconhecido em HR 6819: um buraco negro, o mais próximo da Terra descoberto até à data. O buraco negro é invisível, mas torna a sua presença conhecida através da atração gravitacional que exerce na órbita da estrela luminosa interior. Os objetos deste par interior têm aproximadamente a mesma massa e órbitas circulares.
As observações levadas a cabo com o espectrógrafo FEROS montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros em La Silla mostraram que a estrela visível interior orbita o buraco negro a cada 40 dias, enquanto a segunda estrela se encontra a maior distância do par mais interior.
Crédito: ESO/L. Calçada
 

Uma equipa de astrónomos do ESO (Observatório Europeu do Sul) e de outras instituições descobriu um buraco negro situado a apenas 1000 anos-luz de distância da Terra. Este objeto encontra-se mais próximo do nosso Sistema Solar do que qualquer outro encontrado até à data e pertence a um sistema triplo que pode ser visto a olho nu. A equipa descobriu evidências do objeto invisível ao seguir as suas duas estrelas companheiras com o telescópio MPG/ESO de 2,2 metros situado no Observatório de La Silla do ESO. Os cientistas dizem que este sistema pode ser apenas a ponta do iceberg, já que muitos outros buracos negros semelhantes poderão ser descobertos no futuro.

"Ficámos bastante surpreendidos quando compreendemos que este é o primeiro sistema estelar com um buraco negro que podemos observar a olho nu," disse Petr Hadrava, cientista emérito da Academia de Ciências da República Checa em Praga e coautor deste trabalho. Situado na constelação do Telescópio, o sistema encontra-se tão perto de nós que as suas estrelas podem ser vistas a partir do hemisfério sul numa noite escura e limpa sem binóculos ou telescópio. "Este sistema contém o buraco negro mais próximo da Terra que conhecemos", disse Thomas Rivinius, cientista do ESO que liderou o estudo publicado na revista da especialidade Astronomy & Astrophysics.

 
Esta imagem de grande angular mostra a região do céu, na constelação do Telescópio, onde se situa HR 6819, um sistema triplo composto por duas estrelas e o buraco negro mais próximo da Terra descoberto até à data. Esta imagem foi criada a partir de dados do DSS2 (Digitized Sky Survey 2). Apesar do buraco negro ser invisível, as duas estrelas de HR 6819 podem ser vistas no hemisfério sul, numa noite escura e limpa, sem binóculos ou telescópio.
Crédito: ESO/DSS2. Reconhecimento: Davide De Martin
 

A equipa observou originalmente o sistema, chamado HR 6819, no âmbito de um estudo de sistemas estelares duplos. No entanto, ao analisar as observações, verificou que estas revelavam um terceiro corpo previamente desconhecido em HR 6819: um buraco negro. As observações levadas a cabo com o espectrógrafo FEROS montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros em La Silla mostraram que uma das duas estrelas visíveis orbita um objeto invisível com um período de 40 dias, enquanto a segunda estrela se encontra a maior distância do par mais interior.

Dietrich Baade, astrónomo emérito do ESO, em Garching, e coautor do estudo, explica: "As observações que levaram à determinação do período orbital de 40 dias tiveram que ser recolhidas ao longo de vários meses. Isto só foi possível graças ao serviço de observação pioneiro do ESO, no qual as observações são feitas por pessoal do ESO em prol dos cientistas que delas necessitam."

O buraco negro escondido em HR 6819 é um dos primeiros buracos negros estelares descoberto que não interage violentamente com o meio que o circunda e portanto parece ser verdadeiramente negro. Apesar disso, a equipa conseguiu detetar a sua presença e calcular a sua massa ao estudar a órbita da estrela do par interior. "Um objeto invisível com uma massa de pelo menos 4 vezes a massa do Sol, só pode ser um buraco negro," conclui Rivinius, que trabalha no Chile.

Até à data, os astrónomos descobriram apenas cerca de duas dúzias de buracos negros na nossa Galáxia, quase todos em interação violenta com o seu meio envolvente e dando provas da sua presença pela emissão de fortes raios-X. No entanto, os cientistas estimam que durante todo o tempo que a Via Láctea já viveu, muitas estrelas tenham colapsado sob a forma de buracos negros no final das suas vidas. A descoberta de um buraco negro silencioso e invisível no sistema HR 6819 fornece-nos pistas sobre onde possam estar escondidos muitos dos buracos negros da Via Láctea. "Devem haver centenas de milhões de buracos negros, mas nós apenas conhecemos alguns. Saber o que procurar dá-nos agora uma melhor oportunidade de os encontrar," disse Rivinius. Baade acrescenta que descobrir um buraco negro num sistema triplo tão próximo de nós indica que estamos apenas a ver "a ponta de um iceberg muito interessante."

Nesta altura, os astrónomos acreditam que esta descoberta pode ajudar já a compreender um segundo sistema. "Pensamos que outro sistema, chamado LB-1, possa também ser um sistema triplo deste tipo, apesar de necessitarmos de mais observações para ter a certeza," disse Marianne Heida, bolseira em pós-doutoramento no ESO e coautora do artigo que descreve estes resultados. "LB-1 encontra-se um pouco mais afastado da Terra mas ainda está bastante próximo em termos astronómicos, o que significa que provavelmente existem muitos destes sistemas. Encontrá-los e estudá-los dá-nos a oportunidade de aprender bastante sobre a formação e evolução das estrelas raras que começam as suas vidas com mais de cerca de 8 vezes a massa do Sol e terminam as suas vidas numa explosão de supernova, deixando como resto um buraco negro."

As descobertas de sistemas triplos com um par mais interno e uma estrela distante poderão também fornecer pistas sobre as fusões cósmicas violentas que libertam ondas gravitacionais suficientemente fortes para serem detetadas a partir da Terra. Alguns astrónomos acreditam que as fusões podem ocorrer em sistemas com configurações semelhantes a HR 6819 ou LB-1, mas onde o par interior seria constituído por dois buracos negros ou um buraco negro e uma estrela de neutrões. O objeto exterior mais distante poderia ter um impacto gravitacional no par interior de modo a dar origem a uma fusão e consequentemente à libertação de ondas gravitacionais. Apesar de terem apenas um buraco negro e nenhuma estrela de neutrões, os sistemas HR 6819 e LB-1 poderão ainda assim ajudar os cientistas a compreender como é que as colisões estelares podem ocorrer em sistemas estelares triplos.

// ESO (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Astronomy & Astrophysics)
// Artigo científico (PDF)
// ESOcast 220: Encontrado o buraco negro mais próximo da Terra (ESO via YouTube)

 


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HR 6819 (QV Telescopii):
Wikipedia

Buracos negros:
NASA
Wikipedia
Lista dos buracos negros mais próximos da Terra (Wikipedia)
LB-1 (Wikipedia)

Observatório La Silla:
ESO
Wikipedia

ESO:
Página oficial
Wikipedia

 
   
Vida pode sobreviver, e prosperar, num mundo de hidrogénio
 
Uma nova investigação sugere que a próxima geração de telescópios poderá procurar primeiro atmosferas de hidrogénio, já que o hidrogénio pode ser bioassinatura de vida viável e de fácil identificação.
Crédito: NASA/JPL
 

À medida que os telescópios de próxima geração "abrem os olhos", os astrónomos vão poder apontá-los para exoplanetas próximos, espiando as suas atmosferas para decifrar a sua composição e para procurar sinais de vida extraterrestre. Mas imagine se, nesta procura, encontrássemos realmente organismos alienígenas, mas não os conseguíssemos reconhecer como vida.

Essa é uma perspetiva que astrónomos como Sara Seager esperam evitar. Seager, professora de Ciências Planetárias, de Física e de Aeronáutica e Astronáutica do MIT (Massachusetts Institute of Technology), está a olhar para lá de uma visão da vida "centrada na Terra" e a lançar uma rede mais ampla para os tipos de ambientes que, além do nosso, podem realmente ser habitáveis.

Num artigo publicado na revista Nature Astronomy, ela e os seus colegas observaram em estudos de laboratório que os micróbios podem sobreviver e prosperar em atmosferas dominadas pelo hidrogénio - um ambiente muito diferente da atmosfera rica em azoto e oxigénio da Terra.

O hidrogénio é um gás muito mais leve do que o azoto ou oxigénio, e uma atmosfera rica em hidrogénio estender-se-ia muito mais num planeta rochoso. Podia, portanto, ser mais facilmente descoberto e estudado por telescópios poderosos, em comparação com planetas parecidos com a Terra e com atmosferas mais compactas.

Os resultados de Seager mostram que formas simples de vida podem habitar planetas com atmosferas ricas em hidrogénio, sugerindo que assim que os telescópios de próxima geração, como o Telescópio James Webb da NASA, entrem em operação, os astrónomos podem querer procurar primeiro exoplanetas dominados por hidrogénio no que toca a sinais de vida.

"O Universo permite uma grande diversidade de mundos habitáveis e confirmámos que certos organismos cá na Terra podem sobreviver em atmosferas ricas em hidrogénio," diz Seager. "Devemos definitivamente adicionar esses tipos de planetas ao menu de opções ao pensar na vida noutros mundos e tentar realmente encontrá-la."

Os coautores de Seager, também do MIT, são Jingcheng Huang, Janusz Petkowski e Mihkel Pajusalu.

Atmosfera em evolução

Na Terra primitiva, há milhares de milhões de anos, a atmosfera parecia bem diferente do ar que respiramos hoje. O planeta jovem ainda não possuía oxigénio e era composto por uma sopa de gases, incluindo dióxido de carbono, metano e uma pequena fração de hidrogénio. O gás hidrogénio permaneceu na atmosfera durante possivelmente milhares de milhões de anos, até ao que é conhecido como Grande Evento de Oxidação, e à acumulação gradual de oxigénio.

A pequena quantidade de hidrogénio que resta hoje é consumida por certas linhas antigas de microrganismos, incluindo metanógenos - organismos que vivem em climas extremos como por baixo de espessas camadas de gelo, ou no solo do deserto, e devoram hidrogénio, juntamente com dióxido de carbono, para produzir metano.

Os cientistas estudam rotineiramente a atividade dos metanógenos cultivados em laboratório com 80% de hidrogénio. Mas existem muito poucos estudos que exploram a tolerância de outros micróbios a ambientes ricos em hidrogénio.

"Queríamos demonstrar que a vida sobrevive e pode florescer numa atmosfera de hidrogénio," diz Seager.

Um recipiente com hidrogénio

A equipa estudou em laboratório a viabilidade de dois tipos de micróbios num ambiente de 100% hidrogénio. Os organismos que escolheram: a bactéria Escherichia coli, um simples procariota e a levedura, um eucariota mais complexo, que não havia sido estudado em ambientes dominados por hidrogénio.

Ambos os micróbios são organismos padrão que os cientistas estudam e caracterizam há muito tempo, o que ajudou os investigadores a desenhar a sua experiência e a compreender os seus resultados. Além disso, as bactérias E. coli e levedura podem sobreviver com e sem oxigénio - um benefício para os cientistas, pois podem preparar as suas experiências com qualquer organismo ao ar livre antes de os transferir para um ambiente rico em hidrogénio.

Nas suas experiências, cultivaram separadamente levedura e E. coli, e depois injetaram as culturas com os micróbios em recipientes separados, cheios com um "caldo" ou cultura rica em nutrientes com que os micróbios se podiam alimentar. Expeliram então o ar rico em oxigénio e encheram o espaço restante com um certo gás de interesse, como um gás constituído por 100% hidrogénio. Colocaram então os recipientes numa incubadora, onde foram agitados suave e continuamente para promover a mistura entre os micróbios e os nutrientes.

A cada hora, um membro da equipa recolhia amostras de cada recipiente e contava os micróbios vivos. Continuaram a recolher amostras até 80 horas. Os seus resultados representaram uma curva clássica de crescimento: no início da experiência, os micróbios cresceram rapidamente em número, alimentando-se dos nutrientes e povoando a cultura. Eventualmente, o número de micróbios atingiu um determinado limite. A população, ainda próspera, permaneceu estável, à medida que novos micróbios continuavam a crescer, substituindo os que morriam.

Seager reconhece que os biólogos não consideram os resultados surpreendentes. Afinal de contas, o hidrogénio é um gás inerte e, como tal, não é inerentemente tóxico para os organismos.

"Não é como se tivéssemos enchido o recipiente com veneno," diz Seager. "Mas é preciso ver para acreditar, certo? Se ninguém os tivesse estudado, especialmente os eucariontes, num ambiente dominado por hidrogénio, convinha fazer a experiência para acreditar."

Ela também deixa claro que a experiência não foi construída para mostrar se os micróbios podem depender do hidrogénio como fonte de energia. Ao invés, o objetivo era demonstrar que uma atmosfera de 100% hidrogénio não prejudicaria ou aniquilaria certas formas de vida.

"Eu não acho que ainda tinha ocorrido aos astrónomos que pode haver vida num ambiente de hidrogénio," diz Seager, que espera que o estudo incentive conversas cruzadas entre os astrónomos e os biólogos, particularmente à medida que a busca por planetas habitáveis, e vida extraterrestre, cresce.

Um mundo de hidrogénio

Os astrónomos ainda não são muito capazes de estudar a atmosfera de pequenos exoplanetas rochosos com as ferramentas hoje disponíveis. Os poucos planetas rochosos próximos que examinaram não possuem atmosfera ou podem simplesmente ser pequenos demais para a detetar com os telescópios atualmente disponíveis. E enquanto os cientistas levantaram a hipótese de que os planetas deveriam abrigar atmosferas ricas em hidrogénio, nenhum telescópio em funcionamento tem resolução suficiente para os identificar.

Mas se os observatórios de próxima geração realmente avistarem mundos terrestres dominados por hidrogénio, os resultados de Seager mostram que há uma hipótese de a vida aí prosperar.

Quanto ao potencial aspeto de um planeta rochoso rico em hidrogénio, Seager faz uma comparação com o pico mais alto da Terra, o Monte Evereste. Quaisquer caminhantes que tentem subir ao cume ficam sem ar, devido ao facto de que a densidade de todas as atmosferas diminui exponencialmente com a altura e com base na distância de queda da nossa atmosfera dominada pelo azoto e pelo oxigénio. Se um alpinista escalasse o Evereste numa atmosfera dominada pelo hidrogénio - um gás 14 vezes mais leve do que o azoto - este seria capaz de subir 14 vezes mais antes de ficar sem ar.

"É um tanto ou quanto difícil ter esta noção, mas esse gás leve torna a atmosfera mais extensa," explica Seager. "E para os telescópios, quanto maior a atmosfera em comparação com o fundo da estrela de um planeta, mais fácil será a sua deteção."

Se os cientistas alguma vez tiverem a oportunidade de recolher amostras de um planeta tão rico em hidrogénio, Seager imagina que possam descobrir uma superfície diferente, mas não irreconhecível da nossa.

"Estamos a imaginar que, se alguma vez chegarmos à superfície, essa provavelmente terá minerais ricos em hidrogénio em vez do que chamamos de minerais oxidados, e também oceanos, pois pensamos que toda a vida precisa de algum tipo de líquido, e provavelmente ainda poderíamos ver um céu azul," diz Seager. "Não pensámos em todo o ecossistema. Mas não precisa necessariamente de ser um mundo diferente."

// MIT News (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
PlanetQuest
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
ESA
Wikipedia

 
   
Astrónomos encontram bandas de nuvens, parecidas às de Júpiter, na anã castanha mais próxima
 
Impressão de artista da anã castanha Luhman 16A, na qual os astrónomos encontraram evidências de bandas de nuvens. O objeto vermelho no plano de fundo é Luhman 16B, a anã castanha gémea de Luhman 16A. É o sistema constituído por anãs castanhas mais próximo da Terra, a 6,5 anos-luz.
Crédito: Caltech/R. Hurt (IPAC)
 

Uma equipa de astrónomos descobriu que a anã castanha mais próxima, Luhman 16A, mostra sinais de bandas de nuvens semelhantes às vistas em Júpiter e em Saturno. Esta é a primeira vez que os cientistas usam a técnica de polarimetria para determinar as propriedades de nuvens atmosféricas fora do nosso Sistema Solar, ou exonuvens.

As anãs castanhas são objetos mais massivos do que os planetas, mas menos massivos do que as estrelas, e normalmente têm 13 a 80 vezes a massa de Júpiter. Luhman 16A faz parte de um sistema binário que contém uma segunda anã castanha, Luhman 16B. A uma distância de 6,5 anos-luz, é o terceiro sistema mais próximo do nosso Sol, depois de Alpha Centauri e da Estrela de Barnard. Ambas as anãs castanhas têm cerca de 30 vezes a massa de Júpiter.

Apesar de Luhman 16A e 16B terem massas e temperaturas similares (cerca de 1000º C) e, presumivelmente, se terem formado ao mesmo tempo, mostram um clima marcadamente diferente. Luhman 16B não mostra sinais de bandas estacionárias de nuvens, exibindo ao invés evidências de nuvens mais irregulares. Luhman 16B, portanto, apresenta variações visíveis de brilho como resultado das suas características nubladas, ao contrário de Luhman 16A.

"Tal como a Terra e Vénus, estes objetos são gémeos com climas muito diferentes," disse Julien Girard do STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore, no estado norte-americano de Maryland, membro da equipa de descoberta. "Podem chover coisas como silicatos ou amónia. Na verdade, é um clima horrível."

Os investigadores usaram um instrumento no VLT (Very Large Telescope) no Chile para estudar a luz polarizada do sistema Luhman 16. A polarização é uma propriedade da luz que representa a direção a que a onda de luz oscila. Os óculos de sol polarizados bloqueiam uma direção de polarização a fim de reduzir o brilho e melhorar o contraste.

"Em vez de tentar bloquear este brilho, estamos a tentar medi-lo," explicou o autor principal Max Millar-Blanchaer do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) em Pasadena, EUA.

Quando a luz é refletida por partículas, como gotículas nas nuvens, pode favorecer um certo ângulo de polarização. Ao medir a polarização preferida da luz de um sistema distante, os astrónomos podem deduzir a presença de nuvens sem resolver diretamente quaisquer estruturas de nuvens nas anãs castanhas.

"Mesmo a anos-luz de distância, podemos usar a polarização para determinar o que a luz encontrou ao longo do seu caminho," acrescentou Girard.

"Para determinar o que a luz encontrou pelo caminho, comparámos observações com modelos com propriedades diferentes: as atmosferas das anãs castanhas com estruturas sólidas de nuvens, bandas listradas e até anãs castanhas oblatas devido à sua rápida rotação. Descobrimos que apenas modelos de atmosferas com bandas de nuvens podiam corresponder às nossas observações de Luhman 16A," explicou Theodora Karalidi, da Universidade da Flórida Central, em Orlando, EUA, membro da equipa de descoberta.

A técnica de polarimetria não se limita às anãs castanhas. Também pode ser aplicada a exoplanetas que orbitam estrelas distantes. As atmosferas de exoplanetas gigantes e quentes são semelhantes às das anãs castanhas. Embora a medição de um sinal de polarização de exoplanetas seja mais complexa, devido ao seu brilho relativamente ténue e à proximidade com a estrela, as informações obtidas das anãs castanhas podem, potencialmente, informar estes estudos futuros.

O Telescópio Espacial James Webb da NASA será capaz de estudar sistemas como Luhman 16 para procurar sinais de variações de brilho na luz infravermelha, indicativas de características de nuvens. O WFIRST (Wide Field Infrared Survey Telescope) da NASA estará equipado com um coronógrafo que pode realizar polarimetria e poderá detetar exoplanetas gigantes na luz refletida e eventuais sinais de nuvens nas suas atmosferas.

// Hubblesite (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Astrophysical Journal)

 


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Sistema Luhman 16:
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Solstation.com

Anãs castanhas:
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NASA
Andy Lloyd's Dark Star Theory

Polarimetria [astronómica]:
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VLT:
Página oficial
Wikipedia
PIONIER (ESO)

ESO:
Página oficial
Wikipedia

JWST (Telescópio Espacial James Webb):
NASA
STScI
ESA
Wikipedia

WFIRST:
NASA
Wikipedia

 
   
Álbum de fotografias - LDN 1471: Uma Cavidade Soprada pelo Vento
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: HubbleNASAESA; Processamento e Direitos de AutorJudy Schmidt
 
Qual é a causa desta estrutura parabólica invulgar? Esta cavidade iluminada, conhecida como LDN 1471, foi formada por uma estrela recém-nascida, vista como a fonte brilhante no pico da parábola. Esta protoestrela está a experienciar um fluxo estelar que, em seguida, interage com o material circundante na Nuvem Molecular de Perseu, fazendo com que se ilumine. Nós só vemos um lado da cavidade - o outro está escondido por poeira escura. A forma parabólica é provocada pelo aumento da cavidade soprada pelo vento estelar ao longo do tempo. Também podem ser vistas duas outras estruturas adicionais em ambos os lados da protoestrela, conhecidos como objetos Herbig-Haro, novamente provocados pela interação do fluxo com o material circundante. No entanto, o que causa as estrias nas paredes da cavidade, ainda permanece por descobrir. A imagem em destaque foi obtida pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA após uma deteção original pelo Telescópio Espacial Spitzer.
 
   
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