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  Astroboletim #1805  
  25/06 a 28/06/2021  
     
 
Efemérides

Dia 25/06: 176.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1997, a MIR colide com a nave de abastecimento Progress, o que despressuriza as cabinas e danifica os painéis solares.

No mesmo ano, a sonda Galileu passa pela lua joviana Calisto a uma distância de apenas 415 km.
Observações: Leão é principalmente uma constelação do final de inverno e da primavera. Mas ainda não desapareceu do nosso céu noturno. Ao final do lusco-fusco, olhe para oeste, razoavelmente baixo, para encontrar Régulo, a sua mais brilhante e agora mais baixa estrela: o pé dianteiro da figura de Leão. A "foice" de Leão estende-se para cima e para a direita a partir de Régulo.
O resto da figura da constelação de Leão estende-se para cima e para a esquerda, até à estrela da sua cauda, Denébola, a mais alta da constelação. Leão desaparecerá em breve ao pôr-do-Sol.

Dia 26/06: 177.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1730 nascia Charles Messier.

Conhecido caçador de cometas francês, que catalogou mais ou menos 100 nebulosas brilhantes e enxames estelares conhecidos hoje em dia pelos seus números M, porque confundia estes objetos estacionários com possíveis novos cometas, que era na realidade o que ele andava à procura.
Em 1824 nascia Lord Kelvin, físico irlandês bastante conhecido pelo desenvolvimento das bases do zero absoluto e da unidade de medição da temperatura que tem o seu nome.
Em 1973, morrem 9 pessoas no Cosmódromo de Plesetsk devido a uma explosão de um foguetão Cosmos 3-M.
Observações: No lado este do céu, o Triângulo de Verão domina depois do anoitecer. A sua estrela de topo, Vega, é a mais brilhante a este. Para baixo e para a esquerda de Vega, temos Deneb. Um pouco mais longe, mas para baixo e para a direita de Vega, está Altair. A Via Láctea (caso tenha acesso a um céu escuro) corre um pouco dentro do vértice mais baixo do Triângulo.
Com o passar da noite e Altair a subir, olhe para a sua esquerda, não mais do que um punho à distância do braço esticado, em busca da pequena constelação de Golfinho.
Consegue vê-la? Tente agora a constelação da Flecha (ou Seta), ainda mais pequena e ténue, para cima e para a esquerda de Altair, também um pouco menos distante. A Flecha "aponta" para baixo e para a esquerda, para o lado do nariz de Golfinho.

Dia 27/06: 178.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1949 era descoberto o asteroide Ícaro, com um telescópio de 48 polegadas que entrou em funcionamento nove meses antes. Descobriu-se que o asteroide tem uma órbita acentuadamente excêntrica e uma distância perial de apenas 27 milhões e 358 mil quilómetros, mais próximo do Sol que Mercúrio (daí o seu nome). Estava apenas a 6 milhões e 500 mil quilómetros da Terra na altura da sua descoberta.
Em 1982 era lançada a missão STS-4 do vaivém Columbia.

Em 1995, lançamento da STS-71, do Atlantis, a primeira missão do vaivém espacial a atracar com a MIR.
Em 2013, a NASA lança o IRIS, uma sonda para observar o Sol.
Observações: Vega é a estrela mais brilhante bem alta a este após o anoitecer. Logo para baixo e para a esquerda está Epsilon Lyrae, de quarta magnitude, a Dupla-Dupla. Epsilon forma um canto de um triângulo mais ou menos equilátero com Vega e Zeta Lyrae. O triângulo tem menos de 2º de lado, quase a largura do polegar à distância do braço esticado. Os binóculos resolvem facilmente Epsilon. E um telescópio de 4 polegadas com 100x de ampliação deverá resolver os componentes de Epsilon em dois pares íntimos.
Zeta Lyrae é também uma estrela dupla para binóculos; bem mais difícil, mas ainda observável em qualquer telescópio.
Delta Lyrae, por baixo de Zeta, é um par muito mais largo e fácil. Note as suas cores (laranja-vermelho e azul).

Dia 28/06: 179.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1911, rochas do meteorito Nakhla caem na Terra, perto de Alexandria, Egipto.

Descobriu-se mais tarde que estas 40 pedras vieram de Marte. A origem das rochas que caíram para a Terra pode ser determinada através da sua análise química. As rochas marcianas têm uma composição semelhante.
Em 2011, o Telescópio Espacial Hubble descobre outra lua em redor de Plutão, temporariamente denominada P4. A descoberta foi novamente verificada no dia 20 de julho do mesmo ano. O nome oficial da lua é agora Cérbero.
Observações: Nas horas que antecedem o amanhecer, olhe para sul-sudeste e poderá ver a Lua, Júpiter e Saturno a formar um triângulo bastante "espalmado" de cabeça para baixo.

 
 
   
Exoplanetas com lugar cósmico de destaque para encontrar a Terra retroiluminada pelo Sol

Cientistas de Cornell e do Museu Americano de História Natural identificaram 2034 sistemas estelares próximos - até uma pequena distância cósmica de 326 anos-luz - que poderiam encontrar a Terra meramente observando o nosso pálido ponto azul a cruzar o Sol.

São 1715 sistemas estelares que podem ter avistado a Terra desde que a civilização humana floresceu há cerca de 5000 anos, e mais 319 sistemas estelares que serão acrescentados nos próximos 5000 anos.

Os cientistas que publicaram a investigação dia 23 de junho na revista Nature disseram que os exoplanetas em torno destas estrelas próximas têm lugar cósmico de destaque para ver se a Terra contém vida.

 
Com o plano da Via Láctea a estender-se de cima para baixo na imagem, esta impressão artística da Terra e do Sol milhares de quilómetros acima do nosso planeta, mostra que estrelas (com exoplanetas no seu próprio sistema) podem entrar e sair da posição certa para poder observá-lo a transitar a nossa estrela-mãe.
Crédito: OpenSpace/Museu Americano de História Natural
 

"Do ponto de vista dos exoplanetas, nós somos os alienígenas," disse Lisa Kaltenegger, professora de astronomia e diretora do Instituto Carl Sagan, na Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Cornell.

"Queríamos saber quais as estrelas que têm o ponto de vista ideal para ver a Terra, à medida que bloqueia a luz do Sol," disse. "E dado que as estrelas se movem, este ponto de vista é ganho e é perdido."

Kaltenegger e a astrofísica Jackie Faherty, cientista do Museu Americano de História Natural, são coautoras do artigo científico. Usaram as posições e os movimentos do catálogo Gaia EDR3 da ESA para determinar quais as estrelas que entram e saem da Zona de Trânsito da Terra - e por quanto tempo.

"O Gaia forneceu-nos um mapa preciso da Via Láctea," disse Faherty, "permitindo-nos olhar para trás e para a frente no tempo e ver onde as estrelas estiveram localizadas e para onde estão a ir.

"A nossa vizinhança solar é um lugar dinâmico onde as estrelas saem e entram desse ponto de vista perfeito para ver a Terra transitar o Sol a um ritmo rápido," disse Faherty.

Dos 2034 sistemas estelares que passam pela Zona de Trânsito da Terra ao longo do período examinado de 10.000 anos, 117 objetos estão a cerca de 100 anos-luz do Sol e 75 destes estão na Zona de Trânsito da Terra desde que as estações comerciais de rádio na Terra começaram a transmitir para o espaço há cerca de um século. As ondas de rádio transmitidas da Terra são uma assinatura da nossa civilização tecnologicamente avançada e os exoplanetas dentro desse alcance podem tê-las captado.

Incluídos no catálogo de 2034 sistemas estelares estão sete conhecidos por hospedar exoplanetas. Cada um destes mundos teve ou terá a oportunidade de detetar a Terra, assim como os cientistas da Terra já encontraram milhares de mundos em órbita de outras estrelas usando o método de trânsito.

Ao observar o trânsito de exoplanetas distantes - a passagem em frente da sua estrela -, os astrónomos da Terra podem interpretar as atmosferas iluminadas por essa estrela. Caso os exoplanetas possuam vida inteligente, podem observar a Terra iluminada pelo Sol e ver as assinaturas químicas da vida na nossa atmosfera.

O sistema Ross 128, com uma estrela anã vermelha localizada na direção da constelação de Virgem, fica a cerca de 11 anos-luz e é o segundo sistema mais próximo com um exoplaneta do tamanho da Terra (cerca de 1,8 vezes o tamanho do nosso planeta). Qualquer habitante deste exomundo poderia ter visto a Terra a cruzar em frente do nosso próprio Sol durante 2158 anos, começando há cerca de 3057 anos; perderam o seu ponto de vista há cerca de 900 anos.

O sistema TRAPPIST-1, a 45 anos-luz da Terra, hospeda sete planetas do tamanho da Terra em trânsito - quatro deles na zona habitável temperada daquela estrela. Embora tenhamos descoberto estes exoplanetas em torno de TRAPPIST-1, eles não serão capazes de nos localizar até que o seu movimento os leve para a Zona de Trânsito da Terra daqui a 1642 anos. Potenciais observadores no sistema TRAPPIST-1 permanecerão no lugar cósmico de destaque durante 2371 anos.

"A nossa análise mostra que mesmo as estrelas mais próximas geralmente passam mais de 1000 anos num ponto de vista onde podem ver um trânsito da Terra pelo Sol," disse Kaltenegger. "Se assumirmos que o inverso é verdadeiro, isto fornece uma saudável linha temporal para que civilizações identifiquem a Terra como um planeta interessante."

O Telescópio Espacial James Webb - com lançamento previsto para o final deste ano - vai observar vários mundos em trânsito para caracterizar as suas atmosferas e, finalmente, procurar por sinais de vida.

A iniciativa Breakthrough Starshot é um projeto ambicioso em andamento que visa lançar uma nanosonda em direção ao exoplaneta mais próximo detetado em torno de Proxima Centauri - a cerca de 4,2 anos-luz de distância - e caracterizar completamente esse mundo.

"Podemos imaginar que os mundos para lá da Terra que já nos detetaram estão a fazer os mesmos planos para o nosso planeta e para o nosso Sistema Solar," disse Faherty. "Este catálogo é uma experiência mental na qual um dos nossos vizinhos pode ser capaz de nos encontrar."

// Universidade de Cornell (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)

 


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Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
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Ross 128:
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Ross 128 b (Wikipedia)

TRAPPIST-1:
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Open Exoplanet Catalogue
TRAPPIST-1b (Wikipedia)
TRAPPIST-1b (Exoplanet.eu) 
TRAPPIST-1c (Wikipedia) 
TRAPPIST-1c (Exoplanet.eu)
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TRAPPIST-1d (Exoplanet.eu)
TRAPPIST-1e (Wikipedia)
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Cientistas usam massa estelar para ligar exoplanetas a discos de formação planetária

Usando dados de mais de 500 estrelas jovens observadas com o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), os cientistas descobriram uma ligação direta entre as estruturas do disco protoplanetário - os discos formadores de planetas que rodeiam as estrelas - e a demografia planetária. A investigação prova que estrelas com maior massa são mais propensas a estar rodeadas por discos com lacunas e que essas lacunas estão diretamente correlacionadas com a alta ocorrência de exoplanetas gigantes observados em torno delas. Estes resultados fornecem aos cientistas uma janela através do tempo, permitindo-lhes prever o aspeto dos sistemas exoplanetários em cada estágio da sua formação.

 
Os discos protoplanetários são classificados em três categorias: transição, anel ou estendido. Estas imagens de cores falsas do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) mostram estas classificações em contraste absoluto. À esquerda: o disco em anel de RU Lup é caracterizado por lacunas estreitas que se pensa serem esculpidas por planetas gigantes com massas que variam entre uma massa de Neptuno e uma massa de Júpiter. Meio: o disco de transição de J1604.3-2130 é caracterizado por uma grande cavidade interna que se pensa ser esculpida por planetas mais massivos que Júpiter, também conhecidos como planetas Super-Jovianos. À direita: pensa-se que o disco compacto de Sz104 não contenha planetas gigantes, já que não possui as lacunas e cavidades associadas com a presença de planetas gigantes.
Crédito: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), S. Dagnello (NRAO)
 

"Encontrámos uma forte correlação entre lacunas nos discos protoplanetários e a massa estelar, que pode estar ligada à presença de grandes exoplanetas gasosos," disse Nienke van der Marel, do Departamento de Física e Astronomia da Universidade Victoria na Columbia Britânica, autora principal da investigação. "Estrelas de maior massa têm relativamente mais discos com lacunas do que estrelas de menor massa, consistente com as já conhecidas correlações em exoplanetas, onde estrelas de maior massa hospedam mais frequentemente exoplanetas gigantes gasosos. Estas correlações dizem-nos diretamente que as lacunas nos discos de formação de planetas são provavelmente provocadas por planetas gigantes com a massa de Neptuno e acima."

As lacunas nos discos protoplanetários há muito que são consideradas evidências gerais da formação planetária. No entanto, tem havido algum ceticismo devido à distância orbital observada entre os exoplanetas e as suas estrelas. "Uma das principais razões pelas quais os cientistas têm permanecido céticos acerca da ligação entre lacunas e planetas é que exoplanetas em órbitas largas de dezenas de unidades astronómicas são raros. No entanto, exoplanetas em órbitas mais pequenas, entre uma e dez unidades astronómicas, são muito mais comuns," disse Gijs Mulders, professor assistente de astronomia na Universidade Adolfo Ibáñez em Santiago, Chile, coautor da investigação. "Pensamos que os planetas que 'varrem' as lacunas migram para o interior mais tarde."

O novo estudo é o primeiro a mostrar que o número de discos com lacunas nestas regiões corresponde ao número de exoplanetas gigantes num sistema estelar. "Estudos anteriores indicaram que havia muito mais discos com lacunas do que exoplanetas gigantes detetados", disse Mulders. "O nosso estudo mostra que existem exoplanetas suficientes para explicar a frequência observada de discos com lacunas a diferentes massas estelares."

A correlação também se aplica a sistemas estelares com estrelas de baixa massa, onde os cientistas são mais propensos a encontrar exoplanetas rochosos massivos, também conhecidos como super-Terras. Van der Marel, que se tornará professora assistente na Universidade de Leiden, Países Baixos, a partir de setembro de 2021, disse: "Estrelas de menor massa têm mais super-Terras rochosas - entre uma massa terrestre e uma massa de Neptuno. Discos sem lacunas, mais compactos, levam à formação de super-Terras."

Esta ligação entre a massa estelar e a demografia planetária pode ajudar os cientistas a identificar quais as estrelas a ter como alvo na busca por planetas rochosos pela Via Láctea. "Esta nova compreensão das dependências da massa estelar vai ajudar-nos a orientar a busca por pequenos planetas rochosos como a Terra na vizinhança solar," acrescentou Mulders, que também faz parte da equipa Alien Earths financiada pela NASA. "Podemos usar a massa estelar para ligar os discos de formação planetária em torno de estrelas jovens a exoplanetas em torno de estrelas maduras. Quando um exoplaneta é detetado, o material formador de planetas geralmente desaparece. Portanto, a massa estelar é uma "etiqueta" que nos diz como o ambiente de formação planetária poderá ser para estes exoplanetas."

Etudo se resume a poeira. "Um elemento importante da formação planetária é a influência da evolução da poeira", disse van der Marel. "Sem planetas gigantes, a poeira irá sempre mover-se para dentro, criando condições ideais para a formação de planetas rochosos, mais pequenos, perto da estrela."

A investigação atual foi realizada usando dados de mais de 500 objetos observados em estudos anteriores usando as antenas do ALMA na Banda 6 e 7. Atualmente, o ALMA é o único telescópio que pode obter imagens da distribuição de poeira milimétrica em resolução angular alta o suficiente para resolver os discos de poeira e revelar a sua subestrutura, ou a falta dela. "Nos últimos cinco anos, o ALMA produziu muitas pesquisas instantâneas de regiões de formação estelar próximas, resultando em centenas de medições da massa, do tamanho e da morfologia do disco de poeira," disse van der Marel. "O grande número de propriedades do disco observadas permitiu-nos fazer uma comparação estatística de discos protoplanetários com os milhares de exoplanetas descobertos. Esta é a primeira vez que uma dependência de massa estelar de discos com lacunas e discos compactos foi demonstrada com sucesso usando o telescópio ALMA."

"As nossas novas descobertas ligam as belas estruturas das lacunas nos discos observados diretamente com o ALMA às propriedades de milhares de exoplanetas pela missão Kepler da NASA e a outros levantamentos exoplanetários," comentou Mulders. "Os exoplanetas e a sua formação ajudam-nos a situar as origens da Terra e do Sistema Solar no contexto do que vemos acontecer em torno de outras estrelas."

// Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
// NRAO (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


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Investigadores rastreiam jornada de um grão de poeira pelo Sistema Solar recém-nascido

Uma equipa de investigação liderada pela Universidade do Arizona reconstruiu em detalhes sem precedentes a história de um grão de poeira que se formou durante o nascimento do Sistema Solar, há mais de 4,5 mil milhões de anos. Os achados fornecem informações sobre os processos fundamentais subjacentes à formação dos sistemas planetários, muitos dos quais ainda estão envoltos em mistério.

 
Impressão de artista do início do Sistema Solar, numa altura em que ainda não tinham sido formados os planetas. Uma nuvem rodopiante de gás e poeira rodeava o jovem Sol. O corte no disco protoplanetário serve para mostrar a sua estrutura tridimensional.
Crédito: Heather Roper
 

Para o estudo, a equipa desenvolveu uma nova metodologia que combina mecânica quântica e termodinâmica para simular as condições às quais o grão foi exposto durante a sua formação, quando o Sistema Solar era um disco giratório de gás e poeira conhecido como disco protoplanetário ou nebulosa solar. A comparação das previsões do modelo com uma análise extremamente detalhada da composição química e da estrutura cristalina da amostra, juntamente com um modelo de como a matéria foi transportada na nebulosa solar, revelou pistas sobre a viagem do grão e sobre as condições ambientais que o moldaram durante o caminho.

O grão analisado no estudo é uma das várias inclusões, conhecidas como inclusões ricas em cálcio-alumínio, descobertas numa amostra do meteorito Allende, que caiu sobre o estado mexicano de Chihuahua em 1969. As inclusões ricas em cálcio-alumínio são de especial interesse porque pensa-se que estejam entre os primeiros sólidos formados no Sistema Solar há mais de 4,5 mil milhões de anos.

Tal como os carimbos num passaporte contam uma história sobre a jornada de um viajante e das suas paragens ao longo do caminho, as estruturas a escalas microscópicas e a escalas atómicas da amostra desvendam um registo das suas histórias de formação, que foram controladas pelos ambientes coletivos aos quais foram expostas.

"Que saibamos, o nosso artigo é o primeiro a contar uma história de origem que fornece pistas sobre os processos prováveis que tiveram lugar à escala de distâncias astronómicas com o que vemos na nossa amostra à escala de distâncias atómicas," disse Tom Zega, professor no LPL (Lunar and Planetary Laboratory) da Universidade do Arizona e autor principal do artigo científico, publicado na revista The Planetary Science Journal.

Zega e a sua equipa analisaram a composição das inclusões embebidas no meteorito usando os microscópios eletrónicos de varredura por transmissão de resolução atómica de última geração do KMICF (Kuiper Materials Imaging and Characterization Facility) do LPL e da fábrica da Hitachi em Hitachinaka, Japão.

 
Este pedaço do meteorito Allende mostra a crosta típica de material que derreteu durante a entrada pela atmosfera da Terra. O grão estudado neste estudo foi obtido de um pedaço semelhante, e do interior do espécime, onde pouca ou nenhuma alteração teria ocorrido durante a queda do meteorito.
Crédito: H. Raab/Wikimedia Commons
 

As inclusões consistem principalmente de tipos de minerais conhecidos como espinela e perovskite, que também ocorrem em rochas na Terra e estão a ser estudados como materiais candidatos para aplicações como microeletrónica e energia solar fotovoltaica.

Tipos semelhantes de sólidos ocorrem noutros géneros de meteoritos conhecidos como condritos carbonáceos, que são particularmente interessantes para os cientistas planetários, pois são conhecidos por serem remanescentes da formação do Sistema Solar e contêm moléculas orgânicas, incluindo aquelas que podem ter fornecido as matérias-primas para a vida.

A análise precisa do arranjo espacial dos átomos permitiu à equipa estudar, em grande detalhe, a composição das estruturas cristalinas subjacentes. Para surpresa da equipa, alguns dos resultados estavam em desacordo com as teorias atuais no que concerne aos processos físicos considerados ativos dentro dos discos protoplanetários, o que os levou a querer saber mais.

"O nosso desafio é que não sabemos quais os percursos químicos que levaram às origens destas inclusões," disse Zega. "A natureza é o nosso gobelé de laboratório, e essa experiência teve lugar milhares de milhões de anos antes da nossa existência, num ambiente que nos é completamente estranho."

Zega disse que a equipa decidiu fazer uma "engenharia reversa" da composição das amostras extraterrestres, construindo novos modelos que simulavam processos químicos complexos, aos quais as amostras seriam submetidas dentro de um disco protoplanetário.

 
Uma "fatia" do meteorito Allende revela várias partículas esféricas, conhecidas como côndrulos. A "ilha" de formato irregular à esquerda do centro é uma inclusão rica em cálcio e alumínio. O grão neste estudo foi isolado de uma inclusão do mesmo género.
Crédito: Shiny Things/Wikimedia Commons
 

"Estes modelos exigem uma convergência íntima de conhecimentos que abrangem os campos da ciência planetária, da ciência dos materiais, da ciência mineral e da microscopia, que foi o que nos propusemos a fazer", acrescentou Krishna Muralidharan, coautor do estudo e professor associado no Departamento de Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade do Arizona.

Com base nos dados que os autores conseguiram extrair das suas amostras, concluíram que a partícula foi formada numa região do disco protoplanetário não muito longe de onde a Terra está agora, que depois viajou para mais perto do Sol, onde estava cada vez mais quente, para depois inverter caminho e chegar a regiões mais frias, mais distantes do jovem Sol. Eventualmente, foi incorporada num asteroide, que mais tarde se partiu em pedaços. Alguns destes fragmentos foram capturados pela gravidade da Terra e caíram como meteoritos.

As amostras para este estudo foram retiradas do interior de um meteorito e são consideradas primitivas - por outras palavras, não foram afetadas por influências ambientais. Pensa-se que material tão primitivo não tenha sofrido nenhuma mudança significativa desde a sua formação há mais de 4,5 mil milhões de anos, o que é raro. Está ainda por determinar se objetos semelhantes existem no asteroide Bennu, amostras do qual serão trazidas para a Terra pela missão OSIRIS-REx em 2023. Até lá, os cientistas contam com amostras que caem para a Terra por meio de meteoritos.

"Este material é o nosso único registo do que aconteceu há 4,567 mil milhões de anos na nebulosa solar," disse Venkat Manga, coautor do artigo e professor assistente no Departamento de Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade do Arizona. "Ser capaz de olhar para a microestrutura da nossa amostra a diferentes escalas, até à escala de átomos individuais, é como abrir um livro."

 
Ilustração da história dinâmica que a partícula modelada pode ter sofrido durante a formação do Sistema Solar. A análise das estruturas a escalas microscópicas e a escalas atómicas e a combinação com novos modelos que simulam os complexos processos químicos no disco revelou a sua possível viagem ao longo de muitas órbitas em torno do Sol (caixas de ampliação em cima e à direita). Originário de não muito longe do local onde a Terra se formaria, o grão foi transportado para as regiões mais próximas e quentes e, por fim, levado para as regiões mais frias.
Crédito: Heather Roper/Zega et al.
 

Os autores disseram que estudos como este podem levar os cientistas planetários um passo mais perto de "um grande modelo da formação planetária" - uma compreensão detalhada do material que se move no disco, da sua composição e de como dá origem ao Sol e aos planetas.

Zega disse que radiotelescópios poderosos como o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), no Chile, permitem agora com que os astrónomos observem a evolução de sistemas estelares.

"Talvez daqui a algum tempo possamos examinar os discos em evolução, e então realmente comparar os nossos dados entre disciplinas e começar a responder a algumas destas grandes questões," disse Zega. "Será que algumas destas partículas de poeira se formam onde pensamos que se formaram no nosso próprio Sistema Solar? São comuns a todos os sistemas estelares? Devemos esperar o padrão que vemos no nosso Sistema Solar - planetas rochosos perto da estrela central e gigantes gasosos mais distantes - em todos os sistemas?

"É uma altura muito interessante para se ser cientista, pois estes campos estão a evoluir tão rapidamente," acrescentou. "É muito bom estar num sítio onde os cientistas podem formar colaborações interdisciplinares entre departamentos de astronomia, de ciência planetária e de ciência de materiais."

// Universidade do Arizona (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (The Planetary Science Jorunal)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
29/12/2020 - Equipa encontra evidências meteoríticas para um asteroide anteriormente desconhecido
08/12/2020 - Investigadores descobrem pistas importantes sobre a história do Sistema Solar
17/11/2020 - Nuvem que deu origem ao Sistema Solar colapsou em menos de 200.000 anos
11/09/2020 - Meteoritos mostram transporte de material no Sistema Solar primordial
11/03/2016 - Cosmoquímicos encontram evidências de elemento raro no início do Sistema Solar

Formação e evolução do Sistema Solar:
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Meteoritos:
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Meteorito Allende (Wikipedia)

Inclusões ricas em cálcio e alumínio:
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Álbum de fotografias - Messier 99
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: NASAESAHubbleJanice Lee; Processamento e direitos de autor: Leo Shatz
 
A galáxia espiral Messier 99 parece majestosa a uma escala verdadeiramente cósmica. Este retrato de toda a galáxia recentemente processado abrange mais de 70.000 anos-luz em M99. A visão nítida é uma combinação de dados de imagem ultravioleta, visível e infravermelho do Telescópio Espacial Hubble. A cerca de 50 milhões de anos-luz de distância na direção da constelação de Cabeleira de Berenice, a galáxia vista de frente é membro do vizinho enxame galáctico de Virgem. Também catalogada como NGC 4254, um encontro próximo com outro membro do enxame de Virgem provavelmente influenciou a forma dos seus braços espirais bem definidos.
 
   
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