Problemas ao ver este e-mail?
Veja no browser

 
 
  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1841  
  29/10 a 01/11/2021  
     
 
Efemérides

Dia 29/10: 302.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1991, a sonda Galileu faz a sua maior aproximação de 951 Gaspra, a primeira a visitar um asteroide.
Em 1998, o vaivém espacial Discovery partia para o espaço na missão STS-95, levando a bordo o astronauta John Glenn de 77 anos.

Glenn, que fora o primeiro norte-americano a orbitar a Terra em 1962, tornou-se deste modo, e até à quebra do seu recorde em 2021, a pessoa mais velha a alguma vez ter estado no espaço.
Observações: Procure a brilhante Capella piscando baixa a nordeste por estas noites. A cerca de três punhos à distância do braço esticado para a direita de Capella estão as Plêiades. Estes mensageiros dos meses frios sobem no céu com o passar da noite - e aviste Aldebarã subindo abaixo das Plêiades.
Para cima e para a direita de Capella, e para cima e para a esquerda das Plêiades, as estrelas de Perseu estão "montadas" na faixa da Via Láctea.

Dia 30/10: 303.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1981, lançamento da soviética Venera 13. A Venera 13 transmitiu fotografias e dados de Vénus até março de 1983.
Em 1985, o vaivém espacial Challenger é lançado na STS-61-A, a sua última missão bem sucedida.

Observações: Aviste a brilhante Altair, alta a sudoeste pouco depois do cair da noite. Para cima estão duas pequenas constelações distintas: Golfinho, a pouco mais de um punho à distância do braço esticado para cima e para a esquerda de Altair, e a mais fraca Sagitta (Seta ou Flecha), menos distante mas agora para cima e para a direita de Altair. A poluição luminosa não deixa ver bem? Use binóculos!

Dia 31/10: 304.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1992, o Vaticano (Papa João Paulo II) anuncia que a Igreja Católica errou em condenar Galileu, que afirmava que a Terra não era o centro do Universo.
Em 2000, lançamento da Soyuz TM-31, transportando a primeira tripulação residente da Estação Espacial Internacional. A ISS permanece tripulada continuamente desde aí.

Em 2014, durante um voo de testes da VSS Enterprise, um veículo espacial da Virgin Galactic fragmenta-se catastroficamente e despenha-se no Deserto do Mojave, Califórnia.
Observações: Esta madrugada a hora muda. Atrase o seu relógio uma hora às 02:00 da manhã, passando para a 01:00. Nos Açores, a alteração faz-se às 01:00, passando para as 00:00.

Dia 01/11: 305.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1962, lançamento da Mars 1. No dia 21 de março de 1963, quando a sonda estava a 106.760.000 km da Terra, as comunicações falham. Orbita agora o Sol.
Em 1963, é inaugurado oficialmente o Observatório de Arecibo em Porto Rico.

Foi o maior radiotelescópio já construído até julho de 2016, quando o chinês FAST tomou o seu lugar.
Observações: Vega é a estrela mais brilhante a oeste nestas noites de novembro. A sua pequena constelação, Lira, estende-se para a esquerda, apontando na direção de Altair, a estrela mais brilhante a sudoeste. Três das estrelas principais de Lira, depois de Vega, são binários interessantes. Mesmo por cima de Vega está Epsilon Lyrae, de quarta magnitude, o "Duplo-Duplo". Epsilon forma um canto de um triângulo aproximadamente equilátero com Vega e Zeta Lyrae. O triângulo tem menos de 2º de lado, quase a largura do polegar à distância do braço esticado. Cabe facilmente no campo de visão de uns binóculos. Os binóculos também resolvem facilmente Epsilon. E um telescópio a partir de 4 polegadas e ampliação de 100x mostra que cada ponto brilhante é na realidade dois. Zeta Lyrae é também um binário binocular; mais difícil, mas facilmente observável com telescópio. Delta Lyrae, para cima e para a esquerda de Zeta, é um par muito mais largo e fácil.

 
 
   
Cientistas medem atmosfera de um planeta a 340 anos-luz de distância

Uma equipa internacional de cientistas, usando o Observatório Gemini no Chile, é a primeira a medir diretamente a quantidade de água e monóxido de carbono na atmosfera de um exoplaneta a cerca de 340 anos-luz de distância.

A equipa foi liderada pelo professor assistente Michael Line da Escola de Exploração da Terra e do Espaço da Universidade do Estado do Arizona e os resultados foram publicados recentemente na revista Nature.

Existem milhares de planetas conhecidos para lá do nosso Sistema Solar. Os cientistas usam telescópios espaciais e terrestres para examinar como estes exoplanetas se formam e como são diferentes dos planetas do nosso próprio Sistema Solar.

 
Impressão de artista de um "Júpiter quente".
Crédito: NASA, ESA e L. Hustak (STScI)
 

Para este estudo, Line e a sua equipa focaram-se no planeta "WASP-77Ab", um tipo de exoplaneta chamado "Júpiter quente" porque é semelhante ao planeta Júpiter no nosso Sistema Solar, mas com uma temperatura acima dos 1000º C.

Depois, concentraram-se em medir a composição da sua atmosfera para determinar quais os elementos presentes, em comparação com a estrela que orbita.

"Por causa dos seus tamanhos e temperaturas, os Júpiteres quentes são laboratórios excelentes para medir gases atmosféricos e testar as nossas teorias de formação planetária," disse Line.

Embora ainda não possamos enviar naves a planetas para lá do nosso Sistema Solar, os cientistas podem estudar a luz destes exoplanetas com telescópios. Os telescópios que usam para estudar esta luz podem estar no espaço, como o Telescópio Espacial Hubble, ou no solo, como os telescópios do Observatório Gemini.

Line e a sua equipa estiveram amplamente envolvidos na medição das composições atmosféricas de exoplanetas com o Hubble, mas obter estas medições foi um desafio. Não só existe forte competição por tempo de telescópio, como os instrumentos do Hubble apenas medem água (ou oxigénio) e a equipa precisava também de recolher medições do monóxido de carbono (ou carbono).

Foi aqui que a equipa se virou para o telescópio Gemini South.

"Precisávamos de tentar algo diferente para responder às nossas perguntas," disse Line. "E a nossa análise das capacidades do Gemini South indicava que poderíamos obter medições atmosféricas ultraprecisas."

O Gemini South é um telescópio com 8,1 metros de abertura localizado numa montanha dos Andes chilenos chamada Cerro Pachón, onde o ar muito seco e a cobertura insignificante de nuvens o tornam um local privilegiado para o telescópio. É operado pelo NOIRLab (National Optical-Infrared Astronomy Research Laboratory) da NSF (National Science Foundation).

Usando o telescópio Gemini South, com um instrumento chamado IGRINS (Immersion GRating INfrared Spectrometer), a equipa observou o brilho térmico do exoplaneta enquanto orbitava a sua estrela hospedeira. A partir deste instrumento, recolheram informações sobre a presença e as quantidades relativas de diferentes gases na sua atmosfera.

Tal como os satélites meteorológicos e climáticos que são usados para medir a quantidade de vapor de água e dióxido de carbono na atmosfera da Terra, os cientistas podem usar espectrómetros e telescópios, como o IGRINS no Gemini South, para medir as quantidades de diferentes gases noutros planetas.

"Tentar descobrir a composição das atmosferas exoplanetárias é como tentar resolver um crime com impressões digitais," explicou Line. "Uma impressão digital borrada realmente não restringe muito, mas uma impressão digital boa e limpa fornece um identificador exclusivo de quem cometeu o crime."

Enquanto o Telescópio Espacial Hubble forneceu à equipa talvez uma ou duas impressões digitais difusas, o IGRINS no Gemini South forneceu à equipa um conjunto completo de impressões digitais perfeitamente claras.

 
Ao medir o efeito Doppler ilustrado na coluna da direita desta figura, os cientistas podem reconstruir a velocidade orbital de um planeta, ao longo doo tempo, em direção ou para longe da Terra. A força do sinal do planeta, conforme mostrado na coluna do meio, ao longo da velocidade aparente esperada (curva tracejada azul) do planeta enquanto orbita a estrela, contém informações sobre a quantidade de diferentes gases na atmosfera.
Crédito: P. Smith/M. Line/S. Selkirk/ASU
 

E com medições claras de água e monóxido de carbono na atmosfera de WASP-77Ab, a equipa foi então capaz de estimar as quantidades relativas de oxigénio e carbono na atmosfera do exoplaneta.

"Estes valores estavam em linha com as nossas expetativas e são quase iguais aos da estrela-mãe," salientou Line.

A obtenção de abundâncias ultraprecisas de gás em atmosferas exoplanetárias não somente é uma conquista técnica importante, especialmente com um telescópio no solo, como também pode ajudar os cientistas a procurar vida noutros planetas.

"Este trabalho representa uma demonstração pioneira de como iremos, em última análise, medir bioassinaturas como oxigénio e metano em mundos potencialmente habitáveis num futuro não muito distante," disse Line.

O que Line e a equipa esperam fazer a seguir é repetir esta análise para muitos mais planetas e construir uma "amostra" de medições atmosféricas com pelo menos mais 15 planetas.

"Estamos agora no ponto em que podemos obter precisões de abundâncias de gás comparáveis às dos planetas no nosso próprio Sistema Solar. Medir a abundância de carbono e oxigénio (e outros elementos) nas atmosferas de uma amostra maior de exoplanetas fornece o contexto muito necessário para a compreensão das origens e da evolução dos nossos próprios gigantes gasosos como Júpiter e Saturno," disse Line.

Eles também aguardam ansiosamente o que os futuros telescópios serão capazes de oferecer.

"Se podemos fazer isto com a tecnologia de hoje, pensemos no que seremos capazes de fazer com telescópios de próxima geração como o GMT (Giant Magellan Telescope)," disse Line. "É uma possibilidade real, podermos usar este mesmo método até ao final desta década para 'farejar' assinaturas potenciais de vida, que também contêm carbono e oxigénio, em planetas rochosos semelhantes à Terra para lá do nosso próprio Sistema Solar."

// Universidade Estatal do Arizona (comunicado de imprensa)
// Universidade do Michigan (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature)

 


Saiba mais

WASP-77Ab:
NASA
IPAC/Caltech
Exoplanet.eu
Simbad
Open Exoplanet Catalogue

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

Observatório Gemini:
Página principal
Wikipedia

Telescópio Espacial Hubble:
Hubble, NASA 
ESA
Hubblesite
STScI
SpaceTelescope.org
Base de dados do Arquivo Mikulski para Telescópios Espaciais

 
   
Os astrónomos podem ter descoberto o primeiro planeta para lá da nossa Galáxia

Podem ter sido detetados, pela primeira vez, sinais de um planeta a transitar uma estrela para lá da nossa Galáxia, a Via Láctea. Este resultado intrigante, recorrendo ao Observatório de raios-X Chandra da NASA, abre uma nova janela para a busca de exoplanetas a distâncias maiores do que nunca.

O possível candidato a exoplaneta está localizado na galáxia espiral Messier 51 (M51), também chamada Galáxia do Redemoinho por causa do seu perfil distinto.

 
Os astrónomos encontraram evidências de um possível candidato a planeta na galáxia M51, representando o que poderia ser o primeiro planeta detetado para lá da Via Láctea. O Chandra detetou a diminuição temporária dos raios-X de um sistema onde uma estrela massiva está em órbita ao redor de uma estrela de neutrões ou buraco negro (visto aqui nesta impressão de artista). Essa queda de brilho é interpretada como um planeta que passou em frente de uma fonte de raios-X ao redor de uma estrela de neutrões ou buraco negro.
Crédito: NASA/CXC/M. Weiss
 

Os exoplanetas são planetas definidos como planetas para lá do nosso Sistema Solar. Até agora, os astrónomos tinham encontrado todos os outros exoplanetas conhecidos e candidatos a exoplaneta na nossa Galáxia, a Via Láctea, quase todos a menos de aproximadamente 3000 anos-luz da Terra. Um exoplaneta em M51 estaria a cerca de 28 milhões de anos-luz de distância, o que significa que estaria milhares de vezes mais distante do que os exoplanetas na Via Láctea.

"Estamos a tentar abrir uma nova arena para encontrar outros mundos, procurando candidatos a planeta em comprimentos de onda de raios-X, uma estratégia que torna possível descobri-los noutras galáxias," disse Rosanne Di Stefano do Centro para Astrofísica | Harvard & Smithsonian em Cambridge, no estado norte-americano de Massachusetts, que liderou o estudo publicado na revista Nature Astronomy.

Este novo resultado é baseado em trânsitos, eventos em que a passagem de um planeta à frente de uma estrela bloqueia parte da luz estelar e produz uma queda de brilho característica. Usando telescópios terrestres e espaciais - como as missões Kepler e TESS da NASA - os astrónomos procuraram quedas na luz visível, radiação eletromagnética que os humanos podem ver, permitindo a descoberta de milhares de planetas.

Di Stefano e colegas, por sua vez, procuraram por quedas no brilho de raios-X recebido de binários brilhantes. Estes sistemas luminosos normalmente contêm uma estrela de neutrões ou um buraco negro que puxa gás de uma estrela companheira em órbita próxima. O material perto da estrela de neutrões ou buraco negro torna-se superaquecido e brilha em raios-X.

Como a região que produz raios-X brilhantes é pequena, um planeta que passa à sua frente pode bloquear a maioria ou todos os raios-X, tornando o trânsito mais fácil de localizar porque os raios-X podem desaparecer completamente. Isto pode permitir a deteção de exoplanetas a distâncias muito maiores do que os atuais estudos óticos de trânsitos, que devem ser capazes de detetar diminuições mínimas de luz porque o planeta apenas bloqueia uma pequena fração da estrela.

A equipa usou este método para detetar o candidato a exoplaneta num sistema binário chamado M51-ULS-1, localizado em M51. Este sistema binário contém um buraco negro ou uma estrela de neutrões que orbita uma estrela companheira com aproximadamente 20 vezes a massa do Sol. O trânsito de raios-X que encontraram com dados do Chandra durou cerca de três horas, durante as quais a emissão de raios-X caiu para zero. Com base nesta e noutras informações, os investigadores estimam que o candidato a exoplaneta em M51-ULS-1 seria aproximadamente do tamanho de Saturno e orbitaria a estrela de neutrões ou buraco negro a cerca de duas vezes a distância de Saturno ao Sol.

 
Uma composição de M51 com raios-X do Chandra e luz ótica do Telescópio Espacial Hubble da NASA contém uma caixa que assinala a localização do possível candidato a planeta.
Crédito: raios-X - NASA/CXC/SAO/R. DiStefano, et al.; ótico - NASA/ESA/STScI/Grendler
 

Embora este seja um estudo interessante, são necessários mais dados para verificar a interpretação como um exoplaneta extragaláctico. Um desafio é que a grande órbita do candidato a planeta significa que não cruzaria em frente do seu parceiro binário durante cerca de 70 anos, frustrando quaisquer tentativas de uma observação de confirmação durante décadas.

"Infelizmente, para confirmar que estamos a ver um planeta, provavelmente teríamos que esperar décadas para observar outro trânsito," disse a coautora Nia Imara da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. "E por causa das incertezas de quanto tempo demora para completar uma órbita, não saberíamos exatamente quando olhar."

Pode a diminuição de brilho ter sido provocada por uma nuvem de gás e poeira passando em frente da fonte de raios-X? Os investigadores consideram esta explicação improvável, já que as características do evento observado em M51-ULS-1 não são consistentes com a passagem de tal nuvem. O modelo de um candidato a planeta é, no entanto, consistente com os dados.

"Sabemos que estamos a fazer uma afirmação empolgante e ousada, de modo que esperamos que outros astrónomos a analisem com muito cuidado," disse a coautora Julia Berndtsson da Universidade de Princeton em New Jersey. "Pensamos ter um argumento forte e é com este processo que a ciência avança."

Se realmente existe um planeta neste sistema, provavelmente teve uma história tumultuosa e um passado violento. Um exoplaneta no sistema teria que sobreviver à explosão de supernova que criou a estrela de neutrões ou buraco negro. O futuro também pode ser perigoso. Em algum ponto, a estrela companheira também pode explodir como supernova e banhar o planeta novamente com níveis extremamente altos de radiação.

Di Stefano e colegas procuraram trânsitos de raios-X em três galáxias para lá da Via Láctea, usando tanto o Chandra quanto o XMM-Newtron da ESA. A sua pesquisa cobriu 55 sistemas em M51, 64 sistemas em Messier 101 (a Galáxia do Cata-Vento) e 119 sistemas em Messier 104 (a Galáxia do "Sombrero"), resultando no único candidato a exoplaneta descrito aqui.

Os autores vão examinar os arquivos do Chandra e do XMM-Newton por mais candidatos a exoplaneta noutras galáxias. Estão disponíveis conjuntos substanciais de dados do Chandra para pelo menos 20 galáxias, incluindo algumas como M31 e M33 que estão muito mais próximas do que M51, permitindo que trânsitos mais curtos sejam detetados. Outra linha interessante de investigação é procurar trânsitos de raios-X em fontes da Via Láctea para descobrir novos exoplanetas próximos em ambientes invulgares.

// Centro para Astrofísica | Harvard & Smithsonian (comunicado de imprensa)
// Universidade de Harvard (comunicado de imprensa)
// Observatório de raios-X Chandra (comunicado de imprensa)
// NASA (comunicado de imprensa)
// ESA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Astronomy)
// Artigo científico (PDF)
// Descoberto: primeiro potencial planeta para lá da nossa Galáxia (CfA via YouTube)

 


Saiba mais

Notícias relacionadas:
SPACE.com
science alert
PHYSORG
National Geographic
BBC News
Forbes
SIC Notícias
tvi24
Diário de Notícias
Expresso
Rádio Renascença
Observador
ZAP.aeiou

Exoplanetas:
Wikipedia
Lista de planetas (Wikipedia)
Lista de exoplanetas potencialmente habitáveis (Wikipedia)
Lista de extremos (Wikipedia)
Open Exoplanet Catalogue
NASA
Enciclopédia dos Planetas Extrasolares

M51:
NASA
Wikipedia
SEDS

Observatório de raios-X Chandra:
NASA
Universidade de Harvard
Wikipedia

Observatório XMM-Newton:
ESA
Wikipedia

 
   
Amadores ajudam à descoberta de um disco deformado em torno de um buraco negro

Uma equipa internacional de astrofísicos da África do Sul, Reino Unido, França e Estados Unidos encontrou grandes variações no brilho da luz vista em torno de um dos buracos negros mais próximos na nossa Galáxia, a 9600 anos-luz da Terra, que eles concluem serem provocadas por uma curvatura no seu disco de acreção.

Este objeto, MAXI J1820+070, entrou em erupção como um novo transiente em março de 2018 e foi descoberto por um telescópio de raios-X japonês a bordo da Estação Espacial Internacional. Estes transientes, sistemas que exibem surtos violentos, são sistemas binários, consistindo de uma estrela de baixa massa, semelhante ao nosso Sol e um objeto muito mais compacto, que pode ser uma anã branca, uma estrela de neutrões ou um buraco negro. Neste caso, MAXI J820+070 contém um buraco negro com pelo menos 8 vezes a massa do nosso Sol.

 
Um buraco negro com um disco de acreção deformado.
Crédito: John Paice
 

As primeiras descobertas foram agora aceites para publicação na revista internacional altamente conceituada, Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, cujo autor é o Dr. Jessymol Thomas, do SSAO (South African Astronomical Observatory).

A descoberta apresentada no artigo foi feita a partir de uma extensa e detalhada curva de luz obtida ao longo de quase um ano por dedicados amadores espalhados pelo planeta que fazem parte da AAVSO (American Association of Variable Star Observers). MAXI J1820+070 é um dos três transientes de raios-X mais brilhantes já observados, uma consequência tanto da sua proximidade com a Terra quanto de não se situar no plano obscuro da nossa Via Láctea. Por ter permanecido brilhante durante muitos meses, isto possibilitou ser seguido por muitos astrónomos amadores.

O professor Phil Charles, investigador da Universidade de Southampton e membro da equipa de investigação, explicou: "o material da estrela normal é puxado pelo objeto compacto para o disco de acreção circundante de gás em espiral. Os surtos violentos ocorrem quando o material no disco se torna quente e instável, é acumulado no buraco negro e liberta grandes quantidades de energia antes de atravessar o horizonte de eventos. Este processo é caótico e altamente variável, variando em escalas de tempo de milissegundos a meses."

A equipa de investigação produziu uma visualização do sistema, mostrando como um enorme fluxo de raios-X é emanado de muito perto do buraco negro e depois irradia a matéria circundante, especialmente o disco de acreção, aquecendo-o a cerca de 10.000 K, que é visto no visível. É por isso que, à medida que a explosão de raios-X diminui, o mesmo ocorre com a luz ótica.

Mas algo inesperado aconteceu quase três meses após o início do surto, quando a curva de luz ótica começou uma grande modulação - um pouco como rodar um variador de luz para cima e para baixo e quase dobrar o brilho no pico - ao longo de um período de aproximadamente 17 horas. No entanto, não houve nenhuma mudança na produção de raios-X, que permanecia estável. Embora pequenas modulações visíveis quase periódicas tenham sido vistas no passado durante outras explosões transitórias de raios-X, nada a esta escala tinha sido visto antes.

O que estava a provocar este comportamento extraordinário? "Com o ângulo de visão do sistema, pudemos rapidamente descartar a explicação normal de que os raios-X estavam a iluminar a face interna da estrela dadora porque o brilho estava a ocorrer à altura errada," disse o professor Charles. Nem podia ser devido à variação da luz de onde o fluxo de transferência de massa atinge o disco à medida que a modulação gradualmente se movia em relação à órbita.

Isto deixava apenas uma explicação possível, o enorme fluxo de raios-X irradiava o disco e fazia-o deformar, como mostra a imagem. A distorção fornece um grande aumento na área do disco que pode ser iluminado, fazendo com que o fluxo de luz ótica aumente dramaticamente quando vista no momento certo. Este comportamento já tinha sido visto em binários de raios-X com dadores mais massivos, mas nunca num buraco negro transiente com um dador de baixa massa como este. Abre um caminho completamente novo para estudar a estrutura e as propriedades dos discos de acreção deformados.

O professor Charles continuou: "Este objeto tem propriedades notáveis entre um grupo já interessante de objetos que têm muito para nos ensinar sobre os pontos finais da evolução estelar e sobre a formação de objetos compactos. Já conhecemos algumas dezenas de sistemas binários com buracos negros na nossa Galáxia, todos com massas na gama de 5 a 15 massas solares. Todos eles crescem pela acreção de matéria que testemunhámos de forma tão espetacular aqui."

Tendo início há cerca de 5 anos, um importante programa científico do SALT (Southern African Large Telescope) para estudar objetos transientes fez uma série de importantes observações de binários compactos, incluindo sistemas com buracos negros como MAXI J1820+070. Como investigador principal deste programa, o Dr. David Buckley afirma: "O SALT é uma ferramenta perfeita para estudar a mudança de comportamento destes binários de raios-X durante as suas explosões, que pode monitorizar regularmente durante períodos de semanas a meses e pode ser coordenado com observações de outros telescópios, incluindo aqueles no espaço."

// Universidade de Southampton (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
01/09/2020 - Descobertos ventos infravermelhos constantes durante a erupção de um buraco negro de massa estelar
02/06/2020 - MAXI J1820+070: surto de buraco negro "apanhado" em vídeo
15/10/2019 - Revelada explosão violenta no coração de um sistema que alberga um buraco negro
01/02/2019 - NICER mapeia "ecos de luz" de buraco negro recém-descoberto

Binário de raios-X de baixa massa:
Wikipedia

Buraco negro de massa estelar:
Wikipedia

NICER:
NASA
Wikipedia

Estação Espacial Internacional (ISS):
ESA 
NASA
Wikipedia

SALT:
Página oficial
Wikipedia

 
   
Também em destaque
  Webb vai juntar forças com o EHT para revelar o buraco negro supermassivo da Via Láctea (via Universidade de Yale)
Astrónomos em busca de planetas semelhantes à Terra noutros sistemas solares fizeram uma descoberta ao observar mais de perto a superfície das estrelas. Uma nova técnica desenvolvida por uma equipa internacional de investigadores, liderada pelos astrónomos da Universidade de Yale Rachael Roettenbacher, Sam Cabot e Debra Fischer, usa uma combinação de dados de telescópios terrestres e orbitais para distinguir entre sinais de luz vindos de estrelas e sinais vindos de planetas orbitando essas estrelas. Ler fonte
     
  Astrónomos descobrem enorme "estaleiro" de galáxias no Universo distante (via LBTO)
Uma equipa internacional de astrónomos relatou a descoberta de uma estrutura considerada um "protoenxame" de galáxias em vias de se desenvolver num superenxame de galáxias. Localizado a 11 mil milhões de anos-luz da Terra, as observações mostram o protoenxame como era quando o Universo tinha 3 mil milhões de anos, durante uma época em que as estrelas eram produzidas em ritmos mais altos em certas regiões do cosmos. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - NGC 6995: A Nebulosa do Morcego
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Howard Trottier
 
Vê o morcego? Ele assombra esta ampliação cósmica da Nebulosa do Véu oriental. A própria Nebulosa do Véu é um grande remanescente de supernova, uma nuvem de detritos em expansão da explosão mortal de uma estrela massiva. Enquanto o Véu tem uma forma aproximadamente circular e cobre quase 3 graus no céu na direção da constelação do Cisne, NGC 6995, conhecida informalmente como Nebulosa do Morcego, mede apenas 1/2 grau, mais ou menos o tamanho aparente da Lua. Isto traduz-se em 12 anos-luz à distância estimada da Nebulosa do Véu, a uns tranquilizantes 1400 anos-luz do planeta Terra. Na composição de dados, obtidos através de filtros de banda larga e estreita, a emissão dos átomos de hidrogénio no remanescente pode ser vista a vermelho, com forte emissão dos átomos de oxigénio e azoto em tons de azul. Claro, na parte oeste do Véu existe outra aparição sazonal: a Nebulosa da Vassoura da Bruxa.
 
   
Arquivo | Feed RSS | Contacte o Webmaster | Remover da lista
 
       
       
   
Centro Ciência Viva do Algarve
Rua Comandante Francisco Manuel
8000-250, Faro
Portugal
Telefone: 289 890 922
E-mail: info@ccvalg.pt
Centro Ciência Viva de Tavira
Convento do Carmo
8800-311, Tavira
Portugal
Telefone: 281 326 231 | Telemóvel: 924 452 528
E-mail: geral@cvtavira.pt
   

Os conteúdos das hiperligações encontram-se na sua esmagadora maioria em Inglês. Para o boletim chegar sempre à sua caixa de correio, adicione noreply@ccvalg.pt à sua lista de contactos. Este boletim tem apenas um caráter informativo. Por favor, não responda a este email. Contém propriedades HTML e classes CSS - para vê-lo na sua devida forma, certifique-se que o seu cliente de webmail suporta este tipo de mensagem, ou utilize software próprio, como o Outlook ou outras apps para leitura de mensagens eletrónicas.

Recebeu esta mensagem por estar inscrito na newsletter de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve e do Centro Ciência Viva de Tavira. Se não a deseja receber ou se a recebe em duplicado, faça a devida alteração clicando aqui ou contactando o webmaster.

Esta mensagem destina-se unicamente a informar e está de acordo com as normas europeias de proteção de dados (ver RGDP), conforme Declaração de Privacidade e Tratamento de dados pessoais.

2021 - Centro Ciência Viva do Algarve | Centro Ciência Viva de Tavira

ccvalg.pt cvtavira.pt