Problemas ao ver este e-mail?
Veja no browser

 
 
  Arquivo | CCVAlg - Astronomia
Com o apoio do Centro Ciência de Tavira
   
 
  Astroboletim #1869  
  04/02 a 07/02/2022  
     
     
   
     
 

Apresentação às Estrelas | Destaque Dia das Mulheres na Ciência

Data: 10 de fevereiro de 2022
Hora: 18:00
Via ZOOM

Nesta sessão online, em véspera do Dia das Mulheres na Ciência, teremos uma conversa com a Susana Barros investigadora de astrofísica, do IA Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) sobre interessantes descobertas em que participou.

Em seguida, faremos uma pequena observação astronómica virtual ou com imagens em direto a partir de um telescópio, consoante as condições meteorológicas.

Atividade gratuita mediante inscrição em info@ccvalg.pt
Após a qual será disponibilizado o link ZOOM.

 
     
 
Efemérides

Dia 04/02: 35.º dia do calendário gregoriano.
História:
Em 1600, Tycho Brahe e Johannes Kepler encontram-se no castelo Benátky, a nordeste de Praga.
Em 1906 nascia Clyde Tombaugh, famoso pela descoberta, em 1930, de Plutão

Também descobriu muitos asteroides.
Em 1932 era descoberto o asteroide 1239 Queteleta por Eugène Joseph Delporte.
Em 1934 era descoberto o asteroide 2824 Franke por Karl Wilhelm Reinmuth.
Em 2010, a equipa do Telescópio Espacial Hubble divulga novas imagens de Plutão e supreendem todos com alterações na superfície do planeta anão.
Observações: Os planetas rochosos Mercúrio, Vénus e Marte estão visíveis a este-sudeste, um pouco antes e durante o amanhecer.

Dia 05/02: 36.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1924, o Observatório Real de Greenwich começa a emissão dos sinais horários conhecidos como o Sinal de Greenwich.
Em 1937 nascia Alar Toomre, astrónomo estónio-americano cuja investigação se focou na dinâmica das galáxias. 
Em 1963, Maarten Schmidt descobre enormes desvios para o vermelho em quasares. Schmidt deu ao objeto 3C 273 o termo objeto "quasi-estelar" ou quasar; milhares foram descobertos desde então. 
Em 1967, a Lunar Orbiter 3 é lançada a partir de Cabo Canaveral, com o objetivo de descobrir locais de aterragem para as Surveyor e Apollo
Em 1971, o módulo lunar da missão Apollo 14 fazia a sua alunagem.
Alan Shepard em Fra Mauro (Crédito: NASA)
Em 1974, passagem da Mariner 10 por Vénus. A sonda mostra que as nuvens contornam o planeta em apenas 4 dias terrestres, embora o planeta propriamente dito demore 243 dias terrestres a completar uma rotação sobre o seu eixo.
Em 2002, o observatório solar RHESSI (Reuven Ramaty High Energy Solar Spectroscopic Imager) finalmente chega ao espaço, a bordo de um foguetão Pegasus. 
Observações: À hora de jantar, olhe para este, não muito alto, em busca da estrela Régulo. Estendendo-se para cima e para a esquerda, está a "foice" de Leão, um ponto de interrogação ao contrário. "Leão anuncia a primavera", é o que se costuma dizer. Na realidade, Leão a surgir no céu noturno anuncia a segunda fria metade de inverno. Na primavera, Leão já está alto no céu.

Dia 06/02: 37.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1582, nascia Mario Bettinus, astrónomo, matemático e filósofo italiano. A cratera Bettinus, na Lua, tem o seu nome.
Em 1927, nascia Gerard K. O'Neill, físico americano e ativista espacial que desenvolveu um plano para construir habitações humanas no espaço, incluindo um habitat conhecido como cilindro de O'Neill.
Em 1959, era lançado com sucesso de Cabo Canaveral o primeiro míssil balístico Titan.

Em 1971, Alan Shepard (Apollo 14) dá as primeiras tacadas de golfe na Lua.
Em 2018, o foguetão Falcon Heavy da SpaceX faz o seu voo inaugural.
Observações: Mais ou menos pelas 21 horas, a Ursa Maior apoia-se na sua "pega" a nordeste. A noroeste, a constelação de Cassiopeia, em forma de "W", está na vertical, apoiada no lado com as estrelas mais brilhantes, aproximadamente à mesma altura.

Dia 07/02: 38.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1979, Plutão movia-se para dentro da órbita de Neptuno pela primeira vez desde a sua descoberta. Sai de dentro da órbita de Neptuno no dia 11 de fevereiro de 1999.
Em 1984, durante a missão STS-41-B do programa do vaivém espacial, os astronautas Bruce McCandless II e Robert L. Stewart fazem o pimeiro passeio espacial sem ligação ao vaivém usando a Unidade de Manobra Tripulada.
Em 1991, a nave Salyut 7 despenha-se na atmosfera sobre a Argentina.
Em 1999, lançamento da sonda Stardust da NASA. Foi a primeira missão a recolher amostras de poeira cometária (Wild 2) e poeira cósmica.
Em 2001, lançamento da missão STS-98, do vaivém Atlantis, com o módulo "Destiny" da Estação Espacial Internacional. O lançamento ao pôr-do-Sol é descrito por muitos observadores experientes como dos lançamentos mais bonitos que alguma vez viram.

Em 2016, a Coreia do Norte lança o satélite Kwangmyŏngsŏng-4 para o espaço.
Observações: Já comparou atentamente as cores de Betelgeuse e de Aldebarã? Consegue detetar qualquer diferença entre as suas cores? Aldebarã é uma estrela do tipo espectral K5 III, muitas vezes chamada uma gigante "laranja", enquanto Betelgeuse, do tipo espectral M1-M2 Ia, é normalmente chamada uma supergigante "vermelha". As suas temperaturas são, efetivamente, um pouco diferentes: 3900 K e 3600 K, respetivamente, uma diferença de 8%.
Mas é complicado! Betelgeuse é mais brilhante e, para o olho humano, as cores dos objetos brilhantes parecem, falsamente, estar dessaturadas: mais pálidas (brancas) do que realmente são. Podemos "ler" melhor as cores das estrelas brilhantes desfocando-as um pouco, para espalhar a sua luz numa área maior da retina.

 
 
   
Descoberto o segundo asteroide troiano da Terra [conhecido]

Ao examinar o céu muito perto do horizonte ao nascer-do-Sol, o Telescópio SOAR no Chile, parte do Observatório Interamericano Cerro-Tololo, um programa do NOIRLab da NSF (National Science Foundation), ajudou os astrónomos a confirmar a existência de apenas o segundo asteroide troiano da Terra conhecido e a revelar que tem mais de um quilómetro de largura - cerca de três vezes maior do que o primeiro.

Usando o Telescópio SOAR (Southern Astrophysical Research) de 4,5 metros no Cerro Pachón no Chile, astrónomos liderados por Toni Santana-Ros da Universidade de Alicante e do Instituto de Ciências do Cosmos da Universidade de Barcelona observaram o asteroide recentemente descoberto 2020 XL5 para restringir a sua órbita e tamanho. Os seus resultados confirmam que 2020 XL5 é um troiano da Terra - um asteroide companheiro da Terra que orbita o Sol pelo mesmo percurso que o nosso planeta - e que é o maior até agora encontrado.

 
Usando o Telescópio SOAR (Southern Astrophysical Research) de 4,1 metros no Cerro Pachón no Chile, os astrónomos confirmaram que um asteroide descoberto em 2020 pelo levantamento Pan-STARRS, chamado 2020 XL5, é um troiano da Terra (um companheiro da Terra que segue o mesmo caminho em torno do Sol que a Terra) e revelou que é muito maior do que o único outro troiano da Terra conhecido. Nesta ilustração, o asteroide é mostrado em primeiro plano no canto inferior esquerdo. Os dois pontos brilhantes acima dele, na extrema esquerda, são a Terra (direita) e a Lua (esquerda). O Sol aparece em primeiro plano à direita.
Crédito: NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spaceengine; Reconhecimento - M. Zamani (NOIRLab da NSF)
 

"Os troianos são objetos que partilham uma órbita com um planeta, agrupados em torno de uma de duas áreas especiais gravitacionalmente equilibradas ao longo da órbita do planeta conhecidas como pontos de Lagrange," diz Cesar Briceño do NOIRLab da NSF, que é um dos autores de um artigo publicado na revista Nature Communications e que ajudou a fazer as observações com o Telescópio SOAR no CTIO (Cerro Tololo Inter-American Observatory, Observatório Interamericano Cerro-Tololo) em março de 2021.

Sabe-se que vários planetas do Sistema Solar têm asteroides troianos, mas 2020 XL5 é apenas o segundo asteroide troiano conhecido encontrado perto da Terra.

Também foram feitas observações de 2020 XL5 pelo Telescópio Lowell Discovery de 4,3 metros no Observatório Lowell, Arizona, EUA, e pela Estação Terrestre Ótica de 1 metro da ESA em Tenerife, nas Ilhas Canárias.

Descoberto no dia 12 de dezembro de 2020 pelo telescópio Pan-STARRS no Hawaii, 2020 XL5 é muito maior do que o primeiro asteroide troiano da Terra descoberto, de nome 2010 TK7. Os investigadores descobriram que 2020 XL5 tem cerca de 1,2 quilómetros de diâmetro, cerca de três vezes maior do que o primeiro (2010 TK7 tem um tamanho estimado em menos de 400 metros).

Quando 2020 XL5 foi descoberto, a sua órbita em torno do Sol não era suficientemente bem conhecida para dizer se se tratava de um asteroide próximo da Terra a atravessar a nossa órbita, ou se se tratava de um verdadeiro troiano. As medições do SOAR foram tão precisas que a equipa de Santana-Ros pôde então voltar atrás e procurar 2020 XL5 em imagens de arquivo de 2012 a 2019 obtidas como parte do DES (Dark Energy Survey) usando a DECam (Dark Energy Camera) no Telescópio Víctor M. Blanco de 4 metros localizado no CTIO no Chile. Com quase 10 anos de dados à disposição, a equipa conseguiu melhorar consideravelmente a nossa compreensão da órbita do asteroide.

Embora outros estudos tenham apoiado a identificação do asteroide troiano, os novos resultados tornam essa determinação muito mais robusta e fornecem estimativas do tamanho de 2020 XL5 e do tipo de asteroide que é.

"Os dados do SOAR permitiram-nos fazer uma primeira análise fotométrica do objeto, revelando que 2020 XL5 é provavelmente um asteroide do tipo C, com um tamanho superior a um quilómetro," diz Santana-Ros. Um asteroide do tipo C é escuro, contém muito carbono e é o tipo de asteroide mais comum no Sistema Solar.

Os resultados também mostraram que 2020 XL5 não permanecerá para sempre um asteroide troiano. Permanecerá estável na sua posição durante pelo menos mais 4000 anos, mas eventualmente ficará gravemente perturbado e escapará para vaguear pelo espaço.

 
Esta imagem mostra onde o asteroide terrestre troiano 2020 XL5 apareceria no céu a partir de Cerro Pachón, no Chile, enquanto o asteroide orbita o ponto L4 Terra-Sol. As setas mostram a direção do seu movimento. O Telescópio SOAR aparece na parte inferior esquerda. A magnitude aparente do asteroide é de mais ou menos 22, apenas visível através dos maiores telescópios.
Crédito: NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva
 

2020 XL5 e 2010 TK7 podem não estar sozinhos - podem haver muitos mais troianos da Terra que até agora não foram detetados à medida que aparecem perto do Sol no céu. Isto significa que as buscas e observações de troianos da Terra devem ser realizadas perto do nascer ou do pôr-do-Sol, com o telescópio a apontar perto do horizonte, através da parte mais espessa da atmosfera, o que resulta em más condições de visão. O SOAR conseguiu apontar até 16 graus acima do horizonte, enquanto muitos telescópios de 4 metros (e maiores) não são capazes de apontar tão baixo.

"Estas foram observações muito desafiantes, exigindo que o telescópio seguisse corretamente o seu limite de elevação mais baixo, uma vez que o objeto estava muito perto do horizonte oeste ao amanhecer," diz Briceño.

No entanto, o prémio de descobrir troianos da Terra vale o esforço de os encontrar. Por serem feitos de material primitivo que remonta ao nascimento do Sistema Solar e por poderem representar alguns dos blocos de construção que formaram o nosso planeta, são alvos atrativos para futuras missões espaciais.

"Se formos capazes de descobrir mais troianos da Terra, e se alguns deles puderem ter órbitas com inclinações mais baixas, poderão tornar-se mais baratos de alcançar do que a nossa Lua," diz Briceño. "Assim, podem tornar-se bases ideais para uma exploração avançada do Sistema Solar, ou podem mesmo ser uma fonte de recursos."

// NOIRLab (comunicado de imprensa)
// Observatório Lowell (comunicado de imprensa)
// Universidade de Alicante (comunicado de imprensa)
// Universidade de Barcelona (comunicado de imprensa)
// Entrevista com Toni Santana-Ros (ESA)
// Instituto de Astrofísica da Andaluzia (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Nature Communications)
// CosmoView 41: 2020 XL5 (NOIRLabAstro via YouTube)

 


Saiba mais

Notícias relacionadas:
Universe Today
SPACE.com
science alert
ZME Science
PHYSORG
ScienceNews
Inverse
ScienceDaily
Gizmodo
Forbes
Reuters

2020 XL5:
ESA
JPL/NASA
NEODyS-2
Wikipedia

2010 TK7:
ESA
JPL/NASA
NEODyS-2
Wikipedia

Troianos da Terra:
Wikipedia
Troiano (Wikipedia)

Telescópio SOAR:
NOIRLab
Wikipedia

Observatório Lowell:
Página oficial
Wikipedia
Telescópio Lowell Discovery (Wikipedia)

 
   
As falhas geológicas de Plutão podem esconder pistas da sua história

O mundo vislumbrou Plutão de perto, pela primeira vez, quando a sonda New Horizons da NASA por lá passou em julho de 2015. Uma das descobertas mais excitantes feitas pelos cientistas com base nos dados da New Horizons é que Plutão, apesar de orbitar a mais de 5 mil milhões de quilómetros do Sol, pode conter um oceano de água líquida sob a sua superfície de gelo.

Este oceano de água líquida tem enormes implicações na forma como Plutão se formou e reteve calor suficiente para derreter toda essa água gelada. Nos anos que se seguiram ao "flyby" da New Horizons, surgiram duas hipóteses gerais de formação. A primeira começa com um Plutão "frio", que envolve a formação de Plutão ao longo de milhões de anos pela acreção lenta de objetos frios. Esta versão de Plutão eventualmente coalesceria material suficiente para que o aquecimento radiativo a partir do interior derretesse o oceano subterrâneo. A outra hipótese envolve um Plutão "quente", em que se formou num período de tempo mais curto através de violentas colisões que aqueceram o seu interior, formaram o oceano e o planeta anão eventualmente arrefeceu na bola de gelo que vemos hoje.

 
Os cientistas estudaram o "coração" de Plutão para melhor compreenderem a espessura da sua litosfera e, portanto, como se formou.
Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI
 

Uma pista que pode ajudar os cientistas a compreender a formação de Plutão é a espessura da sua crosta exterior de gelo, bem como as características geológicas que constituem a sua superfície. Num novo estudo, McGovern et al. concentraram-se em Sputnik Planitia, uma vasta bacia que constitui a porção ocidental do brilhante "coração" de Plutão. Sputnik Planitia formou-se após um impacto e acabou por se encher de azoto gelado. O calor impulsionado pela convecção formou estruturas em forma de célula no azoto gelado, o que cativou os cientistas. Esta bacia mede 1500 x 900 quilómetros e apresenta cumes que se elevam um quilómetro acima da paisagem circundante. Fraturas e fissuras irradiam da bacia como raios numa roda de bicicleta, escrevem os autores.

Estas fraturas e fissuras são fundamentais para compreender como a carga de azoto gelado afeta a superfície de Plutão, o que dependeria da espessura dessa superfície. O azoto gelado empurra para baixo a camada exterior de Plutão, ou litosfera. Dependendo da espessura da litosfera quando o azoto gelado fluiu pela primeira vez para a bacia, formar-se-iam diferentes padrões de fissuras.

Os investigadores executaram modelos de computador testando várias condições iniciais para Sputnik Planitia a fim de encontrar a espessura da litosfera que melhor se adapta às características geológicas atuais. Descobriram que a litosfera tem provavelmente 45-70 quilómetros de espessura e que a profundidade inicial da cratera de impacto que forma Sputnik Planitia era provavelmente rasa, não mais de 3 quilómetros.

McGovern e colegas notam que a sua descoberta é consistente com a teoria "quente" da formação de Plutão que postula que o planeta anão se formou através de impactos violentos e que começou com mais líquido, muito do qual congelou ao longo dos milénios seguintes. Notam também que o stress sobre a camada exterior criada pelo azoto gelado está provavelmente a facilitar algum criovulcanismo em vários locais em redor de Sputnik Planitia.

// Eos da AGU (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (JGR Planets)

 


Saiba mais

Plutão:
NASA
Wikipedia
Sputnik Planitia (Wikipedia)

New Horizons:
Página oficial
NASA
Twitter
Wikipedia

 
   
Nova análise leva a uma visão fundamentalmente diferente dos buracos negros supermassivos

Localizados no centro das galáxias, os buracos negros supermassivos são milhões ou até milhares de milhões de vezes mais massivos do que o nosso Sol. Com a sua poderosíssima atração gravitacional, são capazes de engolir grandes quantidades de gás, poeira e talvez até mesmo estrelas que vagueiam demasiado perto.

A física diz-nos que este material tende a formar um disco à medida que é atraído para o buraco negro, num fenómeno chamado "acreção". Estes discos de acreção são dos lugares mais violentos do Universo conhecido, com velocidades que se aproximam da velocidade da luz e temperaturas muito superiores à da superfície do nosso Sol. Este calor produz radiação que vemos como luz, mas a conversão de calor em luz é tão eficiente - cerca de 30 vezes mais eficiente do que a fusão nuclear - que os físicos não compreendem bem como.

 
Impressão de artista do quasar ULAS J1120+0641.
Crédito: ESO/M. Kornmesser
 

Gigantes cósmicos famintos

Os padrões alimentares dos buracos negros são muito diversos. Alguns, como o buraco negro supermassivo no centro da nossa Via Láctea, não parecem ter discos de acreção. Mas vemos outras galáxias com fome voraz, cujos buracos negros supermassivos formaram discos de acreção extremamente quentes, tão brilhantes que brilham mais do que todas as estrelas da sua galáxia.

Só recentemente obtivemos a primeira imagem de um disco de acreção pelo EHT (Event Horizon Telescope), uma rede mundial de radiotelescópios. No entanto, este disco de acreção pertence a uma galáxia muito próxima. Não podemos repetir esta experiência com galáxias mais distantes, uma vez que os discos são simplesmente demasiado pequenos e por isso não observáveis, mesmo pelos maiores telescópios.

A variabilidade é fundamental

Felizmente, outro método de examinar o tamanho e a estrutura dos discos de acreção distantes parece promissor: embora não possamos resolver os vários componentes dos discos, podemos estudar como a sua intensidade varia no tempo. Ao estudar as variações de luz dos discos, podemos produzir um quadro geral dos discos de acreção, mesmo os das galáxias mais distantes.

Foi o que o bolseiro de doutoramento John Weaver, do Cosmic Dawn Center do Instituto Niels Bohr e da Universidade de Copenhaga, decidiu fazer, analisando observações passadas de mais de 9000 galáxias com discos de acreção brilhantes - os chamados quasares - do programa SDSS (Sloan Digital Sky Survey).

Quando a fonte não está resolvida, a luz observada do disco de acreção será "contaminada" pela luz da galáxia que alberga o buraco negro. Esta luz indesejada das galáxias hospedeiras tem sido largamente ignorada por estudos anteriores. Contudo, ao utilizar um novo modelo para as variações da luz do quasar, John Weaver e o colaborador Keith Horne, professor de astronomia na Universidade de St. Andrews, na Escócia, conseguiram separar a luz do disco de acreção da luz da galáxia hospedeira.

Por outras palavras, o modelo permitiu-lhes ver mais diretamente a luz do disco de acreção em torno de buracos negros supermassivos, mesmo em galáxias a milhares de milhões de anos-luz de distância.

 
O buraco negro supermassivo no centro da galáxia M87. As estrias mostram a luz polarizada do campo eléctrico do gás a cair para o buraco negro.
Crédito: Colaboração EHT et al., 2021
 

Obscurecido pela poeira

O que Weaver e Horne descobriram foi que a poeira cósmica perto do disco de acreção estava provavelmente a bloquear a sua visão. Utilizando vários modelos diferentes da poeira cósmica para explicar, e remover, os seus efeitos obscurecedores, foram capazes de determinar quão quente é o disco de acreção, tanto perto do buraco negro como longe dele, nas extremidades do disco.

Esta diferença em temperatura entre o disco interno quente o disco externo mais frio já tinha sido prevista teoricamente. No entanto, o que Weaver e Horne observaram foi uma imagem muito diferente da temperatura do disco: os discos revelaram-se ainda mais quentes perto do buraco negro do que o previsto. Estas descobertas inesperadas foram publicadas na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e sugerem que os nossos pressupostos e modelos teóricos podem precisar de ser revistos - com consequências para a nossa compreensão dos buracos negros supermassivos no geral.

Não só temos mais a aprender sobre os buracos negros supermassivos, como as variações na sua fome voraz são uma demonstração maravilhosa de que o nosso Universo é um lugar muito mais dinâmico do que seria de esperar olhando o céu noturno estático.

// Instituto Niels Bohr (comunicado de imprensa)
// Cosmic Dawn Center (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society)
// Artigo científico (arXiv.org)

 


Saiba mais

Buraco negro supermassivo:
Wikipedia

Quasar:
Wikipedia

EHT (Event Horizon Telescope):
Página principal
Wikipedia

SDSS:
Página principal
Wikipedia

 
   
Também em destaque
  Astrónomos fornecem teoria sobre a localização misteriosa de estrelas massivas (via Universidade Estatal da Geórgia)
A curta vida das estrelas massivas significa que há pouco tempo para eles se afastarem demasiado do seu local de nascimento. A maioria encontra-se no plano da nossa Galáxia, onde as nuvens de gás são suficientemente densas para promover o nascimento de estrelas e onde os astrónomos encontram jovens enxames de estrelas massivas. Então, quando uma estrela massiva é encontrada longe do disco da galáxia, como foi lá parar? Ler fonte
     
  Luas dão pistas do que torna os planetas habitáveis (via Universidade de Rochester)
Num novo estudo, cientistas concluem que os planetas mais pequenos do Universo são mais propensos a acolher luas comparativamente grandes e que estas podem ser benéficas para ajudar a abrigar vida nesses planetas. Ler fonte
 
   
Álbum de fotografias - Secção Norte da Nebulosa Carina
(clique na imagem para ver versão maior)
Crédito: Roberto Colombari
 
A Grande Nebulosa Carina é o lar de estranhas estrelas e nebulosas icónicas. Com o nome da constelação onde está situada, a enorme região de formação estelar é maior e mais brilhante do que a Grande Nebulosa de Orionte, mas menos conhecida por ficar tão a sul - e porque grande parte da humanidade vive a norte. A imagem em destaque mostra em grande detalhe a parte mais a norte da Nebulosa Carina. As nebulosas visíveis incluem os filamentos semicirculares que rodeiam a estrela ativa Wolf-Rayet 23 (WR23) na extrema esquerda. À esquerda do centro está a Nebulosa Gabriela Mistral que consiste numa nebulosa de emissão de gás brilhante (IC 2599) em redor do pequeno enxame estelar (NGC 3324). Acima do centro da imagem está o maior enxame NGC 3293, enquanto que à sua direita está a relativamente fraca nebulosa de emissão designada Loden 153. No entanto, o ocupante mais famoso da Nebulosa Carina não está na imagem. Para baixo e para a direita da imagem está a brilhante e errática estrela condenada conhecida como Eta Carinae - uma estrela que já foi uma das estrelas mais brilhantes do céu e que agora se prevê explodir numa supernova algures nos próximos milhões de anos.
 
   
Arquivo | Feed RSS | Contacte o Webmaster | Remover da lista
 
       
       
   
Centro Ciência Viva do Algarve
Rua Comandante Francisco Manuel
8000-250, Faro
Portugal
Telefone: 289 890 922
E-mail: info@ccvalg.pt
Centro Ciência Viva de Tavira
Convento do Carmo
8800-311, Tavira
Portugal
Telefone: 281 326 231 | Telemóvel: 924 452 528
E-mail: geral@cvtavira.pt
   

Os conteúdos das hiperligações encontram-se na sua esmagadora maioria em Inglês. Para o boletim chegar sempre à sua caixa de correio, adicione noreply@ccvalg.pt à sua lista de contactos. Este boletim tem apenas um caráter informativo. Por favor, não responda a este email. Contém propriedades HTML e classes CSS - para vê-lo na sua devida forma, certifique-se que o seu cliente de webmail suporta este tipo de mensagem, ou utilize software próprio, como o Outlook ou outras apps para leitura de mensagens eletrónicas.

Recebeu esta mensagem por estar inscrito na newsletter de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve e do Centro Ciência Viva de Tavira. Se não a deseja receber ou se a recebe em duplicado, faça a devida alteração clicando aqui ou contactando o webmaster.

Esta mensagem destina-se unicamente a informar e está de acordo com as normas europeias de proteção de dados (ver RGDP), conforme Declaração de Privacidade e Tratamento de dados pessoais.

2022 - Centro Ciência Viva do Algarve | Centro Ciência Viva de Tavira

ccvalg.pt cvtavira.pt