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BOLETIM ASTRONÓMICO - EDIÇÃO N.º 464
De 05/11 a 07/11/2008
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  TÁURIDAS PODEM CONTER GRANDES BOLAS DE FOGO
   


As bolas de fogo podem ser impressionantes. O astrofotógrafo italiano Lorenzo Lovato registou esta bola de fogo das Leónidas a 17 de Novembro de 1998.
Crédito: Lorenzo Lovato

A chuva de meteoros Táuridas, aparece entre meados de Outubro e meados de Novembro, mas entre 5 e 12 de Novembro, será provavelmente a melhor altura para as observar este ano, tendo em conta o seu pico de actividade e o efeito da crescente luz reflectida pela Lua.

Depois do pôr-da-Lua - por volta das 23:30 (hora de Portugal) no dia 5 de Novembro, mais tarde nas noites seguites - podem aparecer entre 10 a 15 meteoros por hora. São normalmente laranja-amarelados, e, em comparação com a generalidade dos meteoros, parecem mover-se relativamente devagar pelo céu. O seu nome vem de onde parecem radiar, da constelação de Touro, que se situa baixo a Este-Nordeste um par de horas após o anoitecer, e que fica directamente por cima das nossas cabeças por volta da uma e meia da manhã.

Os meteoros - normalmente conhecidos pelo seu termo popular de "estrelas cadentes" - são gerados quando detritos entram e queimam-se na atmosfera da Terra. No caso das Táuridas, são atribuídas aos detritos deixados para trás pelo Cometa Encke, ou talvez por um cometa muito maior que após se ter desintegrado, criou o Encke, bem como muitos outros entulhos.

De facto, a corrente de material das Táuridas contém fragmentos notavelmente maiores que aqueles libertados por outros cometas, que é o porquê de em certos anos - e prevê-se que 2008 seja um deles - esta corrente meteórica relativamente velha proporcionar vários meteoros invulgarmente brilhantes conhecidos como "bolas de fogo."

As Táuridas são na realidade divididas nas Táuridas Norte e Táuridas Sul. Este é um exemplo do que acontece a uma corrente de meteoros quando envelhece.

Mesmo no início, as partículas podiam nem estar a mover-se exactamente na mesma órbita que o seu cometa-mãe; a sua ligeira divergência cresce com o tempo. Entretanto, o Sol não é o único corpo que controla gravitacionalmente as órbitas das partículas; os planetas têm efeitos subtis na corrente. Dado que as posições dos planetas estão em constante mudança, estas partículas passam mais perto das mesmas em certas revoluções do que noutras - divergindo partes da corrente, alargando e dividindo-a.

Então o que era originalmente uma corrente separa-se numa nuvem de correntes mais pequenas e de partículas isoladas em órbitas individuais, atravessando a órbita da Terra a alturas ainda mais separadas do ano e vindo de direcções mais espalhadas até que se misturam completamente com a nuvem de poeira geral no Sistema Solar.

Dr. Victor Clube, astrofísico inglês e especialista em cometas e cosmologia, indicou em 1992 que a corrente de meteoros das Táuridas continha tavez meia-dúzia de asteróides cujas órbitas os colocam com firmeza na corrente. Clube e seus colegas argumentam que o alcance da órbita das Táuridas indica que foram todas libertadas por um grande cometa, originalmente com 170 km ou mais em diâmetro, que entrou no Sistema Solar há uns 20.000 anos atrás.

Há 10.000 anos atrás, foi dissecado e quebrado; o Cometa Encke pode ser na realidade o maior bocado que resta.

O Encke é o cometa com o menor período orbital conhecido, demorando apenas 3,3 anos para completar uma órbita em torno do Sol. O especialista em meteoros, David Asher, descobriu que a Terra pode periodicamente encontrar enxames de partículas maiores em certos anos e prevê-se que 2008 seja um desses anos.

Na edição de Setembro de 2008 da revista da Sociedade Americana de Meteoros, Robert Lunsford escreve: "O máximo para o ramo do Sul ocorre perto de 5 de Novembro e o ramo do Norte alcança o pico perto de 12 de Novembro. Este ano a Lua favorece a observação durante a primeira semana de Novembro mas as Táuridas Norte atingem o pico apenas um dia antes da Lua Cheia."

Os dois radiantes situam-se a Sul das Plêiades. Por isso durante as próximas duas semanas, se vir um meteoro brilhante, ligeiramente alaranjado, a percorrer na direcção contrária a essa famosa pequena colecção de estrelas, pode ter a certeza que é uma Táurida.

Lunsford acrescenta: "2005 foi o último ano do enxame... foram observadas muitas bolas de fogo excepcionais no início do mês, tão brilhantes como a Lua Cheia."

Será que 2008 irá oferecer-nos uma performance parecida? Apenas o saberemos se formos para a rua e observarmos o céu!

Links:

Notícias relacionadas:
New Scientist
SPACE.com
The Register

Táuridas:
Wikipedia
International Meteor Organization
Armagh Observatory

 
  METANO EM MARTE PERMANECE AINDA UM MISTÉRIO
   

Já sabemos da existência de metano na atmosfera de Marte há mais de quatro anos. Mas não sabemos de onde é que vem. Na Terra, o metano é produzido por agentes biológicos: decomposição vegetal ou flatulência de grandes animais como as vacas. Mas, claro, com as nossas extensas explorações de Marte, com rovers e câmaras de alta-resolução a partir de órbita, temos a certeza que não existem equivalentes bovinos ruminando por pastos no Planeta Vermelho. Mesmo que a vida tivesse existido no passado de Marte, o metano é quebrado rapidamente pela luz solar, e os cientistas calcularam que o metano deveria existir por apenas umas quantas centenas de anos na atmosfera marciana. A única possibilidade é que, de algum modo, quimica ou biologicamente, o metano esteja sendo substituído numa base regular. E agora, dois recentes trabalhos científicos delineando descobertas separadas em Marte tornam este metano ainda mais intrigante.

O metano foi descoberto em Marte por três grupos independentes em 2003-2004. Uma detecção foi feita através da sonda Mars Express, outra usou observações dos telescópios Keck II e Gemini Sul, e a terceira usou o telescópio do Canadá-França-Hawaii.

A sonda da ESA Mars Express foi uma das fontes da descoberta de metano em Marte.
Crédito: ESA
(clique na imagem para ver versão maior)

E o mistério de como o metano em Marte está sendo reabastecido continua a baralhar os cientistas, seguindo as suas observações num esforço de melhor compreender o que está acontecer no planeta. Michael Mumma do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, Maryland, foi um dos descobridores do metano. As suas observações e da sua equipa, ao longo dos últimos quatro anos, mostram que o metano não está espalhado uniformemente em torno de Marte, mas concentrado em vários locais "quentes". Observaram que nuvens de metano, podendo medir centenas de quilómetros, formam-se por cima destes locais e dissipam-se em apenas um ano - muito menos tempo que os 300-600 anos que se pensava ser o tempo necessário para o metano atmosférico ser destruído pela luz solar. Se o metano está a ser destruído tão rapidamente, também deve estar a ser criado muito mais rapidamente do que se pensava. Humma detalhou estes resultados o mês passado numa conferência de ciência planetária.

Um destes locais é Nili Fossae, uma fissura que sofreu erosão e está parcialmente preenchida por sedimentos e material rico em argilas, ejectado a partir de uma cratera vizinha. Poderá existir um ecossistema vivo, aí escondido por baixo da superfície marciana? Na Terra, os micróbios subterrâneos sobrevivem sem luz solar, sem oxigénio, ou contacto com a superfície. Além do mais, esta boa perspectiva torna-se mais interessante quando se sabe que na Terra, a maioria dos micróbios subterrâneos são organismos primitivos unicelulares que alimentam o seu metabolismo com energia química a partir do seu ambiente. Estes micróbios são chamados "metanogenes" porque fabricam metano como produto de excreção.

Nili Fossae é um dos possíveis locais de aterragem do Mars Science Laboratory, a próxima geração de rover actualmente com lançamento previsto para o próximo ano.

Concepção de artista do próximo rover a explorar Marte, o Mars Science Laboratory, com lançamento previsto para 2009.
Crédito: NASA/JPL-Caltech
(clique na imagem para ver versão maior)

Mas os astrobiólogos não põem de parte a possibilidade de algum tipo de processo químico corrente em Marte, que pode estar a produzir o metano. Mas mesmo esta teoria é interessante, porque significa que existem processos activos no interior de Marte. Uma ideia proposta num artigo recente é que clatratos de metano encontram-se perto da superfície marciana, e estão constantemente a libertar pequenas quantidades de metano à medida que as temperaturas e pressões perto da superfície mudam. Os clatratos de metano são formas sólidas de água que contêm uma grande quantidade de metano dentro da sua estrutura cristalina.

Caroline Thomas e seus colegas da Universidade de Franche-Comte, dizem que os clatratos podem apenas existir perto da superfície de Marte se a atmosfera tivesse já sido rica em metano. De outro modo, os clatratos nunca poderiam-se ter formado. Uma possibilidade diz que a atmosfera terá sido uma vez temporariamente enriquecida pelo impacto de um cometa. Além do mais, a decoberta de depósitos de hematite cinzenta cristalina à superfície pode ser prova de uma antiga atmosfera marciana rica em metano.

Caso contrário, dizem os investigadores, a única outra possibilidade tem origem biológica.

"Os nossos resultados mostram que os hidratos (clatratos) ricos em metano podem ser estáveis à subsuperfície de Marte apenas se uma atmosfera primitiva rica em CH4 tivesse existido ou se uma fonte subsuperficial de CH4 tivesse estado (ou está) presente," escrevem os investigadores.

Então que significa tudo isto? O rover Mars Science Laboratory pode ter a capacidade de descobrir, ou pelo menos de nos aproximar da resolução deste mistério. Caso contrário, será necessária uma grande descoberta pelas outras sondas e telescópios a observar Marte. Mas é possível que não consigamos compreender totalmente porque Marte tem metano até que nós, seres humanos, viajemos até lá.

Links:

Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
2004/11/16 - Marte, metano e cientistas
2004/12/21 - Gigante rover irá procurar vida em Marte
2005/02/18 - Uma lufada de vida em Marte
2005/12/20 - Bactérias marcianas pode encontrar-se por baixo do gelo

Notícias relacionadas:
New Scientist
The Physics arXiv blog
Artigo científico (formato PDF)
Nature (requer subscição)

Mars Science Laboratory:
NASA
Wikipedia

Mars Express:
Página oficial da ESA
Wikipedia

Marte:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

 
 
 
EFEMÉRIDES:

Dia 05/11: 310.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1906, nascia Fred Whipple, que propôs o modelo da "bola de neve suja" para o núcleo dos cometas.

Observações: Uns binóculos ou um pequeno telescópio apontado para Vénus irá também mostrar a estrela de magnitude 3,3, Theta Ophiuchi, 0,12º para a esquerda do planeta.
Esteja atento ao céu esta noite e as seguintes, pode ter sorte e avistar uma brilhante estrela (ou mais) cadente da chuva de meteoros Táuridas.

Dia 06/11: 311.º dia do calendário gregoriano.
Observações: Lua em Quarto Crescente, pelas 4:04.

Dia 07/11: 312.º dia do calendário gregoriano.
História: Em 1996 era lançada a sonda Mars Global Surveyor.

Observações: Usando binóculos, consegue discernir o bule de chá da constelação de Sagitário, entre Júpiter e Vénus? O bule mede 13º de ponta a ponta, aproximadamente o dobro de uns normais binóculos que ampliam 8x.

 
 
CURIOSIDADES:

Cerca de 60% das galáxias são espirais. As restantes são elípticas ou irregulares.
 
 
ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS:

Foto

Galáxias Anulares Duplas Arp 147 - Crédito: M Livio et al. (STScI), ESA, NASA

Como pode uma galáxia ficar com a forma de um anel? Ainda mais estranho: como podem duas? O limite da galáxia azul na imagem, à direita, mostra uma imensa estrutura anular com 30.000 anos-luz em diâmetro composta por estrelas massivas, extremamente brilhantes e recém-formadas. Esta galáxia azul faz parte do sistema galáctico em interacção conhecido como Arp 147, e mostra um anel porque recentemente colidiu com a outra galáxia na foto, a galáxia vermelha à esquerda. Invulgarmente, até mesmo esta galáxia vermelha mostra uma banda tipo-anel, embora seja observada quase de lado. Quando as galáxias colidem, passam uma pela outra -- as suas estrelas individuais raramente entram em contacto. As nuvens de gás interestelar e poeira condensam-se, provocando uma onda de formação estelar que se move desde o ponto de impacto como na superfície de um lago. A imagem foi obtida a semana passada pelo Telescópio Espacial Hubble para demonstrar a capacidade da sua câmara WFPC2 (Wide Field Planetary Camera 2) após recentes dificuldades técnicas.
Ver imagem em alta-resolução

 
 
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