Um estudo da Universidade de Berkeley, Califórnia, sobre bactérias produtoras de metano congeladas no fundo da camada de gelo com três quilómetros na Gronelândia poderá ajudar os cientistas a procurar formas de vida bacterial semelhantes em Marte.
O metano é um gás de efeito de estufa presente nas atmosferas da Terra e de Marte. Se uma classe de antigos micróbios chamados Archae são a fonte do metano de Marte, como já alguns cientistas propuseram, então sondas não tripuladas até à superfície de Marte poderiam procurá-los a profundidades onde a temperatura é cerca de 10 graus Celsius mais quente que a encontrada na base da camada gelada da Gronelândia, de acordo com o pesquisador principal da equipa da Berkeley, P. Buford Price, professor de Física.
Isto significa uma profundidade de algumas centenas de metros por baixo do solo, onde tais micróbios poderão encontrar-se na média de um por cada centímetro cúbico, ou cerca de 16 por cada polegada cúbica.
Price não está esperando num futuro próximo uma tal missão a Marte, para perfurar centenas de metros por baixo da superfície, mas os metanogenes (Archae que produzem metano) poderão facilmente ser detectados nos lados das crateras onde a rocha subterrânea foi expelida devido ao impacto.
"Detectar esta concentração de micróbios está dentro das capacidades dos intrumentos mais avançados hoje em dia, se pudessem ser transportados até Marte e se o lander pudesse aterrar num local onde as sondas marcianas detectaram as maiores concentrações de metano," disse Price. "Existem n crateras em Marte, de meteoritos e pequenos asteróides que colidiram com Marte e libertaram material desde uma profundidade adequada, por isso se procurarmos à volta do limite da cratera e levantarmos alguma poeira, até os poderemos encontrar se aterrarmos onde o metano sendo libertado do interior é maior."
Price e seus colegas publicaram os seus resultados há duas semanas na edição online do jornal da Academia Nacional de Ciências dos EUA, e apresentaram-nos na reunião da União Geofísica Americana em São Francisco.
Variações na concentração de metano em núcleos de gelo, como o de 3,053 metros obtido pelo Projecto 2 da Camada de Gelo da Gronelândia, têm sido usados para estudar o clima passado. Nesse núcleo, no entanto, alguns segmentos a cerca de 100 metros do fim, registaram níveis de metano 10 vezes maiores que o esperado há 110,000 anos.
Price e seus colegas mostraram no seu artigo que estes picos anómalos podem ser explicados pela presença no gelo destes metanogenes. Estes são comuns na Terra, em lugares sem oxigénio, e podem facilmente ter sido empurrados por deslocações de gelo sobre o solo subglacial e incorporados nalgumas destas profundas camadas de gelo.
Price e seus colegas encontraram estes metanogenes nos mesmos segmendos nucleares onde o excesso de metano foi medido no gelo a 17, 35 e 100 metros. Calcularam que a quantidade medida de Archae, congelada e por pouco não activa, poderia ter produzido o excesso de metano observado no gelo.
"Encontrámos metanogenes precisamente nessas profundidades onde o metano em excesso estava, e em mais lado nenhum," disse Price.
Os biólogos da Universidade Estatal da Pennsylvania tinham já analizado alguns gelos que tinham uma aparência cinzenta-escura devido à sua alta quantidade de lodo, e identificaram dezenas de tipos de micróbios aeróbios (gostam de oxigénio) e anaeróbios (fobia de oxigénio). Estimaram que 80% destes micróbios ainda estavam vivos.
Embora o metano já tenha sido detectado na atmosfera de Marte, a luz ultravioleta do Sol quebraria a quantidade observada em 300 anos se não houvesse um qualquer processo de reabastecimento do metano, notou Price. Pode ser que a interacção entre fluídos ricos em carbono com rocha basáltica provoque a existência deste metano. Ou que os metanogenes agarrem no hidrogénio e dióxido de carbono à subsuperfície e produzam metano, disse.
Se os metanogenes forem os responsáveis, Price calculou que deveriam ocorrer numa concentração de um micróbio por centímetro cúbico a uma profundidade de algumas centenas de mtros, onde a temperatura - cerca de zero graus Celsius ou um pouco mais - permitiria conservá-los vivos, tal como está acontecer com os micróbios da Gronelândia.
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Universidade de Berkeley (Press release)