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PRIMEIRAS PISTAS DE ONDAS NOS MARES DE TITÃ
21 de Março de 2014

 

Após anos de pesquisa, cientistas planetários pensam que finalmente avistaram ondulação nos mares de Titã, a maior lua de Saturno. Se confirmada, esta será a primeira descoberta de ondas do mar fora da Terra.

A sonda Cassini da NASA espiou vários reflexos invulgares de luz solar na superfície de Punga Mare, um dos mares de hidrocarbonetos de Titã, em 2012 e 2013. Segundo Jason Barnes, cientista planetário da Universidade de Idaho em Moscow, EUA, estes reflexos podem vir de pequenas ondulações, com não mais de 2 centímetros de altura, que estão perturbando o de outra forma oceano plano.

Barnes exibiu os resultados no passado dia 17 de Março numa conferência de ciência lunar e planetária, onde uma segunda apresentação também mencionou a presença de ondas num outro mar de Titã.

Os cientistas esperam nos próximos anos que apareçam mais ondas, porque está previsto um aumento na velocidade dos ventos para o hemisfério norte de Titã - onde a maioria dos seus mares estão localizados -, quando o Inverno passar a Primavera.

"Titã pode estar começando a mexer-se," afirma Ralph Lorenz, cientista planetário do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, no estado americano de Maryland. "A oceanografia já não é apenas uma ciência da Terra."

Nos seus inúmeros voos por Titã, a Cassini descobriu pequenos lagos e grandes mares de metano, etano e outros compostos de hidrocarbonetos. Chove líquido para a superfície da lua e depois evapora, criando um complexo sistema meteorológico que inclui, presumivelmente, padrões de vento.

Mas a sonda nunca tinha avistado ondulação nos mares de Titã. Pareciam tão planos como vidro. Isto porque os hidrocarbonetos líquidos são mais viscosos que a água e, portanto, mais difíceis de se mover, ou porque os ventos em Titã simplesmente não são fortes o suficiente para soprar o líquido em ondulações. Em 2010, Lorenz e outros propuseram que os ventos ficariam mais fortes quando Titã se aproximasse da Primavera, permitindo aos cientistas uma melhor oportunidade para avistar ondas. Saturno e as suas luas demoram cerca de 29 anos terrestres a completar uma volta ao Sol.

Um espectrómetro a bordo da Cassini obteve imagens de Punga Mare enquanto esta passava várias vezes pelo satélite natural entre 2012 e 2013. Estas imagens mostram a luz solar reflectida da superfície do oceano, como podemos ver quando um avião voa baixo sobre um lago ao anoitecer.

Quatro pixéis nas imagens são mais brilhantes do que poderíamos esperar pela reflexão da luz do Sol, relatou Barnes na conferência. Ele concluiu que devem representar algo particularmente áspero na superfície - uma onda ou um conjunto de ondas.

Os cálculos da altura das ondas sugerem que tinham apenas alguns centímetros de altura. "Não façam já planos para surfar em Titã," comentou Barnes.

Saber como as ondas se formam vai ajudar os cientistas a melhor compreender as condições físicas nos lagos e mares de Titã. Uma missão proposta da NASA, que foi derrotada a favor de um regresso a Marte, teria enviado uma sonda para flutuar num dos lagos de Titã.

Ainda existe a hipótese da Cassini estar a observar reflexos de uma superfície sólida mas molhada, uma espécie de terra lamacenta, em vez de ondas reais. Observações futuras poderão detectar ondas em Punga Mare novamente, mas Barnes diz que não existe garantia de que a Cassini vai passar na posição ideal para observação antes do final da sua missão, um mergulho planeado em Saturno em 2017.

Um segundo relatório na conferência também aponta para possíveis ondas. No Verão passado, cientistas da Cassini avistaram o que chamaram de "ilha mágica" noutro mar, Ligeia Mare, que aparecia e desaparecia. Parecia ser uma brilhante reflexão numa imagem, mas não foi visível 16 dias depois, ou em quaisquer fotografias tiradas desde então, realça Jason Hofgartner, cientista planetário da Universidade de Cornell em Ithaca, Nova Iorque.

Depois de excluir possibilidades, como uma ilha exposta por uma mudança no nível do mar, a equipa concluiu que a "ilha mágica" é provavelmente um conjunto de ondas (um grupo de bolhas subindo desde as profundezas até à superfície) ou uma massa suspensa, como um iceberg.

Os cientistas de Ligeia Mare podem ter mais sorte que Barnes e colegas - uma passagem da Cassini em Agosto deverá ser capaz de obter imagens desta área específica de Ligeia Mare e caçar ondas novamente.

Links:

Núcleo de Astronomia do CCVAlg:
24/05/2013 - Previsões meteorológicas para Titã: clima selvagem

Notícias relacionadas:
Nature
Resumo do Artigo (formato PDF)
Universe Today
redOrbit
PHYSORG
BBC News
io9

Titã:
Solarviews
Wikipedia

Punga Mare:
Wikipedia

Ligeia Mare:
Wikipedia

Saturno:
Solarviews
Wikipedia

Cassini:
Página oficial (NASA)
Wikipedia


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Imagem do VIMS da Cassini que mostra reflexões num dos muitos lagos de Titã durante a passagem rasante de dia 24 de Julho de 2012.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SSI/Jason W. Barnes et al.)
(clique na imagem para ver versão maior)


Mapa da "Região dos Lagos" no norte de Titã, composto por imagens de radar em alta-resolução da Cassini.
Crédito: NASA/JPL/USGS
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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