IMAGENS DA CASSINI PODEM REVELAR NASCIMENTO DE NOVA LUA DE SATURNO
18 de Abril de 2014
A sonda Cassini da NASA documentou a formação de um pequeno objecto gelado dentro dos anéis de Saturno que poderá ser uma nova lua, e também forneceu pistas para a formação das luas conhecidas do planeta.
Imagens obtidas com a câmara de ângulo estreito da Cassini a 15 de Abril de 2013 mostram distúrbios no limite do anel A de Saturno - o mais exterior dos grandes e brilhantes anéis do planeta. Uma dessas perturbações é um arco cerca de 20% mais brilhante do que os seus arredores, com 1200 km de comprimento e 10 km de largura. Os cientistas também descobriram protuberâncias invulgares no perfil normalmente suave do limite do anel. Os cientistas acreditam que o arco e as protuberâncias são provocadas pelos efeitos gravitacionais de um objecto próximo. Os detalhes das observações foram publicados no passado dia 14 de Abril pela revista Icarus.
Não se espera que o objecto cresça mais, e pode até estar quebrando-se. Mas o processo da sua formação e movimento para fora ajuda na nossa compreensão de como as luas geladas de Saturno, incluindo Titã, envolta em nuvens, e Encelado, com um oceano, podem ter sido formadas em anéis mais massivos há muito tempo atrás. Pode também fornecer informações de como a Terra e outros planetas no nosso Sistema Solar se formaram e migraram para mais longe da nossa estrela, o Sol.
"Nós não vimos nada como isto antes," afirma Carl Murray, da Universidade Queen Mary de Londres, o autor principal do artigo. "Podemos estar a observar o acto de nascimento, onde este objecto está apenas deixando os anéis e saindo para ser uma lua de seu próprio direito."
O objecto, informalmente chamado Peggy, é demasiado pequeno para ser visto em imagens até à data. Os cientistas estimam que provavelmente não tenha mais que 800 metros em diâmetro. As luas de Saturno variam em tamanho dependendo da sua proximidade ao planeta - quanto mais longe do planeta, maior. E muitas das luas de Saturno são compostas principalmente por gelo, tal como as partículas que formam os anéis de Saturno. Com base nestes factos, e noutros indicadores, os cientistas propuseram recentemente que as luas geladas formaram-se a partir de partículas dos anéis e depois moveram-se para fora, para longe do planeta, fundindo-se com outras luas no caminho.
"O testemunhar do possível nascimento de uma pequena lua é um evento inesperado e emocionante," afirma a cientista Linda Spilker, do projecto Cassini e do JPL da NASA em Pasadena, Califórnia, EUA. Segundo Spilker, a órbita da Cassini aproximar-se-á do limite exterior do anel A no final de 2016 e irá proporcionar uma oportunidade para estudar Peggy em mais detalhe, talvez até capturar imagens.
É possível que o processo de formação de luas nos anéis de Saturno tenha terminado com Peggy, pois os anéis de Saturno estão agora, com toda a probabilidade, demasiado empobrecidos para fabricar mais luas. Tendo em conta que poderão nunca mais observar este processo, Murray e colegas estão espremendo das suas observações tudo o que conseguem.
"A teoria sustenta que Saturno há muito tempo atrás tinha um sistema de anéis muito mais massivo, capaz de dar à luz luas maiores," comenta Murray. "À medida que as luas se formavam perto das extremidades, esgotaram os anéis e evoluíram, por isso as que se formaram mais cedo são as maiores e mais distantes."
A perturbação visível no limite exterior do anel A de Saturno, nesta imagem da Cassini, pode ser provocada por um objecto repetindo o processo de nascimento das luas geladas.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute
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