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EXPLOSÕES GIGANTESCAS ENTERRADAS EM POEIRA
13 de Junho de 2014

 

Observações obtidas com o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) permitiram aos astrónomos mapear directamente, e pela primeira vez, o gás molecular e poeira nas galáxias onde ocorrem explosões de raios-gama - as maiores explosões no Universo. Surpreendentemente, observou-se menos gás e muito mais poeira do que o esperado, fazendo com que estas explosões pareçam "explosões escuras". Este trabalho foi publicado na revista Nature a 12 de junho de 2014. Trata-se do primeiro resultado científico do ALMA relativo a explosões de raios-gama, evidenciando assim o potencial do telescópio no estudo deste fenómeno.

As explosões de raios-gama são enormes explosões de energia extremamente elevada observadas em galáxias distantes - são os mais brilhantes fenómenos explosivos no Universo. As explosões que duram mais do que alguns segundos são as chamadas explosões de raios-gama de longa duração e estão associadas a explosões de supernovas - fortes detonações no final da vida de estrelas de massa elevada.

Em apenas alguns segundos, uma explosão típica liberta tanta energia como o Sol ao longo de toda a sua vida de 10 mil milhões de anos. A explosão propriamente dita é normalmente seguida por uma emissão que se vai desvanescendo, conhecida por brilho remanescente, e que se pensa ser causada por colisões entre o material ejectado e o gás circundante.

No entanto, algumas explosões de raios-gama parecem não ter este brilho remanescente - são as chamadas explosões escuras. Uma explicação possível prende-se com a existência de nuvens de poeira que absorvem esta radiação remanescente.

Nos últimos anos, os cientistas têm estudado galáxias onde ocorrem as explosões de raios-gama, no intuito de tentar perceber como é que estes fenómenos se formam. Esperava-se que as estrelas massivas progenitoras das explosões de raios-gama se encontrassem em regiões de formação estelar activa, as quais estariam envoltas por enormes quantidades de gás molecular - o combustível da formação estelar. No entanto, até agora nenhum resultado observacional corroborou esta teoria, mantendo-se assim um mistério de longa data.

Agora, e pela primeira vez, uma equipa japonesa de astrónomos utilizou o ALMA para detectar a emissão rádio do gás molecular em duas galáxias onde ocorrem estas explosões escuras de raios-gama de longa duração - GRB 020819B e GRB 051022 - a cerca de 4,3 e 6,9 mil milhões de anos-luz de distância, respectivamente. Embora tal emissão rádio nunca tenha sido detectada nestas galáxias, o ALMA possibilitou esta detecção, graças à sua sensibilidade elevada sem precedentes.

Kotaro Kohno, professor da Universidade de Tóquio e membro da equipa de investigação que efectuou este trabalho, disse: "Há mais de dez anos que procuramos este gás molecular nestas galáxias, utilizando vários telescópios em todo o mundo. Conseguimos finalmente atingir o nosso objectivo, utilizando o poder do ALMA. Estamos muito entusiasmados com os resultados obtidos."

Outro resultado digno de nota, e igualmente possível graças à resolução elevada do ALMA, foi a descoberta da distribuição do gás molecular e da poeira em galáxias hospedeiras das explosões de raios-gama. Observações do GRB 020819B revelaram um meio notavelmente rico em poeira, ao mesmo tempo que foi encontrado gás molecular em torno do centro da galáxia. Esta é a primeira vez que é descoberta uma tal distribuição de material nas galáxias onde ocorrem explosões de raios-gama.

"Não esperávamos que as explosões de raios-gama ocorressem em meios tão poeirentos, com uma baixa razão de gás molecular relativamente à poeira. Este facto indica-nos que as explosões têm lugar num meio completamente diferente da típica região de formação estelar," diz Hatsukade. Este resultado sugere que as estrelas massivas que morrem com explosões de raios-gama mudam o meio na sua região de formação estelar antes de explodirem.

A equipa de investigação acredita que uma explicação possível para a alta proporção de poeira comparada ao gás molecular no local da explosão de raios-gama possa vir da diferença nas reacções relativas à radiação ultravioleta. Uma vez que as ligações entre os átomos que formam as moléculas são facilmente quebradas pela radiação ultravioleta, o gás molecular não consegue sobreviver num meio exposto à forte radiação ultravioleta emitida pelas estrelas quentes massivas na região de formação estelar, incluindo a própria estrela que eventualmente explodirá com emissão de raios-gama observada. Embora uma distribuição semelhante seja também observada no GRB 051022, este resultado tem ainda que ser confirmado devido à falta de resolução (uma vez que a galáxia hospedeira do GRB 051022 está mais afastada do que a do GRB 020819B). De qualquer modo, estas observações do ALMA apoiam a hipótese de que é a poeira que absorve a radiação remanescente, dando origem às explosões de raios-gama escuras.

"Os resultados obtidos foram muito para além das nossas expectativas. Precisamos agora de fazer mais observações de outras galáxias onde ocorrem explosões de raios-gama para ver se estas podem ser efectivamente condições ambientais gerais de um local de explosões de raios-gama. Aguardamos com muito interesse o seguimento deste trabalho, que será executado fazendo já uso das capacidades melhoradas do ALMA," diz Hatsukade.

Links:

Notícias relacionadas:
ESO (comunicado de imprensa)
Observatório ALMA (comunicado de imprensa)
Artigo científico (formato PDF)
Nature (requer subscrição)
Universe Today
Astronomy
PHYSORG
AstroPT

Explosões de raios-gama (GRBs):
NASA
Wikipedia

GRB 020819B:
GHostS

GRB 051022:
GHostS

ALMA:
Página principal
ALMA (NRAO)
ALMA (NAOJ)
ALMA (ESO)
Wikipedia

ESO:
Página oficial
Wikipedia


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Impressão de artista do meio em torno de GRB 020819B, com base em observações do ALMA.
Crédito: NAOJ
(clique na imagem para ver versão maior)


Impressão de artista do meio em torno de GRB 020819B, com base em observações do ALMA.
Crédito: NAOJ
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