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TRAÇOS DE POSSÍVEL ACTIVIDADE BIOLÓGICA MARCIANA DESPERTAM CEPTICISMO ENTRE CIENTISTAS
5 de Dezembro de 2014

 

Há muito que os cientistas debatem a possível existência de vida em Marte, e um novo estudo está a atirar achas para a fogueira.

Uma análise recente do meteorito Tissint, que caiu na Terra em 2011 e sobre o deserto marroquino, levou a um relatório de evidências que sugerem que fluídos com carbono - possivelmente feitos por vida - já existiram à superfície do Planeta Vermelho.

"A presença de fluídos ricos em material orgânico que infiltrou rochas perto da superfície de Marte tem implicações significativas para o estudo do paleoambiente marciano e, talvez, para a busca de possíveis actividades biológicas antigas em Marte," escreveram os investigadores no estudo, publicado na passada Terça-feira na revista Meteoritics & Planetary Science.

Mas alguns especialistas pensam que os achados não descartam a teoria de que o material orgânico no meteorito pode ter origens em processos não-biológicos.

O famoso astrónomo Carl Sagan disse uma vez, "afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias," observou Andrew Steele, microbiólogo do Instituto Carnegie em Washington D.C., EUA, que estudou o meteorito mas que não esteve envolvido no novo estudo.

"Eu acho que o ónus recai sobre os investigadores apresentarem a referida evidência extraordinária," comenta Steele. "Eu não acho que o fizeram até agora."

O meteorito Tissint foi expulso de Marte por um asteróide, e caiu para a Terra numa bola de fogo sobre a província Tata do deserto marroquino nas primeiras horas da manhã de 18 de Julho de 2011. É um de apenas cinco meteoritos marcianos cujas entradas foram testemunhadas por seres humanos, e o Tissint foi estudado pela primeira vez pelo especialista em meteoritos, Hasnaa Chennaoui Aoudjehane da Universidade Hassan II em Casablanca.

Os estudos anteriores descobriram vestígios de material orgânico - compostos que contêm carbono e que, na Terra, são alguns dos blocos de construção da vida - em fissuras minúsculas do meteorito Tissint, que se formaram enquanto a rocha estava em Marte. Mas os cientistas têm debatido ferozmente se estes compostos foram produzidos por vida ou por outros processos não-biológicos.

No novo estudo, Philippe Gillet, um cientista da École Polytechnique Fédérale de Lausanne, na Suíça, e uma equipa de colegas analisaram a química do carbono orgânico encontrado nas rachas do meteorito.

A equipa de Gillet acredita que o impacto de um asteróide em Marte pode ter criado estas fissuras na rocha Tissint enquanto ainda se encontrava à superfície do Planeta Vermelho, produzindo "veias" que absorveram parte da matéria que continha carbono.

O carbono, assim como outros elementos, vêm em diferentes formas chamadas isótopos. Ao medir as quantidades destes isótopos, os cientistas podem determinar a provável origem do carbono nas fissuras.

Depois de analisar a composição do carbono nas pequenas fendas do meteorito Tissint, a equipa descobriu que os isótopos de carbono eram leves demais para ter vindo da atmosfera marciana, como alguns cientistas haviam sugerido. Eles concluíram que os elementos químicos foram para aí trazidos por um fluído rico em matéria orgânica e que provavelmente veio de vida.

Mas Steele e outros cientistas não acham que a evidência comprova a afirmação.

Num estudo de 2012 publicado na revista Science, Steele descobriu que a matéria orgânica descoberta no Tissint e em 10 outros meteoritos é originária de Marte, mas que foi formada por processos vulcânicos. No entanto, Steele não estudou o mesmo material orgânico que Gillet e sua equipa - estudavam compostos que entraram no meteorito após a lava ter arrefecido.

Ainda assim, segundo Steele, a matéria orgânica dos fluídos pode ser originária de uma série de outras fontes, como a contaminação na Terra, meteoritos que impactavam Marte e outra química não-biológica. Algumas destas fontes podem também produzir isótopos leves de carbono, acrescenta.

Allan Treiman, cientista planetário do Instituto Lunar e Planetário em Houston, e cientista sénior do MSL/Curiosity (Mars Science Laboratory) da NASA, afirma que "fluídos com material orgânico podem ser encontrados em algumas rochas [vulcânicas] cá na Terra, e são interpretados como nada tendo a ver com vida."

Tissint não é o único meteorito que provocou controvérsia com reivindicações de vida marciana. Também se pensa que o meteorito Alan Hills 84001, descoberto na Antártica no dia 27 de Dezembro de 1984, seja de Marte. Em 1996, cientistas descreveram que a rocha espacial continha evidências de bactérias fossilizadas, mas outros desde aí descobriram explicações que não necessitam de vida.

Os cientistas ainda não podem descartar a possibilidade de existência de vida passada no Planeta Vermelho - afinal de contas, os blocos de construção da vida estão lá, afirma Steele. Mas os investigadores "têm de ser mais robustos na sua análise para realmente provar as suas afirmações," conclui.

Links:

Notícias relacionadas:
EPFL (comunicado de imprensa)
Artigo científico (Meteoritics & Planetary Science)
As recentes descobertas acerca do Tissint (EPFL via YouTube)
As recentes descobertas acerca do Tissint - 2 (EPFL via YouTube)
SPACE.com
Universe Today
EarthSky
Astronomy Now
PHYSORG
redOrbit

Marte:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

Meteorito Tissint:
Wikipedia


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Um pedaço do meteorito Tissint que caiu na Terra no dia 18 de Julho de 2011.
Crédito: EPFL/Alain Herzog
(clique na imagem para ver versão maior)

 
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