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PRIMEIRA EVIDÊNCIA DE SISTEMA GOBAL DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM MARTE
5 de março de 2019

 


Exemplo de características identificadas numa bacia profunda em Marte que mostram que pode ter sido influenciada por água há milhares de milhões de anos. Clique aqui para ver versão anotada e mais informações.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/MSSS

 

A Mars Express revelou a primeira evidência geológica de um sistema de antigos lagos interligados situados por baixo da superfície do Planeta Vermelho, cinco dos quais podem conter minerais cruciais para a vida.

Marte parece ser um mundo árido, mas a sua superfície mostra sinais convincentes de que grandes quantidades de água já existiram por todo o planeta. Nós vemos características que só podem ter sido formadas por água - canais e vales, por exemplo - e, no ano passado, a Mars Express detetou um reservatório de água líquida sob o polo sul do planeta.

Um novo estudo revela agora a extensão de água subterrânea no passado de Marte, que anteriormente era apenas prevista pelos modelos.

"Marte já foi um mundo com água, mas à medida que o clima do planeta mudava, a água recuou para baixo da superfície e formou poços e 'águas subterrâneas', diz o autor principal Francesco Salese, da Universidade de Ultrecht, nos Países Baixos."

"Nós rastreámos esta água no nosso estudo, já que a sua escala e papel são uma questão em debate, e encontrámos a primeira evidência geológica de um sistema de águas subterrâneas em Marte."

Salese e colegas exploraram 24 crateras profundas e fechadas no hemisfério norte de Marte, com pisos cerca de 4000 metros por baixo do "nível do mar" marciano (um nível que, dada a ausência de mares no planeta, é arbitrariamente definido em Marte com base na elevação e pressão atmosférica).

Eles encontraram características no chão dessas crateras que só podem ter sido formadas na presença de água. Muitas crateras contêm múltiplas características, todas a profundidades entre os 4000 e 4500 metros - indicando que algumas destas crateras já contiveram reservatórios e fluxos de água que mudaram e recuaram ao longo do tempo.

As características incluem canais gravados nas paredes das crateras, vales esculpidos pela água subterrânea, deltas curvos e escuros que se pensa terem sido formados à medida que os níveis de água subiram e desceram, "terraços" acidentados nas paredes das crateras formados por água parada e depósitos de sedimentos em forma de leque associados a fluxos de água.

O nível de água está alinhado com as linhas costeiras propostas de um oceano marciano que se pensa ter existido em Marte há 3-4 mil milhões de anos atrás.

"Nós pensamos que este oceano pode estar ligado a um sistema de lagos subterrâneos espalhados por todo o planeta," acrescenta o coautor Gian Gabriele Ori, diretor da Escola Internacional de Pesquisa de Ciências Planetárias da Università D’Annunzio, Itália.

"Estes lagos teriam existido há aproximadamente 3,5 mil milhões de anos, de modo que podem ter sido contemporâneos de um oceano marciano."

A história da água em Marte é complexa e está intrinsecamente ligada a entender se a vida alguma vez surgiu ou não - e, em caso afirmativo, onde, quando e como o fez.

A equipa também avistou sinais de minerais em cinco das crateras que estão ligados com a origem da vida na Terra: várias argilas, carbonatos e silicatos. A descoberta suporta a ideia de que estas bacias em Marte podem ter tido os ingredientes para albergar vida. Além disso, eram as únicas bacias profundas o suficiente para cruzar com a parte saturada de água da crosta de Marte durante longos períodos de tempo, com evidências talvez ainda hoje enterradas nos sedimentos.

A exploração de locais como estes pode, portanto, revelar as condições adequadas para vida passada e, assim sendo, são altamente relevantes para missões astrobiológicas como a ExoMars - um esforço conjunto da ESA e da Roscosmos. Embora o ExoMars TGO (Trace Gas Orbiter) já esteja a estudar Marte a partir de órbita, a próxima missão será lançada no ano que vem. É composta por um rover - recentemente batizado com o nome Rosalind Franklin - e por uma plataforma científica de superfície e vai explorar locais marcianos considerados essenciais na busca de sinais de vida em Marte.

"Descobertas como esta são extremamente importantes; ajudam-nos a identificar as regiões de Marte que são mais promissoras para encontrar sinais de vida passada," diz Dmitri Titov, cientista do projeto Mars Express da ESA.

"É especialmente emocionante que uma missão tão frutífera no Planeta Vermelho, a Mars Express, seja agora fundamental para ajudar futuras missões como a ExoMars a explorar o planeta de uma maneira diferente. É um ótimo exemplo de missões que trabalham juntas com grande sucesso."

 


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Esta imagem mostra a distribuição de várias crateras profundas (assinaladas como pontos) exploradas recentemente como parte de um estudo de água subterrânea de Marte.
As cores da imagem de fundo representam topografia: os vermelhos e laranjas são elevações mais baixas, e os azuis e verdes são elevações mais altas.
O estudo descobriu que os pisos das crateras, situados a 4000 metros de profundidade, mostram sinais de água passada - a primeira evidência geológica de que o Planeta Vermelho já teve um sistema de lagos subterrâneos espalhados por todo o planeta.
Crédito: topografia - NASA/MGS/MOLA; distribuição das crateras - F. Salese et al. (2019)


Este diagrama mostram um modelo de como as bacias das crateras em Marte evoluíram ao longo do tempo e de como podem ter albergado água. Este modelo forma a base de um novo estudo sobre água subterrânea em Marte, que descobriu que várias bacias profundas - com pisos situados a mais de 4000 metros de profundidade - mostram sinais de de já ter contido reservatórios de água. As imagens (da câmara a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter da NASA) mostram exemplos das diferentes características observadas nas bacias.
Existem três estágios principais: no primeiro (topo), a bacia da cratera é inundada com água e características relacionadas com água - deltas, vales, canais, linhas costeiras e assim por diante - formam-se no interior. No segundo estágio (meio), o nível de água global do planeta desce e, como resultado, emergem novos relevos. No estágio final (baixo), a cratera seca e sofre erosão, revelando características formadas ao longo de milhares de milhões de anos.
Crédito: imagens - NASA/JPL-Caltech/MSSS; diagrama adaptado de F. Salese et al. (2019)


Impressão de artista da sonda Mars Express. O plano de fundo tem por base uma imagem real de Marte obtida pela câmara de alta-resolução do orbitador.
Crédito: imagem da nave - ESA/ATG medialab; Marte - ESA/DLR/FU Berlin


// ESA (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Journal of Geophysical Research - Planets)

Saiba mais

CCVAlg - Astronomia:
15/02/2019 - Mars Express deteta água líquida escondida sob o polo sul de Marte

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Mars Express:
ESA 
Wikipedia

Marte:
Núcleo de Astronomia do CCVAlg
Wikipedia

 
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