Jennifer G. Winters e a sua equipa estão a recolher dados do recém-descoberto exoplaneta.
Crédito: Stephanie Mitchell/Harvard
Planetas até um pouco parecidos com a Terra são difíceis de encontrar. É por isso que quando astrónomos como Jennifer G. Winters se deparam com um corpo que pode ser sólido, rochoso e possivelmente ter a sua própria atmosfera, ficam animados. E especialmente num caso como este: pois, embora seja estatisticamente improvável que hospede vida, encontrar um com três sóis aumenta a probabilidade de que o estudo do planeta possa fornecer informações valiosas sobre o nosso.
O objeto celeste, de nome LTT1445Ab, é um planeta em trânsito. Como explicou Winters, associada de pós-doutoramento do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, isso significa que durante a órbita de cinco dias e meio em torno da sua estrela principal, LTT1445Ab passa em frente da sua estrela. Isto permite que os observadores na Terra vejam o planeta em contraluz e possam discernir se LTT1445Ab (que tem aproximadamente 1,38 vezes o tamanho da Terra e está a mais ou menos 22,5 anos-luz de distância) possui uma atmosfera.
"Podemos observá-lo usando um espectrógrafo," disse Winters, autora principal do artigo científico publicado na revista The Astronomical Journal. "É um dos melhores exemplos de um planeta rochoso que pode ter uma atmosfera e que podemos estudar para determinar a sua composição."
No topo da lista de perguntas de Winters: haverá oxigénio molecular na atmosfera? Mesmo que tenha oxigénio na sua atmosfera, Winters é rápida a salientar que a sua equipa não espera encontrar vida. "Não está na zona habitável da sua estrela," explicou. "Está demasiado perto. É demasiado quente. Mas se é possível existir oxigénio na atmosfera, oxigénio que possa vir de outras fontes que não a vida, é bom saber isso."
Nos próximos meses, antes que o sistema se esconda por trás do Sol, Winters e os seus colaboradores vão recolher dados e monitorizar o planeta. Usando dados do Telescópio Gigante Magalhães no Chile, bem como dos telescópios espaciais Hubble e Spitzer da NASA, a equipa tentará medir a massa do planeta e determinar se é realmente um planeta rochoso, não gasoso. A massa é importante, explicou, porque está relacionada com a espessura de qualquer atmosfera aí presente. E se não existir atmosfera - se, talvez, tiver sido "queimada" pela radiação estelar - os cientistas vão tentar ver se alguma está a "brotar", talvez reabastecida pelos gases emitidos pela crosta.
"Este é um ótimo exemplo para poder estudar uma atmosfera," disse Winters. "Existe apenas um outro sistema mais próximo, e tem dois planetas, mas a estrela é muito mais brilhante," o que dificulta a observação de qualquer potencial atmosfera, explicou. A estrela principal de LTT1445Ab tem aproximadamente 25% do tamanho do Sol e as suas estrelas associadas são ainda mais pequenas.
O nome LTT1445Ab vem da sua listagem no catálogo do astrónomo americano-holandês Willem Jacob Luyten, que mede o movimento de estrelas. A posição da estrela foi descoberta pelo satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA, que examina o céu apenas para candidatos deste tipo, notificando cientistas membros por todo o mundo sobre estrelas que escurecem periodicamente - um possível sinal de um planeta em órbita. A equipa de Winters reivindicou este sistema para estudo, verificando que realmente havia um planeta.
Este grupo, com três estrelas, também a intriga por outras razões. "É muito raro haver três anãs M num sistema triplo," comentou Winters, usando a classificação para o tipo estelar mais pequeno e frio. Neste caso, enquanto o planeta parece orbitar a estrela principal, as outras duas parecem estar num tipo de dança, aproximando-se e afastando-se uma da outra. Estas duas então interagem com a maior no que parece ser um plano nivelado. Como estas três estrelas se movem exatamente, e quais as forças em ação, são os enigmas que os astrónomos esperam resolver.
De certo modo, a presença de um planeta entre estas três estrelas anãs poderá ser uma descoberta mais emocionante para Winters do que a descoberta de LTT1445Ab propriamente dita. As anãs M são a sua principal área de interesse.
"Representam 75% de todas as estrelas, de modo que são o tipo estelar mais comum," disse. Este sistema triplo, acrescentou, "vai ajudar-nos a aprender mais sobre a formação estelar e planetária."