DESCOBERTA DE ESPECIALISTAS AJUDA A RESTRINGIR A BUSCA POR VIDA INTELIGENTE NA VIA LÁCTEA 4 de setembro de 2020
Impressão de artista do Gaia e de 2 radiotelescópios (GBT e Parkes) a "escutar" civilizações extraterrestres avançadas.
Crédito: Universidade de Manchester
Foi descoberto, por uma equipa da Universidade de Manchester, um avanço analítico que poderá melhorar significativamente as nossas chances de encontrar vida extraterrestre na nossa Galáxia.
Numa nova investigação publicada anteontem na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, os cientistas demonstram uma reanálise de dados existentes que representa um novo marco na busca por inteligência extraterrestre (SETI - Search for Extra-Terrestrial Intelligence).
A equipa de investigação colaborativa foi capaz de expandir dramaticamente a busca por vida extraterrestre de 1400 para 280.000 estrelas - aumentando o número de estrelas analisadas por um factor de mais de 200.
O resultado sugere que menos de 0,04% dos sistemas estelares têm o potencial de hospedar civilizações avançadas com tecnologia de rádio equivalente ou ligeiramente mais avançada do que a dos humanos do século XXI. Além de melhorar os limites para estrelas vizinhas, a equipa pela primeira vez colocou limites para estrelas mais distantes com a ressalva de que quaisquer potenciais formas de vida habitando os limites externos da Galáxia precisariam de transmissores ainda mais poderosos a fim de serem detetadas.
A análise, dizem os investigadores, só pode localizar civilizações inteligentes e tecnicamente avançadas que usam ondas de rádio como forma de comunicação - não poderiam, por exemplo, detetar vida "simples" ou civilizações não-técnicas.
A equipa é formada pelo estudante de mestrado Bart Wlodarczyk-Sroka e pelo seu orientador, o professor Michael Garrett da Universidade de Manchester no Reino Unido, colaborando com o Dr. Andrew Siemion, Diretor da Iniciativa "Breakthrough Listen". Juntos, estabeleceram os melhores limites de todos os tempos no que toca à prevalência de radiotransmissores artificiais, a que chamamos tecnoassinaturas, na Via Láctea.
Vasculhando o catálogo produzido pela nave espacial Gaia da ESA, que mediu distâncias para mais de mil milhões de estrelas, os investigadores recalcularam os limites da prevalência de transmissores em torno de estrelas adicionais dentro dos campos de visão dos radiotelescópios GBT e Parkes. Ao selecionar estrelas a distâncias muito maiores (até cerca de 33.000 anos-luz) do que a amostra original de estrelas próximas, foram capazes de expandir o número de estrelas estudadas de 1327 para 288.315.
Mike Garrett, líder da equipa, sempre se preocupou com o facto de que as pesquisas SETI não levavam em consideração os muitos outros objetos cósmicos que cabem dentro do campo de visão de um telescópio, além do alvo principal. De acordo com Garrett, o Gaia mudou isso tudo: "Conhecer as localizações e distâncias destas fontes adicionais," diz, "melhora muito a nossa capacidade de restringir a prevalência de inteligência extraterrestre na nossa Galáxia e além. Esperamos que pesquisas futuras do SETI também façam bom uso desta abordagem."
"Os nossos resultados ajudam a colocar limites significativos na prevalência de transmissores comparáveis aos que nós próprios podemos construir usando a tecnologia do século XXI," salientou Wlodarczyk-Sroka.
"Sabemos agora que menos de uma em 1600 estrelas até mais ou menos 330 anos-luz hospeda transmissores apenas algumas vezes mais potentes do que o radar mais potente que temos aqui na Terra. Mundos habitados com transmissores muito mais poderosos do que podemos atualmente produzir devem ser ainda mais raros."
O grande número de estrelas estudadas permitiu que Wlodarczyk-Sroka colocasse alguns dos limites mais rígidos até agora no que toca à prevalência de poderosos transmissores de rádio nesta região da nossa Galáxia. Além disso, pela primeira vez, a equipa foi capaz de fazer isto em função do tipo estelar - a maior amostra inclui não apenas uma ampla gama de estrelas na sequência principal, mas também inúmeras estrelas gigantes e anãs brancas.