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GEÓLOGOS DESCOBREM QUE ROVER CURIOSITY TEM EXPLORADO SEDIMENTOS SUPERFICIAIS, NÃO DEPÓSITOS DE LAGO
13 de agosto de 2021

 


Imagem obtida pelo instrumento MastCam do rover Curiosity que mostra rochas sedimentares que compõem o Monte Sharp. O rover tem vindo a percorrer o chão da Cratera Gale e Monte Sharp acima a fim de compreender como as rochas mudam da secção mais baixa (mais antiga) para a secção mais alta (mais jovem). O rover já subiu mais de 400 metros de elevação desde o início da missão.
Crédito: NASA/JPL-Caltech

 

Em 2012, a NASA pousou o rover Curiosity na Cratera Gale em Marte porque esta tem sido considerada por muitos cientistas como o local de um antigo lago que aí existiu há mais de 3 mil milhões de anos. Desde então, o rover tem navegado e realizado análises geológicas com o seu conjunto de instrumentos por mais de 3190 sols (dias marcianos, o equivalente a 3278 dias terrestres). Depois de analisarem dados, investigadores do Departamento de Ciências da Terra, da Faculdade de Ciências da Universidade de Hong Kong, propuseram que os sedimentos medidos pelo rover durante a maior parte da sua missão não se formaram num lago.

A equipa de cientistas sugere que o grande monte de rochas sedimentares exploradas e analisadas ao longo dos últimos oito anos representa na verdade areia e silte depositados por queda através da atmosfera e "retrabalhados" pelo vento. A alteração dos minerais formados pela interação entre a água e a areia não ocorreu na configuração de um lago. O ambiente "húmido", propõem, na verdade representa um intemperismo semelhante à formação do solo sob chuva numa atmosfera antiga que era muito diferente da atual.

A descoberta foi publicada recentemente na revista Science Advances num artigo liderado pelo estudante Jiacheng Liu, pelo seu orientador o professor Dr. Joe Michalski e pelo coautor professor Mei Fu Zhou. Os investigadores usaram medições químicas e medições de difração de raios-X, além de imagens de texturas de rochas, para revelar como as tendências composicionais nas rochas se relacionam com os processos geológicos.

"Jiacheng demonstrou alguns padrões químicos muito importantes nas rochas, que não podem ser explicados num contexto de um ambiente de lago," disse o Dr. Michalski. "O ponto chave é que alguns elementos são móveis, ou fáceis de dissolver em água, e alguns elementos são imóveis, ou sejam, ficam nas rochas. Se um elemento é móvel ou imóvel depende não apenas do tipo de elemento, mas também das propriedades do fluido. Tenha o fluido sido ácido, salino, oxidante, etc. Os resultados de Jiacheng mostram que os elementos imóveis estão correlacionados uns com os outros, e fortemente enriquecidos a altitudes mais elevadas no perfil da rocha. Isto aponta para o desgaste de cima para baixo, como se vê nos solos. Além disso, mostra que o ferro se esgota à medida que o desgaste aumenta, o que significa que a atmosfera à época estava a reduzir-se, não a oxidar-se como no planeta 'enferrujado' dos dias modernos."

Compreender como a atmosfera marciana e o ambiente da superfície como um todo evoluíram é importante para a exploração de possível vida em Marte, bem como para a nossa compreensão de como a Terra pode ter mudado durante a sua história inicial. "Obviamente, o estudo de Marte é extremamente difícil e é necessária a integração de metodologias criativas e tecnologicamente avançadas. Liu e coautores fizeram observações intrigantes por meio da utilização de técnicas de sensoriamento remoto para entender a composição química de sedimentos antigos que informam o seu desenvolvimento inicial. Os seus dados colocam desafios às hipóteses atuais para o ambiente de deposição destas formações rochosas únicas e para as condições atmosféricas sob as quais se formaram - especificamente, os autores mostram evidências de processos de intemperismo sob uma atmosfera redutora num ambiente subareal semelhante a um deserto, ao invés de formação num ambiente aquoso de lago. De facto, este trabalho irá inspirar direções novas e estimulantes para investigações futuras", acrescentou o Dr Ryan McKenzie, professor assistente do mesmo Departamento da Universidade de Hong Kong.

A China pousou com sucesso o seu primeiro módulo, Zhurong, em Marte no passado mês de maio. O Zhurong está atualmente a percorrer as planícies de Utopia Planitia, explorando pistas mineralógicas e químicas de mudanças climáticas recentes. A China também está a planear uma missão de recolha e envio de amostras, que provavelmente ocorrerá no final desta década.

 


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Estas imagens mostram a Cratera Gale em imagens da HRSC (High Resolution Stereo Camera) da Mars Express. A imagem da esquerda mostra o modelo padrão onde se assume a Cratera Gale como um grande lago (inundada até uma elevação de pelo menos ~4000 m). A imagem à direita é o modelo proposto por Liu et al., no qual existiram apenas lagos muitos rasos e pequenos no chão da Cratera Gale (com o chão inundado até uma elevação de aproximadamente ~4500 m). A maioria dos sedimentos foram depositados da atmosfera como depósitos em queda e mais tarde sofreram intemperismo de precipitação ou derretimento de gelos. A estrela assinala o local de aterragem do rover.
Crédito: ESA/HRSC/DLR


// Universidade de Hong Kong (comunicado de imprensa)
// Artigo científico (Science Advances)

Saiba mais

Cratera Gale:
Wikipedia
Monte Sharp (Wikipedia)

Marte:
CCVAlg - Astronomia
Wikipedia 

Rover Curiosity (MSL):
NASA
NASA - 2 
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Wikipedia

Tianwen-1 e rover Zhurong:
Wikipedia

 
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