
Esquerda: mosaico da área que rodeia a cratera Selk em Titã.
Direita: mapa geomorfológico da mesma área.
Crédito: NASA/JPL-Caltech, Bonnefoy et al. (2022)
Quando o veículo aéreo Dragonfly da NASA, que tem mais ou menos 450 kg, alcançar em 2034 a região da cratera Selk - o alvo da missão à superfície - na lua de Saturno, Titã, a cientista Léa Bonnefoy da Universidade Cornell terá ajudado a uma aterragem suave.
Bonnefoy e colegas terão auxiliado à futura chegada, caracterizando a paisagem equatorial montes e outeiros, combinando e analisando todas as imagens de radar da área adquiridas pela nave espacial Cassini durante os seus históricos 13 anos de exploração do sistema de Saturno. Terão utilizado a refletividade do radar e as sombras angulares para determinar as propriedades da superfície.
Efetivamente, é uma cena de dunas de areia e solo gelado quebrado.
A investigação foi publicada no dia 30 de agosto na revista The Planetary Science Journal.
"Dragonfly - a primeira máquina voadora tendo como destino um mundo no Sistema Solar exterior - vai para uma área cientificamente notável", disse Bonnefoy, investigadora pós-doutorada. "Vai aterrar numa região equatorial e seca de Titã - um mundo gelado, com uma atmosfera espessa de hidrocarbonetos. Por vezes chove metano líquido, mas é mais como um deserto da Terra - onde há dunas, algumas pequenas montanhas e uma cratera de impacto". Estamos a examinar cuidadosamente o local de aterragem, a sua estrutura e superfície. Para isso, estamos a analisar imagens de radar da missão Cassini-Huygens, observando como o sinal de radar muda a partir de diferentes ângulos de visão".
"As imagens de radar que temos de Titã, graças à Cassini, têm uma resolução máxima de cerca de 300 metros por pixel, e só vimos menos de 10% da superfície a essa escala", disse Bonnefoy. "Isto significa que há provavelmente muitos pequenos rios e paisagens que não conseguimos ver".
No início da missão da Cassini, em janeiro de 2005, a nave espacial libertou a sonda Huygens e esta aterrou no ambiente semelhante ao da Terra de Titã numa descida de duas horas, transmitindo imagens de vales de rios que são invisíveis nas imagens de radar.
Bonnefoy e o grupo utilizaram as imagens de radar para mapear seis terrenos no local, caracterizando a paisagem e medindo a altura da orla da cratera Selk. O conhecimento da forma da cratera ajuda tanto a compreender a geologia da região como a avaliar as expetativas para a exploração do Dragonfly.
A missão Dragonfly da NASA tem lançamento previsto para 2027 e chegada a Titã em 2034, para uma missão de três anos. O veículo aéreo pesa pouco menos de 500 kg e a sua concepção final assemelha-se à de um helicóptero de transporte militar.
Os céus de Titã - na sua maioria azoto, com um pouco de metano e quatro vezes mais densos do que a atmosfera da Terra - permite que o Dragonfly (do tamanho de um carro muito pequeno) funcione como um drone, realizando investigações químicas e astrobiológicas a fim de compreender a composição do planeta e de como a vida na Terra pode ter surgido.
"Durante os próximos anos, vamos ver muita atenção prestada à região da cratera Selk", disse Alex Hayes, professor de astronomia em Cornell e líder do grupo a que pertence Bonnefoy. "O trabalho da Léa fornece uma base sólida sobre a qual se pode começar a construir modelos e a fazer previsões para o Dragonfly testar quando explorar a área em meados de 2030".
Como cientista planetária, Bonnefoy está pronta para explorar esta grande lua: "O Dragonfly vai finalmente mostrar-nos como é a região - e Titã".
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